Crítica – Assassin’s Creed Shadows: O reconhecimento para a evolução

Por Silvio Diaz

Nota: 10

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge

É fácil esquecermos do impacto e importância de Assassin’s Creed. Os lançamentos anuais, as práticas nada agradáveis para diminuir tempo de jogo com microtransações e uma linha de lançamentos inconstantes de qualidade, facilitam que vejamos a franquia como algo mais nebuloso. Entretanto, no meio desses problemas existiam qualidades, inovações e muitas mudanças que alteraram a franquia e agora, em Assassin’s Creed Shadows, se encontram em uma fusão de tudo o que já foi.

Jogar Assassin’s Creed Shadows é um convite a pensar em toda a franquia, é lembrar de como mundos abertos funcionam antes do estrondoso sucesso da Ubisoft, e também lembrar como a empresa mudou drasticamente justamente pelo sucesso do primeiro jogo. Como os lançamentos do estúdio mudaram junto de diversos novos padrões que criaram e ficaram para a indústria. É fácil esquecer como todo o “Ubisoft Game” existe e veio justamente de diversas ótimas ferramentas criadas para Assassin’s Creed.

Óbvio, a utilização exagerada em toda a sua linha de franquias e o curto período de lançamento entre elas, fez com que esse “Ubisoft Game” virasse um problema, mas é inegável que quando essas mecânicas são bem utilizadas e atualizadas, elas são ótimas e não apenas os jogos do estúdio provam isso, mas também diversos jogos que vêm saindo desde 2006.

Subir torres, invadir bases, estrutura de missões e até mesmo algumas maneiras de contar a história. Ideias que foram criadas ou modeladas pela Ubisoft em Assassin’s Creed e foram utilizadas de boas e más maneiras por diversos estúdios e tudo isso está, da melhor forma possível, em Assassin’s Creed Shadows e dividido entre os dois personagens.

Dualidade da franquia em um jogo só

Yasuke e Naoe, os personagens que controlamos pelo Japão no período Sengoku, são duas vidas e dois estilos diferentes. Yasuke, um samurai negro acolhido por Oda Nobunaga, Naoe, uma ninja que teve sua vila destruída por Oda e quer vingança. Dois personagens bem diferentes, com ideias e visões parecidas que pelo desenrolar da história se unem e conseguem carregar consigo toda a ideia de Assassin’s Creed Shadows ser a junção do que a franquia foi e agora é.

Assassin's Creed Shadows Naoe Ataca

Naoe tem uma história muito mais ligada ao credo dos assassinos, não à toa, é a personagem que carrega a tão famosa Hidden Blade e tem os equipamentos que lembram muito mais o que os assassinos dos jogos mais antigos usavam. Sua movimentação e possibilidades também remetem mais a esse período, enquanto Yasuke é extremamente pesado, não tem a visão de águia que retorna como funcionava nos jogos antigos com Naoe e tem um combate bem mais eficiente em dano. Basicamente, ele é para ser jogado no estilo dos últimos Assassin’s Creed, o que também traz o problema de ser um personagem muito mais fácil de ser jogado.

Graças a Yasuke, senti a necessidade de colocar as dificuldades de stealth e combate no máximo, o que para minha surpresa, foi ótimo. As diferenças de dificuldade do jogo estão mais ligadas ao comportamento e percepção dos inimigos e não a apenas golpes mais fortes e vidas maiores e Yasuke como um brutamonte, facilitava muito de apenas sair matando tudo e todos no combate. Na dificuldade máxima, cada recurso e mecânica do jogo ganham mais valor e florescem em algo que realmente funciona.

Na dificuldade máxima, o jogador precisa usar todos os sistemas que o jogo apresenta e precisa pensar cautelosamente em cada um deles, pois sem isso é fácil cair em uma invasão de horas na mesma base, algo que com o personagem certo e usando as habilidades certas, seria bem mais curto e talvez até mais divertido e menos frustrante.

Dessa forma, a escolha de personagens e uso de recurso e habilidades específicas para cada combate se tornam mais sobre eficiência e não possibilidade. Obviamente, existem momentos que só podemos jogar com um, algumas missões ou até mesmo lugares que precisamos de um dos personagens específicos, mas na grande maioria das vezes eu sentia que podia concluir meu objetivo com os dois, apenas precisava escolher o melhor para cada situação. Basicamente, Assassin’s Creed Shadows me fazia sentir um tico inteligente, me permitindo pensar e passar pelas consequências das minhas escolhas em mecânica.

Sistemas, sistemas e sistemas

O que facilita muito essas possibilidades e permitir o jogador experimentar e no final, se sentir mais inteligente (ou não) é o quão pesado Assassin’s Creed Shadows é baseado em sistemas. Uma evolução muito bem-vinda do que já tinha sido apresentado em Assassin’s Creed Odyssey, não por acaso, os dois jogos dividem o mesmo diretor criativo, Jonathan Dumont.

Tudo isso dividido em um mapa gigante com diversas áreas que exigem diferentes níveis do personagem. Algo que já foi apresentado nos últimos jogos da franquia, e eram um grande problema em como eram usadas para restringir o jogador. Em Shadows isso não foi alterado, mas corrigido de maneira mais inteligente. Os espaços são muito mais espaçados entre níveis, o aumento de nível acontece de maneira muito mais natural.

Assassin's Creed Shadows Yasuke

No fim, em mais de 30 horas de jogo, eu só esbarrei em um único inimigo que era impossível de ser derrotado pois o level era muito mais forte e isso acabou virando um objetivo para o futuro, já que foi um inimigo de missão secundária implantado em uma área que exigia um nível bem menor. No fim, conseguiram transformar a terrível mecânica de níveis, em algo positivo e que, sem me obrigar a pensar nisso, me recompensou pela exploração.

Em uma evolução natural do Odyssey, Shadows é repleto de missões, locais secretos e pontos de interesse. É o tipo de jogo que no caminho para uma missão simples, o jogador se esbarra com tanto conteúdo que se perde em horas de novas descobertas e conteúdos que mesmo não sendo obrigatórios para a campanha, parecem que fazem parte das missões principais e ajudam ainda mais a naturalizar a mecânica de níveis.

São bases divertidas de invadir, missões com pequenas histórias de personagem, tumbas mais voltadas a puzzle. É impressionante o quanto ele consegue se diversificar e atrair o jogador a todo tipo de conteúdo. Algo que é ainda mais impulsionado na maneira que Shadows incentiva o jogador e dá possibilidades de evolução de personagem com os seus sistemas.

Mesmo com tantos pontos de qualidade e motivos para elogiar sua polidez e constância, o que mais chama atenção é como Assassin’s Creed Shadows tem seus sistemas construídos de maneira tão bem pensada. Cada um se encaixa e funciona em conexão, um em cima do outro. Nível de personagem, árvore de habilidade, bônus de status, habilidades únicas e até a construção de base se conversam e constroem algo próprio que leva o jogador a experimentar e explorar cada canto e possibilidade do jogo.

Com essa construção, o jogador quer explorar templos e achar seus coletáveis rápidos de serem finalizados para aumentar o nível de aprendizado e liberar novas linhas da árvore de habilidade, ao mesmo tempo, quer subir de nível para ter pontos para trocar por essas habilidades liberadas.

A melhor maneira de subir de nível? Invadindo bases e completando todo tipo de missão, invadindo bases inimigas conseguimos itens para melhorar nosso esconderijo e armas e armaduras, que quando lendárias, carregam habilidades únicas e que fazem diferença ou trazem novas maneiras de jogar.

Nas construções de base, queremos completar missões secundárias que desbloqueiam novas construções que vão além da melhora visual do esconderijo, já que também trazem bônus para os personagens. Ou seja, com toda essa comunicação entre sistemas, o jogador sente o tempo todo que está evoluindo, nada é inútil, nada é de se jogar fora.

Lindo e mal explicado

Com um agrupamento de sistemas tão parrudo, o jogo acaba tropeçando em algo que nunca foi um problema na franquia: a falta de explicação e clareza. Em diversos momentos, é difícil de se encontrar em algumas partes da interface, ou entender alguns status de equipamentos. Entretanto, o que mais causou esse problema, foram as mudanças de estação.

Como uma das maiores novidades de Shadows, a mudança de estação é dividida em duas partes e aos poucos progride em tempo, cumprir objetivos e fazer viagens rápidas são uma das ações que movem esse tempo. Pelo menos eu acho. Esse é o grande problema aqui, nada no jogo deixa muito claro como ele funciona, nem o que devemos esperar de mudanças mecânicas.

Assassin's Creed Shadows Neve

Quando vamos ler o tutorial, ele diz que os inimigos mudam a maneira de agir dependendo do clima, e é fácil de perceber que cada clima ou tempo do dia traz vantagens e desvantagens. De noite, a Naoe tem vantagem já que fica mais escondida na sombra e na chuva, quanto mais forte e barulhenta ela for, mais fácil de chegar nos inimigos sem ser ouvido. Entretanto, tudo isso foi descoberto por observação e eu não sei mais nada sobre as mudanças. Basicamente, mudança de estações? Não me pergunte sobre, apenas se for para falar do visual.

Talvez não fique claro por trailers e vídeos de gameplay, mas Assassin’s Creed Shadows é o jogo mais bonito da geração e a mudança de estações permite demonstrar ainda mais a sua capacidade de beleza. Perceber um mesmo local sendo lindo com chuva, neve, sol forte ou repleto de cerejeiras no chão é uma experiência única nessa indústria e isso se funde ao quão populoso em natureza e árvores o jogo é. Verdadeiramente algo lindo de se ver e que te faz perder um bom tempo apenas apreciando e aproveitando tudo aquilo.

O reconhecimento para a evolução

Com Assassin’s Creed Shadows a franquia se estabelece ainda mais forte como um jogo de sistemas e mecânicas e como algo mais narrativo como foi no passado. O que em Assassin’s Creed Origins começou como um RPG capenga que mais estragava a experiência para obrigar o jogador a ver mais de seu conteúdo fraco, em Shadows vemos a evolução e o aprendizado de tudo o que aprenderam e entenderam nos últimos anos.

Chega a ser gostoso de ver como os desenvolvedores de Shadows realmente olharam, não apenas para o que precisavam melhorar, mas também, para tudo o que a franquia já foi e o que fizeram de bom e ruim em todos esses quase 20 anos. Tudo isso em um dos períodos históricos mais pedidos pelos fãs.

O novo jogo da franquia é o que é por olhar para trás e reconhecer tudo o que fez em sua história. Ele une o melhor de todos esses anos e consegue ser uma obra brilhante em todos os aspectos. Visualmente lindo, envolvente e extremamente divertido se equilibrando em tantos sistemas. Uma verdadeira conquista extremamente difícil de se ver e torna Assassin’s Creed Shadows o melhor Assassin’s Creed já feito e o jogo definitivo do Japão Medieval.

Nome do jogo:

Assassin's Creed Shadows

Publisher:

Ubisoft

Desenvolvedora:

Ubisoft

Plataformas Disponíveis:

PC, Playstation 5, Xbox Series S|X

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Sério, é um jogo muito bom, só compra ai e ajuda o Game Lodge