Crítica: Weird West – Um Oeste estranho e fantástico.

Por Arthur Tayt-Sohn

Desenvolvido pela Wolfeye Studios, que conta com veteranos da indústria que trabalharam em Dishonored e Prey, e publicado pela Devolver Digital, Weird West explora uma nova perspectiva de seus criadores, sendo um jogo com visão isométrica e que explora elementos de ação, RPG e immersive sim. E o resultado de tudo isso você descobre agora.

Bem vindo ao Oeste Estranho

O Weird West é um mundo misterioso. Nessa releitura do Velho Oeste, cowboys, xerifes, nativos e bandidos dividem espaço com bruxas, sacerdotisas, canibais, lobisomens e espíritos vingativos.

Sua aventura começa com Jane Bell, uma caça-recompensas aposentada que precisa retornar ao seu antigo trabalho quando traficantes de humanos matam seu filho e sequestram seu marido para servir de alimento para um misterioso grupo de canibais.

Para isso ela deverá viajar até a cidade de Grackle, para buscar pistas e ajuda dos diversos moradores da cidade, como a xerife local, bem como encontrar mercenários dispostos a entrar em seu bando.

Após se familiarizar com as mecânicas básicas do jogo e conhecer um pouco da história, descobrimos que na verdade são cinco personagens jogáveis, onde passaremos pela “campanha” de cada um deles, que apesar de possuírem suas vidas distintas, estão interligados algo em particular.

Um Oeste perigoso

Durante suas aventuras, os confrontos serão inevitáveis. Embora em alguns momentos você consiga resolver suas missões de forma não violenta, na maior parte do tempo irá se encontrar em conflitos.

Para isso, o jogo conta com um sistema que mescla ação e RPG em uma visão isométrica. Os personagens podem utilizar cinco tipos de armas equipadas ao mesmo tempo, sendo uma delas corpo a corpo. Além disso, temos acesso à diversos explosivos, como as icônicas dinamites.

A variedade de armas é pequena e elas são divididas por níveis, indo de comum a lendária. Esses níveis podem ser aprimoradas na forja do ferreiro, em troca de minérios que você encontra pelas suas aventuras. Também é possível comprar armas em lojas, mas eu particularmente não precisei. O drop de armas de boa qualidade é bastante generoso.

Além das armas, podemos usar uma vestimenta como armadura e amuletos, que concedem algumas vantagens ou poderes mágicos. As vestimentas também contam com status como redução de dano e resistência à elementos, como fogo ou eletricidade.

Cada personagem também tem acesso à habilidades individuais, sendo as habilidades de arma padrões para todos os personagens e mais algumas habilidades únicas de acordo com o personagem que você está jogando no momento. Com isso você consegue utilizar pontos para melhorar as habilidades que melhor se encaixam no seu estilo de jogo.

Também encontraremos durante o jogo cartas douradas que dão pontos para serem distribuídos em habilidades especiais que são passadas para o personagem seguinte. Por exemplo, investindo pontos em bônus de HP fará com que o próximo personagem inicie já com vida máxima maior.

Com isso, em determinado ponto do jogo você consegue iniciar a campanha seguinte com uma boa vantagem, devido a essas habilidades. Algumas são bastante fortes, como a que concede bônus de HP e dano para os membros do seu bando.

Eu senti que algumas habilidades acabando sendo muito ofuscadas por outras muito mais vantajosas. Por exemplo, na minha campanha não faria sentido investir em desconto de preço nos itens das lojas, porque raramente eu comprava armas e equipamentos nelas e as munições são muito baratas. Afinal, é uma releitura do Velho Oeste mais ainda é basicamente os EUA.

Escolhidos seus equipamentos e habilidades, você pode decidir a melhor forma de abordagem para completar suas missões. É possível completar boa parte das missões utilizando stealth ou simplesmente encarnar o Clint Eastwood e se envolver em tiroteios e explosões.

Nesse ponto, a experiência dos desenvolvedores com immersive sims faz toda a diferença. Os mapas oferecem diversas opções de abordagem. Precisa invadir uma casa? Você pode procurar uma janela que dê para abrir, subir no telhado e descer pela chaminé com uma corda ou simplesmente arrombar a porta da frente.

Você pode escolher em gastar seu arsenal de armas, explosivos e habilidades, juntar seu bando e massacrar seus inimigos, sejam humanos ou não, ou simplesmente se aproximar sorrateiramente, deixa-los inconscientes e esconder seus corpos. E fazer isso à noite funciona muito melhor.

O design dos mapas faz com que dificilmente uma abordagem seja 100% idêntica o tempo inteiro. Ao fazer loadings em alguns momentos que falhei no jogo, notei algumas pequenas alterações de rotina em alguns inimigos, por exemplo.

E os mapas também podem ser utilizados a seu favor. Você pode usar uma bomba de eletricidade quando seu inimigo estiver em uma região molhada, chutar um barril de pólvora nos inimigos e atirar para que ele exploda, derramar óleo e queimá-los, etc.

Jogar Weird West é uma parque de diversões para quem gosta de ser criativo, pois os desenvolvedores da Wolfeye criaram ambientes para que cada jogador decida a melhor forma de avançar.

Eu confesso que tive alguns problemas apenas com o controle de mira. Não encontrei uma configuração de sensibilidade do analógico direito que me deixasse 100% confortável com a mira e por isso vez ou outra eu errava alguns tiros. Mas isso também pode ser minha falta de hábito de jogar esse tipo de jogo em consoles.

Mas fora esse pequeno empecilho técnico, a experiência no geral foi bastante divertida. Os comandos responderam bem, o jogo facilita um pouco sua vida com atalhos para troca rápida de armas e uso de itens, desaceleração do tempo para selecionar armas fora do atalho, etc.

A dificuldade dele no modo normal varia. Na maior parte do tempo o jogo foi bem fácil até, mas tive alguns picos de dificuldade, por conta de algumas escolhas que fiz na penúltima campanha. Mas no geral é um jogo bastante acessível.

O fantástico Oeste Estranho

O ponto que o jogo se destaca mais, em minha opinião, foi a construção do mundo de Weird West. Desde sua escolha artística, inspirada em HQ’s francesas, sua ambientação baseada em fantasia sombria até a forma que o mundo reage a cada ação do jogador.

A arte é bem bonita e passa a sensação de estarmos jogando uma HQ. Em diversos momentos me lembrou o estilo de arte de Darkest Dungeon, que eu também gosto bastante. Inclusive, eu poderia jurar que o narrador de Weird West é o mesmo de Darkest Dungeon.

O Weird West conta com parte do mundo muito semelhante ao Velho Oeste tradicional, então veremos cidades em ambientes áridos, aldeias de nativos, fazendas de tabaco e tudo aquilo que já vimos em filmes. Cowboys, camponeses, trabalhadores de minas e nativos também estão presentes e bem caracterizados.

Por ser uma releitura em fantasia sombria, o Weird West também abriga outros tipos de seres vivos, alguns nem tão vivos. Além de zumbis e aparições, temos humanoides suínos, aberrações e outras criaturas incompreensíveis, que talvez tenham saído da cabeça do Lovecraft.

A arte do jogo é incrível e coerente com a proposta do jogo. É facilmente identificável quando estamos em um templo das sacerdotisas Oníricas, por exemplo, já que cada povoado e seus habitantes contam com estilos bem distintos e únicos.

Pode-se dizer que o Weird West em si é o protagonista do jogo, seja pela forma como a história se desenvolve em torno desse mundo ou seja pela sua personalidade extremamente marcante.

É um local estranho e que nem se importa muito em se explicar pra você. Talvez você demore para entender exatamente algumas facções e traços culturais e está tudo bem, é realmente um mundo incompreensível em um primeiro momento.

Mas ao mesmo tempo é orgânico e dinâmico. Durante suas andanças no jogo, os dias passam normalmente e o Oeste vive dia após dia. Suas ações determinam não apenas as reações das pessoas em relação a você, mas a própria estrutural social da região.

Essas reações acontecem o tempo inteiro e as vezes uma decisão tomada no começo do jogo vai ter um impacto nos segmentos finais dele, e você não tem como saber exatamente o desfecho de cada ação.

Me lembro de um ensaio que assisti alguns anos atrás do Canal Meteoro, sobre Chrono Trigger, que discute como algumas ações do protagonista Crono alteram a percepção das pessoas que estiveram presentes em seu julgamento. E a partir daí, nos sentimos vigiados e julgados o tempo inteiro no jogo.

Weird West faz exatamente isso, e faz muito bem. Você pode por exemplo escolher acabar com uma gangue que está aterrorizando uma cidade, mas talvez você mate o parente ou amigo de alguém e essa pessoa volte pra se vingar, iniciando um tiroteio em uma cidade, envolvendo pessoas inocentes que também vão reagir a como você lidou com essa situação.

Salvar uma pessoa em perigo também tem consequências, só que boas. Um prisioneiro por exemplo, pode virar um amigo para a vida toda e vir em seu socorro durante alguma batalha difícil.

Antigos aliados podem ser assassinados ou tomar outras decisões na vida e se tornarem inimigos. Você pode poupar a vida de uma pessoa que te fez mal e ela buscar vingança mais pra frente ou aparecer no quadro de recompensas por estar causando problemas demais para os habitantes do Weird West.

O coveiro fará questão de enterrar os mortos dos tiroteios na cidade, os vivos podem retornar como mortos ou criaturas até piores, um povoado pode ser abandonado e repovoado novamente, seja por cidadãos apenas querendo levar a vida ou criaturas malditas e perversas. O Oeste nunca dorme e sempre há algo acontecendo.

O Weird West é um personagem vivo da história e é muito interessante ver como ele se desenvolve como resultado de suas ações, e também apesar de suas ações. E apesar do ciclo de violência e morte que fica presente o tempo inteiro no jogo, o West exala vida.

Um mundo que merece ser visitado

Weird West apresenta um dos mundos mais interessantes que conheci recentemente. O jogo às vezes se torna um pouco repetitivo, mas conhecer esse mundo é fascinante. E ironicamente, apesar de tanta morte e violência, o jogo tem algo a falar a respeito da vida.

Apesar de não se aprofundar muito em seu roteiro, há boas ponderações a respeito do significado de estar vivo, de sentir e do conceito de imortalidade. O Oeste é um mundo violento e hostil, mas que também tem espaço para generosidade, perdão, fé e esperança.

Os diversos grupos do Weird West, na maioria dos casos, estão apenas tentando viver como sabem e como podem. E às vezes para fazer o que é certo, você precisa tomar decisões difíceis que vão contra o que os personagens sempre acreditaram. Fazer o certo pode custar muito caro e até te fazer repensar se foi mesmo a escolha correta. Nada que rejogar não resolva.

Os desenvolvedores da WolfEye criaram um jogo que me fascinou com seu mundo, que me fez pausar uma missão principal porque eu queria saber “o que será que tem ali?” ou para simplesmente fazer alguma missão secundária, seja para ajudar alguém ou porque tinha algo de muito interessante para descobrir.

Um mundo que vale a pena conhecer e que eu adoraria revisitar em uma sequência.

Nome do jogo:

Weird West

Publisher:

Devolver Digital

Desenvolvedora:

WolfEye Studios

Plataformas Disponíveis:

PC, Playstation 4, Xbox One