Hogwarts Legacy é um grande problema para a indústria de jogos, jornalismo e em parte, até mesmo para a sociedade. Um jogo que na infância de muitos era um sonho distante e agora é a mais pura realidade, se tornou um grande problema. Dando mais uma questão para se debater a “morte do autor” Hogwarts Legacy com a transfobia e outros preconceitos que o cercam se tornam também um lembrete do que o “jornalismo de games” realmente é: A mais pura e gratuita máquina de publicidade.
Sim, a morte do autor é válida. Uma pessoa terrível pode ter criado algo lindo e extremamente artístico e devemos saber apreciar e entender isso, mas JK Rowling traz um ponto além, e se o autor morto para a obra, ainda está vivo em sua monstruosidade ? E se o consumo de sua arte, de diferentes maneiras, contribuem para o mesmo?
No caso da autora dos livros de Harry Potter, mesmo já sendo rica e não precisando do seu dinheiro para sobreviver, ela é ativamente contra transsexuais, conhecidos como TERF(trans-exclusionary radical feminist, traduzindo: Radical Feminista Trans Excludente) ela usa de sua fama e, principalmente, dinheiro para apoiar grupos que ativamente discursam contra a causa.
Resumindo, JK Rowling, a britânica que moldou e viveu no imaginário de milhões de crianças e adolescentes pelo mundo, é uma grande transfóbica que não merece um pingo de nossa solidariedade. Por tanto temos que lembrar que ao comprar Hogwarts Legacy, provavelmente, ela recebe uma porcentagem.
Existe um motivo para a minha falta de certeza sobre o que ela ganha com vendas, foram pouquíssimos os jornalistas do mundo inteiro que foram atrás ou divulgaram esse tipo de informação. O único site que encontrei comentando a situação sem um tom de “desculpa” foi o The Escapist, que mesmo sem as informações oficialmente divulgadas, buscou um histórico de ganhos da escritora para tentar entender as possibilidades da situação. Lendo o artigo, é muito fácil acreditar que ela ganha por venda.
Esse é meu ponto aqui, tudo isso que estou escrevendo agora, nada é encontrado nas críticas brasileiras sobre Hogwarts Legacy. Para não bater apenas nos brasileiros, praticamente aconteceu a mesma coisa nas críticas internacionais, a única que achei,voltada a transfobia da autora, foi a do GamesHub, escrita por Percy Ranson, uma mulher trans que em um texto extremamente curto deixa muito claro toda a situação.
De resto, todos os que tiveram a possibilidade de jogar antes, conseguir um bom número de visualizações e expor uma verdadeira crítica, usou da oportunidade para fazer o de sempre. Uma análise medíocre, um texto que poderia ser escrito por uma inteligência artificial completamente distante da realidade.
Eu entendo que em sites grandes é complicado, a pessoa não está escrevendo em um lugar que tem total poder, precisam do emprego para sobreviver e o ataque de preconceituosos é gigante e barulhento, mas o que impede os sites menores? Os que têm lucro, são de ads do Google? Os que fazem isso por hobby não deveriam estar sendo mais críticos e usando dessa liberdade ?
Hogwarts Legacy não tem apenas a transfobia ao seu redor. À primeira vista, o grande inimigo do jogo são os Duendes que estão se revoltando contra os bruxos, e os Duendes de Harry Potter são literalmente um amontoado de pensamentos antissemitas e nenhuma crítica também comentou sobre isso. No máximo, são citados para contar a história ou contabilizar os tipos de inimigos do jogo. Nada além.
Alguns tentam comentar sobre a escolha de sexo ser apenas uma questão de pronome no jogo, mas isso não siginifca nada, quando o contexto do mundo real fica de fora. Ao mesmo tempo, não encontrei nenhuma review comentando sobre a personagem trans que também teve sua voz original atuada por uma pessoa trans. Onde estão os que receberam o jogo aqui para verificar a dubladora da personagem no Brasil? Sabemos se isso foi respeitado aqui? Não sabemos.
Talvez isso teria sido diferente com menos jornalistas, os que realmente entendem e se revoltam com o preconceito e transfobia da autora, se negando a cobrir o jogo. Não que estejam errados, mas talvez a conversa envolta do jogo hoje, não fosse apenas sobre como as notas estão boas, ou sobre outras questões simplórias e mecânicas.
Com o silêncio de um grupo importante, o que restou foram textos e opiniões medíocres que escapam da realidade. Hogwarts Legacy não é só um jogo. Ele precisa ser visto, criticado e até jogado com a lembrança de que é problemático e sua existência ajuda a ferir, mesmo que direta ou indiretamente, outras pessoas.
Não é um produto para escrever resumo com as notas da imprensa sem uma longa discussão sobre o tema, não é pra agir como se ele fosse só um produto de pura diversão. Hogwarts Legacy e a transfobia,que vem com ele, merecia mais da crítica, merecia mais do jornalismo e novamente foi tratado como todos os outros, um produto à ganhar publicidade grátis.