Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Anger Foot é mais um jogo da parceria entre a Free Lives – criadora de jogos como Broforce, Genital Jousting, Terra Nil, entre outros jogos – e a Devolver Digital. A Free Lives primeiramente criou Anger Foot durante um desafio de desenvolvimento de jogo de 7 dias no Itch.io chamado 7dfps (7 dias de tiro em primeira pessoa) em 2020.
Em 2022 tivemos o anuncio na Devolver Direct que o jogo ganharia uma versão mais robusta que chegaria na Steam e depois de um adiamento em 2023, finalmente o jogo foi lançado agora em julho de 2024.
Tendo o visto o trailer e ficado interessado no que foi mostrado – ação, pé na cara e adrenalina ao extremo- não podia esperar a hora para botar as mãos (ou seria melhor ‘botar os pés’ nesse caso?) no jogo. Agora que tive a chance de jogá-lo, será que minhas expectativas foram atendidas?
Venha comigo nessa review para descobrir!
A história do jogo se passa em Merdópolis, a cidade do crime. Esqueça tudo que você conhece como o correto nesse lugar. Roubo? Poluição? Perversão? Desvio de dinheiro? Tudo isso é permitido aqui e incentivado.
A cidade é comandada pelo Ministro do Crime e é dividida principalmente entre as quatro principais gangues locais: Gangue Violenta (assaltantes e ladrões), Gangue Poluidora (os bandidos mais imundos da cidade), Gangue empresarial (traficantes e fraudadores corporativos) e a Gangue Sem-Vergonha (os hediondos mais profanos).
É nesse local que vive o nosso protagonista, Anger Foot, que no começo do jogo está indo pegar um pisante novo raro que ele viu num anúncio. Só que chegando lá os produtos foram roubados, então ele vai atrás dos bandidos para recuperar o pisante.
Com o tênis recuperado, ele volta para casa onde sua namorada o esperava para a noite do cinema. Só que, antes de começar o filme, ele guarda o pisante em sua coleção. Bem na hora que ele arruma tudo a Gangue Violenta aparece e rouba toda sua coleção.
Furioso, Anger Foot vai até a base da Gangue Violenta para recuperar seus pisantes raros. Destruindo tudo em seu caminho, ele descobre que para reaver a coleção completa será necessário ir atrás dos lideres de cada uma das quatro gangues.
O jogo apresenta um enredo simples para justificar toda a jogabilidade, mas ainda sim eu diria que é a minha parte favorita do jogo. Isso se dá pelo fato que a construção do mundo aqui foi muito bem feita.
A premissa pode ser simples, mas o trabalho cuidadoso que o jogo teve para criar uma lore de cada gangue e mostrar o funcionamento e como é viver em Merdópolis faz tudo brilhar. Cada dialogo que podemos ter com NPCs aleatórios por ai, com eles falando cada absurdo como sendo o normal naquele lugar é muito divertido.
O senso de humor também está no ponto aqui, sabendo trabalhar os absurdos de forma que seja natural para aquele lugar, além de fazer algumas críticas sagazes ao capitalismo, falta de cuidado com o meio ambiente e outros temas mais sérios.
Algumas referências e brincadeiras internas também divertem, como por exemplo ser possível jogar Broforce em uma máquina arcade dentro do jogo e com um NPC falando sobre como ele acha que o jogo deveria ter uma sequência e que ia falar isso para os desenvolvedores, já que ele acha que eles nunca pensaram nisso.
A jogabilidade de Anger Foot também é bem simples, você entra na fase e tem que avançar por ela de uma ponta a outra sem morrer (matar os inimigos não é obrigatório). Dentro da fase podemos pular, chutar e quando temos uma arma em mãos podemos atirar ou jogar a arma fora (que se pegar nos inimigos atordoa).
Como dito antes, o objetivo é ir a cada ponto da cidade que reside cada gangue e acabar com elas. Então o jogo é dividido em quatro locais diferentes e cada local apresenta um número de fases curtas. Entre as fases tem alguns pontos que usamos para conversar com NPCs e entender melhor as peculiaridades das gangues e mais sobre Merdópolis.
Cada fase conta com três desafios que se completados nos garantem uma estrela e a cada 5 estrelas liberamos um pisante novo para usar. Os pisantes além de dar uma bela estética para nosso chute, apresentam diferentes habilidades como: uma segunda vida, pulo duplo, maior resistência, chute pra cima, chute carregado, chutes múltiplos e vários outros possíveis. É o mesmo funcionamento das máscaras de Hotline Miami, que é um jogo na qual Anger Foot claramente se inspirou.
O jogo também tem alguns consumíveis que alteram um pouco da gameplay. As cervejas quando consumidas deixam o personagem bêbado prejudicando a visão. Os energéticos fazem nossa adrenalina subir ao extremo deixando a gente mais veloz e altera nossa visão também. E tem um bicho que a gente pode “consumir” e ficar num estado de frenesi deixando a visão bem alterada.
Tudo implementado aqui no jogo funciona bem, os comandos são responsivos, as hitboxes funcionam e a jogabilidade é bem fluida. É claramente um jogo que quanto melhor tu sabe jogar, melhor e mais fluido ele vai parecer, mas que também se você só ficar no básico não apresenta problemas e diverte.
Só que nem só de diversão temos aqui, pois tem muitos momentos irritantes também. Algumas fases acabam se prolongando demais e como a gente não resiste a tantos ataques (com alguns só precisando acertar uma vez) irrita acabar tendo que voltar tudo. Áreas mais abertas, sem um caminho claro de primeira, também pode sofrer desse problema.
O jogo, na minha visão, brilha mais nas partes de corredor mais fechados e fases mais diretas. O jogo como um todo é bem linear, mas algumas salas vocês acaba por tendo que rodar um pouco até achar o caminho certinho. A primeira parte, a da Gangue Violenta, foi talvez a que tenha menos gostado, pois ali no meio dela vamos para o topo de prédios e morrer por causa dos pulos de uma sacada pra outra é um porre.
Só que gosto muito de como as partes das outras gangues, que acho que tem momentos bem legais e visualmente são gangues com mais personalidades no local em que eles residem. Acho que no geral foi um trabalho muito bem feito, que ali nas suas 8h em média de jogo vai apresentar alguns momentos de deixar o jogador irritado (que também pode ser só skill issue da minha parte, por não ter tanto costume com jogos assim).
Anger Foot só está disponível, no momento dessa análise, para o PC, e devo dizer que na minha máquina apresentou alguns pequenos momentos de performance que chegou a dar uma atrapalha. Em áreas com muitos inimigos e objetos, durante a ação – que é chute, tiro e explosões por todo canto – o jogo apresenta quedas de FPS.
Minha máquina não é top de linha, tem uma GTX 1660ti e um i7 de nona geração, mas mesmo diminuindo os gráficos foi algo que continuou. No geral foi instável pela maior parte do tempo, mas nesses momentos com mais informação na tela a queda acontecia e era sentida. Na ultima fase mesmo que é o caos na Terra, o FPS chegou a bater 20.
Não acho que seja o fim do mundo, mas seria bom um update para estabilizar mais o jogo, pois num jogo tão frenético o lag causando pela queda do FPS atrapalha, já que cada momento é crucial. Eu tive algumas mortes por causa disso.
Anger Foot prometeu muita ação, bom humor e pé na cara e entregou tudo isso muito bem. Com uma jogabilidade boa e funcional e um senso de humor completamente no ponto, temos mais um sucesso na parceria Free Lives e Devolver Digital. Seus momentos que podem irritar o jogador e de quedas de FPS, não tiram a impressão positiva que o jogo deixa.
O jogo também apresenta um fator de rejogabilidade grande com seus inúmeros desafios a cada fase e com os diferentes pisantes e efeitos que podem mudar totalmente a forma como uma fase é jogada. É um prato cheio para quem gosta de jogos do estilo e eu diria que para speedruns (que estou ansioso para ver) também.
Anger Foot
Devolver Digital
Free Lives
PC