Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
World of Horror é um daqueles jogos que se destaca pela sua estranheza. Uma estética retrô, inspirado no trabalho de Junji Ito e Lovecraft, mecânicas de antigos RPGs baseados em texto e sons que lembram jogos rodando no MS-DOS.
O que poderia nos atrair em um jogo como esse? Tivemos a oportunidade de jogar e agora você pode conhecer “horrores indescritíveis”.
World of Horror é ambientado no Japão dos anos 80. Os Deuses Antigos estão despertando e com eles o fim do mundo vem se aproximando. A única forma de impedir isso é resolver uma série de mistérios e chegar ao local do ritual antes que seja tarde demais.
Para isso, você irá contar com uma série de personagens que deverão investigar estranhos acontecimentos interligados com esses Deuses.
World of Horror conta com “campanhas” geradas de forma procedural. Também é possível personalizar a campanha, como selecionar qual deus está sendo invocado, a dificuldade, etc.
O jogo funciona como um roguelike, por assim dizer. E sua jogabilidade é inspirada em jogos de RPG textuais, com menus, descrições dos acontecimentos em logs de texto e um pouco de jogabilidade point and click.
Você irá explorar diversos locais da cidade, investigar os mistérios e em determinados momentos fazer algumas escolhas que irão impactar o jogo a partir delas. Também ocorrem combates, onde você escolhe as ações que serão realizadas em um turno.
Nesse turno você pode escolher ações ofensivas, como ataques comuns, defensivas, como esquiva ou se defender de golpes, e de suporte, como observar o inimigo, etc. Cada ação exige um tempo para ser executada. Esse tempo é modificado de acordo com os status do personagem, como força, destreza, etc.
Após o combate você ganha experiência, o tradicional XP, e acumulando XP o suficiente você pode subir de nível, onde consegue melhorar seus atributos e escolher uma perk que garante habilidades e bônus de status.
Cada partida funciona em formato de runs, com diversos finais possíveis de acordo com suas escolhas, mistérios solucionados e até mesmo o fato de você ter sobrevivido ou não. Além da morte física, é possível perder a sanidade e isso leva a outro tipo de desfecho.
Esse formato é interessante porque incentiva a rejogabilidade. O próprio jogo informa quantos finais possíveis cada mistério possui, para que você retorne a eles e tente fazer escolhas diferentes.
E muita coisa que acontece no jogo é bastante imprevisível. Você pode tocar em algum item específico e descobrir da pior maneira possível que ele é amaldiçoado, por exemplo. Algumas ações também exigem testes baseados em RNG e tanto falhar quanto ter sucesso tem resultados imprevisíveis.
O mais importante sobre o jogo é abraçar essa imprevisibilidade e aceitar que nem sempre as coisas vão acabar bem. Inclusive essa é uma das características das obras que inspiraram o jogo. O mundo pode ser horrível e cruel.
O horror do jogo se manifesta de forma que entende as obras referenciadas. Não é um jogo que se apoia no jumpscare, muito pelo contrário, a maior parte do jogo conta com imagens estáticas.
World of Horror se apoia no horror visual grotesco de Junji Ito e no inexplicável de Lovecraft. Além disso, o jogo te abraça com a sensação de impotência frente ao que pode vir pela frente. O bizarro, o ameaçador e hostil.
Em um momento do jogo eu olhei pelo olho mágico da porta e olhos observavam o apartamento da minha personagem. Em outro momento uma figura observava e lentamente se escondia na escuridão.
O jogo explora principalmente horrores sobrenaturais em ambientes urbanos, comuns. Assim como as obras de Ito. Seitas misteriosas, assassinatos repentinos em escolas, um velório estranho, stalkers em um prédio residenciais. E isso trazendo também influências de lendas urbanas japonesas, mesclados com o body horror de Junji Ito e o horror cósmico de Lovecraft.
E pela sua estrutura roguelike, você não precisa se prender em uma longa narrativa. É um jogo que tem narrativa, mas estruturada como pequenos contos, que você pode jogar casualmente. Como eu fiz, enquanto ouvia minha playlist de shoegaze.
É extremamente difícil adaptar Junji Ito para outras mídias. World of Horror consegue entender a obra do autor japonês e o formato do RPG textual combina perfeitamente. A maior dificuldade de adaptar os mangás é justamente em como conduzir uma animação, qual estética utilizar, etc.
Por usar imagens quase estáticas e, principalmente, preservar tons monocromáticos, o jogo consegue captar bem a atmosfera das obras de Ito. E a combinação do horror cósmico com o horror de Junji Ito funcionam muito bem.
E na verdade não é algo tão estranho de se pensar. O próprio japonês também utiliza elementos de horror cósmico em suas obras. Acho que o maior exemplo disso é o mangá Remina.
A escolha estética também é bastante interessante. O jogo foi totalmente desenhado no Paint. Sim, aquele programinha básico de pintura do Windows. E é realmente impressionante a qualidade das artes, que possuem um aspecto retrô que eu particularmente gosto muito.
World of Horror é um jogo que consegue explorar camadas de terror sem precisar de jumpscares ou imagens realistas. As obras que o jogo se inspira tem como característica explorar essas camadas, explorando o inexplicável, a sensação de impotência, a insanidade, etc.
E isso combina muito bem com um jogo de RPG com um ritmo mais lento. O jogo só poderia explorar um pouco mais a investigação e mecânicas de point and click. Um pouco mais de exploração também seria bem-vinda.
O jogo tem bastante potencial para lançar novas campanhas e modos de jogo. Seu formato casual e com opções de dificuldade e desafios para sua campanha também favorecem muito a rejogabilidade dele.
World of Horror também é excelente para quem tem algum interesse em jogos de terror, mas tem medo ou são facilmente impressionáveis. Naturalmente o jogo conta com imagens que podem ser consideradas sensíveis, mas em um nível bastante suportável para a maioria das pessoas.
Combinando elementos de diversas mídias e gerações, World of Horror é um jogo único. É uma demonstração de como a mídia dos videogames tem um potencial de criar uma linguagem muito particular e proporcionar novas experiências utilizando como referência mídias já estabelecidas.
World of Horror
Ysbryd Games, PLAYISM
panstasz
PC, Playstation 4, Nintendo Switch, Mobile