A Brasil Game Show é, com toda a certeza, um marco no calendário gamer do país, e nesse ano, ela completa 15 anos. Porém, apesar de terem prometido uma BGS épica para comemorar esse aniversário, a realidade é que nos últimos anos, o evento anda gradualmente se desconectando do mundo gamer e procura abranger a “inclusão” das outras camadas do mundo geek.
O estande da Nintendo foi praticamente idêntico ao ano passado, e praticamente não houve nenhuma mudança comparado a eventos passados. Eles eram praticamente os únicos gigantes, pois novamente não contavam com a presença da PlayStation ou da Microsoft com estandes de XBOX. Parece até meio irônico, considerando que a Nintendo voltou pro Brasil recentemente, após estar ausente por muitos anos.
Em termos de atrações, também não tinha muita mudança do estande deles da Gamescom Latam. Como sempre tínhamos uma fila gigantesca para pegar uma sacolinha do Mario pelo My Nintendo, coisa que honestamente eles deviam ter melhor controle. Além disso, tivemos a presença do Super Mario Party Jamboree e do The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom, com o primeiro que será lançado hoje (17), e o Echoes of Wisdom já tendo sido lançado mês passado.
Apesar dos jogos novos, a fila do Super Mario Party Jamboree fluiu bem rapidamente, e acho que isso se deve ao fato de que a demo do jogo levava apenas 15 minutos até que eles liberaram para o próximo, e dentro do estande, haviam 6 Nintendo Switches, e cada um comporta grupos de 4 pessoas cada, ajudando a fila a fluir melhor.
Uma das regras mais bizarras da BGS na minha opinião, seria a proibição de tirar fotos das telas dos jogos. Isso era algo que rolava muito no estande da Arc System Works e da SNK, e além disso, para o Fatal Fury: City of Wolves, a fila começou a ficar tão gigante que tiveram que reduzir o tempo de jogo da galera de 20 para 10 minutos.
Porém, essa regra de não poder tirar foto era algo bizarro devido ao quão inconsistente ela era. Para ganhar os brindes da Arc System Works, era necessário escanear um QR code que te levava para uma survey para então mostrar para o staff. Teve um momento que eu até quase fui barrado por causa que, talvez do jeito que eu apontei a câmera do meu celular, eu só recebi uma cara feia, com a frase “você sabe que não pode”. Mas se a ideia da imprensa é falar sobre esses jogos, o certo até seria poder tirar uma foto ou duas para complementar, penso. E pior que não existiam sequer placas que indicavam que isso era proibido, era mais uma regra falada. Até agora não consigo entender o porquê disso, mas consegui me divertir com os jogos deles.
A HoYoverse, criadora do Genshin Impact e do Honkai: Star Rail, estava presente, só que quando comparado ao ano passado, o estande deles estava bem menor, dando foco somente à Versão 5.0 do Genshin Impact. Tinha uma sessão para jogar o Honkai: Star Rail, e até uma lojinha para comprar itens como bótons e estandes de acrílico, mas confesso que a sessão para jogar o Star Rail parecia que jogaram ele pra escanteio. Também não tivemos nenhuma parte do estande dedicada ao Zenless Zone Zero, um dos lançamentos recentes da empresa.
Porém, mesmo assim, o estande foi bem popular. Na sexta-feira por exemplo, mesmo às 4 da tarde, havia uma fila gigantesca para pessoas fazerem as atrações do evento. Felizmente, você consegue fazer todas elas em apenas 20 minutos, e pegar sua sacola de brindes, que por sinal, comparado a sacola de papel que deram anteriormente, era muito maior e de melhor qualidade.
O estande da Samsung contava com uma verdadeira mistura de coisas pra fazer. Em um lado, tínhamos a nova linha do Galaxy S24 com processador Snapdragon, além dos novos Tab S10, e uma sessão demonstrando a IA da Google sobre a função de circular e pesquisar. Em outro lado, tinha uma série de TVs para alguns jogos recentes como Sonic x Shadow Generations, e finalmente, tínhamos uma sessão escondida com uma demo de Dynasty Warriors: Origins e Fairy Tail 2.
Eu chamo de “sessão escondida” pois sério, estava tão bem escondido que nenhum dos vários funcionários que perguntamos sobre a demo de Dynasty Warriors sabia informar onde ficava (ou se sequer era do estande deles). Também achei bem complicado identificar onde ficavam as saídas e entradas de cada uma dessas sessões. E claro, espalhados pelo estande, tinham vários vendedores tentando te vender a nova linha de notebooks, celulares, TVs e etc, dizendo que comprando agora, um “desconto exclusivo da feira” se aplicava.
Talvez o fato mais chocante da Samsung foi o fato de que as filas para os jogos deles eram quase inexistentes. Por exemplo, enquanto a fila para jogar o Sonic x Shadow Generations na SEGA levava mais de meia hora, no estande da Samsung, você podia jogar o jogo em uma TV gigantesca, trazendo assim, uma experiência bem mais confortável.
Uma das coisas que fiz quando lançaram o mapa oficial da BGS foi planejar meu caminho pelos estandes. E a primeira coisa que percebe-se é o quão “vazio” o evento pareceu. Os corredores ficaram muito mais amplos, e tinha muitos locais, como os da foto abaixo, que você olha e se questiona: “era pra ter algum estande aqui?”. Minhas suspeitas meio que foram comprovadas quando ouvi de amigos que foram no sábado que apesar de estar esgotado, os corredores amplos meio que ajudaram o fluxo de pessoas. Mas aí que tá, isso significa que a BGS tinha tão pouca coisa que os corredores amplos foram apenas um resultado disso.
Além disso, o dia de imprensa no dia 9 foi um absoluto caos. Tivemos o pré-show da BGS, mas ele acabou atrasando um pouco, e causou com que todos da imprensa entrassem apenas às 13h30, meia hora após o horário que constava no site oficial. Além disso, eles simplesmente não deixavam ninguém entrar, nem os assessores de imprensa para se encontrarem com seus clientes. Isso foi algo bizarro. Além disso, a área business, um lugar comumente utilizado para entrevistas e para testes de jogos à portas fechadas, sequer estava montada no dia de imprensa, e isso causou uma verdadeira bagunça.
Em paralelo a tudo isso, acontecia uma opressão silenciosa: a regulagem das Monster na sala de imprensa. Para os não familiarizados com a premissa, o evento costumava disponibilizar uma geladeira de Monster – patrocinadora do evento – para os jornalistas trabalhando. Essa única geladeirinha não durava mais que alguns minutos quando liberada para consumo, mas era constantemente estocada com novas latas para gelar. Após um aparente ocorrido em 2023 em que alguém supostamente “desviou” muitas latas para revender no evento, esse ano eles precisaram mudar a estratégia.
A solução foi aumentar o número de geladeiras para três e limitar a abertura dessas geladeiras a horários extremamente nebulosos apenas duas vezes por dia. Com isso, a visão constante era de três geladeiras cheias de produtos do patrocinador do evento, mas com um “guardinha” na porta constantemente dizendo que ainda não era hora, mas que precisava “esperar a sala encher bem” para liberar – seja qual fosse a definição de sala cheia deles. Eu sei que é um problema que não afeta o grande público, mas foi uma “solução” tão absurda que, somada aos outros problemas logísticos já citados aqui, cria uma genuína preocupação pelo rumo que o evento tem tomado nesse sentido.
Essa edição da BGS 2024 é uma edição que prometeu ser uma das mais épicas…afinal, é bom lembrar que o marketing deles certamente queria te lembrar que a BGS completava 15 anos nessa edição. Porém, após conversamos com alguns jornalistas, alguns deles disseram que estamos falando que essa BGS teve um clima que pode se resumir como o “começo do fim”. Claro, não acredita-se que esse seja o fim da BGS per se, pois ainda é um evento grande com bastante público. Mas caso os rumos e os focos continuem aonde estão, em alguns anos, o público mais interessado em conhecer jogos do que no “lifestyle gamer” vai ter cada vez menos motivos para participar do evento.
Além de não ser um evento barato (principalmente em seus últimos lotes, que podem chegar a 300 reais no fim de semana), o tamanho da estrutura mostra o valor do evento, e mesmo pelo número um tanto limitado de jogos ainda não lançados (o que é um dos maiores chamarizes) a se ter acesso, o preço das comidas e coisas como a Área Freeplay ter uma parte paga (com Pump it Up limitado a área paga, um golpe que Jean não se recuperará tão cedo), é bem difícil recomendar alguém a comprar um ingresso, especialmente nos últimos lotes.
Talvez o número cru de atrações pode nem ter diminuído tanto assim em relação ao ano passado, mas era evidente que a feira estava diferente esse ano, com um número menor de estandes grandes que aglomeravam atrações menores. E vale lembrar que temos uma nova desafiante na área, e ela se chama Gamescom Latam, antes BIG Festival. Ao menos que a BGS se acorde pra vida, é só uma questão de tempo até que eles percam aquele tão aclamado título de “maior feira de games da América Latina”.