Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Desde que testei a demo de Mullet Madjack na Brasil Game Show fiquei empolgado para a versão completa. O jogo além de parecer muito bonito, tinha uma jogabilidade rápida, engajante e uma temática abraçando muito OVAs de anime da década de 80 e 90, mas sem parecer forçado e, ao mesmo tempo, mesmo naquela demo, eu senti um certo teor crítico na forma que a temática era abordada.
Agora que coloquei minhas mãos na versão completa, afirmo com segurança que ele é tudo que eu esperava e mais um pouco.
Mullet Madjack é um Boomer Shooter com estética de animes dos anos 80 e 90. O jogo se passa num mundo Cyberpunk aonde a “humanidade e a internet se tornaram um”. Robôs tomaram conta de tudo e para os humanos só restou miséria e desemprego. Contudo, neste cenário caótico há uma empresa chamada Peace Corp que promove uma revolução contra robôs e a volta por cima da humanidade
Como eles fazem isso? Com um aplicativo em que pessoas se registram nele para matar robôs em troca de alguns prêmios, tipo um Tênis. E para lucrar e engajar nisso, os “contratados” para matar robôs lutam em transmissões ao vivo na internet.
Em termos práticos, seu personagem é uma mistura trabalhador de aplicativo com streamer, e a mecânica principal do jogo reflete isso. O protagonista tem sua vida atrelada em dopamina por likes, e caso você passe 10 segundos sem matar ninguém, quem ta assistindo a stream vai parar de dar like e você vai morrer… Sim, o comentário feito aqui é bem óbvio.
A maior organização criminosa, os “Robilionários” sequestraram a princesa influencer, e cabe você invadir o prédio deles para salvá-la.
Enfim, o jogo se divide em fases, e cada fase consiste em 10 andares do prédio dos robilinários, cheio de robôs ricos para você matar.
Dentro desses 10 andares, o jogo apresenta sua mecânica Roguelite. Cada andar lhe dará opções de upgrades para comprar, seja armas novas ou efeitos que lhe ajude como segundos a mais caso mate um inimigo de forma específica. Caso você morra antes de completar 10 andares, voltará tudo e outras opções de upgrades se mostrarão disponíveis para você.
O trunfo desse jogo é saber quando tem que acabar.
Um dos meus maiores medos que tinha era de acabar enjoando do jogo ou o achar repetitivo demais, contudo, ele ficou no alto sempre. Cada fase te apresenta coisas novas que muda um pouco a dinâmica do jogo, tem chefes que funcionam de maneiras criativas e diferenciadas e 10 andares por fase foi o suficiente para me sentir desafiado, mas não cansado. Morri algumas vezes no nono andar, porém, o sentimento não foi de desânimo, mas sim de “Ok, na próxima eu consigo”.
No momento em que o jogo para de lhe apresentar novidades, é justamente quando ele acaba.
Terminei o jogo em coisa de quatro horas e fiquei super satisfeito após brincar um pouco com o modo infinito. A experiência foi curta, mas com certeza é um jogo que vou revisitar em dificuldades maiores e brincar mais no modo infinito de tempos em tempos.
E claro, como um jogo de tiro, ele é extremamente competente. O impacto das armas é legal, e o ato de sair matando inimigos adoidado em menos de 10 segundos é super divertido e mais desafiador do que aparenta.
Com obstáculos e inimigos com comportamentos variados, o jogo acaba virando uma coisa rítmica de ação e reação. O jogo exige que você seja rápido, e caso só desligue o cérebro, será punido e provavelmente morrerá.
E caso isso seja intimidador demais, o jogo tem um modo de acessibilidade sem tempo e um modo fácil, e pela natureza do jogo, não é problema nenhum você começar o jogo no fácil e quando se acostumar, rejogar em dificuldades maiores.
O jogo é cheio de humor pastelão, referências das mais variadas formas e muita coisa que é só o mais puro “massavéi”, isso poderia ser ruim, mas aqui é genuíno e divertido.
Muita mídia, principalmente estadunidense, tenta emular anime mas soa mais como uma paródia meio esquisita. Nesse jogo ele reconhece o que é “ridículo” e brinca com isso porém sem parecer cínico.
O que ajuda bastante nesse acerto de tom é que, por mais que a narrativa do jogo não seja profunda (e nem precisa), existem comentários muito válidos nela.
O jogo aborda de maneira interessante questões como consumismo, sentido de viver e trabalho precarizado. Provavelmente você não vai sair dele com nenhuma ideia nova, mas estaria mentindo se não dissesse que refleti um pouquinho sobre nossa realidade e pensei um “é foda mesmo né?”
Novamente, não é nada novo ou que vai se aprofundar demais, mas é trabalhado de uma maneira legal e adiciona a experiência como um todo.
Talvez a mensagem mais triste do jogo.
Uma coisa que pode passar batido mas adorei nesse jogo foi a leitura do manual virtual dele. Vários jogos digitais tem um “manual digital” para ser lido, e normalmente a gente ignora, mas por favor, leia o manual desse jogo.
Não porque tenha algo lá que não será explicado no jogo em si, mas porque o jogo apresenta em formato de unboxing comentado.
A moça da Peace Corp faz comentários engraçadinhos em cada página do manual (e na caixa virtual do jogo com os itens) e as imagens são bem bonitinhas e feitas com esmero.
Entrei nesse jogo esperando um Shooter frenético e divertido com toques de “crítica social foda” numa estética emulando anime velho e foi exatamente isso que recebi, mas recebi em um formato muito bem polido e bem pensado.
Esse é com certeza um dos melhores jogos que joguei em 2024, justamente por trabalhar de forma excelente naquilo que se propõe.
Mullet Madjack
Hammer95 e Epopeia Games
Hammer95
PC