Star Renegades: O futuro é retrô – Crítica

Por Arthur Tayt-Sohn

Star Renegades busca inspiração nos grandes clássicos 16bits com uma abordagem que se popularizou mais recentemente: o roguelite.

A era 16 bits foi uma das mais frutíferas em termos de RPG’s. Chrono Trigger, Final Fantasy VI, Star Ocean e tantos outros que surgiram nessa época, popularizam de vez o gênero, hoje conhecido como JRPG, no mundo inteiro.

Apesar da indústria AAA direcionar seus esforços para jogos com gráficos cada vez mais modernos e realistas, e também adaptando a realidade para uma geração mais acostumada com jogos de action-RPG, a indústria indie por vezes toma o sentido oposto.

Gráficos pixelados, com um nível de detalhe muito maior que na época 16 bits, RPG’s de turnos tradicionais, cálculos de dano, defesa, HP, planejamento de ações. É daí que Star Renegades vem.

Um universo procedural

Uma das características principais dos jogos roguelite é a forma procedural com que as partidas são criadas. A cada jogo, os mapas são diferentes, bem como os inimigos e armas que você encontra pelo caminho. Essa mecânica foi implementada de forma coerente com a história do jogo.

Quando uma frota espacial inesperadamente ataca a Space Union, Dr.Zurek precisa enviar à próxima dimensão um robô chamado J5T-1N. Assim avisando sobre a ameaça da Imperium, um exército que desenvolveu a tecnologia de se mover entre realidades paralelas e planeja conquistar todas as dimensões conhecidas.

Cabe então aos Star Renegades impedir o avanço do exército inimigo, viajando por diversos planetas para libertá-los e enfim alcançar a nave mãe da Imperium e pôr fim à invasão. Caso seu grupo fracasse na missão, o Dr.Zurek da realidade atual envia o robô à próxima dimensão para que o ataque recomece, desde o primeiro planeta, claro.

Inspiração nos clássicos

Star Renegades traz referências aos grandes clássicos do gênero RPG, orientais e ocidentais. A começar pelo mapa dos jogos, grandes tabuleiros que lembram os tradicionais Heroes of Might and Magic. Os renegados devem avançar sobre planetas com vários inimigos e podem encontrar equipamentos protegidos por oficiais, recursos como HP e armadura e até mesmo dungeons escondidas que revelam tesouros guardados.

O caminho que o jogador precisar fazer até o boss da área precisa ser cuidadosamente planejado. As áreas do mapa são trancadas conforme o jogador avança e o tempo até o boss da área chegar é limitado. Pode ser mais vantajoso escolher uma rota com inimigos mais fracos e recursos de cura do que ser ganancioso e tentar pegar aquele equipamento nível épico guardado por um inimigo muito mais forte.

O sistema de batalha me lembrou inicialmente o clássico Grandia de PS1, com uma barra de ação que permite atrasar e até mesmo cancelar a ação do inimigo caso ataque antes e consiga um dano crítico. Esse sistema permite criar estratégias de combate que maximizem o dano ao inimigo e também minimizem o dano recebido.

É fundamental dominar o sistema de combate de Star Renegades. Os recursos de cura são muito escassos e alguns inimigos podem causar danos massivos. Cada ataque possui uma taxa de atraso do inimigo maior. Pode ser mais inteligente utilizar um ataque mais fraco que cancele o turno inimigo do que investir em um ataque poderoso mas que deixará seu grupo aberto a um contra-ataque.

A variedade de ataques e habilidades é outra parte da estratégia do jogo. Alguns inimigos são resistentes ou mais fracos a determinados tipos de dano. Também existem status negativos que impactam no combate, como queimaduras, congelamento, sangramento, etc.

Os inimigos são divididos entre soldados comuns e oficiais, gerados proceduralmente. Os oficiais ficam expostos na Throne Room, onde o jogador pode se informar sobre suas fraquezas e resistências, bem como a composição do grupo de ataque desses inimigos.

A Throne Room funciona como o sistema Nemesis, criado no jogo Middle Earth: Shadow of Mordor. Nesse sistema, caso você seja derrotado por um oficial do Imperium, além de retornar ao início de sua jornada, o oficial é promovido e se torna mais forte.

Para derrotar o Imperium, os renegados contam inicialmente com três classes apenas: Valkyrie, Saboteur e Archon. Conforme progride no jogo, mais classes de personagens são liberadas e podem ser escolhidas como personagens iniciais da partida.

As classes funcionam igual os Jobs de RPG’s clássicos, como Final Fantasy Tactics, apesar de serem fixas para cada personagem. Escolher corretamente seu grupo conforme sua estratégia é outro ponto determinante para o sucesso da missão. Cada classe possui uma utilidade, pontos fortes e fracos que devem ser observados antes de fazer a escolha.

Outra mecânica interessante implementada é o sistema de relacionamentos, semelhante com os jogos da série Persona. Após cada dia de missão, seu grupo pode acampar e utilizar cartas que fornecem melhorias temporárias. Cura, status negativos aos ataques ou melhorar o relacionamento entre os personagens do grupo.

Além de promover aprimoramenros, aumentar o nível de relacionamento podem destravar skills passivas. Elas vão de combos devastadores até mesmo um relacionamento entre dois personagens, que podem ter filhos e assim liberar novos heróis.

Um casamento entre o clássico e o moderno

Star Renegades se inspira nos clássicos 16 bits, mas não deixa de ser um jogo moderno. Não espere ouvir efeitos sonoros e músicas simples, mas com efeitos de alta qualidade. As músicas não são exatamente memoráveis, mas cumprem seu papel.

Os visuais do jogo são muito bonitos, com cores sólidas e vivas. O estilo de pixel art lembra Hyper Light Drifter, com pixel propositalmente sem uma alta definição, diferentemente de jogos como Owlboy que investem em uma arte mais detalhada.

Isso de forma alguma é um defeito do jogo. É um estilo artístico que busca emular a sensação dos clássicos jogos da era 16 bits. O visual do jogo foi muito bem cuidado, com a ambientação sendo bem diversificada e o design dos personagens bem criativos. Eles não são apenas variações de um mesmo personagem, são pensados como únicos.

O design dos inimigos também é muito criativo e totalmente inspirado no sci-fi. Soldados que lembram os Stormtroopers, mechas com aparência animal e roboôs imensos e intimidadores fazem parte do arsenal do Imperium e seus aliados.

Problemas intergalácticos

Durante a jogatina, pude observar alguns pequenos problemas com o jogo. A maioria deles pode ser resolvida com alguns patches de correção.

Em alguns pontos do jogo a animação dos personagens bugaram. Por exemplo, o inimigo estava se preparando para usar seu escudo de fogo mas sua animação era de um inimigo em standby.

Também ocorreu um problema em uma transição de tela, o meu personagem não avançava nem conseguia retornar no mapa. Eu precisei retomar meu último save, o que não foi um grande problema, porque o salvamento automático do jogo é constante.

A interface do jogo não é nada intuitiva. As teclas que servem para informações dos inimigos falham algumas vezes e as informações muitas vezes ficam escondidas no meio de tantos menus.

Outro detalhe que me incomodou um pouco foi a falta de informações precisas sobre alguns ataques e status negativos. Eu perdi uma batalha contra um boss porque a informação que eu recebi era que se eu fizesse determinado ataque, o inimigo retornaria o dano e mataria meu personagem. Eu ataquei e recebi apenas 5 pontos de dano no meu escudo.

O jogo também poderia contar com um glossário de inimigos e habilidades já encontrados, para que o jogador possa buscar melhor essas informações e entender melhor o funcionamento das mecânicas e habilidades do jogo, visto que a tela de combate pode ser um pouco confusa.

O balanceamento do jogo também poderia receber um polimento. Alguns inimigos possuem skills bem quebradas e já passei por batalhas comuns mais difíceis que lutas com bosses. Um inimigo com o poder de invocar um chefe que eu já tinha derrotado. E se você tem medo de dois caras numa moto, espere até conhecer um cara de lança numa moto flutuante.

Por fim, como todo roguelite, o jogo pode se tornar muito repetitivo e frustrante conforme você joga. Não existem muitas variações do que pode ser feito, a progressão dos personagens acaba sendo bastante linear e o jogo se torna basicamente morrer, aprender com os erros e recomeçar.

Felizmente muitos problemas do jogo se limitam a meros detalhes que podem facilmente ser corrigidos com uma ou outra atualização. Nenhum dos problemas me impediu de efetivamente avançar no jogo.

Aliste-se ao Star Renegades

O jogo traz influências de alguns dos meus RPG’s preferidos, o que já conseguiu me convencer logo de cara. Além disso, a Massive Damage conseguiu combinar mecânicas clássicas e modernas, o que deve agradar os fãs de RPG’s mais clássicos.

Apesar de ter uma história relativamente simples, que acaba servindo mais pra contextualizar o universo de Star Renegades, ele é muito competente no que se propõe. É relativamente curto, até porque jogos roguelite que se estendem demais acabam ficando maçantes.

Star Renegades cumpre seu papel: é divertido, bonito e desafiador, bastante desafiador. Acho improvável que alguém consiga terminar ele sem morrer pelo menos uma ou duas vezes, no mínimo. Caso você consiga, por favor, me avise aqui.

Star Renegades está disponível para PC.

Está crítica foi feita em base de uma cópia cedida pela assessoria do jogo ao Game Lodge

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