Crítica: Avatar: Frontiers of Pandora é uma amalgama de ideias batidas

Escrito por Jean Kei
Crítica

Avatar: Frontiers of Pandora é o mais recente produzido pela Massive Entertainment, estúdio da Ubisoft, baseado na franquia de filmes produzidos e dirigidos por James Cameron. Ambos os filmes lançados até o momento são sucessos estrondosos de bilheterias, tendo o ponto forte em seus primores técnicos. Era de se esperar que alguma hora ganharíamos um outro jogo que se passa naquele universo, e, bom, chegamos aqui.

Serei direto, meu sentimento com o jogo é parecido com a franquia de filmes: Algo tecnicamente muito competente porém muito desinteressante.

Avatar é uma franquia que toca em temas importantes, como ambientalismo e colonização, mas não adianta você ter os temas mais interessantes do mundo se você os trata de forma rasa.

É um jogo até um pouco difícil de falar, porque tecnicamente falando ele não faz nada de muito errado, mas ele é tão sem sal que qualquer erro que relevaria em outros jogos, aqui me irrita muito.

Mas bem, vamos por partes.

Qual a premissa de Avatar Frontiers of Pandora?

O jogo é uma história paralela da do filme, se passando em outro continente. Aqui você é um Na’vi que foi sequestrado junto de outras crianças por humanos durante a infância pra um programa de diplomacia. A ideia era fazer você e as outras crianças crescerem ao redor dos humanos, aprender sua cultura e ao crescer, trabalhar para eles servindo de ponte entre Na’vis e humanos.

Claro que esse plano é executado de uma forma caricatamente cruel, o que leva você e seu grupo a se rebelarem contra os humanos no momento em que da um problema na base e vocês ganham uma chance de escapar.

E este é o plot básico do jogo. Você está aliado a um grupo de resistência contra a RDA, o grupo militar colonizador que te explorou e precisa livrar Pandora deles e de suas influências no planeta.

Tal qual o filme, o jogo é muito bonito

Avatar: Frontiers of Pandora é um jogo com cenários bonitos. Graficamente ele é muito competente e o mundo de Pandora é visualmente interessante e colorido. Andar por locais a noite e ver um bioma iluminado naturalmente é encantador. O jogo sabe disso e vai te colocar em vários momentos que envolvem contemplar belos cenários.

Também gosto do senso de escala do jogo, em como quando você anda por construções humanas, precisa constantemente se agachar pra passar por lugares, pois os Na’vi são muito maiores que humanos. Essa noção, principalmente no começo, passa legal o senso de liberdade quando você está pela natureza e de sufoco e opressão em instalações humanas.

Dá para imaginar esse jogo originalmente pensado como uma experiência VR. a atenção que deram em certos momentos de contemplação de cenário e como você interage com eles em primeira pessoa é legal.

E esse provavelmente é meu último elogio ao jogo.

Tal qual o filme, o jogo é muito raso e desinteressante

Como eu disse lá no começo, a narrativa desse jogo é rasa.

Os personagens são muito desinteressantes e os diálogos do jogo são muito mecânicos. A sensação que tenho é que o jogo preenche uma “checklist” de temas, mas quem está escrevendo não se importa de verdade com nenhum deles.

Por exemplo, o jogo aborda o afastamento cultural que seu personagem sofre, até cita a pouca proximidade que alguns personagens tem com o idioma Na’vi, mas é muito raro você ver Na’vis falando em seu idioma entre eles, nem frases curtas e muito raramente palavras isoladas. Arrisco dizer que ouvi mais italiano jogando Asssassin’s Creed 2 do que ouvi Na’vi jogando Avatar.

Não há nuance nenhuma nos personagens, os vilões são caricatamente malvados. Todo o começo com o plano de formar embaixadores parece idiota pelo quão a maioria dos envolvidos tão desinteressados em tratar bem os Na’vi.

E, estranhamente, ao mesmo tempo que o jogo quer que eu acredite que o grupo do protagonista foi tratado de forma cruel e desumana, ele quer que eu acredite que é cabível uma espécie de carinho entre um dos personagens e o vilão principal.

Sério, uma hora depois de uma cena onde uma pessoa próxima a você é morta a tiros na frente de todo mundo, um dos personagens questiona que o vilão “quer os proteger”.

Existe o tropo de um personagem mais ligado a humanos e outro que os rejeita fortemente, o que poderia ser interessante se bem trabalhado. Contudo, como dito antes, o jogo não se da o trabalho nenhum pra fazer essa relação seja crível.

O jogo bate sempre na tecla da forma mais óbvia e rasa possível de “humano mal, humano destrói, humano coloniza” que nas pouquíssimas vezes que ele tenta adicionar uma camada de complexidade, só fica estranho demais.

E o jogo quer que você se importe com a história

É muito fácil olhar pra esse tipo de jogo e pensar “porque você está criticando tanto isso, claramente eles não se importam com a história”. Esse tipo de pensamento é uma armadilha, pois o jogo tem várias sidequests e cenas que constroem uma narrativa e os personagens. Por mais que as coisas sejam má escrita, o jogo claramente está me empurrando a ideia de que quer que eu me importe com o contexto do mundo e dos personagens.

E sinceramente, abandonei esse jogo, se ele tivesse uma escrita melhor e personagens interessantes, provavelmente teria jogado até o fim para ver toda a narrativa.

Geralmente acho importante jogar um jogo até o fim, para falar dele como um todo, mas comunicar que larguei de mão depois de 16 horas também significa algo. Não é impossível ter algo cativante mais pra frente no jogo, mas se tudo é desinteressante por tanto tempo, meu sentimento constante com o jogo era de “perda de tempo”.

Mas e a gameplay?

A gameplay de Avatar: Frontiers of Pandora é nada mais que um Far Cry com algumas diferenças e um pouco mais sem graça.

Aqui temos um mundo aberto, com vários sistemas simplórios: árvore de habilidade, craft, cozinha, coleta de itens e caça… Tudo de uma maneira formulaica que você provavelmente já conhece, caso tenha jogado qualquer jogo da franquia da Ubisoft.

Muitos materiais e animais ficam inacessíveis no começo devido a poluição que a RDA está fazendo, e é preciso destruir suas instalações predatórias para limpar o ambiente e ter mais recursos. E claro que há muitas instalações com dinâmicas muito parecidas.

Aqui você vai se ver fazendo as mesmas coisas em poucas horas. Até em dado momento o jogo me deu um minigame um pouco diferente envolvendo contemplar o som e a natureza. Para logo depois isso virar um minigame recorrente para preencher coisas no mapa.

Temos uma variedade pequena de armas e nenhuma é particularmente gostosa de usar, tudo funciona bem, mas nada é especial.

Isso poderia passar batido e ser um jogo de “desligar o cérebro” divertido, mas há algo que impede…

O jogo incentiva exploração mas o design é muito ruim

Esse jogo me fez apreciar muito mais o mundo aberto de The Legend of Zelda.

Em Zelda, temos um mundo gigante para explorar, mas as coisas estão dispostas de uma forma que você sempre está vendo algo interessante para ir e pode fazer diversas entre o caminho AB. Andar por aquele mundo é recompensador e cativante.

Em Avatar: Frontiers of Pandora, também temos um mundo gigante pra explorar, mas andar por ele não é tão gostoso assim, não há muito o que fazer além das constantes caças para ter ingredientes e a quantidade de itens faz com que caso você queira algo especifico, tenha risco de perder muito tempo.

O jogo não entrega muita coisa de mão beijada com um ponteiro, apenas lhe dando uma descrição de onde encontrar o item, então você olha num mapa ruim, vê um lugar aonde a descrição bate e vai lá. Na teoria, é algo imersivo e legal, na prática, é uma burocracia onde as vezes você fica perambulando pelo mesmo lugar até achar uma coisa especifica.

 Ah, e esse jogo está totalmente localizado

O jogo tem dublagem e legenda em português, o texto está ok, mas a dublagem nem tanto.

O texto num geral funciona bem, percebi poucos erros e inconsistências, como um termo que na cena diz algo e na descrição diz outro, mas nada que te impeça de compreender.

Já a dublagem achei bem ruim. O tom dos personagens é esquisito e as vezes as pronuncias são inconsistentes, tem bastante voz repetitiva e algumas que não combinam.

No jogo você pode escolher um personagem de gênero neutro, e os personagens na dublagem se referem a você na linguagem neutra na dublagem também. Alguns jogos escolhem não dublar pronomes ou ficam meio inconsistentes, aqui, o pronome que você escolher será falado de forma natural, então ponto positivo.

No fim, senti que perdi meu tempo

Eu não queria ter dropado esse jogo, não gosto de dropar jogos.

Mas sendo honesto comigo mesmo, depois de um tempo, toda vez que jogava ele pensava que poderia estar jogando algo mais interessante. Até aqui para o site, quando pensava em escrever sobre esse jogo, pensava em outros textos de outros jogos que seriam muito mais interessantes de serem lidos.

Isto foi o que senti no fim das contas.

Avatar: Frontiers of Pandora é uma amalgama de várias coisas batidas que já vi, não é necessariamente ruim, mas foi uma perda de tempo.

Se você for muito fã de Far Cry e se cativar com o mundo e personagens do James Cameron, talvez esse jogo seja para você.

Caso contrário, jogue qualquer outra coisa.

Nome do jogo:

Avatar: Frontiers of Pandora

Publisher:

Ubisoft

Desenvolvedora:

Massive Entertainment

Plataformas Disponívies:

PC, Playstation 5, Xbox Series S|X

Nota: 4

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge