Marvel’s Avengers: Uma carta básica de amor – Crítica

Por Silvio Diaz

A existência de um jogo dos vingadores ainda é uma surpresa. Desenvolvido pela Crystal Dynamics, a ideia de um jogo serviço multiplayer dos maiores heróis da cultura pop atual ainda parece impossível. De qualquer forma, Marvel’s Avengers existe, e mesmo tropeçando, se mantém no básico e acerta em ser o que precisava ser.

Uma carta básica de amor a Marvel

Desde o começo é possível já entrar no modo online do jogo e ignorar a campanha, mas não faça isso. Marvel’s Avengers não tem a melhor história e nem de longe o melhor modo single player, mas funcionam. Não é como se você fosse ver algo novo e único, mas existem coisas boas a serem vistas.

Narrativamente, a história de queda e volta dos vingadores é contada na visão de Kamala Khan, uma das mais recentes e amadas personagens dos quadrinhos. Ela faz o clássico papel do fã no mundo. Tal qual Peter Parker do MCU ou Rey nos novos Star War, Kamala sabe tudo sobre os heróis e espelha a visão mundana do jogador ao fantástico do universo do game. 

Certamente não é feito da melhor forma. Existe um enorme exagero no como isso é feito e mesmo que a heroína adolescente seja divertida, boa parte de sua personalidade é apenas idolatrar os grandes Vingadores. Ainda assim, é criado uma construção do motivo dela ser “do bem” e o simbolismo do herói, mas é fraco e com certeza não é o foco.

Decerto, o motivo da campanha existir e ter sido escrita do jeito que foi, está em sua estrutura. Você não tem que se importar de verdade com os personagens. A narrativa só existe para apresentar esses bonecos que o jogador vai controlar por meses e até anos nas atualizações vindouras.

Marvel's Avengers Kamala

 A conexão necessária com o jogador é mecânica, ou seja, o carisma e motivação de cada um herói é muito mais em frases jogadas e pequenos diálogos, apenas para uma ligação passageira.Não é atoa que a campanha é tão curta. Ela é direta ao ponto pois o objetivo é que o jogador seja preparado para o online. Um tipo de introdução tutorial longa, que seta o jogador o universo e o básico desses personagens que são claramente apenas bonecos para brincar. 

Estruturado em promessas 

A questão é que sua campanha deixa claro seu objetivo e como o jogo realmente quer funcionar. Ele é 100% “Game as a Service” e está disposto a sacrificar tudo para se manter firme nesta fórmula. Sendo assim, narrativa, personagens, golpes e mecânicas são feitas e estruturadas na promessa de um futuro de conteúdos a serem lançados sem sabermos se, ou quando terá fim..

Portanto, não existem nós fechados em Marvel’s Avengers, pelo menos não por agora, e provavelmente continuará assim por muito tempo. Finalizando o que precisa ser dito sobre campanha, ela é teoricamente curta, mas basta entrar no modo online e temos missões diárias e semanais, algumas evoluindo histórias de personagens específicos, outras do universo. 

Tendo o online como grande foco, o jogo começa bem. A Square Enix já anunciou que seu próximo personagem chega em outubro -um mês após o lançamento do jogo-  e a nova personagem vem com missões de histórias inéditas e de maneira  gratuita. Dessa forma, é possível ter um certo tipo de esperança, os conteúdos estão por vir e sua base mecânica da conta do recado.

Como é o jogo dos Vingadores

Já que o foco dele não está exatamente na narrativa ou na campanha, o que sobra é mecânica e mesmo que nada de Marvel’s Avengers seja excepcional,nada é ruim. Cada um dos seis personagens tem um tipo de padrão de combate. Todos tem golpes de perto e de longe e 3 tipos de habilidades diferentes e ainda assim, todos são singulares. 

A melhor forma de definir Marvel’s Avengers mecanicamente, é como uma boa experiência de “Vingadores”. O sentimento de estar em uma equipe de super poderosos, batendo em robôs e vilões. Cada um ajudando como pode em uma bagunça que impressionantemente, quase não dá errado. O sentimento dos golpes é excelente? não, mas ainda é divertido. Prender um inimigo na parede com o martelo do Thor enquanto outro jogador, como  Homem de Ferro voa e dispara lasers por aí.

Hulk jogo dos vingadores

É uma daqueles elementos que só jogando para saber se gosta ou não, pois Marvel’s Avengers é sobre brincar de porradinha com bonecos. Ele não se aprofunda muito nisso e nada nele deixa a entender que gostaria de aprofundar. Na real, isso pode ser problemático, mas o jogo dos Vingadores é extremamente básico em ideias e como funciona, ao mesmo tempo que tenta temperar com aprofundamentos interessantes.

Ideias simples, Sistemas complexos

Marvel’s Avengers é basicamente um jogo de bater e completar missões simples, como lutar contra hordas, resgatar inumanos ou enfrentar chefes. Entretanto, sua árvore de habilidades e sistema de loot é bem mais complexo do que o esperado. 

O  loot funciona como em qualquer jogo, existem tipos de raridades diferentes e com características diferentes. Tal qual Borderlands, esses equipamentos são separados por marcas que categorizam o tipo de vantagem.

Em um certo exagero no uso de porcentagens, esses equipamentos, diferentes para cada personagem podem garantir carregamento de especiais mais rápidos, danos de radiação ou até mesmo a possibilidade do inimigo flutuar no ar por um momento. Todos esses dependendo de ações dos jogadores.

 Por exemplo, com Hulk, é possível estar equipado com algo que talvez acelere carregamento de habilidades caso desvie corretamente. Com Capitão América, o jogador pode se focar em atordoar inimigos e usar itens que façam isso dependendo do tipo de golpe.  

Esquemas que podem parecer confusos no começo e também cansativos pela quantidade de texto e possibilidade, mas que podem ser ignoradas por quem só quer algo casual.. Entretanto, é um incentivo aos que querem completar missões mais difíceis, podendo pensar melhor em builds e se planejar contra certos inimigos.

Isso também acontece nas habilidades, o jogo desde o começo se vendeu como a possibilidade de cada jogador ter seu herói de maneira única e  não é bem assim, mas é variado. O que acontece é que depois de um certo nível o jogador pode comprar opções de poderes diferentes que mudam os golpes e seus status. 

Inimigos de Marvels Avengers

Alterar um especial do Thor para se tornar mais rápido porém com menos dano ou regenerar um pouco de vida em golpes específicos do Hulk, são possibilidades dadas por essa árvore. Não torna o personagem realmente único e completamente diferente do de outro jogador, mas é uma boa maneira de adaptar o personagem ao estilo de cada um. 

Tecnicamente problemático 

Entretanto, nem tudo é perfeito e Marvel’s Avengers está longe disso. Os problemas do jogo são muitos e o motivo de eu ter demorado tanto a falar deles, é que mesmo, eles sendo vários, são menores do que o motivo dele ser bom. 

O maior de todos é o seu mal funcionamento. Nós do Game Lodge testamos o jogo em um Playstation 4 Básico e conversamos com pessoas que jogaram na versão Pro e também tiveram problema. Tanto em missões online, quanto em momentos lineares, o FPS cai várias vezes de maneira drástica. 

Em certos momentos a ideia que dá é que realmente estamos no limite do console, já que estamos no fim de geração, mas em outros parecem apenas má otimização. Áreas lineares sem muitos elementos às vezes dão problema  e realmente incomodam. O pior é que o jogo nem é bonito, não apenas em arte ou resolução. Marvel’s Avengers  é feio em tudo.

 Nesses quesitos, a impressão que dá é que faltou dinheiro e teve uma produção extremamente corrida. Não é apenas má otimização, mas também cheio de bugs e pequenas falhas deixando claro uma falta de polimento. Podemos acreditar que isso vai melhorar e faz parte desse processo de atualização ? Claro, mas ainda é problemático.

Ele tem tantos problemas pequenos que parece que não estava realmente pronto para sair. Talvez na ideia de que poderiam corrigir isso com o tempo, não se arriscaram em cair em mais adiamento. De qualquer forma, os bugs estão por toda parte. Ainda assim, não atrapalha de verdade, na maioria das vezes o próprio jogo se corrige de maneira destrambelhada, o que sobra é a sensação de produto falho, quase um retrogosto de algo que poderia ser bem melhor com o tempo.

Vida Longa a Marvel’s Avengers

Marvel’s Avengers precisa ter uma vida longa e eu espero que isso aconteça. Sua base é boa o suficiente e o universo Marvel é expansivo e empolgante da maneira certa e não consigo olhar para ele sem pensar nas possibilidades. Temporadas com vilões dos X-Men, ou sagas longas focadas no lado cósmico ou mágico do universo seriam ótimas. O mais importante é que do jeito que foi feito, a Square Enix nos permite sonhar com essas possibilidades. 

Não é atoa que os defeitos parecem tão suscetíveis a serem ignorados. A construção do jogo nessa promessa de expansão é minuciosamente bem construída. É como se cada missão, micro história ou detalhes do universo estivessem prontos a serem avançados com updates, algo que para quem gosta da franquia, fica difícil não se empolgar. 

Por fim, Marvel’s Avengers não é apenas um bom jogo, como também é uma boa maneira de ser um jogo dos vingadores. Com uma narrativa extremamente “quadrinhos” e um combate acessível de sistemas parrudos, estamos falando de um jogo longe de ser perfeito, mas que seguindo todas as “formulinhas”, consegue ser divertido. Claramente como ele quer ser.

Marvel’s Avengers está disponível a partir de hoje (04) para Playstation 4, Xbox One e PC. Os jogadores que tiverem o jogo nessa geração terão direito a uma atualização para os próximos consoles. 

Está crítica foi escrita usando uma key cedida ao Game Lodge pela Square Enix para Playstation 4.