Crítica: Atelier Yumia: The Alchemist of Memories & the Envisioned Land – Renovando sem perder a essência

Por Jean Kei

Nota: 8

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge

Atelier Yumia: The Alchemist of Memories & the Envisioned Land é o 26º jogo da franquia Atelier. Desde Atelier Rorona em 2009, a franquia segue uma fórmula muito parecida. Claramente tiveram mudanças e melhorias ao longo desses 16 anos, mas a estrutura que existia desde o sempre mas que se consolidou de vez em Rorona se manteve forte. Não cheguei a jogar Atelier Ryza, que, pelo que vi, a trilogia trouxe vários elementos novos para a franquia, mas sua estrutura narrativa e ritmo seguia sendo similar ao de costume.

Ser uma franquia com poucas inovações não é necessariamente ruim, acaba sendo um lugar de conforto para muitos jogadores, especialmente porque Atelier entrega coisas únicas em relação a outros RPGs. A atmosfera focada em “Cozy Gaming”, o sistema bem elaborado de alquimia e um foco quase que total na relação mais cotidiana dos personagens foi o que moldou a série por mais de 15 anos, tanto que vilões são uma raridade na franquia.

Dito tudo isso, Atelier Yumia se propõe a renovar a série, se aproximando de um RPG mais tradicional estruturalmente. Parte de mim ficou empolgada com o novo jogo, parecendo algo diferente de uma série que já havia perdido a empolgação (o último Atelier que joguei foi o Sophie, de 2015), mas não vou mentir que houve um certo receio, pois se essas mudanças tirassem o que faz a franquia ser especial, perderíamos coisas que não vemos em nenhum outro jogo.

Inclusive, apostando em alcançar novos públicos e fazer um projeto ambicioso, investiram em localizar o jogo em diversos novos idiomas… E português infelizmente não é um desses novos idiomas.

Mas felizmente, Atelier Yumia soube o que mudar e o que manter

A princípio, o jogo parece ser drasticamente diferente dos anteriores. O começo do jogo já abre num prólogo com cenas de ação e combate, o que já apresenta um foco bem diferente dos padrões recentes da franquia. Me lembrou um pouco de Atelier Iris lá no Playstation 2, que tinha uma narrativa mais tradicional. Mas ao longo do tempo o jogo foi mostrando seu foco em alquimia, nos personagens e ainda uma valorização de relações mais casuais durante a narrativa. Yumia e seu grupo foram personagens que fui aprendendo a amar. No começo, não estava me importando muito, porém me vi genuinamente emocionado com os personagens no último terço da aventura.

Para mim, Atelier é principalmente uma série que sabe trabalhar cotidiano, conforto e personagens, e mesmo que de maneira diferente dos demais, Yumia entregou isso. É um jogo que demorou um pouco para engatar comigo, mas quando engatou me encantou.

Mas qual é desse Atelier Yumia?

Atelier Yumia é um RPG de ação e mundo aberto (algo que se não me engano, começou em Ryza 3). Você joga com Yumia, uma garota que vive num mundo onde alquimia é considerada tabu desde a queda do império de Aladiss. Pouco se sabe da história de Aladiss, mas é sabido que foi um império próspero há centenas de anos e que, devido ao uso de alquimia, caiu em ruína. Após perder sua mãe, Yumia descobre que a mesma era uma alquimista, e a fim de entendê-la melhor e seu ofício, ela passa a estudar alquimia e se junta a um grupo de pesquisa que está realizando uma expedição até as ruínas do império de Aladiss, a fim de descobrir mais sobre o local.

O tema principal do jogo é memória, e o jogo trata desse tema de diversas formas. No jogo, nós temos a Mana, a fonte principal para o uso de alquimia, composta por memórias, sejam elas relacionadas a objetos ou a sentimentos gerados em certos locais. O que a alquimia nesse jogo faz essencialmente é recriar coisas com base em memórias. Além do aspecto da lore, o jogo fala de memórias no sentido de estudar história. É falado diversas vezes sobre a importância de que deixar a história trágica de Aladiss no esquecimento foi um erro e que, para a sociedade progredir, é importante olhar o passado. O tema também é forte para o arco de vários personagens, que tem abordagens bem interessantes num geral. Explorando Aladiss você encontrará algo inusitado à franquia: um grupo de vilões.

A história do jogo tem arcos e momentos dramáticos mais pesados do que Atelier costuma entregar, mas ainda existe uma certa leveza no mundo e personagens. Tem muita gente que vai se incomodar com redundâncias e flashbacks que parecem subestimar sua inteligência, mas eu diria que o jogo sabe ser sutil onde realmente importa.

 

Um mundo gostoso de explorar

O ato de travessia e exploração é bem simples, mas com um loop engajante. Você está o tempo todo coletando itens pelo cenário para criar itens para alquimia, com alguns pequenos puzzles, que são simples, mas que funcionam para não deixar o jogo soar repetitivo demais. A sensação de progresso é contínua no jogo, em momento algum eu sentia que estava “perdendo tempo” explorando algo. Você subir de níveis com uma frequência bastante alta contribui para esse sentimento de progresso contínuo. É um jogo que a todo momento você está ganhando um item novo, um nível novo, uma receita nova para alquimia.

Até existem upgrades para como você faz a travessia. O jogo lhe dá uma moto e, no futuro, há a possibilidade de fazer wall jump com ela, também há upgrades para salto duplo e triplo, facilitando a exploração vertical.

Yumia anda com uma Gunstaff, um cajado que também é um trabuco, que as vezes você usa para atirar em inimigos, resolver puzzles e coletar minérios.

Eu encontrei alguns bugs típicos de mapas de mundo aberto. Nada que um patch day one não deva corrigir, mas passei por algumas frustrações, ficando preso em mapa, parando onde não devia, etc. Joguei o jogo num notebook com placa RTX 3050 e rodou bem na maioria das vezes, mas tive problemas de performance em alguns pontos do jogo. Uma coisa curiosa foi que a primeira área ficou retroativamente mais pesada. Depois que explorei ela quase por completo e fui para outras áreas, sempre que voltava para o começo do jogo, ele tinha quedas bruscas de framerate

Tão complexo quanto você quer que seja

Além da exploração, o jogo tem mais dois pilares: alquimia e combate.

A mecânica de alquimia é feita para a criação de itens e equipamentos. Para criar itens, você necessita de outros itens que são o “núcleo” de sua criação, e dentro desse núcleo você pode colocar outros tipos de itens. Dependendo do que você colocar, tanto do quão algo ressoa com outro quanto da qualidade dos itens, o efeito da sua criação será melhor ou pior.

É possível fazer armas muito poderosas, armaduras que aumentam muito o ataque e várias outras coisas brincando com o sistema de criação de itens. Também é possível só botar a opção de escolher tudo automaticamente e nunca prestar atenção nesses aspectos. 

O combate do jogo tem diversas camadas. Você tem diversas skills que possuem cool down e movimentação mais ou menos livre, permitindo se esquivar e defender. Quanto mais você desviar com precisão, usar counters, ações em conjunto com parceiro, mais aumenta seu Battle Rate, recurso que quanto mais alto, mais rápido suas skills recarregam. Na prática, quanto melhor você jogar, mais frenético a ação do jogo fica, lhe permitindo atacar cada vez mais e mais rápido.

Dito isso, eu só aproveitei o combate de verdade quando aumentei a dificuldade para o Very Hard, pois na dificuldade padrão senti que o jogo era fácil demais e não me compelia a engajar com seus sistemas.

Jogar em dificuldades maiores, me fazendo prestar atenção nos equipamentos, nos movimentos dos inimigos e na importância de trocar constantemente de personagens na batalha, foi essencial para eu sair positivo com o combate do jogo.

Na reta final, o jogo até teve uns picos de dificuldades, mas nada excessivamente punitivo.

 

No fim, uma ótima perspectiva do futuro da franquia

Atelier Yumia: The Alchemist of Memories & the Envisioned Land é um jogo com estrutura renovadora na franquia, mas sem esquecer o que faz Atelier tão especial. Mesmo demorando a engatar, o jogo tem momentos chave que me cativou e me ensinou a amar o elenco do jogo. É um jogo que se assemelha a um RPG convencional em diversos tropos, mas com toques que só quem trabalha muito bem personagens e valoriza o cotidiano sabe colocar e acertar. Alguns fãs de longa data podem se sentir um pouco perdidos, principalmente no começo, mas se receber esse jogo de braços abertos, ele terá muito a lhe oferecer.

Nome do jogo:

Atelier Yumia: The Alchemist of Memories & the Envisioned Land

Publisher:

Koei Tecmo Games

Desenvolvedora:

Gust

Plataformas Disponíveis:

PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X, Nintendo Switch

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