Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
A trilogia Utawarerumono foi, de longe, a melhor experiência que tive com jogos em 2022, nada chegou perto e dúvido que chegará. A IP da Aquaplus tem comemorou 20 anos e como celebração, a empresa decidiu lançar um novo jogo da série, porém em uma abordagem diferente.
Monochrome Mobius: Rights and Wrongs Forgotten é o novo game da Aquaplus e da série Utawarerumono, que apesar de não constar no título, tem ligação direta com a trilogia original. A grande diferença, que também serviu para separar ambas IPs, foi que em vez de termos uma Visual Novel com elementos tactics, temos um JRPG com batalhas em turnos, sendo este o grande problema do jogo.
A mudança de gênero é uma das coisas que acendeu muitas red flags. A Aquaplus, como citei, é uma empresa de visual novel, onde a parte de gameplay sempre é feita por outras companias. O próprio Utawarerumono é co-desenvolvido pela Sting, por exemplo. Para Monochrome Mobius, a desenvolvedora escolhida foi a DESIGN ACT Inc., que entre seus trabalhos, o que mais se destaca é… o aplicativo de trilha-sonora de Scarlet Nexus, além de inúmeros jogos mobile. Então, enquanto a Aquaplus cuidou de todo a parte criativa, como a história, designs, lore, entre outras coisas, a DESIGN ACT Inc. cuidou de todo a parte ligada ao gameplay.
Uma das primeiras coisas que se nota é o gráfico. Como alguém que não liga tanto para gráficos em jogos, isso não me incomodou muito, mas parece que todo orçamento da parte de ambientação foi para a iluminação. Outra coisa, que virou piada assim que a demo foi lançada, são as modelagens de NPCs, que simplesmente não possuem rostos, como se estivessem incompletos, enquanto os modelos de personagens principais são mais detalhados e completos. O jogo possui muitos assets que são pesados, em especial grama e pedras. Infelizmente performance é algo que não poderei comentar tanto pois rodei o jogo em uma batata, mas falando com colegas confirmei sim que o jogo fica pesado em determinadas áreas. O mapa que liga todas as cidades é simplesmente ENORME e sem motivo nenhum para isso. Dava para fazer algo mais compacto, como um hub, que teria o mesmo resultado.
Mas nem tudo é ruim na parte 3D. As cutscenes em 3D são muito bem executadas, toda a direção do game em relação a isso é bem feita, o problema é que falta orçamento. Cenas de ação, drama e até mesmo de comédia não atingem o seu potencial máximo por conta dessas limitações, mas você percebe que tem algo ali. As animações de combate em turno são ótimas e fluidas.
Potencial perdido é o que define o jogo para mim, ainda mais em suas horas finais. “Porque o jogo não é uma Visual Novel por completo?” é o que fiquei me perguntando durante toda a jogatina. Temos várias cenas em visual novel, inclusive muito mais do que eu esperava, a arte de Mi, novo(a) responsável por Monochrome Mobius, é simplesmente linda, traduzindo muito bem os designs originais para o game. O jogo claramente já estava em desenvolvimento por volta de 2019, o que confirma o envolvimento de Michio Kinugasa, que faleceu em 2020, na trilha-sonora. Eu acredito que em algum momento esse jogo foi apenas visual novel e decidiram transformar em um JPRG tradicional.
O combate, para a minha surpresa, é realmente funcional porém muito repetitivo. Eu honestamente comecei a desviar da maioria das batalhas na metade do jogo, indo apenas para o objetivo principal. Sem falar, que ainda que as animações sejam boas, elas também são demoradas, e quando você vai de encontro com uma batalha que possui seis inimigos, acaba ficando chato.
Há alguns bugs bem chatos no jogo como texto desaparecendo, obrigando você a fechar o jogo, pulos que te jogam para o infinito e, ai já não sei se é um problema da Steam, mas grande parte das conquistas não pipocaram.
Dito tudo isso, para um primeiro grande JRPG para ambas as empresas, o saldo ainda fica positivo.
Esse foi o slogan utilizado pela Aquaplus durante todo o marketing do jogo, outra red flag, apesar de concordar. Novamente, Utawarerumono é a melhor experiência que tive esse ano e isso é 100% culpa da história. Suga Munemitsu e sua equipe são deuses em questão de escrita, então juntando isso e o slogan, eu estava com muitas expectativas com a história desse jogo. Elas foram atendidas? Bom, em muitas partes sim, mas fiquei com um gostinho de quero mais.
Os grandes destaques de Utawarerumono para mim são as interações entre os personagens e a mistura entre comédia e drama. Tudo isso continua presente aqui e de uma forma bem emocional. Grande parte dos diálogos são coisas que remetem direto a trilogia e eu simplesmente ficava dividido entre sorrir e chorar, em especial coisas relacionadas ao Halu, que bom, para aqueles que conhecem, notarão logo ao ver o nome desse personagem. Parabéns ao seiyuu Kentaro Tone, que além de dar voz ao protagonista, também deu voz ao Halu.
Todo o forte do jogo está nessas interações e é onde ele brilha mais, até mesmo cenas secundárias que não possuem voz, se beneficiam de ter ótima escrita. Suga Munemitsu é de fato um ótimo escritor.
Ver toda a relação entre Oshtor e Mikazuchi sendo construída é de encher os olhos de lagrima. Munechika, que é uma personagem totalmente diferente aqui, e Shunya também são ótimas e compõem bem o quarteto principal. Se para mim, voltar a esse mundo após míseros 3 meses, foi especial, imagino a felicidade daqueles que jogaram Utawarerumono há mais tempo.
Monochrome Mobius foi escrito para aqueles que jogaram os jogos anteriores, é feito diretamente para esses jogadores e em momento nenhum ele faz questão de contextualizar o mundo, apenas com as novas informações. Gostaria de ver alguém que nunca jogou Utawarerumono tentando jogar Monochrome.
Até mesmo as sidequests tem bons dialogos, em especial um que remete diretamente ao final de Mask of Deception e fui obrigado a fechar o jogo e voltar horas depois.
A parte final do jogo é bastante rushada e diversos plot points não são explicados, sem mencionar a cena final que me deixou muito confuso, e ao mesmo tempo curioso pelo que a Aquaplus está guardando para essa IP ou se foi apenas falta de orçamento. Uma sequência ou DLC, o que virá por ai? O mundo de Uta tem muito potencial para oferecer termos de lore e eu acho que é uma ótima ideia explorar isso, o game traz e tenta fazer isso, tendo várias informações sendo soltadas aqui e ali.
Outro grande forte da trilogia original e também aqui em Monochrome Mobius é a trilha-sonora. A série tem um estilo muito próprio e você consegue notar através da percussão e flauta, é algo muito único e remete diretamente a Utawarerumono e saber que Michio Kinugasa esteve presente nesse jogo me deixa muito feliz. Inclusive parabéns para Aquaplus por ter colocado o nome do compositor como o último nome da lista de créditos, que é destinado ao nome de maior cargo da empresa.
Monochrome Mobius: Rights and Wrongs Forgotten traz de volta o mundo de Utawarerumono para os jogos. Ainda que falhando em diversos pontos em sua nova abordagem, carrega consigo todos os fortes que a trilogia original possui, trazendo uma ótima história.
Monochrome Mobius: Rights and Wrongs Forgotten
DMM GAMES, Shiravune
Aquaplus, DESIGN ACT Inc.
PC