Crítica: Pivot of Hearts – Diferentes formas de amar

Por Jean Kei

Nota: 7

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge

Pivot of Hearts é uma visual novel brasileira de romance onde a não-monogamia é um de seus temas principais. O jogo se passa em São Paulo e é protagonizado por Wen Xiàn, um programador que se isolou depois de um relacionamento problemático, mas circunstâncias o fazem se abrir novamente. O jogo tem um sistema de cartas simples para realizar suas escolhas, o que acrescenta uma leve camada estratégica na jogabilidade narrativa.

Fiz os cinco finais do jogo em 14 horas e saí positivamente do jogo, apesar de ter me incomodado em certos pontos do jogo. É uma narrativa com bons momentos e personagens, na qual me vi me importando mais do que imaginava. Ao mesmo tempo que achei alguns personagens mal aproveitados ou mais rasos do que deveriam.

Vale ressaltar que joguei uma versão antes do lançamento do jogo, e foi avisado que estão trabalhando para acrescentar alguns conteúdos extras e revisar a tradução para o português. Mas não posso deixar de relatar e tirar logo da frente que, nessa versão que joguei para a crítica, o texto em português tem vários problemas, desde alguns trechos não traduzidos, erro de digitação, raras frases incompletas e palavras traduzidas erradas. Não foi nada que tirou meu entendimento do jogo, mas foi bem perceptível e me causou um certo incômodo. Até o lançamento do jogo, pelo menos a maioria dos erros que encontrei devem estar corrigidos.

Mas afinal, como é o romance não monogâmico desse jogo?

Wen tem dois pretendentes românticos: Etsuko, amiga de infância com quem ele perdeu contato, mas acaba retornando em sua vida, e Cauã, um novo colega de trabalho.

Etsuko representa o passado de Wen, remete a ele questões do passado e é vista como uma segunda chance para ele, agora que é mais maduro e pode se reconectar. Cauã representa o futuro, o novo, Wen nunca se relacionou com garotos e Cauã acaba sendo alguém novo em sua vida também nesse aspecto. Ao longo do jogo, você decide se Wen se apaixona e vai investir em um relacionamento com um dos dois, ou os dois (ou nenhum, caso as coisas deem errado).

Uma coisa que senti é que a relação com a Etsuko é bem construída naturalmente e eu enxerguei naturalmente Wen se apaixonando por ela, mas não senti muito isso do Cauã. Senti que faltou um pouco de cenas a mais com o personagem que dessem espaço e mais complexidade para a relação dele com Wen e aprofundassem mais o que um significa para o outro. Devido à Etsuko ser uma amiga de infância, muito dela é construído com flashbacks e ela acaba sendo uma figura intrínseca à identidade do protagonista, mas não senti que conseguiram criar um peso equivalente para o personagem que só entrou na vida de Wen agora. No final, consegui vê-los como um casal, mas o caminho para isso foi menos fluido e natural.

Sistema de tarot é uma faca de dois gumes

O jogo possui um sistema de escolhas baseado em cartas de tarot. Na prática, você tem naipes de cartas com significados diferentes e para realizar certas escolhas precisa de X cartas de tal naipe. Por exemplo, para Wen falar algo que exige que ele se abra e seja impetuoso, ele precisará de uma carta de paus e uma de coração. Há escolhas que lhe dão cartas de determinados naipes. Caso você escolha estudar, vai receber duas cartas do naipe de espada, que representa lógica.

Esse sistema cria uma camada estratégica no qual você precisa pensar cada escolha. As vezes propor a solução mais lógica em dado momento te impedirá de ser mais lógico no futuro caso não cultive algo que lhe dê mais cartas de espadas. É um método interessante de engajar, mas que me deixou com sentimentos mistos.

Senti que na minha primeira run do jogo comecei rapidamente a escolher coisas que não necessariamente achei que seria o ideal para minha visão para Wen, mas o ideal para o sistema do jogo. Então, ao mesmo tempo que engajei e tive uma atenção extra com minhas escolhas, senti que fiquei um pouquinho menos imerso da forma com que foi feita.

A brasilidade e referências do jogo

O jogo é ambientado em São Paulo e o cenário é muito reconhecível. Temos cenários de barzinhos típicos e pontos reconhecíveis da cidade. Existem diversas músicas com ritmos bem brasileiros e os personagens são muito um retrato do que é um nerd otaku adulto. Um momento que gosto do jogo é uma conversa que Wen tem com Etsuko quando adolescentes sobre identidade. Wen tem descendência de Taiwan e Etsuko de Okinawa, e naquele ponto, mesmo ambos sendo brasileiros, carregam bastante da cultura de outro país em si. Também há uma breve conversa sobre complexidade geopolítica, pois Wen adolescente não entendia bem a relação de Taiwan e China, tal qual Etsuko sentia um tanto disso com Japão e Okinawa. O jogo não aprofunda essas questões políticas, mas é bem crível a forma com que isso foi mostrado, sendo uma questão de identidade um pouco confusa para dois adolescentes que descendem desses lugares. 

A única coisa que me pega um pouco no aspecto de brasilidade e não sei o quanto é nitpicking é o fato do jogo ter duas músicas com vocal e ambas serem cantadas em japonês. Não me incomodo com músicas em japonês, especialmente num jogo protagonizado por personagens otakus, mas as escolhas de músicas com vocal não terem palavras do nosso idioma, me pega um pouco, considerando a ambientação do jogo.

O jogo é lotado de referências à cultura pop de diversos tipos, e variam entre referências singelas e engraçadas a um exagero que me causava um pouco de vergonha por ir demais. É difícil fazer humor escrachado com referências muito explicitas, a linha entre “isso está incrível” para “estou morrendo de vergonha” é fina e infelizmente algumas vezes eles cruzaram a parte da vergonha. Mas se eu falar que não esbocei um sorriso com “HQ de Briga – O Filme” estaria mentindo.

Enfim, mesmo com tropeços, ainda é uma experiência positiva

O jogo fala de uma perspectiva de relações não monogâmicas, coisas que vão além de romance. Há um arco legal de amadurecimento por parte do personagem sobre relações num geral e como é importante entender a si mesmo e ser realmente honesto com seus sentimentos. Mesmo com momentos um tanto vergonhosos, algumas partes em que senti que ele estava sendo expositivo demais e um pouquinho forçado, ele teve bons momentos que fizeram a experiência valer. 

Pivot of Hearts é uma jornada com tropeços e quedas, mas chega onde precisa chegar.

Nome do jogo:

Pivot of Hearts

Publisher:

Dragonroll Studio

Desenvolvedora:

Dragonroll Studio

Plataformas Disponíveis:

PC

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