Microsoft e Sony: Visões diferentes em dois GoW

Escrito por Silvio Diaz
Destaque

God of War e Gear of War 4 não tem praticamente nada em comum. São jogos feitos para públicos e consoles diferentes, com mecânicas também diferentes. Ainda sim, mesmo com tantas diferenças, os dois  tem a sigla GoW graças ao nome e representam muito bem a diferença entre a Sony e a Microsoft com o Playstation 4 e o Xbox One. As duas empresas têm claramente visões diferentes de seus jogos e tanto Gears quanto God of War carregam o máximo dessa ideia.

Para falar sobre a diferença das duas empresas, é importante olhar a indústria como um todo. Na geração atual estamos vendo cada vez mais publishers e desenvolvedoras procurando todo tipo de maneira para ganhar mais dinheiro com seus jogos. EA, Ubisoft, Activision e etc. Todas elas ganham dinheiro apenas com jogos. Diferentes da Nintendo, da Sony e até da divisão Xbox da Microsoft, que ganham também com o console.

Publishers, Desenvolvedoras e seus jogos

Essas empresas que lucram somente com venda de jogos acabam precisando ganhar o máximo possível em cada lançamento. Principalmente na geração atual que jogos estão ficando cada vez mais caros e a mais de uma década não tem seu preço de venda aumentado. Sendo assim, as empresas buscam tornar um jogo vendido a 60 dólares, em 70,80 ou até mais, algo já feito desde a geração passada.

Street Fighter 4 teve diversas versões lançadas na geração passada.

Uma das primeiras ideias foram as DLCs, algo apenas possível a partir da geração passada. Foi um jeito de tornar os jogos mais lucrativo gastando pouco para criar novas missões, skins e etc para um jogo já pronto. Não é atoa que jogos de luta como Street Fighter 4 abusaram das Dlc’s dos relançamentos. Uma forma da Capcom conseguir o máximo de dinheiro possível com um jogo já pronto.

Na geração atual as empresas entenderam melhor o consumidor e o como ganhar mais dinheiro sem parecer abusivo, os jogos serviço. Dessa forma, tendo novidades recorrentes o jogador fica mais propenso a gastar dinheiro com lootbox, skins e até os dlc’s mais desnecessários. Ainda por cima, as empresas diminuem o número de cópias usadas do mesmo jogo. Destiny, Monster Hunter World ,Final Fantasy 15 e GTA V são bons exemplos de jogos serviço.

Slide diferença de jogos serviço Ubisoft

Imagem usada em slide da Ubisoft sobre o motivo de trabalharem seus jogos hoje como serviço.

Destiny além de micro transações consegue vender suas expansões, tal qual Final Fantasy 15 recebe diversas atualizações gratuitas e alguns DLC’s pagos. Monster Hunter World focou até o momento em apenas atualizações gratuitas com poucos DLCs. GTA V, talvez um dos primeiros a conseguir criar um bom jogo serviço, até hoje vende bem graças ao seu modo online e a Rockstar ainda tem ganho muito dinheiro com as micro transações.

A questão é que essas empresas estão correndo atrás da ideia pois é dessa forma que ganham dinheiro. Obviamente, nem todas conseguem utilizar. A EA com Star Wars Battlefront 2 abusando ao máximo dessa ideia e até mesmo Assassin’s Creed Origins, que apesar de ser um bom jogo, tem um sistema de level terrível para alongar a campanha e diminuir venda de jogos usados. Ideias que não são necessárias quando a empresa foca seu lucro em consoles.

Slide jogos serviço Ubisoft

Segundo slide de apresentação da Ubisoft, jogos serviço conseguem manter um bom numero de vendas.

Nintendo Sony e Microsoft com seus consoles

A Nintendo entende muito bem isso a anos. Todos os seus jogos são criativos e bem polidos. Mesmo que o Wii U não tenha vendido bem, o console tem jogos incríveis e bem trabalhados, nenhum deles com DLC abusiva ou ideias para alongar experiência desnecessariamente. Seus jogos são o que a empresa quer deles e é graças a isso que na maioria das vezes são jogos de qualidade. Algo que God of War prova que a Sony também aprendeu.

Heavy Rain, Ratchet and Clank, Horizon Zero Dawn e até mesmo Street Fighter 5 são apenas alguns dos jogos que a Sony investiu e só existem graças a empresa estar preocupada em vender consoles e não jogos. Essa é a importância da existência de exclusivos e das first party, a possibilidade de jogos com investimento triple A serem mais experimentais e agradarem nichos diferentes.

Basta pensar quantas outras empresas lançam jogos como Detroit Become Human ou até experimentam mudanças drásticas em suas grandes franquias, como foi com Zelda Breath of the Wild e God of War. Essa possibilidade de criar jogos importantes e de alta qualidade sem se preocupar com a parte lucrativa é o que tem feito a Sony e a Nintendo venderem tantos consoles.

Detroit Become Human mulher

Detroi Become Human é um jogo desenvolvido pela Quantic Dream, dirigido por David Cage. Um jogo focado em uma narrativa que se adapta as escolhas do jogador.

Aos poucos fica claro também que essa qualidade e experimentalismo vende. Enquanto diversos estúdios batem na tecla de que jogos single player hoje são inviáveis, God of War se tornou o exclusivo da Sony que vendeu mais rápido, uma prova de que o público está sedento por essas experiências diferentes.

Entretanto, até o momento a Microsoft tem tido outro tipo de visão, que agrada um outro nicho de jogadores. Os jogos da Microsoft lançados até o momento tem muito mais uma visão de lucro. Uma tentativa de ganhar dinheiro tanto com o console quanto com o jogo.

Não é atoa que duas de suas maiores franquias, Halo e Gears of War apostem tanto no seguro. São jogos com muito multiplayer, dlc’s e micro transações. Dois bons jogos feitos com outra mentalidade. Não é atoa que todos os seus exclusivos estão sendo lançados para computador, a ideia agora não é lucrar apenas com o aparelho, mas com jogos e até serviços como o Gamepass.

Em Gears of War 4 o jogador pode gastar dinheiro de verdade para comprar skins de personagem, armas e etc.

Obviamente essa visão segura é apreciada por muitos jogadores e não é de maneira nenhuma ruim. Ainda que não recebam notas altas e os elogios que jogos lançados pela Sony e a Nintendo, eles tem um público que não pode ser ignorado. Entretanto, esse estilo de desenvolvimento também traz problemas.

Um dos jogos mais diferentes lançados com exclusividade para o Xbox One, foi D4: Dark Dreams Don’t Die -desenvolvido pelo mesmo criador de Deadliest Premonition, Swery. Segundo relatos a segunda temporada do jogo foi cancelado pela primeira não vender bem e o motivo das fracas vendas seriam o desleixo da Microsoft com o jogo.

D4 protagonista

D4: Dark Dreams Don’t Die foi cancelado pouco tempo depois do lançamento da primeira temporada

Muitos acreditam que a empresa desistiu do jogo e deixou de investir no marketing do mesmo. Uma escolha justa na visão segura que a empresa tem tido, mas que impossibilitou um jogo peculiar e único de ser concluído.

De GoW para GoW

Gears of War 4 é um jogo seguro. Ele tem as mesmas mecânicas e ideias de todos os outros jogos da franquia e um foco no multiplayer. God of War mudou seu gameplay, teve pela primeira vez um foco narrativo, com uma história mais pessoal e sentimental e não tem nada multiplayer.  Um mais comum, outro mais ousado e ainda sim dois bons jogos. A diferença está na ideia, na visão de game design, mas principalmente na escolha da empresa na forma de lucrar.  

São esses detalhes que God of War e Gears of War exemplificam muito bem a diferença das duas grandes empresas. Enquanto a Sony experimenta e se preocupa em criar jogos diferentes e chamativos para vender console, a Microsoft lança jogos como Gears of War, focados em multiplayer, com micro transações e outras formas de lucrar com o jogo, focada em vender jogos e serviço.

São essas diferenças que tornam a indústria mais viva e interessante. Graças a essas mudanças de visão, estamos tendo jogos diferentes com a Sony e novas propostas de serviços como o Gamepass e até mesmo a possibilidade dos jogadores terem seus exclusivos do Xbox One em computadores. Claro que alguns vão preferir mais um desses dois estilos, mas é inegável: É importante que essas duas visões existam como God of War e Gears of War existirem.

Indicações de links para se aprofundar no tema:

Imagens do slide da nova visão de desenvolvimento da Ubisoft 

Sobre preço de jogos

Texto sobre como God of War apresenta as diferenças entre as duas empresas

A importância de jogos exclusivos: