Alex Kidd in Miracle World DX – Feito por fãs para fãs

Escrito por Arthur Tayt-Sohn
Crítica

Lançado em 1986 para o Master System, Alex Kidd in Miracle World é um jogo de plataforma que obteve bastantes críticas positivas na época, devido à diversas inovações que outros jogos não tinham.

O jogo se tornou especialmente querido no Brasil em uma época em que a TecToy popularizou os consoles Sega no país. Além disso, o Master System passou a vir com o jogo em sua memória, o que expandiu mais ainda a distribuição do jogo.

Passados 35 anos, Alex Kidd in Miracle World DX resgata esse clássico em um remaster que deixa seus sentimentos nostálgicos à flor da pele. Mas como é experimentar esse jogo mais de 30 décadas depois?

Alex Kidd in 90’s Brazil

Se você foi uma criança dos anos 90 que teve o privilégio de jogar videogames, muito provavelmente você jogou Alex Kidd. Em uma época em que a TecToy disputava mercado com Ataris e clones do Nintendinho representando a Sega no Brasil, Alex se popularizou, pelo menos em meus círculos sociais.

Naturalmente, por conta do atraso entre lançamentos de consoles e jogos e sua chegada ao Brasil, muito conheceram Sonic e Alex Kidd simultaneamente por aqui. Mas como o cabeçudinho vinha na memória dos consoles vendidos por aqui, ele não era tão menos popular que o ouriço azul.

Por conta disso, é inegável que o remaster foi muito celebrado pelos fãs brasileiros, incluindo criadores de conteúdo que cresceram e formaram uma base de fãs falando sobre o Alex Kidd. Eu também tenho boas lembranças jogando ele no meu Master System, algumas não tão boas assim, como um bug inexplicável que me impediu de terminar o jogo.

Reimaginando um velho clássico

Uma das lembranças mais fáceis de termos do jogo é sua arte. Como muitos jogos de sua época, tínhamos fundos estáticos com poucas cores e detalhes, apesar de sprites de personagens e inimigos bem trabalhados para a época.

A Jankenteam e a Merge Games, responsáveis pelo remaster, fizeram um trabalho incrível reimaginando as artes. O cenário está totalmente revitalizado, com detalhes belíssimos que dão ainda mais carisma ao jogo. No lugar do fundo azul da primeira fase, temos agora cachoeiras, nuvens e outros detalhes. A floresta de Blackwood agora não conta com apenas meia dúzia de árvores, tendo um belíssimo ecossistema ao fundo. A pixel art do jogo está incrivelmente bem trabalhada e bonita, feita com muito carinho pelos desenvolvedores.

E isso sem perder a identidade do jogo. Os antigos fãs do jogo se sentirão em casa porque tudo está do mesmo jeitinho que era, apenas revitalizado.

Claro que com algumas novidades. Os desenvolvedores tomaram a liberdade de incluir novos níveis e inimigos, o que é muito bem vindo. O importante é que a forma de se jogar é a mesma. As mecânicas não sofreram muitas alterações, apesar de algumas pequenas melhorias.

Mesmo assim, ainda temos um hitbox um pouco sacana, como no jogo original. Além disso, os movimentos de Alex Kidd ainda possuem aquele pequeno “escorregão” que muitas vezes vai nos jogar em algum buraco ou em espinhos. O level design também se mantém basicamente o mesmo. Então ainda teremos aquela velha sensação de frustração por não conseguirmos alcançar um determinado local porque quebramos um bloco errado.

E por várias vezes esse level design pode nos prender em alguma parte do mapa ou simplesmente nos roubar uma vida. Em Blackwood por exemplo, perdi diversas vidas por acidentalmente quebrar um bloco que não deveria, pois era o que permitiria um salto mais tranquilo. Exatamente da mesma forma que eu fazia nos anos 90.

Diferente de outros remasters de jogos de plataforma, como a trilogia Crash Bandicoot, os desenvolvedores de Alex Kidd optaram por manter uma fidelidade maior ao jogo original. Isso muito provavelmente vai agradar os fãs mais antigos e talvez não tanto aos que nunca jogaram o original.

Isso porque parte do desafio do jogo, e ele era muito desafiador, era dominar todos esses detalhes do jogo como calcular os pulos, calcular a distância para atacar os inimigos com seu soco, visto que não é possível saltar sobre os inimigos e entender o hitbox do jogo. Isso pode ser um pouco frustrante para os novos fãs, mas não deixa de ser também o charme do jogo.

Alguns novos fãs podem estranhar por exemplo algumas lutas com chefes que são resolvidas no Jan Ken Pon, mais conhecido no Brasil como pedra, papel e tesoura.

Claro que pensando justamente nesses novos fãs, o time deu uma facilitada para aqueles que querem uma experiência menos traumática. O jogo conta com um modo de vidas infinitas e mesmo no modo clássico, não é necessário recomeçar todo o jogo caso você perca suas vidas, sendo possível recomeçar da última fase.

E novamente pensando em agradar a todos os fãs, é possível jogar Alex Kidd no modo visual clássico, apenas apertando um botão. Se você sente falta daquele charme dos jogos em 64 cores, pode aproveitar o jogo como fazia na época que fingia estar doente para faltar à aula e passar o dia todo jogando.

E não são apenas dois modos visuais, mas duas trilhas sonoras em um único jogo. Além da trilha clássica, emulando as limitações dos chips de som da época, temos uma reimaginação das músicas com sons reais de instrumento, que variam entre belíssimos violões espanhóis e teclados, e instrumentos de sopro.

As trilhas sonoras das fases do vulcão estão entre as músicas de jogos mais incríveis que já ouvi nos últimos tempos, sem um pingo de exagero. O jogo original possuía um número de músicas mais limitado e é visível o cuidado e o carinho dos desenvolvedores em reimaginar a trilha sonora e entregar uma experiência mais completa.

Um importante registro histórico dos games

Mesmo com todas as melhorias e conteúdos que o jogo recebeu, fãs mais antigos vão se identificar muito com ele, já que os desenvolvedores se esforçaram para entregar uma experiência bem próxima do jogo original.

Ele continua desafiador, apesar de algumas facilidades incluídas e o game design é basicamente o mesmo. Seja nas mecânicas e no level design, é um jogo produto do seu tempo, o que nos leva à uma interessante reflexão sobre as ideias que os desenvolvedores tinham naquela época.

Hoje pode parecer bobo, mas é incrível pensar que em 1986 pensaram em um jogo de plataforma em que o mapa não segue a direção tradicional da esquerda para a direita, mas desafia o jogador a descer e subir o mapa, algo que também foi feito em Metroid.

Além disso, Alex Kidd conta com um sistema de dinheiro, onde você pode comprar equipamentos para facilitar sua jornada e também veículos, como uma moto e um helicóptero movido a pedais. Os gamers da geração cringe certamente sabem dessa sensação que estou falando, de jogar um game com esse nível de complexidade naqueles tempos.

Hoje o level design pode ser até bem questionável em alguns pontos, bem como algumas mecânicas que não fazem tanto sentido ou podem deixar o jogo mais frustrante do que de fato desafiador, mas é inegável que Alex Kidd foi um marco dos jogos de plataforma, talvez injustamente ofuscado pela própria Sega que optou por transformar Sonic em seu mascote oficial.

Miracle World DX tenta resgatar essa experiência e falando agora para os fãs que nunca tinham experimentado o jogo e cresceram em uma época em que os jogos já eram mais complexos, eu recomendo que joguem Alex Kidd com o coração aberto, principalmente se você é daqueles que se interessa pela história do desenvolvimento dos jogos ou pelo surgimento desse mercado no Brasil.

A história de Alex Kidd se mistura com a história dos games em nosso país e o carinho dos fãs brasileiros não é a toa, além de ser justo que celebremos esse icônico personagem. Um revival da série seria muito bem vindo, Alex ainda tem muitos socos para distribuir por aí.

Nome do jogo:

Alex Kidd in Miracle World DX

Publisher:

Merge Games

Desenvolvedora:

Jankenteam

Plataformas Disponívies:

PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X, Nintendo Switch

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge