A Tectoy está voltando ao mercado de videogames e anunciou recentemente a sua linha de consoles portáteis Zeenix. A empresa marcou presença na gamescom latam para apresentar o console ao público em um stand exclusivo, bem como também conversar com a imprensa e fãs. Tivemos a oportunidade de conversar com Pedro Caxa, head de games e marketing na Tectoy. Confira como foi nosso papo com ele sobre expectativas com o lançamento dos consoles, mudanças no perfil da indústria brasileira e… emuladores?
Game Lodge: Como surgiu a ideia de a Tectoy voltar a lançar consoles, onde a empresa viu uma oportunidade de retornar para esse mercado?
Pedro Caxa: Depois que a Tectoy se consolidou no mercado de pagamentos e automação comercial, a empresa queria muito voltar ao mercado de jogos e vimos uma oportunidade quando o segmento de PCs portáteis começou a ficar muito popular e nós vimos que eles não chegavam ao Brasil de forma acessível e popular. Então a gente pensou em trazer dois produtos: um com preço mais baixo e um mais voltado para entusiastas e daí que vieram as versões Lite e Pro.
Game Lodge: E eu sei que vocês ainda guardam como um segredo e não podem falar nem preço, nem data de lançamento, mas vocês tem uma janela de lançamento para esse ano ainda?
Pedro: Próximo trimestre.
Game Lodge: A Tectoy tem mais de 30 anos de mercado brasileiro e passou por diversas fases da produção e consumo de videogames do Brasil. Inclusive eu tive o Master System e vivi um pouco dessa experiência. Quais as principais mudanças no padrão do nosso mercado vocês identificaram e quais oportunidades e dificuldades elas trazem para a Tectoy?
Pedro: Essa é uma pergunta complexa. Na verdade, o mercado brasileiro é bem mais complexo que qualquer coisa. Mas a gente olha para a história da Tectoy e a gente vê que ela fez o sucesso que fez porque ela olhava o que não chegava no Brasil e trazia para cá de forma mais acessível. Nós ainda temos muita coisa que chega com dificuldade no Brasil, como óculos de realidade virtual, por exemplo. Apesar disso ser uma dificuldade, acabou se tornando uma oportunidade de trazermos pelo menos um segmento de produto, com toda a infraestrutura que temos como fábrica em Manaus e com uma estratégia de distribuição para trazer o Zeenix para o Brasil.
Game Lodge: Nós vimos também que na live de anúncio, vocês trouxeram muitos jogos brasileiros, o que é bastante positivo. Vocês têm pretensão de manter uma parceria duradoura com desenvolvedores de jogos brasileiros e com publishers? Nós temos jogos brasileiros que são distribuídos por publishers de fora, é complicado trabalhar com elas?
Pedro: Pelo contrário, o Deathbound, por exemplo, que está aqui, é de uma publisher estrangeira (Tate Multimedia). Eles são estrangeiros e nós dissemos “Deathbound é um jogo brasileiro e queremos trazer ele para essa narrativa que estamos construindo, para essa história que estamos contando sobre a indústria brasileira se apoiar”. E junto com o Italo da Trialforge (estúdio desenvolvedor do Deathbound), a publisher foi super solícita, nós os ajudamos a traduzir o trailer, construímos materiais juntos e isso está sendo muito positivo e legal. É algo que vemos como benéfico para a Tectoy a médio e longo prazo e se a gente fortalece a indústria brasileira, conseguimos criar uma base para todo mundo crescer junto. É por isso que também viramos publisher, anunciamos nossos dois primeiros jogos não só para o Zeenix, mas para todas as plataformas.
Game Lodge: A ideia de se tornar uma publisher também, surgiu em conjunto com o Zeenix ou foi algo pensado em algum momento antes ou depois da ideia de produzir o console?
Pedro: Foi algo que a Tectoy já estava planejando no passado, mas quando o projeto do Zeenix começou nós vimos que era o momento perfeito de encaixar isso. Agora nós temos uma plataforma e a percepção do público muda quando você diz que o jogo é para aquela plataforma. Mesmo que nossos jogos não sejam exclusivos, eles são jogos “do Zeenix” e isso muda a forma que o público o vê. Isso eleva o patamar dos jogos, então a gente consegue dar mais tração para os jogos que estamos publicando.
Game Lodge: A Tectoy já teve a experiência de lançar um console anteriormente: o Zeebo. O que a Tectoy aprendeu, entre erros e acertos, com a experiência de lançar o console, que vocês estão aplicando para que o Zeenix tenha mais sucesso do que o Zeebo.
Pedro: Nossa, é muita coisa. Eu (Pedro) sou novo na história da Tectoy. A empresa tem mais de 30 anos e eu entrei em 2022. Mas do que eu já conversei com as pessoas que trabalharam no projeto do Zeebo, com todo mundo da Tectoy o principal é: lançar direito. Não apressar projetos, fazer as coisas da melhor forma possível. O principal problema do Zeebo foi o processador (o Zeebo utilizava um processador Qualcomm normalmente utilizado em smartphones). Então, estamos agora trabalhando com a AMD e com o Windows que são padrão de mercado. Não tentamos reinventar a roda, o Zeebo utilizava um sistema operacional travado, seu processador não era o que deveria ter sido. Queremos focar na experiência, lançar as coisas do jeito certo e não tentar reinventar a roda.
Game Lodge: Falando em Windows, nós sabemos que hoje qualquer pessoa que jogue videogames e utiliza Windows pensa automaticamente em Game Pass. É possível rodar o Game Pass no Zeenix, existe alguma ideia de parceria ou então algum risco por ser uma marca da Microsoft, existe algum complicador para o Zeenix nesse ponto?
Pedro: Que nada, o Zeenix inclusive vem com um mês de Game Pass quando você tira ele da caixa (o Pedro sorri de satisfação ao dar essa informação) e roda perfeitamente. É claro que o Zeenix Lite não roda os AAA mais recentes, mas com o xCloud você roda tudo lindo e maravilhoso, ele é perfeito para o xCloud. Tanto o Lite quanto o Pro rodam o Game Pass.
Game Lodge: Inclusive, o Zeenix tem duas versões: Lite (uma versão mais básica) e a Pro (com hardware mais potente). Você acha que com as exigências de hardware cada vez maiores dos jogos, a vida útil e as vendas do Lite podem ser prejudicadas?
Pedro: O Lite é meu pequeno companheirinho porque eu uso muito mais o Lite na Tectoy. Até porque, como um executivo da área de games da Tectoy, eu não quero que a gente lance um produto ruim. Mas a gente deixa bem claro para que o Lite serve. O Lite vai rodar a maioria dos jogos que os brasileiros jogam, então ele roda muito bem Fortnite, GTA V, Valorant, League of Legends, Counter-Strike, etc. O Lite não é um hardware para os jogos mais modernos atuais, vai muito bem com os indies mas ele também aguenta muito bem todos os jogos equivalentes da geração Xbox 360 e PS3, aguenta muitos jogos da geração PS4 e Xbox One, mas ele não é feito para os jogos mais atuais. Ele é feito pensando nos jogos que a maioria do público brasileiro consome. Quem quer jogar algo mais atual, os AAA atuais, o nosso produto é o Zeenix Pro. Até por isso temos esses dois produtos. Mas o Lite desempenha algumas funções muito legais. Eu por exemplo uso ele com o Steam Link para jogar jogos da Steam na cama e aí a bateria dele dura umas 4 horas.
Game Lodge: Falando em custo benefício, tenho certeza que vocês sabem que o fator determinante pro sucesso do Zeenix vai ser o preço. Vocês têm uma estratégia de preço bem definida e há algum risco caso o Zeenix tenha que competir com um possível portátil da Microsoft ou o sucessor do Switch caso ele venha com um preço competitivo?
Pedro: Nós não temos medo da competição com as empresas tradicionais de console porque um diferencial muito grande que o Zeenix sempre vai ter é você não precisar pagar 400 reais em um jogo. E você vai carregar a sua biblioteca da Steam, Epic Games e Game Pass para onde quiser, ou seja, se você já tiver uma biblioteca grande de jogos no seu PC, nós teremos essa vantagem. A gente já tinha a noção que o sucesso do Zeenix está diretamente ligado ao preço, tanto o Lite quanto o Pro. Estamos batalhando para que o preço seja o menor possível para que a gente possa competir e conquistar o mercado que queremos. Queremos nos posicionar muito bem com relação a isso.
Game Loge: Tanto o Zeenix Lite quanto o Pro tem a vantagem de rodar o Windows, que permite rodar outros aplicativos como Excel, Whatsapp, etc. Houve alguma pesquisa de mercado para saber se os consumidores irão realmente utilizar essas funções? Foi realmente a ideia de vocês terem um produto voltado tanto para jogos quanto para uso doméstico, vocês tiveram essa percepção de que os consumidores vão querer o Zeenix não só para jogar?
Pedro: Nós temos a noção de que boa parte do público gamer talvez não, mas quando a gente olha para o Brasil que é um país tão grande e tão diverso, pensamos muito em casos como por exemplo um pai que tem um filho que precisa de um computador para realizar trabalhos escolares mas ao mesmo tempo ele também quer um computador para jogar e a família não teria condições de dar os dois para a criança. Nós enxergamos que boa parte do público entusiasta não, mas temos a noção de que para o público geral, o Zeenix se torna um grande diferencial.
Game Lodge: E a Tectoy já pensa em alguma coisa para os mais entusiastas, algo mais high end para a galera que gosta de um hardware bem potente, um público que é mais nichado?
Pedro: Definitivamente. Agora com o lançamento da linha Zeenix atual, nós já estamos conversando com parceiros sobre o que vai vir no futuro. Claro que nós temos planos de ir cada vez mais acima. O céu é o limite.
Game Lodge: E uma última pergunta. Não se se vocês sabem, mas o Double Dragon do Zeebo é considerado por muitos fãs como o melhor jogo da franquia já lançado. E existe uma comunidade hoje dedicada a tentar emular o Zeebo e não é exagero afirmar que boa parte das pessoas querem emular o console para jogar o Double Dragon especificamente, que foi publicado pela Tectoy. Nós temos a chance de ver um port desse jogo em plataformas atuais e só conseguiremos jogá-lo caso consigam emular o Zeebo?
Pedro: Inclusive nós ficamos muito, muito felizes com o emulador do Zeebo que está surgindo. É o tipo de coisa que nós lá dentro da empresa olhamos com alegria e ficamos “vai, isso, continua! (risos)”. Mas nós temos algumas amarras contratuais. A Zeebo Inc não era uma empresa só da Tectoy, temos também toda uma questão com a Qualcomm e como as coisas se desenrolaram nós não teríamos como tomar essa iniciativa sozinhos. Mas nós olhamos com muita alegria o fato do emulador do Zeebo estar nascendo e que ele provavelmente vai rodar no Zeenix (risos).
Game Lodge: Então podemos esperar que o Zeenix dê suporte ao emulador do Zeebo?
Pedro: Se depender de mim, vai! (risos)
Nós do Game Lodge testamos o Zeenix na gamescom latam. Em breve publicaremos um artigo com as nossas impressões