Let It Die: Design quebrado pelo dinheiro

Escrito por Silvio Diaz
Opinião

Let It Die, lançado para Playstation 4 e PC desenvolvido pelo estúdio de Goichi Suda – também conhecido como Suda51 –  flerta com todas as ideias de Dark Souls e, não é à toa que a mídia especializada o tenha chamado de “Dark Souls do Suda”.

Let it Die um ótimo jogo em sua base. O combate realmente é desafiador, as dungeons mesmo que repetitivas sabem brincar com as ideias do game e a mecânica de invasão dele é extremamente divertida. O problema com o Free to Play  não é um discurso elitista, até porque é ótimo termos jogos grátis.  A questão é que para ser free, ele tem de se pagar de alguma forma. Em League of Legends, são as Skins; em jogos de celular e Facebook, moedas; e Let it Die, vidas.

O Preço da Vida

Semelhantemente a Dark Souls, o game do Suda é difícil. Um deslize e mesmo contra inimigos fracos existe o risco de morrer. É assim que a desenvolvedora Grasshopper Manufactur pretende lucrar. Após morrer,  uma moça surge perguntando se o jogador quer gastar uma de suas vidas para voltar dos mortos. Essas vidas podem ser ganhas fazendo missões difíceis ou comprando com dinheiro real.

Isso na teoria, é ótimo. Se o jogador quer aproveitar um “Dark Souls” com vidas, ele pode. É basicamente acelerar a jogatina para quem não quer perder tempo. World of Warcraft faz isso vendendo personagens com level máximo e funciona. Contudo, talvez por ganância ou até mesmo necessidade de lucro, a jogabilidade de Let It Die é destruída por essa vontade que eles têm de fazer o jogador ganhar dinheiro

As dungeons são feitas por andares em uma estação de trem. Caso seu personagem morra no 6º andar,por exemplo, você pode usar um outro personagem seu para ir resgatá lo, por escadas, ou pelo elevador para ser mais rápido. Basta encontrar o personagem, matá-lo e, pronto, recuperado.  O problema é que rapidamente se torna frustrante.

Demasiadamente Let It Die

Caso seus outros personagens tenham level baixo, o jogador acaba gastando algumas horas para conseguir recuperar o mais forte de volta. É o que faz qualquer um gastar suas vidas, tentar poupar não apenas minutos, mas até horas de gameplay. Porém, diferente de Dark Souls, no qual só basta saber jogar, Let it Die cria momentos e batalhas em que vencer é quase impossível sem morrer pelo menos uma vez. É frustrante e injusto jogar um jogo tão bem construído que falha em design de propósito.

Esses momentos impossíveis  acontecem as vezes com uso de muitos personagens com armas de ataque distantes ou não. Outro momento que é possivel sentir o problema são com os chefões. Eles são a epítome desse problema: os ataques são fortes e em combos e um deslize pode retirar quase toda a vida do jogador. É possível usar item de cura, apertando scroll do controle do Playstation 4, mas até nisso ele é propenso ao erro.

Let it Die sangue
Mesmo com muito sangue e dificuldade o jogo é bastante cômico.

Pelas dungeons você encontra cogumelos ou alguns animais como escorpiões e sapos. Os animais podem ser guardados para comer e recuperar vida, a maioria dos cogumelos são explosivos ou venenosos e podem ser jogados nos inimigos para facilitar a batalha. Uma variável interessante para se usar em combate, entretanto, esses itens estão no mesmo menu e local dos itens de cura. Além de ser fácil se confundir e usar os itens como cura e perder sangue ou até morrer, é difícil usar contra os inimigos visto que a maioria dos oponentes são rápidos. Nem mesmo se curar é fácil, é muito comum deslizar ou apertar pra segurar e acabar comendo algo que não deveria.

Souls Like

Ele comete os mesmos erros dos intitulados “Souls Like” de propósito, focado em dificuldade e não no design geral. É uma boa forma de percebermos o feito da franquia Souls. Não é fácil ser desafiante sem ser injusto. Não só em jogos parecidos com ele, mas em todos os outros. Mesmo Mario, que se resume a poucos botões precisa até hoje de fases bem construídas para apresentar o desafio ao jogador.

Let it Die funciona como nos jogos antigos, com uma dificuldade injusta para aumentar o tempo de duração ou obrigar o jogador a gastar mais fichas. Furi –indie lançado para PC, Playstation 4 e Nintendo Switch- é um bom exemplo de batalha desafiadora e justa. Sendo um jogo que se resume a batalha contra chefes, ele usa de rodadas para preparar o jogador a vencer a próxima com um pouco mais de dificuldade, até que chega em um teste final que para vencer é preciso utilizar tudo o que foi ensinado na luta.

Os riscos de Let it Die

Obviamente isso não é uma regra obrigatória, jogos podem brincar com esquemas de aprendizado de mecânicas, como o próprio Dark Souls utiliza primordialmente de forma sútil. Uma forma que o jogador nem percebe que está aprendendo. Contudo, Let it Die, sem ou com esses tutoriais é quebrado diversas vezes por luta contra três ou quatro inimigos ao mesmo tempo em lugares apertados. Meticulosamente pensados para ser quase impossível de derrotar sem morrer. Alguns com arma de média distância, outros curta e um de longa distância. O pior é que graças ao fato de precisar gastar dinheiro por continues, até mesmo treinar se torna mais complicado e as vezes desvantajoso. Os riscos acabam sendo muito maiores.

Não existe problema em um free to play tentar conseguir dinheiro de alguma forma. Afinal, são anos de trabalho e dinheiro investido e isso tem que ter algum tipo de retorno.  Entretanto, hoje já existem outras maneiras mais seguras de conseguir dinheiro sem estragar a experiencia. Let it Die tem um sistema de armaduras que quebram, não seria mais fácil poder mudar o visual do personagem pagando? Caso necessite dar uma vantagem a quem está disposto a pagar, poderiam até mesmo permitir pagar para que você possa fazer a dungeon sozinho sem que outro jogador invada seu espaço. Isso permitiria o design do jogo ser feito corretamente sem se tirar “pay to win”.

Com essas ideias implementadas as lutas  seriam mais justas e a curva de aprendizado poderia ser melhor. Dessa forma, com certeza estaríamos ouvindo falar bem mais de Let it Die até hoje. Uma prova de que dependendo dos problemas, um detalhe pode estragar o jogo comletamente.

O game está disponível para Playstation 4 e PC

Este texto foi publicado originalmente no site Player 2. Ele faz parte do Remix Player 2, um grupo de textos meus publicados no site reeditados para o Game Lodge. 

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