Apollo Justice: Ace Attorney Trilogy é um retrato de falta de visão

Escrito por Colaborador
Crítica

Seguindo a tendência de portar para PC alguns de seus jogos que se perderam na queda dos portáteis, a Capcom agora retorna com a trilogia Apollo Justice, contendo os três mais recentes jogos da série principal, lançados para DS e 3DS.

Enquanto a trilogia original lançada para GBA (e eventualmente remasterizada para DS, quando chegou no ocidente e colocou a série na mapa) era coesa e se mantinha firme na visão de Shu Takumi, que pretendia que Trials and Tribulations fosse o capítulo final, essa “trilogia” é marcada por uma falta de direção que os desenvolvedores não souberam contornar após a saga de Phoenix Wright estar aparentemente concluída em seu terceiro jogo.

O primeiro passo para isso foi introduzir um novo protagonista que dá título a essa remasterização: Apollo Justice, advogado novato que é mentorado pelo antigo personagem principal.

Texto escrito pelo colaborador Mateus Carvalho.

A trilogia “Apollo Justice”

Antes de mais nada, é necessário tirar algo do caminho: o fato desse pacote se chamar “Trilogia Apollo Justice” nada mais é do que um ângulo mercadológico para ligar esses três jogos. Enquanto o primeiro jogo aqui contido, Apollo Justice: Ace Attorney, pode ser considerado um jogo do personagem, ainda sofre em decorrência de uma falta de confiança em seu novo personagem, parecendo menos uma história de origem e mais um cenário “e se…” da trilogia original.

A falta de direção que a Capcom tinha em relação á série (é também importante ressaltar que, a esse ponto, seu idealizador original Shu Takumi já não estava mais na direção dos jogos) é tamanha que Dual Destinies, quinto jogo da franquia e o segundo aqui presente, também é um soft-reboot ainda mais prejudicado por tentativas falhas de tocar a história para a frente, introduzindo, novamente, outra protagonista com um gimmick único.

A confusão com o que fazer com o personagem é tamanha que cada um desses jogos introduz um backstory diferente para o advogado, que variam em qualidade, mas nunca deixam de soar como uma tentativa desesperada de fazê-lo mais interessante.

Jogar esses jogos como um fã da série original pode ser uma experiência frustrante, pois realmente parecem versões sem vida do que, em dado momento, era uma das franquias mais empolgantes e únicas de jogos adventure.

Mecanicamente perdido, mas ainda interessante

Cada um desses jogos, porém, utilizava (e uso o termo no passado visto que todos esses elementos se perdem na versão de PC/Consoles sem touchscreen) diversos recursos únicos do DS e 3DS. Investigar se tornava algo um pouco menos maçante devido à dedicação em explorar os gimmicks permitidos por cada um deles.

Em Apollo Justice Ace Attorney, por exemplo, temos diversas passagens de uso da touchscreen para descobrir digitais ou marcas de sangue apagadas. Dual Destinies e Spirit of Justice trazem reconstituições de cenas do crime em 3D que são legitimamente impressionantes e que casam muito bem com a ideia de solucionar um assassinato.

Apesar disso, é aqui que a série decidiu começar a focar em introduzir mecânicas mais questionáveis fixas de cada personagem e, geralmente, sub-utilizadas. O bracelete de Apollo que o permite ver tiques que apontam para mentiras de personagens é interessante, mas cansativo. A “sessão de terapia” de Athena, por outro lado, é uma ideia fraca com execução travada.

A exceção fica por conta das Divination Seánces de Spirit of Justice, que trazem conceitos interessantes que realmente forçam o jogador a pensar em todos os elementos ali presentes.

Histórias de altos e baixos

Falando do ponto principal agora: se considerarmos apenas a história, essa é uma trilogia aceitável, porém com ressalvas.

O primeiro dos três jogos, Apollo Justice: Ace Attorney, acaba sofrendo da mesma coisa que muitos dos jogos anteriores da série, que é a estrutura carregada apenas no primeiro e último caso, com os do meio sendo relativamente desinteressantes.

Enquanto esses dois mencionados são bem construídos, esse é o jogo que, para mim, contém o pior capítulo de toda a série, Turnabout Serenade, um caso enfadonho, absurdamente repetitivo e que pede saltos lógicos mais absurdos do que o normal do jogador.

A média cai bastante em Dual Destinies, o pior dos jogos da série que, em seu cerne, tem um mistério interessante na história de Athena e Blackquill, mas que se perde com frequência por tentar, simultaneamente, introduzir a nova advogada, continuar a história de Apollo e reintroduzir Phoenix como advogado. Enquanto que a obra anterior continha bons e péssimos capítulos, essa contém capítulos que variam de medianos para ruins.

É preciso notar também como esse é o jogo que pior lida com a dificuldade, frequentemente apontando soluções dos puzzles e introduzindo linhas de pensamento de maneiras intrusivas e óbvias para evitar que o jogador se perca. Ao final, a sensação que fica é que se trata de um jogo descartável que não soube como equilibrar seus três núcleos.

A verdadeira jóia da coleção, porém, está em Spirit of Justice, o primeiro jogo da série desde Trials and Tribulations a realmente entregar uma história genuinamente interessante com mistérios fortes e bem estruturada.

Ainda há rebarbas, o quarto caso claramente foi colocado ali para que Athena tivesse algum destaque e não ficasse apenas como acompanhante de Apollo, mas, em um geral, a trama de revolução que vai e vem entre dois países é o mais fascinante que a série principal entregou desde o drama da família Fey em sua terceira entrada.

Ainda assim, cativante como sempre

Tendo dito tudo isso, não tem como negar que Ace Attorney é uma série com um loop de gameplay muito viciante. São jogos que podem soar cansativos ou frustrantes mas que, para mim, acertam em vários aspectos de gameplay que me fazem nunca querer parar de jogá-los.

Além disso, muitos elementos que fizeram a série impressionante ainda estão aqui: personagens carismáticos, animações ultra expressivas (o salto para spirtes 3D permite ainda mais criatividade nesse aspecto) e uma trilha impecável.

Sou o maior fã desses jogos? Não, de forma alguma. É uma coleção que encapsula toda a falta de foco e busca desesperada por um caminho que a série passou após seus três jogos iniciais, clássicos de seu gênero. Ao mesmo tempo, traz ao menos um jogo ótimo e muito do que faz Ace Attorney uma série tão bacana. Para mim, é o suficiente.

Nome do jogo:

Apollo Justice: Ace Attorney Trilogy

Publisher:

Capcom

Desenvolvedora:

Capcom

Plataformas Disponívies:

PC, Playstation 4, Xbox One, Nintendo Switch

Nota: 6

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge