Crítica: Endless Dungeon – Uma mistura e um tabuleiro

Endless Dungeon é uma junção fácil de ver sentido de ser feita, mas nada fácil de se encaixar. Ele é um Rogue Like Dual Stick Shooter, com mecânicas de exploração e Tower Defense. No caso é necessário proteger um robô que para cumprir certos objetivos, se movimenta, pelo caminho mais curto, na direção necessária pelas salas exploradas pelo jogador.

Dessa forma, é preciso ter cuidado nos locais que construímos armas e objetos de defesa contra as, muitas vezes, enormes hordas de inimigos. É preciso pensar no caminho do robô, nos ninhos de monstros que encontramos enquanto exploramos e nas armas que temos disponíveis e nas habilidades dos personagens do time. 

Uma mistura que poderia facilmente dar errado, com tantas mecânicas e ideias em um único jogo, que ainda por cima, se repete pela sua base Rogue Like. Seria fácil cair em erros comuns, mecânicas que não se tornam uteis, itens que não valem a pena em nenhum momento e até mesmo uma junção tão descolada por suas diferenças que tornaram o jogo inteiro um enorme problema. Entretanto, para funcionar tão bem, Endless Dungeon se resolve seguindo uma base muito encontrada em jogos de tabuleiro.

Endless Dungeon é além de tudo um jogo de tabuleiro

Pense em um jogo de tabuleiro, onde, por uma limitação analógica, precisa que cada micro ação tenha importância, que cada turno possível do jogador, faça sentido e permita que um elemento se encaixe em outro e de a importância necessária para qualquer tipo de execução. 

Olhe para Catan, por exemplo, a posição das vilas garantem a base do jogo que é coleta de recurso, porém, essa mesma posição permite construção de estradas. Essas estradas, seguindo as regras estabelecidas, permitem a criação de mais vilas, ao mesmo tempo, criar estradas podem garantir mais pontos e até mesmo atrapalhar outros jogadores que buscam os pontos da maior estrada. 

Para os jogadores na mesa, a direção que um outro jogador constrói a estrada é também uma sinalização do recurso que ele busca, o que também fermenta a mecânica social, as negociações. Todas essas mecânicas são engrandecidas e, principalmente, coladas, graças à uma única regra: Uma base só pode ser construída adjacente a uma estrada. 

Em Endless Dungeon, a situação não é diferente. Todas as suas mecânicas se conectam a pequenas regras estabelecidas. Um efeito dominó de ideias que empurram o jogador a agir de maneiras especificas, criar estratégias próprias e pensar não apenas na ação do jogo, mas também em como agir. 

O objetivo é encontrar a porta que permita os jogadores a entrar no próximo espaço, para isso, o jogador precisa explorar o mapa e abrir as portas que encontra. A cada porta aberta, o time ganha uma quantidade especifica de recursos e em cada sala encontrada é possível ter vendedores, maquinas que aumentam a quantidade de recursos, maneiras de adquirir novos itens de proteção e a liberação de mais um ninho de inimigos. 

Dessa forma, um risco e recompensas é definido, toda porta tem um beneficio:  o aumento de recursos disponíveis par ao time. Entretanto, com o passar do tempo se torna uma questão de estratégia, quando vale a pena liberar uma área com risco de aumentar a horda de inimigos? Abrir essa porta para garantir um atalho, cria um novo caminho para monstros atacarem? Precisamos de mais recursos? Se sim, vamos conseguir criar armas defensivas boas o suficiente? 

São questões e mais questões que poderiam ter uma resposta mais fácil com a remoção da mecânica de ganhar recursos por abrir portas. Imagine que essa mecânica virasse uma questão de explorar áreas. Ganhar recursos não por abrir a porta, mas pela possibilidade de encontrar os recursos quebrando caixas aleatórias em uma nova sala. A “randomização” de uma mecânica como essa, deixaria muito mais fácil não abrir uma porta. A garantia de ganhar recursos importa, pois dessa forma, vira muito mais sobre risco e recompensa e não risco e possível recompensa. 

A importância de regras

Todo esse efeito em cascata, definido por uma única mecânica, colada por regras rapidamente estabelecidas, é apenas um exemplo de vários encontrados em Endless Dungeon. A maneira que a maquina que temos que se defender se movimenta, os tipos de armas e seus elementos, as habilidades dos personagens, a evolução de equipamentos, a maneira de ganhar melhorias e itens de cura.

Ele é muito mais do que uma junção de mecânicas extremamente potentes em vídeo game, ele também é um jogo de tabuleiro digital, utilizando de cada detalhe possível para criar algo de excelência. Essa mistura facilmente poderia ser uma bagunça em que cada ideia sobe em cima da outra e dilui sua qualidade, entretanto, confiando em regras e mecânicas menores, Endless Dungeon cria uma junção excelente de tudo o que um bom jogo precisa.