Crítica: Clair Obscur: Expedition 33 – uma bela moldura que guarda uma pintura perfeita

Por Arthur Tayt-Sohn

Nota: 10

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge

Uma das maiores surpresas da Xbox Games Showcase em 2024, é inegável o quanto Expedition 33 chamou atenção do público. Seu trailer caprichosamente bem elaborado surpreendeu a todos ao revelar um jogo de RPG de turnos, desenvolvido e ambientado na França e com uma história complexa envolvendo arte.

Desenvolvido pelo estúdio francês Sandfall Interactive, sendo o primeiro jogo do mesmo, e publicado pela Kepler Interactive, que conta em seu portfólio com diversos títulos com propostas diferentes e interessantes, Expedition 33 nos convida para conhecer uma história melancólica sobre traumas e luto.

Tivemos a oportunidade de conhecer esse mundo e contamos agora o que há além da moldura.

O que fazer quando se sabe quando irá morrer?

Expedition 33 se inicia em Lumiere, uma cidade com influências da França do início do século XX. Nessa cidade, todos são atormentados com a visão de um imenso monólito com um número pintado e uma gigantesca criatura humanoide chamada Artífice aos pés dele.

A cada ano ocorre o gommage, um fenômeno inexplicável que apaga da existência todas as pessoas que possuem a idade pintada no monólito. Isso ocorre sempre que a Artífice desperta, apaga o número atual e pinta o próximo número da contagem.

Expedition 33 - Gustave e Sophie

A população local tenta viver com isso com uma certa normalidade, realizando um festival para se despedir das pessoas que irão desaparecer naquele dia e também para lançar uma nova expedição para o velho continente. A cada ano é lançada uma expedição para tentar descobrir o que está acontecendo e colocar um fim a esse fenômeno mortal.

O jogo se inicia com o protagonista Gustave, que está se despedindo de sua ex-namorada Sophie. Ela está prestes a sofrer o seu gommage e no dia seguinte Gustave irá partir com a expedição 33, formada por pessoas até 33 anos, que mais uma vez tentarão mudar o destino de Lumiere.

Após o festival, o jogo de fato se inicia com a Expedição 33 partindo para o velho continente.

Um RPG para os obcecados por sistemas

Naturalmente a apresentação visual do jogo é o que mais chama atenção logo de cara. Mas ela acaba não revelando sobre a complexidade dos sistemas do jogo, que vão muito além de permitir aparar os ataques inimigos. Expedition 33 possui diversas camadas de sistemas sofisticados.

Começando pelo básico, os personagens possuem mecânicas únicas. Cada personagem é totalmente diferente do outro mecanicamente. Eles possuem em comum apenas o básico dos jogos de RPGs: atributos básicos, como força, vitalidade, sorte, etc. e a possibilidade de equipar uma arma e três acessórios, chamados pictos.

Os pictos dão bônus aos atributos básicos e uma habilidade passiva única. Após quatro combates com o picto equipado, é possível utilizar sua habilidade passiva em qualquer outro personagem, mesmo sem o acessório equipado, utilizando pontos de lumina.

Isso por si só já expande as possibilidades de criação de builds de acordo com seu estilo de jogo ou sinergia com as habilidades e armas dos personagens. As armas também possuem características únicas, concedendo bônus adicionais ou causando efeitos especiais. Além disso, cada arma recebe bônus de dano de acordo com algum atributo. Por exemplo, armas que possuem sinergia com agilidade ganham mais dano conforme o valor desse atributo.

Expedition 33 - Menu

Além disso, cada personagem possui habilidades com mecânicas únicas. Essas mecânicas são apresentadas progressivamente, para não sobrecarregar o jogador. Por exemplo, Gustave possui as mecânicas mais simples, para familiarizar o jogador. Após isso, encontramos Lune, a maga do grupo, que possui uma mecânica de manchas que podem ser consumidas de acordo com a magia utilizada para causar efeitos adicionais.

Logo em seguida, Maelle entra no grupo. Ela é uma esgrimista que possui uma mecânica de poses de combate. Ao utilizar determinadas habilidades, ela troca sua pose e ganha novos efeitos.

Os combates ocorrem por turnos, com o diferencial que mais chamou atenção de muitos: a possibilidade de utilizar esquiva e aparar, a mecânica amada por uns e odiada por outros, popularmente conhecida por parry. Essas mecânicas não apenas servem para negar dano ou como um espetáculo visual, mas também conversam com outras mecânicas.

Outra mecânica diferenciada do jogo é o ataque a distância de mira livre, que permite atingir pontos fracos dos inimigos e também pode causar efeitos negativos aos inimigos ou dar bônus aos personagens.

O parry permite carregar rapidamente os pontos de ação (AP), necessários para utilizar as habilidades dos personagens. Além disso, defender todos os ataques desferidos pelo inimigo no turno executa um contra-ataque poderoso. Porém, a janela de execução do parry é bem curta, comparada com a esquiva, sendo uma mecânica baseada em risco e recompensa.

Expedition 33 - Combate com mímico

Eu me surpreendi com a complexidade dos sistemas e como ele permite uma variedade enorme de builds. Isso principalmente por conta dos inúmeros pictos, que dão bônus e efeitos que permitem um leque de possibilidades, indo das mais tradicionais até as estratégias menos ortodoxas possíveis.

Um exemplo interessante é um picto que permite que reviva automaticamente ao morrer, uma vez por combate. Ele possui sinergia com outros pictos que dão bônus de status ao reviver. Ok, até aí isso é bem básico. Mas aí você descobre que existe um picto que mata seu personagem automaticamente ao entrar em combate. Ou seja, você inicia o combate, morre e revive com uma série de bônus.

Quer algo ainda menos ortodoxo? Existe um picto que faz com que seu personagem “exploda” ao morrer, causando dano a todos os inimigos. Existem inúmeras outras estratégias possíveis. Inclusive até mesmo uma estratégia de “one-man army”, lutando sozinho, já que o jogo permite ter apenas um personagem em combate, utilizando pictos que dão bônus a personagens lutando solo.

A complexidade dos sistemas não para por aí. Os personagens, mesmo sendo únicos, também possuem sinergia entre eles. Um personagem pode marcar um inimigo para que receba mais dano de habilidades de um aliado. Outro pode causar o status negativo de queimadura no inimigo, fortalecendo habilidades de outro personagem, e por aí vai.

O jogo também balanceia muito bem as armas, permitindo que você possa usar qualquer arma encontrada no jogo, em qualquer momento, dependendo da sua estratégia. Isso porque é possível melhorar cada uma delas com itens específicos e a partir disso você elabora sua estratégia de acordo com os bônus únicos que elas dão.

Os sistemas de Expedition 33 foram criados por desenvolvedores que claramente entendem muito de RPG’s. É notável as inspirações em mecânicas de jogos como Final Fantasy VIII, Final Fantasy IX, Shin Megami Tensei, Persona, Shadow Hearts e diversos outros jogos. Os próprios desenvolvedores citam esses jogos em entrevistas.

Expedition 33 - Gustave contra-ataque

As mecânicas foram desenvolvidas de forma bastante meticulosa, com bastante atenção em cada detalhe para que todos os sistemas conversem entre si. Apesar de inevitavelmente se destacar por mecânicas mais visuais, como o parry, isso por si só não sustentaria a qualidade do jogo.

Por baixo dessa primeira camada, os desenvolvedores revelam outras camadas de sistemas a serem explorados. Isso permite não só criar estratégias elaboradas, mas até mesmo “quebrar” o jogo. Você é recompensado por explorar cada mecânica do jogo.

Eu particularmente adoro a experiência de explorar os sistemas do jogo e compartilhar com outros jogadores nossas descobertas. Existe um nicho específico de jogadores que adora realizar demonstrações de suas builds causando danos insanos. Mesmo sendo um jogo single player, esse tipo de coisa cria uma experiência coletiva fascinante.

E apesar de o jogo possuir essa gama de sistemas, vale destacar que ele não é proibitivo para jogadores menos experientes. No modo normal do jogo, e no modo história, é perfeitamente possível terminar o jogo sem precisar aprender e dominar todos os sistemas.

Isso faz mais diferença no modo mais difícil ou para alguns chefes opcionais. O jogo funciona muito bem porque seus sistemas são complexos mas ao mesmo tempo não tornam o jogo inacessível para quem não é planilheiro hardcore do Excel dos games.

Dito isto, eu ainda incentivo muito explorar cada possibilidade dos sistemas do jogo, porque é bem divertido.

Uma história sobre perdas e traumas

Algo que sempre me cativou nos RPG’s, pelo menos aquele que eu mais gosto, é a sua capacidade de envolver o jogador em sua história, seu mundo e seus personagens. Expedition 33 especialmente traz um frescor ao gênero ao explorar uma ambientação que não me recordo de ter sido tão representada: o período da Belle Époque francesa, um período que ocorreu entre 1871 e 1914.

Esse período foi marcado como uma era de ouro na produção artística, científica e tecnológica na França, algo que é notavelmente representado no jogo. Até acho meio simbólico que a principal missão do jogo seja parar o “contador” do monólito, que condena toda a população de Lumiere à morte, já que a Belle Époque terminou também de forma violenta e com muitas mortes, com o início da Primeira Guerra Mundial.

Inclusive, a morte é um tema recorrente no jogo. Todos os personagens já passaram pelo luto em algum momento das suas vidas. O luto por si só já é algo inevitável e mais ainda em um mundo onde você sabe exatamente o máximo que poderá viver.

Por conta disso, Lumiere possui dinâmicas sociais adaptadas para essa realidade. Por conta do seu pouco tempo de vida, os cidadãos começam suas formações ainda no começo da infância e rapidamente assumem responsabilidades com a comunidade.

Expedition 33 - Gustave guilhotina

Por exemplo, Gustave é um engenheiro. Lune é uma cientista, que iniciou sua formação ainda mais jovem que a maioria das outras crianças. Sciel é uma fazendeira que eventualmente assume outras funções devido a circunstâncias reveladas durante o jogo. Maelle é uma adolescente que não consegue se encaixar em Lumiere e decide participar da Expedição 33, mesmo ainda tendo muitos anos de vida pela frente, algo incomum.

Normalmente as expedições são realizadas pelos cidadãos que estão em seu último ano de vida e sofrerão o gommage em breve. O tempo é o bem mais precioso das pessoas nesse mundo e extremamente valorizado por isso.

A principal temática do jogo é o luto e como ele pode afetar todos ao seu redor, enlutados ou não. Uma coisa que notei é a representação dos cinco estágios do luto em diversos personagens. Esse conceito foi proposto pela psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross e ajuda a descrever as fases que as pessoas passam durante doenças terminais ou a perda de alguém.

Intencional ou não, é perceptível que diversos personagens estão passando por um dos cinco estágios: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Eu passei por uma perda familiar bem recentemente e alguns personagens apresentaram comportamentos e pensamentos que vivenciei ou observei na minha própria família.

Por conta dessa temática, o jogo é profundamente melancólico. E cada personagem lida de forma diferente com essa melancolia. Muitos jogos acabam abordando esse aspecto emocional ao ponto de se tornar edgy demais, o que não ocorre com Expedition 33.

O jogo é bastante sensível e possui um enredo lindo, tratando essa melancolia de forma bastante poética e de um jeito que eu me envolvi com os personagens e senti empatia por eles. A ideia de chiaroscuro, de onde vem o título “Clair Obscur“, não se aplica somente na estética do jogo. Ela é usada metaforicamente na construção dos personagens, balanceando o que o jogo quer te mostrar e o que ele quer ocultar.

Há aquilo que é claro a primeira vista e os aspectos mais escuros dos personagens, o que eles escondem nas sombras e eventualmente podem revelar.

Isso funciona muito também por conta da qualidade da construção dos personagens, cada um com personalidades bastante próprias e que vão se desenvolvendo ao longo do tempo, enfrentando seus traumas e tentando lidar da melhor forma possível com tudo que está acontecendo. 

Expedition 33 - Gustave diário

Durante a aventura, o jogo se permite desacelerar em alguns momentos e usar esse tempo para desenvolver a relação entre os personagens. Além dos diálogos que ocorrem obrigatoriamente, é possível aprofundar o relacionamento entre os personagens de maneira opcional, em alguns momentos no acampamento.

Algo que eu recomendo muito que seja feito, porque esses momentos revelam muitas novas informações sobre os personagens, seu passado e também sobre o mundo do jogo. E existem alguns acontecimentos incríveis que ocorrem justamente nessas interações. Algumas melancólicas e outras até mesmo cômicas.

Inclusive, isso foi algo que me surpreendeu no jogo. Apesar de toda a melancolia que envolve a história, ele também é bastante cômico. São muitos momentos que o humor é explorado no jogo. Existem algumas ótimas piadas no jogo, referências à memes, personagens naturalmente engraçados e um certo tipo de humor físico que é simplesmente bobo mas que funciona muito bem, como um personagem que simplesmente resolve dançar break dance na sua frente, sem motivo aparente.

E isso faz sentido dentro do jogo, quando você eventualmente começa a entender esse mundo e seus habitantes. Além dos humanos, encontramos os gestrals, que se assemelham com esculturas de madeira usadas como modelos de poses de artistas, mas que possuem um curioso pincel na cabeça. Esses seres são muito engraçados, além de obcecados com comércio e com lutas.

Os grandis, apesar de possuírem grande força física, preferem ocupar seu tempo em debates ou em competições de poesia. E por fim temos Esquie, uma criatura lendária que é um dos personagens de suporte mais fascinantes que já vi em jogos, que esbanja carisma com sua personalidade gentil e ingênua.

Expedition 33 - Arena gestral

Por ter sido um dos pontos que teve menos tempo de divulgação nos trailers do jogo, a história foi justamente a maior surpresa positiva. A qualidade da sua escrita, do cuidado com a construção do mundo, da relação entre os personagens, da mensagem que os desenvolvedores quiseram passar e com a carga emocional fortíssima que o final do jogo entrega, me surpreendeu principalmente porque a roteirista do jogo Jennifer Svedberg-Yen é também uma novata na indústria e que entrou no jogo “por acaso” via Reddit.

Para acompanhar a qualidade do roteiro e da construção dos personagens, foi escalado um time de dubladores de peso. O jogo é dublado em inglês e francês. Experimentei as duas dublagens e a qualidade delas é excelente. Na versão em inglês, é possível reconhecer algumas vozes conhecidas como Charlie Cox (Demolidor)Jennifer English (Baldur’s Gate 3), Ben Starr (Final Fantasy XVI), Andy Serkis (O Senhor dos Anéis) e outros. Um elenco fantástico que dá muita personalidade aos personagens. Gosto de destacar o trabalho do Ben Starr especificamente por ele sempre entregar uma carga emocional muito forte em sua dublagem, o que acontece novamente em Expedition 33.

E o roteiro não se preocupa só em contar a história do grupo principal, mas de todas as pessoas afetadas pelas ações da Artíficie nesse mundo. É possível encontrar, por exemplo, os diários das expedições anteriores, relatando fatos do cotidiano, seus últimos momentos de vida ou fatos inusitados.

Expedition 33 - Mapa

E assim como todo o restante do jogo, os diários contam histórias cômicas como também histórias sombrias e melancólicas. Você não sabe o que esperar, se será uma história de uma morte trágica ou de uma expedição que acabou com a morte mais cômica que você pode imaginar.

Esses diários revelam também outro aspecto da mensagem do jogo: a empatia, a capacidade do ser humano de fazer o que precisa ser feito não apenas para si, mas também para as próximas gerações que virão.

Em uma época em que tanto se valoriza o individualismo, tanto se tenta desarticular laços comunitários e familiares, Expedition 33 passa uma mensagem sobre se importar com os outros.

Um aspecto que também valorizo muito em um RPG é o quanto às vezes você se esforça em fazer conteúdos opcionais não pela recompensa material, mas justamente por estar tão engajado naquele mundo que você quer saber o máximo de coisas possíveis sobre ele. Essa pra mim é algo que destaca os grandes RPGs dos outros, quando temos a sensação que nossa maior recompensa é saber um pouco mais sobre aquele mundo e seus personagens.

Expedition 33 - Diário 68

Algo também que acho importante da história do jogo é ele saber quando é hora de terminar. Assim como é preciso terminar de pintar um quadro em algum momento, um RPG deve saber quando acabar. E Expedition 33 é bastante consciente com relação a isso, sendo um jogo que não se alonga desnecessariamente, mas ao mesmo tempo não sendo óbvio e direto ao ponto demais, trabalhando bem seus plot twists.

Outra coisa que a história faz muito bem é criar debates, seja sobre o seu desfecho ou sobre seus simbolismos e mensagens. O jogo não se utiliza de um roteiro com muitas metáforas ou excesso de margens para interpretação, que exigem que você assista horas e horas de ensaios sobre ele.

É uma história de fácil compreensão, mas sem subestimar a inteligência do jogador com explicações excessivas. E ao mesmo tempo que ele fecha a história, ele permite que você reflita e discuta os diferentes pontos de vista. Assim como nas suas mecânicas, a sua história cria uma experiência social coletiva onde é possível debater diversos aspectos do jogo e da sua mensagem.

Vale destacar que o jogo está localizado em português brasileiro, com um texto com bastante qualidade que traduz bem a mensagem do jogo e a personalidade dos seus personagens.

Se você também preza por uma boa história em um RPG, não irá se decepcionar ao conhecer o mundo de Expedition 33.

Um jogo terrivelmente francês

Enquanto discutimos as vezes o quanto jogos brasileiros deveriam trazer nossa identidade como elemento principal, Expedition 33 é desavergonhadamente francês, no sentido mais positivo.

Com claras inspirações em Paris e no período da Belle Époque, a identidade francesa está em cada canto do jogo, de forma visível e audível. Não à toa o jogo faz questão de expor logo de cara uma versão distorcida da Torre Eiffel.

A trilha sonora, composta por Lorien Testard e Alice Duport-Percier, extrai inspirações desde os gêneros mais clássicos, com orquestras e instrumentos musicais típicos desse gênero, até o eletro francês. A França é o país do Daft Punk, afinal de contas.

A maior parte das músicas é instrumental, mas a trilha sonora conta com algumas músicas lindamente cantadas por Alice, que desde cedo canta em corais. Também é possível identificar algumas das referências de Lorien na trilha sonora, que cita como alguns dos seus jogos favoritos Nier:Automata, Zelda, Xenoblade e Hollow Knight.

Expedition 33 - Mansão

Eu não sou músico, então só posso me limitar a dizer o quanto a trilha sonora é linda e combina perfeitamente com o jogo em todos os momentos. Um recurso que Lorien usa bastante é o leitmotiv, que são trechos específicos que se repetem em várias canções, para reforçar um tema central e que acabam se tornando uma forte identidade do jogo.

Enquanto eu não estava jogando, eu ouvi por diversas vezes a trilha sonora inteira do jogo enquanto trabalhava. E não é exagero dizer que é uma das melhores dos últimos anos.

A direção de arte do jogo também explora toda a estética francesa do período da Belle Époque, mas curiosamente também busca inspiração no movimento artístico da art deco, que é posterior a esse período. Isso é visível na arquitetura de alguns prédios e nos uniformes das expedições, que adotam formas geométricas mais rígidas.

Por outro lado, obras de arte genuinamente do período da art nouveau também estão presentes no jogo, com o uso constante de plantas e flores, ressaltando formas e beleza da natureza.

O design dos personagens, e dos inimigos, segue o padrão de qualidade de todo o restante da direção de arte do jogo. Além das inspirações nas movimentos artísticos franceses, o estúdio Sandfall não esconde de forma alguma suas inspirações em jogos como Final Fantasy, Dark Souls, Elden Ring e outros tantos citados como preferidos.

Expedition 33 - Guardião das Máscaras

Se alguém mostrar uma imagem do jogo sem contexto e dependendo do ângulo, é possível acreditar que se trata de um jogo soulslike, e não de um RPGs. Mas assim como os jogos de referência, Expedition 33 também é igualmente épico, graças a qualidade de suas artes, designs e animações.

Melancólica, por vezes bizarra mas ao mesmo tempo cativante, até me surpreende que o jogo não tenha sido lançado com um modo foto, porque o tempo o jogador fica fascinado com seus visuais e é impossível resistir a tentação de parar e registrar aquela imagem perfeita.

Felizmente com o sucesso do jogo, é bastante possível que o modo foto seja adicionado futuramente. Esse é o tipo de jogo que implora “me fotografe”.

O que torna Expedition 33 tão especial?

É difícil falar sobre esse jogo, porque sinto que sempre falta algum aspecto para discutir. Mas o que posso dizer é que estamos diante de algo muito especial. Expedition 33 surgir em meio às circunstâncias atuais é surreal.

Lendo sobre os bastidores do desenvolvimento do jogo, eu fico cada vez mais fascinado em como ele tomou forma. O diretor do jogo e CEO do estúdio, Guillaume Broche, teve a ideia inicial do projeto enquanto estava entediado com seu trabalho na Ubisoft.

Em uma entrevista, ele chega a dizer que se, e reforcem muito esse “se”, o jogo fosse aprovado para desenvolvimento em um estúdio AAA, ele talvez levasse um 25 anos para ficar pronto, devido à estrutura burocrática desse modelo de desenvolvimento de jogos.

Expedition 33 - Pintura dos devs

Com exceção dele e de mais alguns veteranos da indústria, todos os membros do estúdio Sandfall são novatos. Além da roteirista Jennifer, que foi “encontrada” pelo Reddit, o compositor Lorien foi descoberto em um fórum de games. Não é algo incomum para quem já acompanha estúdios independentes, mas ainda surpreende. É a prova que existe gente muito talentosa na indústria que só precisa de uma oportunidade, algo cada vez mais difícil em um modelo de negócios que é cada dia mais avesso a riscos.

Eu jogo RPG’s desde os anos 90, uma década em que alguns dos maiores títulos fizeram história e inspiram fãs e desenvolvedores até hoje, e é visível o quanto o estúdio Sandfall fez o dever de casa, buscou as melhores referências possíveis e usou de modo inventivo para criar uma experiência única.

Esse é um jogo que me emocionou. Me fez chorar, me fez rir com o humor mais incrivelmente besta possível, me deixou obcecado com seus sistemas, me fascinou com sua direção de arte, sua trilha sonora impecável, com todos os habitantes deste mundo, os desafios opcionais que testaram minha habilidade e me recompensaram com mais um pedacinho da história e até mesmo com os minigames, alguns que parecem ser propositalmente irritantes só para sacanear o jogador.

Expedition 33 me fez lembrar o porquê amo tanto RPGs. Ele é brilhante em tudo que se propõe e, dadas as circunstâncias atuais, mesmo que alguns discordem que a existência de videogames seja um milagre, esse jogo é algo muito próximo disso pelo menos.

Nome do jogo:

Clair Obscur: Expedition 33

Publisher:

Kepler Interactive

Desenvolvedora:

Sandfall Interactive

Plataformas Disponíveis:

PC, Playstation 5, Xbox Series S|X

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