Crítica: Astro Bot – A Causa de um consumismo culposo

Astro Bot é um dos melhores jogos do ano, mas existe muito mais nele do que apenas fofura. No meio de muita beleza, existe uma enorme propaganda de poder empresarial e também um reflexo do que nós como consumidores estamos aceitando como não apenas produto, como também cultura.

Astro Bot se esforça em vender

É muito fácil ver Astro Bot como uma celebração para os mais saudosos ou um cemitério de franquias, entretanto, olhando um pouco mais de fora, utilizando vários robozinhos fofos e animações divertidas, o que a Team Asobi fez é uma demonstração de poder com muita relação pública.

Alguns poderiam dizer que é uma “Disneyficação” da indústria e não estaria de todo errado. Astro Bot é só um sintoma de uma doença que já pegou a Playstation faz tempo, que a Microsoft percebeu a mais de uma década e que a Nintendo sempre teve: Propriedades Intelectuais são o foco e o que tem moldado o audiovisual.

IP é o maior poder que uma empresa “criativa” poderia ter atualmente e a Playstation tem aos poucos mergulhado nesses aspecto que a Sony já esta afundada. Basta olhar a nova abertura do “Playstation Studios”, é basicamente o que a Marvel já faz a anos: demostrar ao publico que eles tem tudo o que eles amam e para os investidores, tudo que eles podem usar para lucrar.

Astro Bot até mesmo separa essas franquias em segmentos. Existem as franquias da Playstation, as que eles estão tentando ou já transformaram em algo além de jogo (God of War, Uncharted e Horizon), as que não são deles, mas querem reforçar que estão em peso lá (Persona, Yakuza e Crash Bandicoot) e as que vão estar ali como uma piscadela ao publico mais acalorado (Wild Arms, Metal Gear e Ape Scape). Tudo muito fofinho e cuidadoso, mas que servem de uma propaganda de diferentes possibilidades que a Playstation tem.

Com cada um desses “segmentos” existe a demonstração de que eles realmente são essa “Estação de Jogar” onde tudo isso se encontra ou poderá ser encontrado. Disfarçado de homenagem, o que encontramos é uma propaganda de IPs que podem se transformar em todo tipo de franquia, até mesmo podem ser vendidas no formato de um mascote fofo que não significa nada além de um reflexo de produto. Ele não tem uma nacionalidade, nem uma personalidade, ele apenas é o que aquele produto é. 

Um ótimo exemplo do que Astro Bot faz se relacionam muito forte com Ryan Reynolds, o ator. Especificamente em dois de seus trabalhos, primeiro, Free Guy, um dos primeiros filmes da Fox lançados pela Disney após sua aquisição, utiliza de diversas ferramentas da cultura pop, na grande maioria de sua nova dona, o outro é Deadpool, principalmente o ultimo filme, também lançado pela dona do Michael Mouse (Mickey para os amigos) que se fingindo de legal e grande amiga de seus fãs, cria um produto que é pura propaganda de si mesma e relação publica para agir como se estivesse do lado do publico e não do dinheiro.

O pior é que lendo até aqui, tudo parece negativo, certo? Astro Bot é um grande demônio do capitalismo tardio, um mascote que faz exatamente o que todo mascote sempre fez, vender produto, mas dessa vez de forma descarada. Ele deixa claro para a indústria que a empresa tem seus fãs nas mãos, e que tem todas as armas para fazer o máximo de dinheiro possível, como ele é terrível, né? Sim, mas é tão bom e fofo que amolece corações, Astro Bot se esforça em agradar

Dá para resumir no fato de que esse jogo é muito bom, sim, ele está tentando demonstrar o tempo todo como a Playstation é poderosa, mas tem um robozinho do Tokyo Jungle, como não amar?

Desde o começo do jogo fica claro que ele vai ser o puro suco de referências. Eles usam de mecânicas de franquias da Sony em algumas fases e em outras dão pequenas piscadelas ao publico com referencias aos Vip Bots (os robôs que referenciam personagens) nas fases que se encontram e se fossem só as referências, seria um jogo fraquíssimo, mas não, ele é muito bem feitinho.

Óbvio que nem toda fase é incrível, mas nenhuma é ruim, e mesmo que em diversos momentos o jogo pareça não ter alma, ele nunca perde qualidade e sempre apresenta algo novo ao jogador. Astro Bot segue toda a cartilha de bom level design e de como fazer um bom jogo de plataforma 3D e isso já funcionaria parando por ai, mas existem muitas fases que são realmente interessantes e brincam com elementos legais de ver e interagir em tela. 

Depois de tanto falar de propaganda e como esse jogo é a demonstração de um problema industrial e cultural, fica muito hipócrita comentar, mas existem tantas ferramentas e fases legais nele que essas fases de referencia deixam um gostinho de quero mais, a vontade é que brincassem com mecânicas de outros jogos já existentes se misturando ao que Astro Bot tem de melhor.

Ele poderia parar por ai? Claro, já tinha mais do que o suficiente, mas vai além na utilização do DualSense e se torna um jogo que realmente precisa de um produto Playstation para existir (olha eu caindo na propaganda dos caras), toda a utilização do DualSense é incrível e mesmo quando é claramente exagerada e parece mais um teste técnico, brilha os olhos.

Jogando Astro Bot, não é difícil entender como ele amolece corações, óbvio que existe as referências e essa venda ao publico de como tudo o que ele ama está sendo lembrado ou representado de certa forma naquele mundinho, mas estamos falando também de um jogo divertido, que não inventa a roda nem tenta ser muito único, mas é muito bem feito em cada aspecto.

Agradado e Vendido por Astro Bot

É muito curioso como em uma Playstation que vem de reviravoltas problemáticas e foco em Jogos Serviço caindo por terra, que onde encontramos um dos seus pontos mais altos dos últimos anos, é justamente vendendo suas franquias single player em um jogo de um dos gêneros mais antigos da indústria.

O novo exclusivo da Playstation amolece corações com sua fofura e qualidade técnica e de design, entretanto, escancara como empresas facilmente nos agarram com nostalgia barata em produtos que ainda que de qualidade, são apenas uma demonstração de grandeza disfarçadas de homenagem. Dessa forma Astro Bot se torna um exemplo perfeito de uma indústria que está cada vez melhor em filosofias e game design, mas sofre com um mercado predatório, criando o, tão comum nos dias de hoje, consumo culposo.