Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
SD Gundam Battle Alliance é um RPG de ação multijogador desenvolvido ARTDINK e publicado pela Bandai Namco Entertainment, em que o jogador deve controlar um Mobile Suit e enfrentar uma horda de inimigos e poderosos chefes para corrigir rupturas temporais na timeline de Gundam. E é o primeiro jogo da franquia Mobile Suit Gundam a receber localização para português brasileiro. A versão disponibilizada para análise foi a do PC via Steam.
Uma rápida contextualização para quem não conhece, Gundam se trata de uma franquia japônesa iniciada como anime em 1979, que trata de um cenário militarista e político de disputa de territorios e de colonização espacial, com guerras utilizando robôs gigantes, os Mobile Suits, com os Gundam sendo robôs especiais dentre os Mobile Suits. E o SD no nome do jogo vem de Super Deformed (super deformado) e por isso robôs são essas versões pequenas num tom mais cômico.
A história do jogo é simples. Seu personagem, no qual você escolhe o nome, é um comandante do esquadrão Gatheroad na Guerra de Um Ano, que é arrancado de sua linha do tempo e trazido para um lugar chamado G-Universe, junto da suas assistente Juno Astarte e da IA companheira dela, Haro. Sakura Slash, uma IA que funciona para guia pelo local, foi quem os levou lá. Ela explica que o G-Universe é um local que funciona como um imenso servidor onde ficam registradas todas as histórias de Gundam, mas que no momento várias linhas do tempo estão se cruzando, criando as “Missões de Ruptura”. Seu objetivo é partir para essas missões para corrigir as diferentes linhas do tempo de Gundam, pesquisando em diferentes diretórios do G-Universe para encontrar os Mobiles Suits certos e imprecisões históricas, e assim garantir que o cânone se manterá como deve ser.
Por mais que você não precise saber nada de Gundam para poder jogar SD Gundam Battle Alliance, a experiência com o jogo é totalmente diferente caso você possua alguma base com a franquia. O jogo de uma forma bem satisfatória aproveita a problemática de várias linhas do tempo para criar momentos de fã service. Coisas como um personagem falar “Não é uma boa ideia confiar em homens de máscaras” ou simplesmente o jogo permitir que Gundams de universos completamente diferentes se enfrentem e interajam entre si.
Além disso, Juno e Sakura são o ponto alto do enredo. Muitas de suas falas são bem pertinentes e por mais que elas trabalhem juntas, elas não confiam totalmente uma na outra (o que é normal de se pensar pela situação). A medida que vamos avançando por mais histórias de Gundam elas vão pontuando várias similaridades que as histórias compartilham, mesmo sendo tramas de universos completamente diferentes. Criando algo realmente interessante de se assistir, pois são personagens com um interesse e um entendimento do universo de Gundam e em seu funcionamento. Além das ótimas interações entre os personagens canónicos da franquia, que numa situação normal nunca se encontrariam.
Apesar do jogo mandar bem na parte do fã service, ele não entrega nada de muito satisfatório em sua trama. O “vilão” é o ponto mais baixo do enredo, pois o jogo mantém até o último instante um mistério sobre quem está por trás de tudo e qual seria o motivo das rupturas estarem acontecendo. E no momento final, quando tudo é revelado, é muito pouco tempo para tentar assimilar o que está ocorrendo ou você já perdeu genuinamente o interesse. Fora que, para algo que está alterando a linha do tempo de inúmeros universos de Gundam, eles falham em entregar um personagem a altura de um feito desses.
Outra bola fora do jogo é com o personagem controlado pelo jogador, que na parte da trama é um mero espectador. Ele até fala e interage com o resto dos personagens, com o jogador podendo escolher uma fala dentre opções de diálogo, mas são sempre falas que não mudam em nada a história. O que por si só não é um problema, se não fosse o fato de que os poucos momentos, em que o personagem fala algo, fossem totalmente descartáveis. É mais uma sensação de que o resto do elenco fala o que importa e desenvolvem uma conversa sozinhos, para no final lembrar que você esta lá e falar “Vai lá e luta, tu consegue”.
Um parte que é bem interessante e funciona bem, apesar de escorregar mais para o final, é a biblioteca de cenas. Além de poder rever cenas que passaram, ela possui cenas extras que complementam as explicações. Elas são usadas com maestria para explicar a história de Gundam que estamos indo corrigir, pois assim quem não conhece pode ir assistir a cena e entender a história por trás e quem já conhece não perde tempo as assistindo. Só que mais para o final eu senti que eles se aproveitaram demais dessa função e pararam de explicar até conceitos presentes apenas para o jogo. Eu entendo que o jogo tem um número até alto de cenas e poderia ficar maçante, mas eu acho ainda pior ter de ir procurar uma cena extra para algo que é de extrema importância para a trama do jogo e que não foi vista em outro lugar antes.
Vale destacar que, como muitos jogos do gênero, existem muitas conversas entre as missões. O porém é que essas conversas por muitas vezes são extremamente interessantes e até importantes para entender o que está acontecendo em tela, mas como o jogo é uma ação do inicio ao fim, você não consegue pegar esses diálogos na maioria das vezes e perde muito complemente legal ao enredo do jogo. Fora as cenas de fã service que passam despercebidas com dois ou mais personagens canónicos de Gundam conversando entre si.
O jogo pré e pós missões funciona tipo uma visual novel, onde temos uma cena dos personagens fazendo alguma expressão e leves movimentos, como piscar, e podemos em certos momentos escolher uma opção de diálogo para dar continuidade as cenas. Uma coisa legal e merece ser destacada é que todas essas conversas e cenas estão com atuação de voz. Já durantes as missões, temos cutscenes muito bem feitas.
O jogo possui 3 tipos de missões: as “missões de rupturas”, para o jogador ir até o pronto de imprecisão e descobrir o que está causando as alterações no cânone. As “missões verdadeiras” ocorrem quando o jogador eliminou todas as imprecisões históricas. Ele deve repetir a missão, mas dessa vez seguindo completamente o cânone, para que o servidor do G-Universe possa registrá-lo novamente. Além disso, existem as “missões de caóticas”, que são missões paralelas que somem e ressurgem com o tempo e servem basicamente para encontrar um Gundam que você não havia visto antes em alguma missão, para você poder grindar e desbloqueá-lo.
Para realizar as missões, o jogador lidera um esquadrão de 3 unidades de Mobile Suits, que podem ser preenchido online com mais dois jogadores ou por dois NPC assumindo como um personagem do cânone de Gundam. Ao concluir uma missão ruptura o jogador ganha capital, peças e plantas de Mobile Suits. O capital serve como a moeda do jogo e é usado para comprar melhorias para os Mobiles Suits, podendo aprimorar entre quatro status: vida, propulsão, ataque de perto e ataque distante. Já as peças são itens equipáveis ao Mobile Suit que podem aumentar ou diminuir algum status em específico. As plantas de Mobile Suit são itens necessários para que o jogador possa desbloquear novos robôs para jogar.
Cada Mobile Suit necessita de uma planta específica, e o número de itens necessário para desbloquear vária. Existem os que pedem apenas uma planta e são simples de desbloquear e existem aqueles que pedem mais de uma planta e de um número específico para cada parte, sendo necessário um grind para coletar tudo e desbloqueá-lo.
Os Mobile Suit são divididos em três categorias: os Lutadores focados em ataques corpo a corpo, os Atiradores focados em ataques a distância de projéteis físicos ou a laser, e os Generalistas que possuem status equilibrados entre distância e corpo a corpo. Todos eles possuem leveis e status específicos, que são aprimorados ao melhorar o personagem gastando Capital ou anexando peças a eles. As melhorias utilizando o Capital possuem uma trava que vai sendo liberada a medida que o jogador progride no jogo, e a medida que o level vai aumentando, vai ficando mais caro realizar as melhorias, necessitando que o jogador tenha que farmar Capital em alguns momentos.
No total temos mais de 60 Mobiles Suits de um total de 26 séries de Gundam para jogar. A séries presentes são essas abaixo:
Além do nível do robô, o piloto e os companheiros possui um nível próprio que aumenta conseguindo experiência ao terminar missões. Além do nível de experiência, os companheiros, possuem também nível de amizade, que ao melhorar aumenta o bônus que aquela unidade dá ao ser levado em batalha. Levar companheiros que tenham alguma ligação de enredo melhora o bônus concedido. Além disso, o piloto que controlamos possui habilidades que podem ser equipadas e dão bônus diferentes. Mais espaços e habilidades para equipar são desbloqueadas a medida que o level do piloto aumenta.
Por mais que o jogo tenha um número até bom de missões, cenários e inimigos diferentes, metade do jogo é repetir as mesmas missões com leves alterações para poder fazer toda correção do cânone, o que torna cansativo depois das horas iniciais. Tudo piora quando todas as mecânicas do jogo incentivam ou demandam um grind do jogador, já que para liberar/melhorar um Mobile Suit, um companheiro ou conseguir itens melhores necessita que o jogador repita inúmeras vezes as mesmas missões. O recomendado é realizar o grind jogando com uma party fechada, pois deve amenizar esse cansaço da repetir, apesar dele ainda estar presente.
Outro ponto muito ruim do jogo é o jogo possui inúmeros Mobiles Suits mas você só consegue usar poucos sem ter que realizar um grind pesado. Se você for jogar sem realizar farm algum, deverá focar em uma, no máximo duas, unidades, o que limita bastante seu elenco. E se você for querer usar todos que gosta, vai precisar grindar muito ou não conseguirá progredir no jogo, pois os inimigos ficarão muito acima do seu nível.
Na parte de gameplay temos ataques leves, ataques pesados, ataques à distância e duas habilidades secundárias utilizando os gatilhos. Seus ataques à distância e ataques secundários possuem um tempo de espera, e um medidor de ataque especial também carrega conforme você causa e recebe dano. Existe também uma barra de propulsão, que funciona basicamente como stamina, que é gasta ao realizar ataques leves ou pesados e ao voar.
Para defesa temos, a guarda comum, que reduz o dano que o jogador leva e possui uma barra que pode ser quebrada, e uma guarda perfeita que anula completamente o dano que o jogador levaria e não consome a barra de guarda. A esquiva também está presente no jogo, com sua versão normal que utiliza stamina para ser realizada e a esquiva perfeita, que não gasta stamina. O jogador também pode realizar uma recuperação rápida ao levar um golpe, permitindo que ele se levante rapidamente.
O jogador pode também realizar uma quebra de combo, impedindo assim o combo que o adversário realizaria em você. Essa quebra de combo também pode ser usado para quebrar o seu próprio combo, recuperando sua stamina e permitindo que você inicie um novo combo em seguida. Para realizar a quebra de combo, o jogador gasta uma barra que fica em baixo da sua vida e carrega com o tempo. Essa barra também é usado para realização Ações de Classe, que são ações variam de acordo com a classe do Gundam que você esteja usando.
O jogador leva um número limitado de kit médicos, que não podem ser repostos durante a missão. A quantidade vária de acordo com o Gundam que você utiliza e serve apenas para ser utilizado no jogador. Com ela você pode recuperar vida ou se levantar na batalha caso tenha sido derrotado. Para levantar seus companheiros, ou eles te levantarem, não é necessário possuir um kit médico disponível. A missão falha caso o tempo acabe ou todos estejam caídos em batalha.
Durante as missões o jogador tem que levar em consideração a unidade adversária pois cada uma possui resistências diferentes, alguns podem ser mais fracos a projéteis físicos, já outros a lasers ou a ataques corpo a corpo e etc. As unidades mais fortes possuem uma barra de equilíbrio e quando essa barra é zerada, você pode arremessar eles para longe com um ataque carregado. Existem unidades gigantes e algumas delas também possuem um escudo que resiste a ataques de projéteis a laser, o que faz que o jogador que utilize essa arma quebre o escudo antes de poder dar dano.
A gameplay do jogo no geral é agradável, responde bem e ainda existe uma certa complexidade, que se aprendida ajudará bastante em momentos mais a frente do jogo. É importante sempre o jogador ficar de olho nas resistências inimigas e tentar atacar por trás para dar dano extra. Se sua unidade for focada em corpo a corpo, é recomendado, além dos ataques por trás, os combos aéreos, já que eles dão mais dano. Unidades atiradoras funcionam bem, mas a depende do tempo de espera para recarregar seus tiros, pode ser um pouco incómodo. Em relação a defesas, a esquiva perfeita não se mostra tão útil quanto a guarda perfeita.
Antes de iniciar uma missão, o jogador pode escolher seu nível de dificuldade. No inicio a escolha é entre fácil e normal, mas ao terminar todas as missões da história no normal é liberado o difícil. No fácil, o jogador recebe menos dano e as recompensas são piores.
Na metade inicial do jogo, ele é bem tranquilo em sua dificuldade. Você faz as missões sem grandes problemas e só tem algum tipo de desafio na batalha contra o chefe, ao final das fases. Só que entrando em sua metade final, o jogo simplesmente começa a ficar desbalanceado, o tornando bem difícil. É uma mudança que pode ser sentida enfrentando as unidades inimigas básicas, que começam a dar trabalho e com os chefes que ficam muito mais desafiadores e irritantes.
O que mais incomoda e é o ponto mais grave do jogo é que simplesmente eles deixaram mais difícil tornando ele desbalanceado. Durante as fases, você continuar conseguindo lidar bem com os inimigos básicos, apesar de precisar de mais destreza e gastando mais recursos. O problema real reside nos chefes, que ficam uma coisa completamente idiota de se jogar contra.
Os chefes começam a apresentar movimentações extremamente difíceis de acompanhar, ficando colado em você o tempo todo, utilizando golpes extremamente poderosos sem parar e com a janela para utilizar a esquiva ou defesa perfeitas minúsculas. Sem contar as batalhas que assim que iniciam o chefe já ta na animação de ataque em cima de você. Tentar usar o kit médico pode ser bem frustrante também, pois caso a mira esteja no seu personagem, você vai receber uma chuva de ataques sem tempo para você se curar. A luta contra Mobiles Armors são particularmente as mais estressantes de se fazer.
Obviamente, por mais estressante que fique, não chega a ser impossível, principalmente se você tiver aprendido bem a mecânica de guarda perfeita, que vai anular o dano que você tomaria. O problema que o começo é tão tranquilo que provavelmente você nem acabe treinando a utilização dessas mecânicas pois você não vai precisar. A batalha será mais tranquila se o chefe resolver não travar a mira no seu personagem, então caso você use uma unidade a distância a dica que dou é atacar até ele virar a mira em você, nesse momento você foca em defender ou desviar e quando ele for atacar outro personagem, você volta a atacá-lo.
Eu joguei num Notebook com uma GTX1660TI, i7-9750H e instalado em um SSD. Durante toda minha experiência o jogo se comportou bem, com FPS superior a 60 mesmo durante as batalhas e sem queda. Também não tive problemas de travamento ou do jogo crashar. O loading é bem satisfatório e não tenho reclamações quanto a isso. Já quanto a bugs, único que tive foi durante uma missão no penúltimo capítulo em que a IA ficou parada sem me acompanhar pelo mapa e eu tive que reiniciar a missão para que ela voltasse a se mover.
A IA do jogo também é um ponto sem muitas reclamações. Os companheiros são bem úteis, eles atacam sem depender de você e de fato ajudam, além de caso você caia em batalha eles focam em ir te levantar. Quanto aos inimigos, não apresentam nada demais mas também não ficam parados atacando sem nenhuma estratégia, eles tentam se movimentar para te despistar e também a ir alternando entre ataques de perto ou de longe. Os chefes que são inconstantes, tem batalhas que eles atacam sem parar de maneira idiota ou que não desgrudam de você, mas em outras vezes eles não te focam ou atacam fazendo grandes intervalos.
SD Gundam Battle Alliance pode até servir como atrativo para alguém adentrar o vasto universo de Gundam, mas ele foi feito realmente para quem já é fã e acompanha os animes. A experiência é muito mais rica para quem já tem uma bagagem com a franquia e um apego aos personagens. Uma das primeiras histórias em que o jogador deve corrigir uma ruptura é a de Gundam Iron-Blooded Orphans e para quem assistiu, como eu, não tem como não se empolgar ao rever cenas e vendo os personagens da série interagindo.
Só que infelizmente não é um jogo que possa ser facilmente recomendado, mesmo com um fator nostalgia e fã service bem trabalhados. Jogadores que possuem zero ligações com a franquia tem bastante chance de resolver dropar no meio do jogo, quando ,ao mesmo tempo, o jogo vai ficando mais difícil de upar, as missões vão ficando mais complicadas e longas e o grind vai ficando cada vez mais necessário para tentar avançar sem muito estresse. E mesmo o maior fã, pode ficar ficando pelo caminho, em caso da pessoa não estiver disposta a passar pela barreira do grind forçado.
A sensação final que fica é que se trata de um bom jogo, divertido de se jogar, com foco claro no cooperativo, com um carinho imenso na parte de mostrar passar a história da franquia Gundam, mas que mesmo com qualidades altas, é impossível não perceber ou ignorar seus defeitos, que desgastam demais a experiência de controlar um Mobile Suit.
SD Gundam Battle Alliance
Bandai Namco Entertainment
ARTDINK
PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X, Nintendo Switch