Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Neptunia é uma franquia desenvolvida pela Compile Heart e publicada pela Idea Factory que eu conhecia de forma distante. Eu sabia que existia, sei que ela brinca de ser uma paródia bem-humorada da guerra de consoles e sei que é cheia de entradas principais e spin-offs, mas meu conhecimento para pôr aí. Nessas grandes promoções da Steam até já adquiri grande parte dos jogos disponíveis para PC, mas até então não tinha tido a disposição de mergulhar na série.
Eis que, em maio deste ano (2024) a franquia chega aos consoles Xbox pela primeira vez com o spin-off Neptunia: Sisters VS Sisters, que hoje não é mais o jogo mais recente da franquia, mas na época de anúncio era. Sisters VS Sisters já havia lançado em abril de 2023 no Japão e em janeiro de 2024 mundialmente para Switch, PC e PS4/PS5. Então, com a franquia fazendo a estreia em um novo sistema eu pensei: por que eu não faço minha estreia na franquia também?
E com esse leve contexto estamos prontos para nos aprofundar no mundo da “Gamindustri” e nesta crítica!
Neptunia: Sisters vs Sisters começa com as quatro Deusas – Neptune, Noir, Blanc e Vert – indo investigar acontecimentos estranhos no “PC Continent“, deixando as quatro candidatas a Deusa – Nepgear, Uni, Rom e Ram – para trás. As candidatas descobrem uma caverna misteriosa em uma excursão fora do país de “Planeptune“, onde acabam por acordar uma garota adormecida em uma cápsula.
A garota acaba por surpreender as quatro candidatas, colocando-as para dormir dentro das cápsulas. Dois anos depois, elas são encontradas e resgatadas. Então, são informadas do desaparecimento de Neptune, além de descobrirem que o continente delas está sofrendo de um fenômeno misterioso chamado ‘’Trendioutbreaks’’ e que as Deusas restantes têm tido problemas em lidar com a situação, pois a “Share Energy” que as alimenta vem sendo dominada pelo “rPhone“.
Sisters VS Sisters apresenta uma história que se inicia simples, mas que a medida que vamos avançando mais e mais camadas (algumas de loucura) vão sendo adicionadas para tentar deixar mais complexo as coisas. No geral é uma trama bem direta ao ponto, mas que do meio para o final vira um show de plot twist em cima de plot twist.
Não que esse excesso de plot twist seja necessariamente ruim, mas depois de tantos eles perdem o impacto e você sabe que o que você está vendo não é bem aquilo. Ainda assim, é uma história satisfatória, com toques de leveza e descontração em vários momentos e com de seriedade quando necessário. A trama também sabe amarrar as coisas de uma maneira aceitável (mais no final verdadeiro) e sabe usar muito bem as maiores qualidades da obra, suas personagens e as referências.
Acredito que para uma franquia tão longeva e com tantos jogos como Neptunia funcionar o elenco de personagens deve ter uma boa química e ser carismático, e foi exatamente isto que vivenciei em Sisters VS Sisters.
São personagens com características marcantes, mas que também tem seus momentos fora de seus clichês e que, principalmente, funcionam muito bem em conjunto. Ver as conversas entre qualquer personagem é sempre divertido e que me incentivou a ver cada diálogo extra que tinha disponível.
Por mais que nesse jogo as principais e o foco sejam nas irmãs, as candidatas a Deusas, as Deusas em si também têm um bom foco e quem não as conhece consegue entender como elas funcionam. As personagens novas também possuem um bom destaque e aprofundamento, apesar de uma delas eu ter achado a história meio qualquer coisa e mal explicada no final.
Por mais que Neptune seja a cara da franquia, mesmo não sendo a principal em todos os jogos, quem rouba a cena neste jogo mesmo é sua irmã, Nepgear. É uma personagem muito bem trabalhada, onde podemos vê-la em vários momentos diferentes e que sabe levar o bastão de protagonista.
Agora, nem só de personagem carismática vive Neptunia. O jogo também conta com várias referências ao nosso mundo atual e, principalmente, para quem acompanha a indústria dos jogos, é bem divertido de ver como eles usam as referências em tela.
Nesse jogo o foco fica na popularização dos smartphones na população, das redes sociais como o Twitter, em jogos mobiles Pokémon GO e vários gachas que temos pelo mercado, além de menções de como o streaming de jogos tem engatilhado pelo mercado. Temos também uma referência indireta ao período de quarentena que tivemos que passar na pandemia. E uma das que mais ri foi ao mencionarem o Frigobar feito pelo Xbox um tempo atrás.
Temos também um destaque forte ao começo desta geração atual de consoles com o problema de estoque enfrentado por conta da escassez de chips. Além de vários destaques ao rendimento do Nintendo Switch no mercado e em como muitos jogos eroges tem migrado do PlayStation para o Switch, graças a atual política que a Sony com jogos do gênero.
É tanta menção a coisas reais que até duas das personagens novas são referências diretas a outras obras. Com a “Maker” Higurashi sendo referência a visual novel “Higurashi When They Cry” e a “Maker” Shanghai Alice servindo para referenciar a empresa “Team Shanghai Alice”.
O combate desse jogo definitivamente é o ponto fraco do jogo, onde podemos ver a baixa verba disponível se destacando. Ele está ali no limite do funcional, mas ele funciona ao menos, só não passa disso mesmo.
O combate de RPG de ação funciona da seguinte forma: podemos montar até duas sequências de combo, uma para o botão X/Quadrado e outra para o A/X. Essas sequências são feitas com 4 golpes disponíveis na lista de cada personagem e a ordem nós montamos da maneira que preferirmos. Tem golpes de certos tipos que ganham bônus a depender do golpe que usamos antes, então temos várias formas de poder montar as sequências, com cada uma valendo a pena a depender do que queremos.
Os golpes também são do tipo físico ou mágico, podem ter ou não algum elemento e eles podem ser de curto, médio ou longo alcance. Esses golpes também possuem diferentes quantidades de “AP” a serem consumidos.
Além desses combos, possuímos um tipo de magia que usamos com o Y/Triângulo, e que podemos equipar até três por personagem, usando o botão sozinho ou o analógico para a frente ou para trás e o botão. Essa magia requer que carregamos uma barra para usar, e esta barra vai sendo carregada durante o combate.
Temos também o golpe supremo de cada personagem, junto da transformação em Deusa. Que é uma outra barra que tem que carregar para usar, mas esta ela continua a se acumular em diferentes batalhas. A barra para soltar a magia sempre reseta de uma batalha para outra.
Em cada batalha controlamos uma equipe com 3 personagens, o que já adianto ser uma dar partes ruins do jogo, visto que o comum na série é sua equipe ser composta por 4 pessoas. Três fica um sistema ruim, e te impede de montar equipes completas de Deusas ou das Candidatas. Realmente é uma grande bola fora desse jogo.
Para usar todas as bonecas e incentivar a troca entre elas, o jogo tem um sistema de chain que permite que continuemos o nosso combo atual fazendo uma troca para outra boneca usando RB/R1 e LB/L1. Podemos também trocar a líder a qualquer momento durante a exploração do mapa.
Novamente, é um jogo com um combate funcional, mas ele não se destaca em nada. Em poucos minutos o combate para de empolgar, pois além de ser um eterno aperta quase um botão só, o jogo durante sua campanha não apresenta desafio nenhum. Então em nenhum momento eu tive incentivo de usar esquiva ou a defesa. Só spammar o botão de ataque também.
Ao menos as animações dos golpes são legais de acompanhar e a cada golpe novo ganho dá para trocar nosso combo e ir experimentando se a variação ficou melhor ou pior. Só que infelizmente, ainda assim, o combate não é a parte do jogo que vai te prender. Talvez no endgame onde temos uma arena e uma torre disponíveis possa ter algum desafio que anime um pouco as coisas, mas na campanha não tem.
Como já disse, esse é meu primeiro jogo da franquia Neptunia que eu experimentei e eu senti que ele é amigável com os novatos. Se trata de um spin-off então a trama principal não requer que você tenha jogado nada antes, e o jogo apresenta bem os conceitos, lugares e personagens a quem não conhece.
Claro que eu senti que não aproveitei 100% de tudo que o jogo oferece por não ter referências antigas e tal, mas nada que me deixasse sem entender o que se passava. Só imagino que para quem conheça melhor a franquia vá pegar umas referências a jogos antigos da série que eu não peguei.
Como o sistema de batalha é novo, também não me senti para trás durante o combate, que destaco novamente em ser bem fácil, então mesmo se eu não tivesse pegado o jeito da coisa em nenhum momento senti que precisava me empenhar muito mais para avançar nos níveis.
Não vou saber dizer se esse é o melhor Neptunia para começar, afinal não joguei os outros, mas acredito que este seja um bom para isso. Só que talvez aconteça com você o mesmo que aconteceu comigo, de como essa foi minha primeira experiência do jogo, eu acabei criando mais afeição a Nepgear e não a Neptune, então eu a vejo mais como a cara da franquia para mim.
Neptunia fez sua estreia pela primeira vez nos consoles Xbox apenas em 2024, o que é irônico já que a franquia tem uma representante do console em sua história desde sempre. Pelo menos, acredito que fizeram essa estreia tardia com um bom jogo para atrair novos possíveis admiradores, pois Neptunia Sisters VS Sisters é uma porta de entrada bem aconchegante para quem nunca jogou nada desta franquia.
Não temos um jogo revolucionário e nada nem perto disso, mas temos um jogo com uma história ok, com vários momentos engraçados e outros mais sérios, com um elenco recheado de personagens carismáticas que sabem roubar a cena e interagir muito bem entre si. Um combate que funciona, mas não passa disso, só que talvez por sorte temos mais ou tantos momentos de visual novel do que temos de combate, então para mim no final compensa e se cria um saldo positivo.
Saio dessa experiência satisfeito com o que encontrei e com vontade de eventualmente desbravar mais do que a série tem para me proporcionar. E fico feliz em saber que o jogo está cada vez mais sendo portado para mais plataformas e espero que os jogos principais possam chegar no Xbox um dia, mas ao menos o spin-off mais recente já recebeu anúncio de um port ainda esse ano.
Neptunia: Sisters VS Sisters
Idea Factory International
Compile Heart
PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X, Nintendo Switch