Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Lollipop Chainsaw foi lançado originalmente em 2012 em uma junção curiosa entre a equipe de desenvolvimento da Grasshopper Manufactered, de SUDA 51, a editora Warner Bros e do diretor de cinema James Gunn. Esse mix meio aleatório deu a luz ao hack-and-slash de zumbi, que mesmo não sendo o maior sucesso do mundo, teve uma boa notoriedade em sua época e conseguiu deixar uma base de fãs.
Infelizmente durante essa mais de uma década que se passou desde o lançamento do jogo original, não tivemos mais nada da IP sendo feita. Até que em 2022, a Dragami Games, de Yoshimi Yasuda, anuncia um remake do jogo, com parte da equipe original voltando para o projeto. Já em 2023, eles informaram que o jogo que antes era para ser um remake foi alterado para ser um remaster mais fiel possível ao original e que o nome do título ficou como Lollipop Chainsaw RePOP, além de uma data lançamento para o verão de 2024.
E agora em setembro de 2024 estamos com a versão de PC de Lollipop Chainsaw RePOP em mãos e posso contar sobre minha experiência através desse caótico apocalipse zumbi colegial. Um título que aguardava com bastante ansiedade por adorar o original.
A história se passa na San Romero High School, a maior escola de ensino médio do distrito, em algum lugar na costa oeste dos EUA. A protagonista Juliet Starling é uma aluna exemplar de San Romero que ama apaixonadamente ser líder de torcida.
No dia de seu aniversário de 18 anos, ela acorda animada para ir encontrar seu namorado, Nick Carlyle. Só que enquanto ela se arruma para sair, simplesmente um apocalipse zumbi se inicia na cidade. O que seria um pesadelo para muitos, para Juliet é apenas mais um dia normal, pois ela guarda o segredo de os Starlings, sua família, ser de uma linhagem de caçadores de zumbis.
Com o auxílio da sua motosserra, Juliet vai até o local que tinha marcado de encontrar Nick, preocupada que o pior possa ter acontecido com ele. Ao chegar ela o encontra em segurança, até que ele se joga na frente de um zumbi que ia atacá-la. Nesse processo ele acaba sendo mordido e Juliet faz o que qualquer membro de uma linhagem de caçadores de zumbi faria para salvar quem ama, que é (obviamente) decepar sua cabeça e fazer um ritual para que ele possa continuar vivo.
Com Nick a “salvo”, e agora preso a sua cintura como um tipo de chaveiro de cabeça gigante, eles partem para encontrar o mestre de Juliet, o sensei Morikawa, que explica a eles que um aluno do colégio, Swan, tinha iniciado um ritual para abrir uma passagem do mundo dos mortos até mundo dos vivos. Então, cabe a Juliet, com ajuda da sua família e de Nick, derrotar todos os 5 mestres dos mortos vivos para salvar o mundo.
O enredo de Lollipop Chainsaw RePOP se manteve idêntico ao jogo original, se tratando de uma história simples e divertida. As coisas aqui são bem direto ao ponto e o verdadeiro charme reside nos personagens, seja Juliet, sua família bem excêntrica, Nick, seu sensei ou até mesmo os chefões.
Apocalipse, morte e qualquer outro tema que possa ser considerado pesado é tratado de forma leve e descontraída, já que Juliet está acostumada e sabe lidar bem com a situação. Até Nick, que se choca com as coisas que acontecem por falta de hábito, no final acaba por lidar de forma leve também.
É um jogo que não busca uma carga dramática em cima dos temas envolvidos e sim trazer descontração com cenas doidas, engraçadas e absurdas. É um humor bem pastelão, que em sua parte final consegue entregar um momento um pouco mais dramático com certos acontecimentos, mas sem fugir muito também de suas pretensões. Sua imersão em tudo isso vai depender muito do quão ligado você ficou com os personagens.
Falando na descontração, o jogo é recheado de piadas o tempo todo, sejam verbais ou visuais. A obra gosta de criar situações doidas e muitas vezes dar uma solução ainda mais louca pra resolver tudo, além de enfiar uma piada ou sátira quase o tempo todo em cutscenes ou diálogos durante as fases. O jogo também gosta de brincar com estereótipos variados de personagens durante seu enredo, para, além de criar uma rápida ligação ou uma objeção, fazer suas piadas.
Com tudo sendo bem fiel ao que era em 2012, algumas referências e piadas feitas podem não surtir o mesmo efeito ou ter a mesma força hoje do que tinham a 12 anos atrás. Algumas pessoas mais novas podem ficar boiando ou até não pegar as estrelinhas da situação. Nada que atrapalhe, mas é algo que pode acontecer por ter se mantido fiel ao original.
O combate do jogo nunca foi muito complexo, mas tinha algumas possibilidades em sua jogabilidade. Ele, junto dos gráficos, é a parte que teve mais alteração, com melhorias de vida para melhorar a fluidez do jogo e deixar algo mais próximo de jogos modernos.
No jogo Juliet pode usar dois tipos de ataque com a motosserra, sendo um deles um ataque rasteiro, e também pode usar os pompons para realizar combos que deixam os inimigos atordoados. Adiante no jogo liberamos novas funções para a motosserra, que vão de usar um dash até poder atirar. Além dos ataques temos um botão que realiza um pulo/esquiva, que junto a outros comandos permite estender combos ou até criar golpes aéreos.
Basicamente durante o jogo buscamos variar os ataques de pompons, que são rápidos, mas apenas atordoam os inimigos, com os ataques de motosserra, que são lentos, mas derrotam os zumbis. Intercalando também com os momentos que mais vale usar o tiro com a motosserra para atingir inimigos voadores ou itens pelo cenário.
Não são tantos combos como um Devil My Cry ou Bayonetta da vida e nem tão complexos, mas temos algumas variedades de golpes que podemos usar, que vão sendo liberados a medida que progredimos e compramos as técnicas com medalhas de ouro, que recebemos durante a fase. O jogador também é recompensado com mais moedas quanto melhor seu desempenho, no velho sistema de ranking de jogos do gênero.
Na loja do jogo é possível comprar também roupas e cores de cabelo para Juliet, skins para a motosserra, consumíveis de vida, munição ou itens como música e artes para a galeria do jogo. Para a maioria da loja usa-se as moedas de ouro, mas existe também uma moeda de platina, que se consegue de forma parecida, mas essa fica restrita a ser usada apenas para alguns cosméticos.
As mudanças na jogabilidade como dito não mudam sua base e nem alteram tanto assim o original, mas são bem vindas, pois deixaram o jogo menos truncado. No combate a velocidade de movimentos e de alguns golpes foi aumentada, a câmera foi ajustada para permitir uma melhor resposta e o tempo dos inputs foi aprimorado.
Na parte de atirar aumentaram a munição total que é possível carregar, além da adicionarem a opção de travar de forma automática a mira em inimigos e um modo de disparo automático. Além disso é possível ativar uma opção que realiza os Quick Time Events (QTE) do jogo de forma automática.
Isso pode parecer pouco no papel, mas faz diferença durante o jogo. São mudanças que agregam, e que bom que foram feitas, pois, não é devido ao fato deles quererem deixar tudo como o original, que esse tipo de mudança não possa ser feita. Para quem quiser o mais próximo possível do original tem a opção e quem quer se distanciar um pouco mais também pode ativando algumas opções, como o Auto QTE.
Claro que algumas dessas coisas poderiam estar desde o jogo original, pois não são coisas revolucionarias, mas naquela época o jogo funcionava, então não era o fim do mundo. Hoje só funciona melhor, tendo a mesma base e ideia.
Uma das mudanças que o marketing do jogo fez questão de ressaltar que teria é na parte gráfica, com a possibilidade de resolução em Full HD e 4K, além dos 60FPS nos consoles de geração atual e PC. De fato está mais bonito, mas também não tanto assim pelo jogo ainda estar próximo em algumas texturas e outras coisas do original.
A parte de alguns cenários, como a parte interna da escola, onde foi adicionado bastante reflexo, além dos efeitos novos nos golpes deixam as coisas mais bonitas mesmo. Só que algumas fases como a da fazenda, o lixão e até as cutscenes freiam um pouco a empolgação por não conseguirem se desgrudar tanto do original.
Não achei o jogo feio, mas ele claramente tem cara de algo antigo que recebeu uma maquiagem, em vez de algo realmente feito para 2024. As melhorias foram necessárias, bem vindas e elas funcionam, mas é bom destacar para não se criar expectativas a mais nesse quesito. Ainda mais pensando no orçamento que o jogo deve ter recebido.
Vale ressaltar também que o jogo apresenta dois modos gráficos, o modo original e o RePOP. No original se mantém o gore presente no jogo e no RePOP ele é substituído por efeitos coloridos inspirados em arte pop.
Outro ponto fiel do jogo é o seu level design, que na época do original já não era dos mais inspirados e hoje em dia pode acabar por incomodar em alguns pontos. Ele é bem linear e com uma exploração mínima (pontos que gosto, sendo sincero), só que ele tem muitos trechos em que é preciso chegar até um ponto, esperar aparecer o ícone de um botão e apertá-lo para poder começar uma animação de transição. O que tira fluídez da fase.
Outra coisa que pode causar o sentimento de quebra de ritmo é que entre as secções da fase onde enfrentamos as hordas de zumbis, existe a inserção de alguns mini-games, que algumas vezes são curtinhos, mas outras não.
Aqui eu já não sei se é por eu realmente gostar jogos lineares e diretos, se é por eu está acostumado com o jogo ou por ambos os motivos, mas esses pontos em particular não me incomodam no geral. Tem um mini-game ou outro eu acho insuportável, mas no todo gosto de como são as coisas. Contudo, eu entendo completamente quem possa sentir o jogo ser truncado ou simples demais em sua estrutura. É algo realmente que remete a sua época, e novamente, já naquele tempo tinha gente que fosse sentir essas mesmas coisas, pois não se trata de um jogo dos mais ousados e com a maior das verbas.
As fases não são muitas (sete no total), mas elas são “longas” em uma primeira jogada. Apesar disso no total o jogo não é longo, tendo umas 6/7 horas. Em jogadas futuras, com mais upgrades e conhecimento prévio você vai passar pelas fases mais rápido, mas ainda são trechos mais longos que outros hack-in-slash. Depois de finalizado o jogo libera também um modo de Time-Attack, encorajando o jogador a rejogar e tentar melhorar seu tempo, dando mais conteúdo a quem possa se interessar.
Aqui quero falar especificamente da versão de PC do jogo, pois não sei se alguns dos relatos serão válidos para as outras plataformas. Durante minha jogada eu tive alguns bugs, nada de sério sendo sincero, mas são coisas que acho válido destacar.
O primeiro de tudo foi o jogo crashar quando eu iniciei a primeira fase pela primeira vez, algo que depois nunca mais aconteceu em momento nenhum. Um outro problema que se repetiu durante o jogo todo, umas horas mais e outras menos, foi a legenda desincronizando nas cutscenes.
Reparei que isso ocorreu geralmente depois da apresentação de algum personagem, onde aparece um frame estilo quadrinho com o perfil dele. Logo depois que a apresentação terminava a legenda atrasava, algumas vezes um pouco e outras bastante. Não é algo que atrapalhasse tanto, por geralmente ocorrer mais pro final das cenas, mas para quem não entende inglês é bem incomodo uma situação dessas.
Uma coisa que me incomodou, só que não sei dizer se é um bug, se foi um problema do meu controle ou se é só assim mesmo, foi a demora para computar o input durante os QTE. Aparece o botão de você tem que apertar, só que ele nunca contava na primeira vez, ele só ia depois de apertar duas ou três vezes. Não é algo que me fazia falhar o QTE, mas era uma sensação muito chata.
Percebi também que durante a fase da fazenda o meu FPS ficava em 45 sem motivo aparente, nas outras fases quando reparava ele estava em 60. Confesso que nem achei um problema, apenas algo curioso, já que eu só percebi isso pela Steam ter o indicador de FPS, senão eu nem tinha notado ou sentido, já que ele não ficava caindo, ele só travava em 45 em vez de 60.
Lollipop Chainsaw RePOP foi realizado com a proposta de ser a versão definitiva do original, buscando trazer o jogo para as plataformas atuais com algumas melhorias para a atualidade, mas sem mexer na estrutura feita em 2012. Acredito que a proposta foi extremamente bem executada, pois durante minha jogada me senti novamente no meu sofá jogando o jogo pela primeira vez no meu Xbox 360.
É notório que uma aproximação tão grande com o original traz um leva de benefícios, como também alguns malefícios. Quem gostava da experiência original vai continuar gostando dessa versão e vai poder apreciar ela agora de forma mais fácil, em diferentes plataformas. Quem não gostou em 2012, dificilmente vai mudar de ideia agora, visto o quanto ele lembra a experiência original.
Já quem nunca jogou, pode se sentir aliviado em poder ter, basicamente, a mesma experiência que os jogadores tiveram na época, só que em mais idiomas, com o jogo mais bonitinho, em mais plataformas e com uma experiências mais fluída graças as leves melhorias feitas.
Se você busca uma experiência leve, divertida e repleta de piadas bestas e galhofas, eu digo que esse é um jogo que vale a pena ser experimentado. Ele é curto, mas como tem bastante a ser desbloqueado ele acaba sendo feito pensando na rejogabilidade. Contudo, o jogo tem presente nele o peso dos 12 anos que se passaram em suas nas costas, o que pode acabar por afastar algumas pessoas. Ainda sim, acredito ser uma experiência simples, mas extremamente divertida, que vale a pena.
Lollipop Chainsaw RePOP
Dragami Games
PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X, Nintendo Switch