Crítica: Cadence of Hyrule – Um verdadeiro Zelda

Por Silvio Diaz

Cadence of Hyrule mesmo podendo ser um jogo cheio de homenagens a franquia de The Legend of Zelda foi muito além disso. Mais que uma carta de amor a franquia de mais de 30 anos, o game crossover com Crypt of Necrodancer consegue ser um verdadeiro Zelda, com tudo o que ele precisa para ser um excelente jogo da série.

Cadence of Hyule Link

Mesmo que o visual e principalmente as músicas possam ser vistas como apenas uma homenagem, as mecânicas de Crypt of Necrodancer criam uma conexão, esses elementos se tornam uma base. O visual com uma arte inspirada em Minish Cap porém mais “moderno”, resgata diversos tipos de inimigos, personagens e locais icônicos de toda a franquia e a apresentam nesse novo estilo de arte. O mesmo acontece com as músicas que são remixadas para funcionar no estilo do jogo e fazem dele o que ele é.

Toda a trilha sonora de Zelda que está rearranjada em Cadence of Hyrule é um motivo de sua existência. Foi até mesmo algo comentado em uma entrevista com os desenvolvedores para a IGN americana. Zelda no fundo sempre foi ligado a música, tanto pela trilha sonora marcante quanto pelos instrumentos que rodeiam o universo, a diferença é que dessa vez a trilha sonora não está no jogo só para criar clima ou como um objeto mágico. Ela é o guia para a movimentação e combate do jogador e mesmo assim, ainda funciona bem para levar ao jogador ao mundo de Hyrule.

Entretanto, existe algo mais importante em Zelda que música, e Cadence of Hyrule entendeu isso muito bem. Existe uma simplicidade muito clara na franquia que vem mudando e se reformulando para os novos tempos, uma simplicidade que no fundo é bem mais complexa do que parece e que torna a franquia especial do jeito que é. Algo muito bem representado no jogo dos desenvolvedores indies. A Brace Yourself Games( Desenvolvedora de Crypt of Necrodancer e Cadence of Hyrule) conseguiu compreender perfeitamente essa superfície simples com um fundo de complexidade presente na exploração e na sensação de aventura.

Cadence of Hyule Zelda

Desde pela composição e visual dos cenários que se agrupam em locais aleatórios de cada campanha, até a forma que aos poucos o jogador se sente mais forte e mais apto a sobreviver naquele mundo; A sensação de aventura em Cadence of Hyrule é forte. Mesmo andando seguindo um ritmo, a sensação característica de Zelda, de olhar para o mundo e ter vontade de visitar cada área é mais presente do que até mesmo alguns jogos principais da franquia. São características muito “da Nintendo” e que os desenvolvedores tiveram uma ótima compreensão de como fazer.

Um outro exemplo do quão bem entenderam a franquia, foram as mudanças que a Nintendo tem feito com Zelda nos últimos anos e estão presentes no indie. Aos poucos, a forma que itens são espalhados na campanha e puzzles e dungeons funciona em Zelda tem mudado. Link Between World foi a primeira tentativa dessa reformulação e funcionou muito bem, ele permitia comprar todos os itens e com isso os puzzles e dungeons podiam explorar mais e permitir o jogador a brincar  com a forma de resolver cada um deles. Breath of the Wild foi além e resolveu o maior problema de Zelda e criou um motivo maior de explorar cada canto do mapa.

Espalhando armas e itens diferentes pelo mundo, aumentando stamina e sangue através de puzzles o jogador ganhou um verdadeiro motivo para explorar sem se decepcionar. Tudo passa a ser mais importante do que apenas um pedaço de coração ou rupia, e esses elementos da reformulação de Zelda estão em Cadence of Hyrule.


Usando a aleatoriedade da disposição de itens os desenvolvedores abriram ainda mais as formas de solucionar seus puzzles. No game, existem diversas maneiras diferentes de os resolver usando apenas a criatividade e o conhecimento das mecânicas. Não obstante, resolver esses quebra cabeças não oferecem apenas pedaço de coração ou rúpias, não existe nem mesmo uma tentativa de os esconder. Esses puzzles dão os itens que realmente importam. Arco e flecha, cajados de gelo ou fogo, ou a tão famosa Grappling Hook, objetos muito mais gratificantes de encontrar e que dão um verdadeiro incentivo ao jogador de explorar.


Nada é mais Zelda do que exploração no meio de uma aventura. A surpresa de encontrar pequenas maravilhas que ajudam a sobreviver e passear naquele mundinho cheio de inimigos e mistérios é trivial para a franquia e são esses  elementos que em poucos minutos ficam evidentes Cadence of Hyrule. No fim, não tem como dizer que ele é só uma skin de Necrodancer ou um  spinoff de The Legend of Zelda. Cadence of Hyrule tem força e qualidades suficientes para ser um ótimo “Zelda”. Ele segue tudo o que a Nintendo tem avançado na franquia nos últimos anos e consegue reproduzir o espírito, personalidade e a exploração presentes na franquia a anos, e isso é mais que o suficiente para o considerar um verdadeiro Zelda e um ótimo jogo.