Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Infantilidade nunca foi um problema na mídia e cultura. Na base, pode ser vista apenas como um público alvo, tal qual um livro infanto juvenil tem público alvo adolescentes. Ni No Kuni 2 Revenant Kingdom, em tudo o que faz, é um jogo infantil. Um RPG que poderia ser facilmente transformado em uma bela série animada com uma história perfeita para crianças.
Ni No Kuni 2 é sobre Evan, uma criança que graças a alguns problemas em sua vida precisa construir seu próprio reino e aprender a ser um rei. Com ajuda de alguns amigos -na maioria deles adultos- Evan passa a ir de reino em reino na ideia de criar uma união entre eles. Uma tentativa de criar paz entre os povos.
Nessas visitas em cada cidade, o pequeno rei aprende com os problemas desses locais o que ele precisa fazer para ser um bom rei e uma boa pessoa. Nessas descobertas, o grupo junto de Evan acaba tendo de lutar contra criaturas e enfrentar grandes problemas graças a um misterioso vilão. Uma narrativa rasa e simples mas interessante. São boas mensagens e personagens carismáticos, tudo o que uma animação infantil precisa.
Essa infantilidade de Ni No Kuni 2 não para na narrativa, as suas mecânicas também se encaixam muito bem na proposta. Ainda que repleta de possibilidades, tanto o combate quanto a administração de itens e do reino de Evan são simples.
O combate do jogo tem diversas possibilidades, mas infelizmente, pela facilidade das lutas na maior parte da campanha elas podem ser completamente ignoradas. Esse é o maior problema do jogo, uma faca de dois gumes pela escolha de tornar o game mais infantil.
Nessa ideia de simplificar, o combate cheio de possibilidades se resume a desviar e apertar dois botões até matar o inimigo. Praticamente em todas as lutas, usar itens, especiais e até os Higgledies-criaturinhas que podem ajudar com buffs e ataques- são apenas para poupar tempo.
O jogo é fácil demais na sua principal característica. As batalhas são o encaixe de todas as outras mecânicas apresentadas no game. A exploração, desenvolvimento da cidade e missões secundárias, todas no fim servem para trazer mais possibilidades e facilitar a batalha.
Se o combate já é extremamente fácil, porque ir atrás de algo que vai facilitar ele ainda mais? É complicado. Explorar no jogo é completamente sem graça e desnecessário por isso. Em toda as 40 horas de jogo, não existiu necessidade de uma arma mais forte, nem de armaduras melhores. A busca de itens melhores não é em nenhum momento do jogo incentivada.
A construção e administração do novo reino de Evan mesmo sendo atrapalhada pela facilidade do jogo, ainda é divertida. Não apenas divertida, mas obrigatória. É necessário chegar no nível 3 de reino para cumprir a última grande missão de Ni No Kuni 2
Para chegar no nivel 3, o jogador precisa recrutar um grande número de cidadãos e ter um número mínimo de construções no reino. Esses cidadãos podem ser postos para trabalhar em todo tipo de local da cidade. Construção de espadas, magias, fazendas, bazares e etc. É um modo de facilitar para o jogador de conseguir mais itens, melhorar suas magias e construir armas melhores. Tirando algumas habilidades que facilitam locomoção pelo mapa, essa evolução pela cidade é inútil para o jogador. A facilidade na batalha do jogo é tão visível que nada disso importa no fim. Basta conseguir algumas espadas pela campanha e já é suficiente para matar a maioria dos inimigos.
É claro que em lutas contra chefes o jogo tenta criar algum tipo de desafio, mas não são difíceis, apenas chatos. Os grandes monstros do jogo não tem golpes difíceis de defender e ataques muito fortes, eles apenas têm muito sangue e muita defesa. São esponjas de dano que só reforçam que as melhorias de magia e arma não são pelo desafio, mas para diminuir o tempo das lutas.
Esse problema não é absurdo quando se pensa que o jogo é feito para ser mais “infantil” mas é inegável que para jogadores com um pouco mais de experiência, essa facilidade acaba com diversas mecânicas do jogo.
A solução seria a existência de um “hard mode” feito para os jogadores mais experientes. Um modo que os chefes tivessem ataques mais rápidos e não permitissem tão fácilmente serem acertados por todos os golpes. Com isso, se preocupar com a melhoria da cidade, os buffs e a escolha certa dos Higgledies iriam passar a importar mais, tal qual as missões secundárias que teriam mais peso.
Ni No Kuni 2 Revenant Kingdom é um bom jogo mesmo com os problemas de falta de desafio. O jogo tem muito potencial e diversas mecânicas bem construídas. É uma pena que não tenha uma tradução brasileira pois é perfeito para crianças, algo que não anula que adultos gostem também. Se tivesse o hard mode, com certeza seria um dos melhores jrpgs de ação dos últimos anos, uma prova de que um detalhe pode fazer muita diferença.
Ni No Kuni 2
Bandai Namco
Level 5
PC, Playstation 4, Nintendo Switch