Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Pouco menos de 14 anos depois, a franquia Bleach, de Tite Kubo, finalmente ganha um novo jogo voltado para consoles. O último havia sido Bleach Soul Ressurection para o PS3. A verdade que Bleach teve um período pós do fim do anime e do mangá sem muito destaque. Ainda bem que com a adaptação do último arco da obra em anime os holofotes tenham voltados a tona para a franquia e com isso chegamos até Bleach: Renascimento das Almas, que se trata de um jogo de luta em arena 3D, desenvolvido pela Tamsoft e publicado pela Bandai.
Eu particularmente gosto muito de Bleach e também costumo gostar desses jogos de luta em arena de anime, então assim que o jogo foi anunciado eu fiquei empolgado. Claro, que sempre fico com um pé atrás pelo histórico recente de jogos do gênero, mas a primeira sensação foi empolgação com certeza.
Durante o marketing do jogo, a empolgação particularmente não subiu, mas fiquei curioso com o que estavam fazendo, pois por mais que seja mais um jogo de luta em arena 3D, o que estava sendo apresentado parecia tentar criar uma identidade bem única. Então, com esse apreço a Bleach, uma certa empolgação e uma leve curiosidade mergulhei de cabeça nesse jogo e agora relato meus achados.
O enredo do jogo é o mesmo do mangá/anime. Ela segue o ponto de vista de Ichigo Kurosaki, que é um colegial comum — até que sua família é atacada por um Hollow, um espírito corrupto que busca devorar almas humanas. É então que ele conhece uma Ceifeira de Almas chamada Rukia Kuchiki, que se machuca enquanto protege a família de Ichigo do agressor. Para salvar sua família, Ichigo aceita a oferta de Rukia de tomar seus poderes e se torna um Ceifeiro de Almas como resultado.
A partir dessa premissa inicial a história vai se desenrolando e ganhando várias camadas de complexidade. E o jogo trata de contar toda essa história até o arco da batalha em Karakura contra Aizen, deixando de englobar os dois arcos finais: Fullbringers e Thousand-Year Blood War.
Devo dizer que de todos os jogos de anime de luta que joguei, esse é o mais completo no modo história. Ele conta realmente o que aconteceu, com um bom número de detalhes para jogos do gênero. De jogos de anime, que buscam recontar a história original, que eu joguei, esse aqui só perde para Dragon Ball Kakarot (que é um jogo feito justamente para contar toda a história).
Claro que ele não é perfeito e deixa alguns detalhes e personagens de fora, mas no geral ele faz muito bem o seu trabalho em contar o que acontece em Bleach. Eu me senti vendo o anime basicamente, numa versão mais simples e resumidinha. Ainda mais que toda campanha é feita usando cenas com o gráfico in-game e não os tradicionais “slides” de jogos do tipo. Só quando algum personagem vai narrar o passado eles usam a narração de fundo com umas imagens no estilo do anime, mas que ficaram muito bem feitas, gosto dessas cenas e são poucas e para flashbacks como disse.
Entretanto, ser o mais completo e usar cenas in-game não o tornam um modo história perfeito. Ele pode ser bem completo, mas o ritmo é bem ruim. As cenas da história são bem longas, o que por si só não é um problema, mas como o jogo funciona em selecionar a fase, ver a cena e aí lutar, a gente acaba ficando muito tempo parado. Diferente do Kakarot, que ir até uma cena já é um tipo de jogabilidade, aqui é só mexer em menu, criando às vezes um ritmo cansativo.
Além disso, apesar de resumir bem os pontos principais da obra, tem alguns cortes meio difíceis de entender. No último arco adaptado, onde acontece uma grande batalha, eles cortaram alguns personagens, com uma importância pelo menos média, então cenas de batalhas são alteradas, pois tem personagem faltando para lutar. Foi uma escolha que não entendi muito bem, já que nem todo personagem que aparece é jogável, então não vi sentido em retirar eles das cenas.
O fato deu ter elogiado que eles não ficam abusando de “slides” para contar a história, também não é totalmente um elogio. Já que não é como se o gráfico in-game fosse grande coisa, então as cenas não são necessariamente interessantes. Elas funcionam e eles tentam, às vezes, fazer um jogo de câmera meio diferente, mas ainda é um cena bem crua e que não passa emoção nenhuma. Cenas épicas e clássicas da obra ficam sem sal aqui, principalmente cenas de transformação, que em vez de ter uma animação legal (que existe no jogo), o personagem só aparece já transformado.
Então, temos um modo história completo, mas não perfeito. Eu assisti ele todo sem pular ou tentar acelerar, pois eu tava com uma certa vontade de consumir a história de Bleach novamente, algo que eu nunca fiz do início ao fim certinho. Só que mesmo nessa mentalidade, ela foi cansativa, bem longa e eu só ficava animado com as cenas por lembrar de como elas eram no mangá/anime e não necessariamente por como estavam me mostrando.
O jogo tem um modo extra da campanha que conta com algumas histórias secretas para alguns personagens. Antes de jogar eu achei que seriam só história extras meio aleatórias, mas eles têm algumas que se passam em cenas da campanha, mas dessa vez contando da perspectiva de outro personagem. São interessantes, mas também não essenciais, exceto se você for querer completar tudo e pegar conquistas. Assim como jogos do gênero, como os Narutos Storms, as batalhas tem objetivos extras para se fazer.
Acho justíssimo destacar que esse jogo é CHEIO de vídeos de abertura que tocam quando se inicia ou em durante os capítulos da campanha. Cada um meio que tem um estilo próprio e busca espelhar um determinado momento da história e todos são muito legais. No geral a arte desse jogo é 11/10. Os menus são MUITO estilosos e a UI é bem feitinha. É um jogo com bastante estilo, ou tem o drip como diriam os jovens.
O que faz Bleach Renascimento das Almas se diferenciar da penca de jogo de anime de luta em arena 3D são suas mecânicas de batalhas. Ao ler minhas explicações pode ser que soe confuso, mas jogando não tem confusão. O que pega mais é lembrar os nomes específicos das mecânicas.
Nesse jogo os personagens têm um número X de Konpaku, que seria basicamente sua vida. Aqui não batemos diretamente na vida do oponente e sim na sua barra de Reishi, que funciona como uma armadura. Ao esgotar o Reishi do adversário podemos realizar um ataque Kikon, tipo um especial, e aí tirar Konpaku do oponente.
Se esgotamos a barra Reishi a zero, nosso ataque Kikon vai tirar um de Konpaku a mais. Só que, podemos dar dano no Konpaku quando a barra Reishi fica em torno de 30%. Isso cria durante a batalha um nível de estratégia em saber o momento de atacar o Konpaku do inimigo, para tirar maior vantagem possível do seu ataque. Até porque quando a barra Reishi diminui, ela fica um pouco mais resistente, então tem que pensar se vale a pena o esforço de esgotar naquele momento os 30% restante.
O número de Konpaku destruída pelo ataque Kikon vai variar também pelo seu estado na batalha. Como disse, o Kikon é tipo um especial que usamos, e podemos mudar o especial que vai ser usado ao atingir certas condições. A mais óbvia delas é atingir o Despertar, que é uma transformação (pode ser Shikai, Bankai, Ressurection ou algo do tipo). Para usar o despertar preenchemos uma barra de Espírito de Luta quando tomamos ou infligimos dano.
O despertar, diferente de muitos jogos do gênero, é algo permanente (menos em 2 personagens, por questão de balanceamento). Alguns personagens têm mais de um nível de despertar (Ichigo Bankai, Aizen, Ulquiorra, Uryu), que o jogo chama de Redespertar. Os personagens com essa mecânica preenchem a barra de Espírito de Luta mais uma vez ou por alguma condição mais específica. Os personagens que não tem o Redespertar, quando enchem a barra de Espírito de Luta novamente entram num estado de Sublimation e isso muda o golpe Kikon deles para um mais poderoso.
Além dessas mecânicas, os personagens podem realizar um ataque rápido, pesado ou único. O ataque pesado muda se você está no neutro ou movendo analógico. É possível bloquear enquanto nossa barra de bloqueio não estiver esgotada. O jogo tem um Breaker, que é basicamente um agarrão e que pode superar um bloqueio. Temos 3 tipos de movimentação, pequenos passos para se locomover, um dash para frente e um teleporte até o oponente.
O teleporte gasta a nossa barra de reversão, que é uma barra que vai se preenchendo sozinho, e que nos permite ativar uma ação de reversão em que podemos usar para quebrar um combo do oponente e empurrá-lo, além de ficarmos por um tempo mais forte e com um pouco de escudo.
Para finalizar com as mecânicas, existem dois ataques de pressão espirituais. O ataque 1 gasta um bloco da nossa barra de pressão espiritual e o ataque 2 gasta dois blocos. A nossa quantidade de blocos depende do personagem e do estado que ele está.
Eu quis separar uma sessão só para as mecânicas, pois acho que são bastantes e pelo tanto de nome pode deixar um pouco confuso, mas aqui tendo explicado o básico do jogo, queria elaborar no que essas mecânicas geram e na minha sensação usando elas.
Como dito um pouco já, essa mecânica de armadura dos Konpaku cria no jogo uma certa estratégia em saber o momento certo de tentar tirar um Konpaku extra ou não. Só que quando isso se alinha com as outras mecânicas temos ainda mais camadas, pois a parte central do jogo é a todo momento tentar te dar uma ferramenta de reviravolta.
Eu, por exemplo, não acho que você ser opressor no começo da partida signifique tanta coisa assim, pois você vai estar no seu estada mais “cru” e o oponente que apanhou ativa um despertar, pega uma Sublimation e tira o mesmo número de Konpaku ou até mais do que você tirou no início. Então, dosar e saber os momentos certos é o grande ponto do jogo.
Outro fator importantíssimo, e que infelizmente eu sofro por ter dificuldade, é o posicionamento. O jogo trabalha direções tipo Tekken e é muito rígido com distância. Então, saber se aproximar e mudar de eixo é extremamente importante, seja defendendo ou atacando. Se você erra um ataque, toma um bloqueio ou algo parecido, o jogo não te polpa em te deixar todo exposto, então avançar na louca é muito punível no jogo.
Como dito, as distâncias aqui são muito rígidas e o jogo faz questão de te afastar sempre. Tem muita rota de combo aqui para os personagens, mas se você não sabe e atacar meio aleatório, muitas vezes o jogo vai terminar seu golpe afastando o oponente. Então, você tem que saber se aproximar rápido para recuperar a iniciativa e continuar uma pressão. Logo, se afastar também é importantíssimo para saber evitar essa pressão e poder criar brechas nos ataques do oponente.
Eu não sou um expert em jogo de luta, então não vou arriscar a tentar quantificar o quão complexo pode ser uma batalha em alto nível nesse jogo, mas acho que de topos os jogos de luta de anime mais casuais (logo, exclua-se FighterZ) que joguei esse seja o mais complexo pelas suas mecânicas únicas e estilo de batalha. Como disse, existem muitas rotas de combo, coisas para otimizar que nem alguns jogos de luta menos casuais. O jogo tem o modo treinamento que é bem completo mesmo, parecendo num certo nível desses jogos com competitivo, um negócio impressionante para jogos de anime.
Só não acho que isso torne esse jogo mais “hardcore”. Ele ainda é mais casual que esses jogos de luta mais “profissionais” e pode muito bem ser aproveitado por uma fã casualzaço de Bleach. Só acho que aqui a diferença entre um bom jogador e um casual é mais evidente que o um Sparking Zero ou Ultimate Ninja Storm. E acho que para o fã mais “hardcore” a diversão vai durar mais e ele vai demorar mais para enjoar.
Falando um pouco dos personagens, eles não são poucos para um jogo atual de luta, ainda mais considerando o primeiro de uma série, mas eles também não são muito considerando Bleach em si. Eu senti falta sim de alguns personagens. Temos os mais importantes e temos alguns meio random, mas acho que alguns de alguma importância ficaram faltando. O que é preocupante, pois eu não sei se teriam peso para ser uma DLC e num sequência o foco seria nos arcos que faltam e ainda entra personagem para caramba.
Outra coisa é que eles tentam deixar os personagens bem únicos, fazendo mecânicas diferentonas para eles e tentando deixar fiel aos poderes na obra. Isso com certeza gera personagens interessantes, mas ainda sim eu não sinto que eles geraram personagens tão únicos assim.
Muitos são únicos numa transformação, em um golpe específico, mas não no todo. Tem muito golpe básico, único ou até mesmo de pressão espiritual que é bem parecido. A quantidade também de golpe que é um counter nesse jogo. Parece que quando eles não sabem o que fazer eles falam: “coloca um counter ai nesse maluco que ta bom”.
Então, eu tenho essa sensação de dualidade com os personagens do jogo. Ao mesmo tempo que acho que eles tem suas diferenças e os desenvolvedores trabalharam bem suas particularidades na obra, eu também sinto que eles não foram tão criativos assim em tentar expandir esse personagem. Parece que eles não souberam trabalhar fora da casinha do básico que aquele personagem faz.
O melhor exemplo que posso dar é a Orihime. Ela, diferente de muitos jogos antigos, não é jogável aqui e eu acho isso um absurdo. Ela pode não ser a mais forte e lutar pouco, mas ela é uma personagem central de Bleach e tem como trabalhar com ela. Eu sinto que essa “limitação” deles impediram de fazer algo nem que fosse cômico. É algo que não sinto em Ultimate Ninja Storm que tem a Kushina (mãe do Naruto) que ataca com a zorra de uma frigideira ou com Sparking Zero que tem o Mister Satan.
Então, na parte de elenco eu me apeguei a jogabilidade de poucos personagens e consigo ver claramente alguns dos queridinhos que tiveram mais atenção (Ichigo, óbvio). Por isso acho que fizeram o mínimo com o elenco, dava para ser muito melhor, mas não é de todo ruim.
Chegou a infeliz sessão que falo de pontos problemáticos do jogo ou de coisas que diminuíram minha experiência e não se encaixam necessariamente nos outros parágrafos.
Começando por uma parte mais técnica, no Series X que foi onde eu joguei, o jogo parece estar numa resolução abaixo do que deveria ou parece estar borrado em vários momentos. O jogo não parece ta em 4K ou o antialising não parece ta funcionando muito bem (ou funcionando no geral). Gerando um visual pior do que deveria e dando a sensação que nos trailers o jogo estava mais bonito. Isso parece algo da versão de console em si, porque vi gente do PS5 reclamando das mesmas coisas.
Fora isso na parte de desempenho rodando o jogo foi tranquilo. Tive problema com crash quando tentei procurava por salas no online e uma vez durante a campanha. Foram crashes bem chatos para falar a verdade, mas foram 3 em umas quase 40h de jogo. Não da para comparar com a versão de PC, que literalmente estava injogável para a maior parte dos jogadores no lançamento. Já rolaram alguns patchs de correção no PC, mas não sei dizer exatamente o estado que se encontra, então se for comprar essa versão pesquise bem antes.
Um ponto muito negativo do jogo e que deve começar a pesar no orçamento do jogo é o seu conteúdo. O modo história é robusto sim, leva boas horas (mais de 20h) se você não for pulando as cenas e temos partidas online ou offline local, mas fora isso só tem um modo de missão que faz você lutar com oponentes por algumas rodadas até vir o final e você concluir. Esse modo possui três dificuldades.
O próprio modo online é limitadíssimo, já que você só pode procurar/criar sala ou buscar uma partida rápida. Não existe ranqueada aqui, não existe torneio (online ou offline), é só isso. As salas do jogo também é um negócio tenebroso já que só pode duas pessoas por sala.
Realmente faltou trabalhar em mais modos e ampliar os poucos que tem, já que um jogo com um potencial um pouco acima do gênero para competição tem o online limitado sem ranqueada. Além disso é mais um caso de jogo sem crossplay né. Já se trata de um nicho e com cada ecossistema isolado o que se tem é uma base de jogadores separadas e dispositivos que vão ficar vazios logo logo. O jogo também não utiliza de rollback, o que é uma pena, mas ai reclamo menos para um jogo do estilo.
Se eu fosse resumir minha experiência com Bleach Renascimento das Almas eu diria que foi vivenciar extremos de emoções. Eu gosto da franquia, gosto de jogos de luta em arena 3D de anime e gostei desse jogo. Só que ao ir “degustando” dele eu passei por diferentes sensações. Em um algum momento eu tava odiando o ritmo meio quebrado e alguma luta mais chata da campanha. Em outro eu tava adorando entender melhor as mecânicas do jogo e como o personagem que estava usando se encaixava nela.
É um jogo que consigo encontrar motivos para odiar e para amar, e que no final das contas me faz ficar jogando e fixado de uma maneira que não sei explicar direito o motivo. Seja com suas partes boas ou com as ruins o jogo me marcou de alguma forma e me vejo jogando ele por mais tempo e esperando suas DLCs.
Eu acredito que seja um bom jogo para aproveitar Bleach em 2025, seja revendo a história ou apenas caindo na porrada com os personagens contra a CPU ou outra pessoa. Com uma das história mais completas para um jogo de luta de anime, ele é perfeito para quem nunca consumiu Bleach. Só que ao mesmo tempo eu me pergunto o quanto de alcance o jogo teria com alguém que se encaixe nessa descrição.
Seu combate também agrada os casuais, mas principalmente o jogador que queria se aprofundar um nível a mais na jogabilidade. Infelizmente limitações do online, falta de crossplay e um netcode melhor podem atrapalhar quem quer mergulhar de cabeça, mas não estragar totalmente a experiência. Torço para uma futura sequência e uma lapidação maior das suas qualidades e ajustes dos defeitos.
Bleach: Rebirth of Souls
Bandai Namco
Tamsoft
PC, Playstation 5, Xbox Series S|X