Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Há 14 anos atrás Dragon Ball Z: Budokai Tenkaichi 3 era lançado, um jogo que marcou época e que até hoje é presente no coletivo popular dos fãs da franquia. Era o último jogo da série Budokai Tenkaichi até então, que depois tentou seguir com um sucessor espiritual, o Raging Blast, mas que não teve o mesmo apelo e sucesso.
Então, a Bandai Namco anuncia que a série Budokai Tenkaichi iria voltar a vida em 2024, dessa vez utilizando de forma global o nome de Sparking!, que é o nome da série que a franquia sempre utilizou no Japão. Uma mudança da marca global parecida com o que a franquia Like a Dragon fez recentemente. E novamente desenvolvida pela Spike Chunsoft.
Isso obviamente causou um alvoroço entre os fãs de Dragon Ball, que ficaram ansiosos e com uma alta expectativa para a volta da série. Dragon Ball tem ótimos jogos recentes, como os Xenoverse, Kakarot e o FighterZ, só que eu ouso dizer que nenhum deles tem o peso que um Budokai Tenkaichi carrega para os fãs de Dragon Ball. O jogo ainda tem um fator extra de emoção para os fãs, por ele estar saindo justamente no ano que, infelizmente, Akira Toriyama nos deixou, o que deixa uma expectativa extra de poder celebrar bem a série maravilhosa que ele criou.
Com muita expectativa nos ombros, será que as coisas se saíram bem? Será que os fãs puderam ficar felizes com uma volta triunfal da franquia ou tiveram que amargar um jogo que infelizmente não trouxe aquele sentimento bom lá de 2007? Bem, eu iriei contar minha opinião direitinho quanto a isso no restante do texto, mas já dando um pequeno spoiler: SE SAIU BEM DEMAIS!
Sparking! Zero tem um modo campanha que é dividido por episódios, são 8 no total onde cada um deles é sobre a perspectiva de algum personagem diferente. Podemos jogar do ponto de vista de Goku, Vegeta, Gohan, Piccolo, Trunks do Futuro, Freeza, Goku Black e Jiren.
Esses episódios tem tamanhos variáveis, sendo alguns bem longos (Goku) e outros bem curtos (Trunks do Futuro), mas que se somados todos, principalmente fazendo todos os caminhos e secundárias possíveis, atinge suas mais de 20h facilmente. Então é um conteúdo bem regrado para quem quer aproveitar.
No total a campanha engloba toda história do anime do Z ao Super, então vai da saga dos Saiyajins até o Torneio do Poder. Só que por resolver contar sua história de forma individual para cada personagens, não é uma campanha linear, a gente vai vendo as sagas de forma picotada.
Ela funciona quase linear apenas com o Goku, por ele estar em todas essas sagas, mas cortando lutas em que ele não participa. Ex.: sagas como a do Android/Cell, perdemos, na campanha do Goku, uma parte dela por causa do tempo ele fica fora de tela pela doença do coração.
A campanha é contada com alguns momentos de belas cutscenes, para algumas cenas mais marcantes, e com vários momentos de apenas uma dublagem em cima de uma tela parada da cena. Eu penso que poderia ter mais cenas bem trabalhadas, mas que a forma que é não é exatamente ruim, só poderia ser mais marcante. Uma coisa legal que algumas cenas de conversa a gente é possível mudar de uma câmera mais cinematográfica para uma câmera simulando como se estivesse vendo realmente pelos olhos do protagonista.
Por se tratar de um anime antigo e bem conhecido, que já teve suas história contada de várias formas por várias mídias, essa quebra da continuidade no contar da história não se torna um problema. O que incomoda são escolhas como fazer a história do Trunks do Futuro começar apenas da Saga Black ou o episódio do Vegeta englobar até a Saga Boo apenas. Fora o episódio inteiro do Goku Black, que sinceramente não agrega em nada pra campanha, só fazendo a gente repetir as mesmas lutas chatas novamente.
Obviamente não é a campanha mais recomendada para quem está experimentando a trama pela primeira vez, mas para algo assim já existe Dragon Ball Kakarot. Aqui a proposta é outra. Só que serve assim de visão geral para quem já tem alguma noção e permite reviver alguns momentos marcantes da obra. Fora que é o único jogo que tenta minimamente contar os arcos atuais do Dragon Ball Super.
O grande chamariz da campanha, e dos modos offline do jogo eu diria, são os “E se…?” que o jogo possui. Temos isso presente no jogo de duas formas: com escolhas/secundárias durante os episódios de história ou em um modo próprio que permite ao jogador criar seu próprio “E se…?”.
Os da campanha já são pré-definidos e são alcançados de algumas formas. Os mais diretos acontecem quando o jogo deixa a gente escolher alguma opção durante as cenas. Esse tipo são os que geralmente criam os “E se…?” mais longos e elaborados durante a campanha.
É possível também alcançar caminhos alternativos realizando missões secundárias como “derrote o inimigo rapidamente”, “derrote o inimigo com x ataque”, entre outros objetivos possíveis de serem completados durante a batalha. Essa forma também libera histórias alternativas longas, mas as vezes eles só geral apresentam apenas uma cena para contar algo como “olha como a história terminaria se o personagem x não fosse burro e derrotasse logo seu oponente”.
Os “E se…?” presentes durantes os episódios são bem legais em sua maioria. Claro que existem um ou outro que muda pouco e está ali pra inflar o tempo, mas existem muitos outros bem legais mesmo. São histórias alternativas que eu ouço dizer que já criaram momentos marcantes e icônicos na fanbase de Dragon Ball.
Agora, uma outra forma de vivenciar esses “E se…?” é jogando o jogo de batalha personalizada. Nesse modo podemos jogar alguns breves cenários alternativos criados pelos desenvolvedores ou outros jogadores. Além de ser possível criar nossas próprias histórias alternativas e realizar o upload delas para que outros joguem.
Aqui a imaginação rola solta, visto que as possibilidades de personalização são bem vastas. Escolhemos os personagens que serão jogáveis, os oponentes, o cenários, as regras, condições, diálogos. Realmente criamos uma batalha dentro do mundo de Dragon Ball, com uma ampla seleção de diálogos possíveis e tudo mais. Para quem gosta, e tem paciência, da para gastar um bom tempo aqui brincando com todas as possibilidades.
Além dos episódios de história e do modo de batalha personalizada, existem ainda uma boa quantidade de modos de jogo e objetivos para se completar. Temos o clássico modo torneio, onde podemos jogar os diferentes torneios existentes em Dragon Ball, cada um com suas regras que nem no anime. É possível criar o nosso próprio torneio também, escolhendo as regras que quisermos e a arena. É um modo bem divertido, com resultados impressionantes e hilários de se acompanhar no chaveamento da CPU.
O clássico modo versus também está presente no jogo, sendo possível enfrentar a CPU, um amigo local ou online e também realizar um CPU x CPU. Nessa parte vale só destacar que infelizmente o modo versus local é capado, sendo possível lutar apenas na sala do templo e sem repetir personagem. É realmente muito triste e estranho não terem dado a devida atenção a um modo tão clássico e querido, mesmo que o modo online seja completinho, o local para jogos do estilo ainda tem uma força importante. Foi uma decisão um tanto estranha das empresas.
O online do jogo também conta com um modo rankeada para quem quer testar sua gameplay em níveis altos. Por mais que o jogo não seja, competitivamente falando, balanceado, para as rankeadas existe um balanceamento mínimo, já que para montar o time o jogador deve respeita um número de pontos, com cada personagem tendo o seu. Isso é com intuito para evitar times super quebrados. Existem alguns detalhes legais para esse sistema de pontos. Um, por exemplo, é que as forças especiais Ginyu completa é certinho o limite de pontos.
O jogo possuí também um modo de treinamento livre e um outro que funciona como tutorias para ensinar o básico do jogo e dos seus inúmeros comandos e sistemas. Eu senti que o tutorial cobre bem o básico, mas que eu esqueci muita coisa para quando ia jogar pra valer, pelo alto número de comandos para se executar, principalmente defensivos. Já o modo livre eu não experimentei muito, mas me pareceu minimamente completo para se testar os bonecos e algumas situações.
Além de todos esses modos existem vários desbloqueáveis no jogo. Temos uma loja onde usamos os zennys que ganhamos no jogo para comprar cápsulas para melhorar os personagens, compramos personagens em si, trajes, títulos, arte para o perfil, entre outras coisas. É bastante coisa que vamos liberando ou comprando para usar.
O jogo tem alguns objetivos que ao completar ganhamos dinheiro ou algumas das coisas que listei da loja. Aqui é tudo in-game como antigamente, então não se preocupem com microtransação ou coisa do tipo. É possível também invocar Shenlong, Porunga ou Super Shenlong quando reunimos as esferas do dragão. Eles liberam personagens para gente, títulos, trajes, aumentam nosso nível ou podemos pedir simplesmente por dinheiro.
Uma coisa legal que reparei é que por exemplo, se você comprou um personagem X na loja e então depois você jogou a campanha e liberou ele por lá, você recebe o reembolso completo do valor gasto. Então o jogo não te pune por querer se adiantar e liberar o personagem que você quer.
Se você usa as redes sociais e seu algoritmo pega alguma coisa de jogo/anime é bem possível que você tenha visto um relato ou outro sobre a dificuldade do jogo (principalmente do Vegeta Oozaru). Eu devo dizer que sim, a campanha está com momentos bem tensos e difíceis.
No Vegeta em si eu não sofri, achei ok de passar, mas consigo ver ele sendo bem chato apelando com algumas coisas. Por incrível que parece um dos momentos mais sofríveis que tive foram contra as Forças Especiais Ginyu, afinal era uma luta do Goku contra o 5, o que não era muito justo pelo número de barras de vida. Curiosamente na campanha do Jiren, que era pra ser um dos bonecos mais fortes do jogo, foi onde sofri demais também, porque tinha muita luta de 1 x vários.
O principal motivo que eu vejo para que seja tão difíceis algumas lutas é simplesmente porque a CPU sabe o que está fazendo. Ela sabe todos os botões, sabe como e, principalmente, quando usar os vários counters que o jogo tem.
Tem momentos e lutas, principalmente na insuportável saga Black, que a máquina está o capeta. Ela fica extremamente agressiva e contra-ataca qualquer coisa que você fizer. Você conseguiu contra-atacar ela? não importa, ela contra-ataca o seu contra-ataque. Tem hora mesmo que você só aceita, porque ela está com o instinto superior ativado.
Obviamente nem sempre é assim, tem lutas de boa e que a CPU parece jogador ok em vez de ser o Daigo Umeraha instinto superior completo. E já em outros momentos a CPU é o Mr. Satan, ela só fica parada e aceita apanhar.
Tem momentos, as vezes numa mesma batalha que ela vai do 8 ao 80, criando uma certa inconstância muitas vezes, principalmente em batalhas contra mais de um personagem. Nesse tipo de batalha tem vezes que um personagem ta com a IA desligada, ai vem o próximo e é o Anderson Silva no auge e fica intercalando assim.
Para combater a CPU é necessário aprender a fazer o básico pelo menos bem, ainda mais no quesito defensivo, mas é necessário aprender a apelar. É carregar o modo Sparking, bater até dizer chega e soltar o especial e ficar repetindo até vencer.
Isso tudo que mencionei acaba por criar uma montanha russa de emoções durante as batalhas. Tinha momentos que eu só queria tacar o controle na parede, indignado que parecia que a CPU que tinha comprado (ou ganhado nesse caso) o jogo e só ela jogava. Ao mesmo tempo que tinha momentos tranquilos e satisfatórios.
Não posso negar que frustações acabaram por existir por sentir um desequilíbrio injusto, mas também momentos de euforias por conseguir avançar de algumas partes eram presentes. Acho que o jogo pesava a mão em alguns momentos, mas se olhar para o todo o desafio é satisfatório. É um jogo difícil, mas não impossível.
O jogo tem bastante comando para se realizar na partida, são realmente vários tipos de counter ou defesas, de eu não conseguir gravar até hoje quantos são e quais são todos. Alguns eu fazia por reflexo mesmo não vou mentir. No ataque tem um leque bom de opções também, mas são mais simples de lembrar e gravar.
Muita coisa se manteve dos jogos antigos, com algumas atualizações e novidades. Existem dois tipos de controle: o clássico e o “moderno” (entre aspas porque não lembro se o nome certinho é assim). Pelo que pude ver, não me pareceu ter uma grande diferença em onde os botões estão posicionados, mas eu só usei o moderno então não comparei para garantir isso.
Optei pelos modernizados, pois algo que muda é o que apertamos quando acontece um clash entre personagens. E nessa era dos controles com drift que vivemos, eu não quis ter que ficar rodando o analógico para testar a sorte.
Uma novidade também (em ambas opções de controle) é que temos aqueles menus de habilidade no jogo. Então ao apertar um botão, geralmente um gatilho, um mini menu aparece na tela e você pode selecionar uma habilidade, transformação/fusão ou troca de personagem.
Cada personagem tem dois golpes que gastam barra de ki e mais duas habilidades que consomem uma outra barra. Essa segunda barra carrega sozinha e vai variar também com o quanto você apanha/bate. Essas habilidades da segunda barra podem ser golpes (que não necessariamente tão dano, ex.: Taiyoken) ou poder ser algum tipo de buff de status simples ou até uma “transformação” com o Kaioken do Goku ou o Blue Evolution do Vegeta. Além de um especial, que pode ser usado quando carregado todo o Ki e ativado o modo Sparking.
No geral eu senti que era muita coisa para aprender, que eu não aprendi tudo, mas que os comandos que eu aprendi a usar eram bem satisfatórios de se executar. Não acho que seja algo do outro mundo, mas também não me parecem comandos que você pega tão rápido assim, levando um tempo para acostumar. Vale ressaltar não peguei tudo, porque sou tapado com jogo de luta mesmo e minha noção/execução de ritmo e combo é bem ruim. Já algumas ações eu acho que poderiam ser posicionadas em outros botões para ser mais fácil/intuitivo de se executar.
Devo dizer, o jogo está lindíssimo. Tanto personagens e, principalmente, cenários estão majestosos de serem vistos. Eu testei o jogo em 4K numa TV e estava estonteante, e quando eu fui para um monitor Full HD continuou muito bonito na minha opinião.
Sinto que essa beleza toda custou um certo preço, pois por mais que tenha uma quantidade boa, eu acho que poderiam existir mais cenários e mais variados principalmente. Fora que essa beleza toda e o jogo de câmera foi a desculpa usada para tentar justificar o modo versus local capado.
O desempenho também foi bem satisfatório para mim, ao menos no Xbox Series X, não tendo notado nenhum bug em minha gameplay. No máximo uns glitches gráficos de leve, como ver o por dentro do cenários por uma fração de segundo a depender do ângulo da câmera quando encostado no chão. Sinceramente nada que atrapalhe ou incomode. Minhas mais de 30 horas de jogo foram bem sólidas e sem nada que atrapalhasse.
O jogo é maravilhoso, só que teve sim momentos e algumas coisas que acho que diminuem um tanto de nada a experiência. Algumas delas eu meio que já descrevi como a inconstância da CPU, principalmente quando ela está no modo instinto superior. O modo versus capado é bem difícil de aceitar considerando que é algo clássico para a série. O jogo do tamanho de Dragon Ball em 2024 não ter um crossplay também é duro de aceitar.
Umas “barriga” que tem ali na campanha como o episódio do Goku Black ser basicamente repetição do que já tínhamos jogados e seus “E se…?” não serem diferentes o suficiente para justificar a existência dessa campanha cansam. Além do fato de algumas campanhas começaram tarde ou cedo demais são bem esquisitas. Até agora não engoli o episódio do Vegeta parar na Saga Boo ou o do Trunks do Futuro começar apenas na zaga Black e não na saga Cell.
Um outro ponto abaixo é que, enquanto muito dos menus, principalmente o menu principal, são lindos e bem maneiros, o menu para selecionar o personagem parece até hoje algo amador e incompleto. O que é uma pena, pois os menus dos Budokai Tenkaichi tinham bastante estilo e personalidade, ao meu ver.
A câmera e o lock nos personagens as vezes irritavam, pois teve uma quantidade considerável de vezes que eu estou enchendo o oponente de porrada e o boneco simplesmente perde o contato sozinho com o outro personagem e fica batendo no ar. Fora que alguns golpes de investida as vezes passam seco pelo oponente quando não parecem que deveriam, fazendo parecer que a câmera está estranha.
Dragon Ball Sparking! Zero consegue de forma maestral reviver os tempos de Budokai Tenkaichi, trazendo aquele sentimento nostálgico com toques de modernidade. Ao abraçar que essa série não se trata de um jogo de luta com personagens de Dragon Ball e sim um simulador de batalha de Dragon Ball, temos o verdadeiro desbalanceamento que permite que a gente viva Dragon Ball do jeito que ele é, com fusões sendo roubadas e o Mr. Satan sendo meme, do jeitinho que tem que ser.
Não é um jogo perfeito, mas é um jogo bom o suficiente para não só honrar um legado, mas como seguir adiante com ele. Gerações que cresceram jogando os Budokai Tenkaichi a mais de 14 anos atrás podem ter o gostinho novamente daqueles momentos de diversão na frente da tela. E gerações atuais podem experimentar a euforia que era essa série de jogos de Dragon Ball com algo para chamar de seu.
Agora a Bandai tem a raquete e a peteca nas mãos e até então está indo bem, com uma vasta seleção de personagens de DLC prometidos, eles tem a possibilidade de deixar os jogadores engajados por 2025 tranquilamente (por favor façam o Gohan Beast quebradaço). Resta acompanhar o que será da série daqui pra frente, se isso foi um evento único que a gente aprecia e agradece pelo que recebeu ou se vai virar algo constante por mais muitos anos pela frente (só não vire um Xenoverse 2 por favor).
Dragon Ball: Sparking! Zero
Bandai Namco
Spike Chunsoft
PC, Playstation 5, Xbox Series S|X