Crítica: Keep Driving – Vivendo as estradas

Keep Driving foi um jogo que descobri navegando um dia pela aba de novidades populares da Steam. Com a sua parte visual me chamando atenção, abri a página do jogo e gostei do que vi lá. Um belíssimo píxel arte com um jogo que parecia chill de meter o pé na estrada e gerenciar uma aventura sua.

Com minha atenção tomada fui encarar essa aventura e durante ela me surpreendi com o que encontrei (eu não li a página inteira do jogo). Será que essa surpresa foi positiva ou negativa? Contarei mais abaixo, então venha comigo nessa review.

Uma jornada na estrada com vários destinos

Em Keep Driving nos encontramos em um verão no início dos anos 2000, com o(a) protagonista tendo acabado de comprar seu primeiro carro. Estamos prontos para partir em viagem pela estrada e descobrimos que um grande festival de música está para acontecer do outro lado do país. Cabe a você decidir como você chegará lá ou até mesmo se você chegará lá.

O jogo tem essa premissa, mas ele te dá total liberdade para agir como você quer. O festival realmente é apenas um objetivo inicial da jornada, para lhe dar um norte. Só que o jogo trata cada estrada que você encontra como algo isolado, então durante nosso percusso podemos descobrir novos objetivos e mudar totalmente nosso trajeto.

O jogo também não da limite de tempo para que o festival aconteça, então é possível só ignorar ele e explorar o imenso mapa que temos disponível. Ao todos temos 9 finais possíveis, que podem ser desbloqueados a depender do que fazemos na jornada. Alguns são mais simples de se alcançar, sem ter nenhum gatilho extra para ser liberado, já outros vão requerer que você faça algo mais específico antes de liberar para serem feitos.

Não temos uma densidade de história, com grandes diálogos ou acontecimentos, mas a medida que andados nas estradas temos momentos de conversa com alguns NPCs, vamos conhecendo pessoas e podemos dar caronas a elas, o personagem faz algumas reflexões. Então, realmente é um jogo bem chill para contemplar a jornada.

O estúdio que pública e desenvolve o jogo é o Y/CJ/Y, que fica localizado na Suécia e eles se inspiraram em várias referências de outros jogos ou até filmes para criar o jogo, como Oregon Trail II, FTL, Paris Texas e em suas próprias vidas. Temos uma ótima vibe de road trip presente aqui, apenas curtindo o momento e o que as estradas tem para oferecer.

Um ponto bem forte do jogo é sua música. Aqui vamos coletando discos pelo mapa e criando nossas playlists para tocar no carro. O mais legal é que os desenvolvedores usaram bandas indies locais para compor a trilha sonora do jogo. Tem músicas de estilos diferentes, algumas com vocal e outras não, mas que são bem legais no geral. Ajuda bastante a curtir a viagem.

Um RPG de turno e gerenciamento

Na jogabilidade foi onde tive a grande surpresa com o jogo (repetindo, isso apenas porque eu não li até o final da página do jogo na Steam), pois eu achava que apenas gerenciávamos itens e íamos conversando com pessoas pelo caminho e fazendo escolhas. Só que não, já que aqui temos combate por turno, então sim, o jogo é um RPG.

Fui pego de surpresa e no começo acho que fiquei com um sentimento negativo com esse fator do jogo. Achei que um jogo mais slice-of-life com escolhas era o que queria, mas ao experimentar mais do combate e do funcionamento do jogo, eu achei que foi uma escolha legal.

Aqui o combate é como se fossem as ameaças que podemos encontrar ao partir na estrada. Então pode ser a polícia parando a gente, pessoas discutindo no carro da frente, um apressado atrás de você, um carro quebrando, um caminhão lerdo na frente, um inseto que entrou pela janela. Então, o jogo ter esse sistema trouxe de certa forma um realismo maior para nossa aventura.

Além disso, temos status negativos e positivos como ficar alegre ou triste, inspirado, com fome, sujo, cansado, com frio, com calor, encarar uma estrada com o sol torando na cara ou completamente coberta por neblina. Isso tudo vai influenciar no nosso personagem e nas ações que tomamos na batalha.

E afinal, como se dá essa batalha? Bem o jogo tem um sistema de ameaças, que é, ao mesmo tempo, o ataque e a vida do inimigo, representada por diferentes tipos. Temos ameaças de dinheiro, energia, durabilidade, combustível. Então, por exemplo, se eu levo um ataque de durabilidade, vou levar dano nesse status do carro.

Com esse cenário nosso objetivo é eliminar todas ameaças e seguir nosso rumo. Para isso o jogador pode usar itens ou skills. As skills são liberadas gastando pontos de skill, que ganhamos ao upar, e elas tem um número de uso, efeito e dano pré-definido. Então eu posso ter uma skill Y que limpa duas ameaças de combustível, tem 3 usos e pode ou não ter algum efeito a mais (de criar ou tirar algum status). Recuperamos os usos das skills ao dormir.

O jogo também usa um sistema de posicionamento, então o inimigo pode ter X números de ameaças e elas vão estar posicionadas horizontalmente em uma ordem variada. Cabe ao jogador pensar em qual skill ou item usar para limpar aquela ameaça de acordo com as posições. Durante a batalha nem sempre todas as ameaças vão dar dano de vez, então é também gerenciar prioridades do que devemos nós livrar primeiro.

O jogo tem um sistema de “dano perfeito”, que quando realizado a gente ganha um turno adicional. Então, basicamente um turno bem feito a gente ataca duas vezes antes do inimigo agir. Eu sei que textualmente parece bem confuso, porque é difícil de explicar mesmo por aqui, mas saibam que o sistema do jogo é legal, tem um nível básico de complexidade e não é difícil de entender. O tutorial é bem feito também e a todo momento o jogo mostra texto do que se trata cada coisa (nada invasivo).

Agora também temos a jogabilidade fora das estradas, que é quando chegamos em cidades ou postos. Nessas partes podemos comprar itens em lojas, trabalhar, abastecer o carro, dormir e até fazer um certo nível de exploração para achar itens em trechos onde a câmera lembra um dungeons crawler.

Então a parte de gerenciamento é bem importante para termos o necessário para lidar com os perigos. Essa parte também é feita num sistema de “Residente Evil 4 de arrumar maleta”, então só podemos carregar o que cabe no carro. Podemos abaixar bancos se for preciso e tentar encaixar tudo. Além disso podemos comprar melhorias para o carro, deixando ele mais tunado e também mudar a parte estética um com pinturas e adesivos.

Como também disse mais no começo do texto, é possível encontrar pessoas no caminho e podemos dar carona para elas. Basicamente elas entram na party e cada uma tem suas skills passivas e ativas para nos ajudar ou atrapalhar. O gerenciamento de pessoas também é importante, porque eles consomem espaço no carro, e apesar de serem de ajuda nas batalhas, eles podem acabar atrapalhando as vezes também, já que como dito, nem toda as skills deles são ajudando, algumas trazem penalidades que atrapalham a gente.

Esqueci de comentar antes, mas o jogo também deixa a gente fazer algumas escolhas no início de um save. Podemos escolher o sexo e nome do personagem, o quão bem ele se dá com os pais, qual a situação dele de vida (estuda, desemprego, trabalha) e qual kit inicial ele vai estar levando. Esse kit é um conjunto de itens, organizado por uma temática e vai ser o que você leva ao partir na jornada.

No geral são sistemas legais, não muito complexos, mas que funcionam bem no escopo do jogo, já que uma run dele não dura tanto, os finais mais longos vão umas 4h mais ou menos. O jogo tem incentivo de rejogabilidade já que, além de ter 9 finais, ele apresenta mais 2 carros além do inicial e mais kits de itens que são desbloqueados a medida que você pega os finais. Além disso, se você escolher o mesmo carro tu pode optar por manter ou não as melhorias da última run.

Curtindo a estrada

Keep Driving acabou sendo uma supresa legal para mim. Com sua vibe chill, seu píxel arte maravilhoso e trilha sonora incrível, eu pude mergulhar na estrada e ter uma experiência bem agradável enquanto superava seus desafios. Ao apresentar um combate interessante, bastante coisa para se gerenciar e até um sistema de “ficha de personagem” é um RPG que valeu a pena ter experimentado.

Sua aventura é curta, mas com possibilidade de ser experimentava várias vezes de diferente formas, o que traz um bom fator replay para o jogo, permitindo que quem queria mais dele pudesse ter e quem já tinha se satisfeito não se prolongasse demais nele. É um RPG diferente, mas legal e que recomendo para quem quer pegar a estrada e sair se aventurando.