Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
O oceano é algo particularmente fascinante. Ele cobre aproximadamente 70% do nosso planeta, mas nós só exploramos por volta de 5% dele até hoje. Nós somos capazes de mandar pessoas para outros planetas, fotografar galáxias distantes, e cada vez mais combater doenças que assolaram gerações anteriores – mas ainda não somos capazes de conceber algumas das criaturas que vivem sob condições tão extremas como o fundo do mar. Nestas condições, existem infinitas possibilidades para se explorar vários ângulos do oceano em um jogo – desde a maravilha presente em ecossistemas tão diferentes, até o senso de terror que aquele vasto espaço desconhecido pode trazer – e há vários jogos que fazem isso muito bem.
Infelizmente, porém, Endless Ocean Luminous escolhe o ângulo mais chato possível: te apresentar o oceano através de uma experiência pouco interativa, que requer o cumprimento de tarefas tediosas para sua progressão, e que resulta em algo que menos parece ser sobre a exploração do oceano, do que sobre um breve mergulho numa piscina com peixes.
Endless Ocean Luminous é o mais novo jogo de uma série que nasceu no Nintendo Wii, onde seu grande objetivo é explorar o oceano e as criaturas que ali vivem. O jogo é extremamente simples, te oferecendo basicamente dois caminhos quando iniciado: um modo história e uma exploração livre. O modo história é apresentado em breves capítulos, raramente levando mais que três minutos cada, em que você tem a chance de aprender alguns controles básicos e explora alguns cenários únicos. Porém nada disso empolga ou cria qualquer intriga para te fazer querer jogar os capítulos seguintes, o que me faz questionar o porquê de sequer ter um modo assim. Além de curto e desinteressante, o modo história também exige que você vá completando objetivos no modo exploração para desbloquear cada capítulo – o que mata qualquer sensação de ritmo de progressão que ele poderia ter tido.
O modo de exploração do jogo parece ser o modo principal na mente dos desenvolvedores. É nele que você vai encontrar a maior variedade de peixes, lugares, tesouros e itens que explicam a história daquele mundo. Ao entrar nele pela primeira vez, o jogo gera um mapa aleatório para você, e te deixa livre para explorá-lo como preferir. Esse é o momento em que o jogo brilha mais forte: quando você está em um mapa novo, livre para ir aonde quiser e ansioso pelo que pode encontrar durante sua exploração. Nadar pelos diferentes biomas, encontrar cavernas, descobrir uma nova espécie de peixe – tudo isso pode ser incrivelmente relaxante quando feito no seu ritmo e com a mentalidade certa de apenas apreciar o que lhe for entregue.
Houve ocasiões que eu perdi demais a hora enquanto explorava naquele eterno loop de “só mais um pouquinho”, porque a sensação de descoberta e admiração por aquela natureza quase alienígena – e muitas vezes assustadora – era tão poderosa em me deixar verdadeiramente imerso. Por mais simples que os visuais sejam na maior parte, eles são capazes de criar cenários e criaturas muito interessantes, então vagar sem rumo era sempre particularmente recompensador. Quando você não nada sem rumo, porém, é que o fascínio por esse oceano vai por água abaixo.
Conforme você explora seu oceano, seu objetivo é escanear todos os peixes que ver pela frente. O ato de escanear é simples, você só aponta a câmera para um grupo de peixes e aperta o L, o que os seleciona e deixa você saber se existe algum peixe desconhecido ali no meio através de um ícone de interrogação. Se quiser obter mais informações sobre os peixes na sua tela, é só soltar a tecla L que você vai poder selecionar cada um deles individualmente e ler algumas informações sobre cada espécie, enquanto se quiser apenas seguir em frente você precisa cancelar o scanner com B. O simples ato de escanear peixes é parte integral do jogo pois extrai “luz” deles, o que permite que você os enxergue melhor e que você use essa luz para rolar um gacha de ícones multiplayer – além de ter importância narrativa.
Em vista disso, a progressão da história é atrelada ao ato de escanear números cada vez maiores de peixes, onde em um capítulo mais avançado, são necessários seis mil, por exemplo. Claro que esse número é cumulativo no total, mas ele indica que você vai necessariamente precisar jogar muito do modo exploração – e gerar mais mapas ao finalizar cada um – para obter um número suficiente de scans. No meio desse processo, você também vai lidar com a pior parte do modo exploração: os UMLs.
Um dos grandes chamarizes do jogo são os UMLs – criaturas fictícias gigantescas que supostamente só existem nesse mar misterioso que você explora – e que são difíceis de encontrar. Existe um pequeno número delas, e elas são liberadas através do scan de peixes que apresentam anomalias em sua composição genética. Você encontra esses peixes ao longo do mapa que tem para explorar, mas a localização deles é completamente aleatória. O único indicativo que você tem de que está próximo de um é que sua mira começa a piscar vermelho, e você vê um círculo no mapa indicando a região aproximada em que o peixe está.
Para fazer um UML aparecer, você precisa escanear sete peixes anômalos espalhados por um mapa gigante com milhares deles. Mesmo com essas dicas que o jogo te dá quando você está próximo de um, a experiência de buscar esses peixes pode ser incrivelmente rápida ou demorada e frustrante – porém exclusivamente dependente de sorte. Querer chegar mais perto de seu objetivo, porém ser barrado pela aleatoriedade da sorte ao invés de sua própria habilidade, é uma das coisas mais frustrantes que eu imagino que um jogo pode fazer. E isso contrasta muito com o relaxante e sossegado o modo exploração, o que evidencia pra mim que não houve muita consideração da experiência macro do jogador.
Outro objetivo que você recebe logo cedo é a Mystery Board, uma coleção de 99 desafios que você deve cumprir – porém sem poder ler o que são – ao longo do jogo para supostamente receber alguma recompensa de história. A maioria dos objetivos dessa lista consistem em encontrar certos tesouros – itens que valem dinheiro que você encontra pelo mapa – e alguns itens misteriosos que indicam alguma relação com uma civilização antiga por lá. Por um lado, até que é interessante o conceito de encontrar esses vestígios pelo seu mapa e ir montando um grande quebra-cabeça que te dá um panorama maior da história de tudo; por outro, é mais uma progressão que está presa às vontades da aleatoriedade, sendo que a completude da Mystery Board é obrigatória para a conclusão da campanha. Se esses desafios fossem algo que existe no plano de fundo apenas para te recompensar enquanto você explora, seria o tipo perfeito de recompensa. Como objetivo, eles são mais uma fonte de stress num jogo que busca transmitir justo o oposto disso.
O mais triste é que, mesmo gostando da exploração a princípio, ela rapidamente se torna tediosa. E não só porque os mapas – apesar de gerados aleatoriamente – começam a perder a magia, ou porque ver os mesmos animais fica repetitivo. O grande problema é que não há fricção nenhuma contra o jogador. Desde o momento que você abre esse jogo, até o momento que você fecha, você nunca sente nenhuma sensação de antagonismo. Seu mergulhador passa perto de criaturas gigantes, e às vezes até pré-históricas, que você não sabe se são agressivas ou não. Você entra em partes abissais do mar, populadas por criaturas feitas para viver longe da luz do sol e pouco estudadas pelo homem – um ambiente que invariavelmente te deixa tenso. Você está sozinho ali, admirando as criaturas, a apenas um passo de que tudo dê errado – mas o jogo faz questão de te deixar seguro o tempo todo. Nada vai te machucar, nenhum peixe vai interagir com outro, nada ali tem vida.
Quanto mais tempo você passa debaixo daquelas águas, mais você percebe que aquilo é o equivalente a visitar um aquário virtual. O fato que você pode jogar em multiplayer com até 30 pessoas no mesmo mapa é impressionante e com certeza ajuda a mitigar essas frustrações, mas é um tanto irônico o fato que você precisa trazer vida pra um oceano tão grande e cheio de criaturas para se sentir menos abandonado pelo próprio jogo.
No fim, acho que a grande questão é que a magia de Endless Ocean Luminous é forte, mas dura pouco e é rapidamente substituída por frustração. Se o modo de exploração fosse mais complexo e exigisse algo mais do jogador do que apenas um par de olhos para olhar a tela, com certeza a longevidade do jogo seria muito maior. Se os objetivos fossem oferecidos de forma mais condizente com o tom do jogo – algo mais passivo e menos exigente – ele pelo menos estaria se comprometendo com ser uma obra mais tranquila e harmoniosa. Porém, em sua forma atual, é difícil conseguir pensar num público-alvo para esse jogo, além de fãs dos anteriores. É sempre bom ver jogos tão diferentes sendo lançados, mas pensar cuidadosamente nessas experiências é mais importante do que nunca para seu jogo não nadar tanto em boas ideias e morrer na praia da execução.
Endless Ocean Luminous
Nintendo
Arika
Nintendo Switch