Crítica: Under Domain – Boas ideias que esbarram em uma má execução

Escrito por Arthur Tayt-Sohn
Crítica

A ficção científica se tornou um gênero extremamente popular na cultura pop a partir do século 20, principalmente por conta dos avanços da corrida espacial e do cinema, que ajudaram a alimentar nosso imaginário sobre o Universo e vida extraterrestre.

Obras que tratam de alienígenas são bem comuns, mas imagine uma obra em que você assume o papel de protagonista como um ser extraterrestre. Um reptiliano, para ser mais exato. Essa é a premissa de Under Domain.

Em um futuro distante, os reptilianos vivem pacificamente em seu planeta, focados em seu objetivo de autodesenvolvimento como espécie. Infelizmente outras espécies não são tão pacíficas, e uma frota de naves espaciais humanas invade seu planeta e quase causa sua extinção.

Em uma medida desesperada, cientistas reptilianos enviam um espécime gerado pelo DNA combinado dos melhores seres vivos daquele planeta, com a finalidade de criar o líder supremo que salvaria sua espécie. Esse líder é enviado ao passado, para uma coordenada bem específica: o planeta Terra dos anos 1900.

Em Under Domain, um simulador de invasão espacial, desenvolvido pelo estúdio brasileiro Playlearn, você deve planejar a construção de um exército e influenciar na raça humana para atrasar seu desenvolvimento, impedindo que o futuro catastrófico dos reptilianos aconteça… de novo.

Planejando a invasão

Na órbita do nosso planeta, somos apresentados às principais funções da nossa nave e nosso objetivo: Teremos 12 turnos, cada um com a duração de 10 anos. Cada ano permite um movimento do jogador, que deve planejar determinadas ações para finalmente invadir nosso planeta e evitar nosso desenvolvimento espacial e militar.

Primeiramente conhecemos as sondas de recursos, que irão coletar recursos minerais e energia de pontos específicos do nosso planeta, que serão utilizados para melhorar a nave, despertar os conselheiros alienígenas, produzir a frota de invasão e executar missões.

O jogo avisa que irá ensinar somente o básico e deixar que o jogador descubra recursos mais avançados por si só. Seria uma ideia interessante, se existissem recursos a mais para descobrir no jogo, como explicarei mais adiante.

Ao construirmos as sondas de recursos, nos deparamos com uma tela que mostra o total que será coletado a cada turno. Também existe uma barra de furtividade, que mostra a percepção dos humanos sobre a sonda. O que ocorre caso a furtividade caia demais? Uma boa pergunta.

Não ficou claro exatamente o que poderia acontecer se a sonda fosse descoberta. Também não consegui identificar razões que pudessem causar isso. As minhas sondas simplesmente ficaram lá o jogo inteiro.

Ao liberarmos a tela de operações, podemos assassinar humanos, abduzir, executar controle mental de pessoas importantes ou espalhar um vírus no planeta. Mecânicas que seriam muito interessantes se houvesse clareza no que elas realmente fazem.

Abduzir seres humanos serve basicamente para “estudar” nossa espécie e liberar algumas atualizações para a nave. Espalhar vírus ajuda a diminuir a população terrestre, mas também não fica claro o que isso de fato impacta.

As operações acabam decepcionando bem. Quando eu vi a tela pela primeira vez, imaginei que de fato impactaríamos em algo no planeta. Controlar um líder mundial por exemplo, poderia alterar os rumos de alguma guerra. Assassinar alguma figura importante poderia atrasar o desenvolvimento de alguma tecnologia ou algo do tipo.

De fato, os eventos que ocorrem pouco, ou nada, influenciam. A cada 10 anos o jogo apresenta algum fato importante ocorrendo no planeta. Imaginei que durante a Segunda Guerra Mundial poderíamos interferir de alguma maneira, mas o evento serve apenas para situar em que período estamos, o que foi decepcionante.

A tela de máquinas permite construir nossa frota. O design das naves é bem interessante, para falar a verdade. Cada uma possui quatro atributos: ataque, defesa, velocidade e alcance. E mais uma vez, nenhuma clareza sobre de que forma isso influencia na invasão, o que pode acabar atrapalhando na hora de formar seu exército.

Durante os 12 turnos nós basicamente coletamos recursos, melhoramos nossas máquinas, nave-mãe e tentamos de alguma forma atrasar o desenvolvimento humano, seja controlando líderes que impactam no poder de fogo dos países ou desenvolvendo melhorias científicas.

O problema é que o jogo falha em mostrar o real impacto disso. Então o simulador se torna um simples jogo de coleta e investimento de recursos. Nada que fizemos no jogo realmente altera o curso da história, até a invasão. Aí começam outros problemas

A invasão em Under Domain

O momento aguardado de tomar controle do planeta Terra seria o clímax do jogo, certo? Bom, ele acaba sendo muito mais anti-clímax do que qualquer outra coisa.

Ao invadir a Terra, você divide sua frota entre os continentes do planeta e inicia seu plano. O poder de defesa de cada continente varia de acordo com o poder de fogo individual de cada um. Somando todos, temos o valor do poder total do planeta.

Iniciando o combate, a tela se divide em ícones de tropas terrestres e alienígenas, e ficamos simplesmente assistindo animações e sons dos ataques. Lembram-se dos atributos das naves? Então, aqui eles fazem menos sentido ainda.

O dano causado por cada unidade não parece coerente com os dados dela. Os atributos de velocidade e alcance não me deram muita clareza sobre o que efetivamente alteraram na luta. Vale ressaltar também que as lutas são simplesmente o jogador assistindo animações, e só. E isso rapidamente se torna entediante.

Depois de assistir as animações de combate em todos os continentes, incluindo Antártida, chegamos à conclusão do jogo, seja positivo ou negativo o resultado.

Conclusões finais

Under Domain traz boas ideias que acabam sendo mal executadas. O jogo seria muito melhor se as mecânicas fossem desenvolvidas. A ausência de impacto das nossas ações no planeta Terra tiram muito do potencial do jogo.

A falta de clareza também é um problema, pois afeta o desenvolvimento da nossa estratégia de invasão. Em um simulador, saber exatamente as consequências de cada uma das nossas ações é fundamental. Devo alocar recursos em determinada melhoria? Devo investir em agentes duplos? Fica extremamente difícil saber essas respostas.

Estamos falando de um jogo que tem bastante potencial. A direção de arte é bem bonita, os efeitos sonoros são bem feitos, mas Under Domain parece estar inacabado quando se tratam de suas mecânicas.

Caso os desenvolvedores estejam dispostos em ainda investir em atualizações para o jogo e melhorar essas falhas, poderemos ter um bom simulador. O excesso de simplicidade e a dificuldade de entender determinadas mecânicas, se é que elas tenham sido aprofundadas para serem entendidas, é um grande problema do jogo.

Fico torcendo para que os desenvolvedores não desistam do jogo. Como dito anteriormente, ele possui um bom potencial, só precisa de um trabalho a mais no desenvolvimento e polimento das mecânicas em Under Domain.

https://youtu.be/TvIACXyoSAk

Under Domain está disponível para PC na Steam

Está crítica foi feita em base de uma cópia cedida pela assessoria do estúdio ao Game Lodge.

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