Longe de ser um Simulador propriamente dito, (o que torna a proposta ainda mais divertida). Surgeon Simulator 2, assim como seu antecessor, coloca o jogador na pele de um suposto cirurgião, que deve performar toda sorte de cirurgias malucas.
Os primeiros minutos de jogo, nos tutoriais, já ficamos de cara com o maior obstáculo- manter-se em equilíbrio. Explico: o maior contratempo do jogo é também sua maior fonte de diversão – lidar com a coordenação motora ao operar e movimentar o braço do personagem.
Funciona assim: enquanto o controle do personagem em quase todos os aspectos se assemelha ao de um FPS, no Surgeon Simulator 2, você precisa controlar os eixos que rotacionam o braço e o outro que movimenta o posicionamento, como numa escala XY. Se parece complicado de descrever em texto, é ainda mais desafiador experimentar no jogo. E não entenda mal, essa é possivelmente a melhor característica do jogo – quase uma experiência de aprender a escrever de novo.
Dito isso, o jogo em si não tem pretensão nenhuma de ser um simulador realista e sequer almeja ser levado a sério em termos de temática. A maior precisão médica é, quiçá, o posicionamento correto dos órgãos nos pacientes. Nesse sentido, o jogo apresenta uma forte dose de humor sarcástico e nonsense – se aproxima bastante ao humor que encontramos em jogos como Borderlands.
É de fato muito divertido o modo sereno, leve e condescendente na qual a personagem fala. “ Quebre os ossos, enfie um bisturi e remova os pulmões” ou senão “arranque os braços do paciente e coloque um novo”, apenas assim, como se o corpo humano fosse um boneco de Lego.
E ressalto que é esse o grande charme do jogo – transitar entre o mórbido e o cômico, fazendo parecer que boa parte da ideia tivesse sido extraída de páginas e diálogos de Deadpool.
O visual parece uma mistura de The Sims com Team Fortress: bem cartunesco, com cores vivas e divertido – o que combina bastante com o estilo brincalhão e com as quebras de quarta parede que o Surgeon Simulator trás.
Ainda em termos de direção de arte, os menus e a interface são simples e bem desenhadas, com cores nítidas em tons pastéis e fonte agradável à leitura. Intuitivas o bastante para mostrar o caminho e não intrusivas – sem exagero nem falta de informações.
A maior novidade em Surgeon Simulator 2 é o multiplayer cooperativo. Dessa vez, é possível compartilhar a mesa de cirurgia e dar as mãos aos amigos e, juntos, se desdobrar entre as tarefas de cortar, quebrar e perfurar órgãos, ossos e membros. Também é necessário ficar de olho nos níveis de sangue do paciente (que o jogador pode acompanhar através de alguns monitores espalhados pelo mapa), conter hemorragias e sangramentos antes que se esgotem.
Para efeitos de gameplay, quando se usa a ferramenta adequada ao trabalho (como por exemplo um serrote para amputação), há menos sangramentos e com isso, menos riscos do paciente vir a óbito. Como tudo no game é feito com as próprias mãos do personagem e o risco de errar reside justamente na coordenação motora, os erros são hilários (até porque toda a situação já é absurda) e criam momentos engraçadíssimos e únicos.
Um exemplo interessante é tentar fazer uma amputação de membro: o primeiro desafio está em encontrar o serrote – seguido pela dificuldade de segurar o serrote de forma adequada que possibilite o movimento de corte. Em seguida, nos deparamos com o obstáculo de se posicionar corretamente próximo ao membro a ser amputado para só depois começar a fazer o corte em si. Tudo isso com muita leveza, tranquilidade e o bom humor característicos do game.
Da mesma forma em que nos divertimos com todas essas pataquadas, também é importante salientar que o fato do jogo depender quase que exclusivamente desse mecanismo pode ser um erro. Com isso, talvez o maior ponto negativo de Surgeon Simulator 2 seja a sua repetitividade.
Como o núcleo do desafio e gameplay dependem quase que inteiramente na coordenação do jogador. A diversão inicial pode durar algumas horas (mais algumas se tiver amigos para jogar junto) mas para jogadores mais exigentes o interesse pode evaporar rapidamente. Digamos que essencialmente, Surgeon Simulator é um jogo que mistura elementos puzzle com a precisão de movimentos – capaz de gerar momentos muito divertidos e é o único de seu tipo.
Para entender porém, é necessário jogar. O game tem seu apelo, é carismático e seu antecessor conquistou uma popularidade notável quando foi lançado em 2013. Porém, para alcançar uma vida pós-lançamento expressiva e significativa, Surgeon Simulator 2 precisa trazer mais variedade e novos mecanismos de jogabilidade – o que fizeram do 1 pro 2.
O jogo tem um potencial interessante a ser explorado como operar máquinas de exames, realização de exames médicos, encontrar e buscar medicamentos, realizar procedimentos em ambulâncias e aviões, tratar crises alérgicas… as possibilidades são infinitas e há um espaço considerável para crescimento.
Portanto, fica a cargo do estúdio examinar, expandir e desenvolver Surgeon Simulator 2 para torná-lo um lançamento inesquecível que merece ser.
Surgeon Simulator 2 está disponível para PC pela Epic Store
Está crítica foi escrita em base de uma cópia cedida pela assessoria do estúdio ao Game Lodge