Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Nos materiais promocionais de Call of Duty Black Ops 2 era constantemente utilizada a frase “the future is black”. Hoje, 12 anos depois desse jogo e quase no ano em que boa parte de sua campanha se passava, é nítido que eles estavam duplamente certos: tanto no que se referia ao estado geral do futuro, como o futuro da marca Call of Duty. Isso porque, com os reboots de Modern Warfare, a série conseguiu manchar seu nome mais popular e agora recorre a Black Ops para carregar sua relevância.
Considerando o estado geral das coisas, existiam expectativas de Call of Duty Black Ops 6 reviver um pouco da glória da série, e por mais que ele talvez não corresponda a essas expectativas completamente (principalmente a depender de quais modos você gosta), é bom reencontrar um semblante do que tornou essa série tão querida para mim.
Talvez o aspecto de Black Ops 6 que eu mais tinha curiosidade de experienciar era sua campanha. A série Black Ops conseguiu construir um lore bem interessante ao longo dos anos, e a ideia de preenchermos os anos “vagos” entre os dois extremos da franquia – o primeiro e segundo jogo – tinha funcionado até então. A última edição, Cold War, tinha uma campanha sucinta e intrigante, que reutilizava certos aspectos do primeiro Black Ops com elegância e entregava uma narrativa que tornava-se muito pessoal ao seu final – ao mesmo tempo que fazia observações interessantes (mesmo que limitadas) sobre o fato que os Estados Unidos nunca foram verdadeiros “mocinhos” da história. Dado essa elegância surpreendente a tratar de um período conturbado da história do país, acho que era justo – e um tanto necessário – esperar que eles tratassem o começo das investidas dos EUA no Oriente Médio com o mesmo tato.
A campanha que temos aqui é… estranha. Você assume controle de um personagem novo na série e é jogado de imediato em conflitos que os EUA estavam começando no Oriente Médio, onde você perde um refém e é colocado na “geladeira” da CIA. Com isso, você e os outros personagens começam a operar nas sombras e descobrem uma grande conspiração envolvendo as agências de inteligência. Na teoria, a base da narrativa é bem similar a outras de Call of Duty e teria espaço para gerar algo engajante, mas a verdade é que, em contraste a Cold War, Black Ops 6 não torna nenhum momento particularmente pessoal. Você tem os mesmos elementos já comuns à franquia – política americana, espionagem internacional e experimentos desumanos – mas me parece que são todos colados uns nos outros sem envolver o jogador. Seu personagem, apesar de ter um background sinistro que parece ter consequências mais sérias na história, é apenas um espectador dos eventos que ocorrem ao seu redor em grande parte. Some a isso o fato que as tensões políticas da época não recebem praticamente nenhum comentário pertinente como em Cold War, e o que sobra é uma história sem real razão para investimento.
O que é particularmente estranho é o jogo parece se esforçar em partes pra tornar sua missão mais pessoal, mas não integra isso ao resto. Durante os trechos entre missões, você frequenta uma casa em que pode interagir e conversar com seus colegas – todos muito interessantes e carismáticos – e isso adiciona uma humanidade muito bem-vinda a esses novos personagens. Você também tem missões sobre a história pessoal do protagonista que, apesar de se distanciarem demais da temática do resto do jogo pro meu gosto, poderiam ser bem utilizadas. Mas fora esses elementos que vivem em um vácuo, não existe quase pessoalidade na narrativa como um todo. Do jeito que esses elementos são presentes, porém desconexos, me parece às vezes que foram todos apenas encaixados por partes diferentes do time que não se conversavam, e acabaram não contribuindo umas às outras.
O que ajuda a cementar meu sentimento meio misto com a campanha é como o jogo precisa que você esteja constantemente online para jogá-la. Múltiplas vezes durante meu tempo com ele minha internet flutuou e imediatamente fui jogado pra fora da missão. Apesar do jogo fazer checkpoints com frequência, caso isso aconteça em uma cutscene pré-renderizada entre missões, você perde aquela cutscene para sempre. Ainda assim, apesar disso e dos tropeços narrativos, o jogo está mais divertido do que nunca de se jogar. Sendo uma das campanhas mais longas em Call of Duty, ela traz os melhores aspectos da mecânica de stealth de Cold War, ao mesmo tempo que expande o conceito das Open Combat Missions de Modern Warfare III, com um trecho de mundo aberto com missões a cumprir que você pode explorar à vontade – e é recompensado por isso.
Mesmo com a simplicidade de objetivos nessas missões diferentes, dá pra ver que eles estão expandindo bem as novas mecânicas introduzidas em jogos passados, e no processo estão abrindo espaço para campanhas mais longas e trabalhadas. Eu só espero que, no futuro, esses jogos consigam casar melhor a narrativa com essas mecânicas.
Já o multiplayer, parte mais importante desses jogos para a maioria do público, está em sua melhor fase. O modo tem uma mistura de combate armado mais próximo do moderno que vemos em Modern Warfare, ao mesmo tempo que mantém os acessórios e gadgets já conhecidos de Black Ops – o que une com sucesso os melhores aspectos de ambas as séries. Adicione a isso o novo sistema de omni-movement – que permite movimentos fluidos de câmera em 360 graus quando você está deitado ou pulando – e Black Ops 6 é tranquilamente o melhor multiplayer de Call of Duty em anos recentes.
É curioso notar o caminho que a série levou até aperfeiçoar o movimento nesse modo, desde a introdução do dolphin dive em Black Ops, passando pelo flerte com jogo futuristas e seu movimento excessivamente frenético, até a introdução do deslize e, finalmente, o omni-movement. Esse caminho tortuoso não foi somente sucessos, mas é um aperfeiçoamento natural desse aspecto que é tão importante, e torna o simples ato da locomoção divertido. O que contribui com isso também é que os mapas, por onde você vai estar se locomovendo, são uma excelente seleção, que torna difícil apontar favoritos. Acrescentando a isso, os mapas de Strike – mapas minúsculos em que não se usam scorestreaks – proporcionam partidas mais frenéticas quando você quer variar um pouco, e tornam a seleção padrão excelente como um todo.
Ao mesmo tempo, a seleção de armas e a criação de classes também está excelente. Eu não jogo pra valer um multiplayer de Call of Duty desde o reboot de Modern Warfare, então não sei dizer o quanto disso tudo é novo, mas o sistema de perks e attachments das armas está em sua forma mais interessante. Ter uma gama de attachments para cada arma e a possibilidade natural de equipar 5 tipos diferentes permite uma personalização muito profunda das armas individualmente, e quando utilizados os wild cards corretos – como o que aumenta o número de attachments para 8 – é possível criar verdadeiras monstruosidades para variar seu estilo de jogo. Ao mesmo tempo, o sistema de perks que te permite ativar um quarto ao equipar 3 da mesma cor ajuda a evitar que exista uma build única objetivamente melhor, como ocorreu no passado. Em geral, essa customização profunda das classes e o retorno de prestiges garantem uma longevidade muito maior pra progressão de níveis.
Infelizmente coisas como o estado atual de Warzone e a qualidade do modo zombies fogem do escopo desta análise, pois não gosto e nem tenho experiência com esses modos. Ainda assim, dentro do escopo da campanha e do multiplayer, Call of Duty Black Ops 6 é um respiro aliviado pra série depois do desastroso Modern Warfare III. No multiplayer, ele faz uso dos melhores aspectos passados para criar uma experiência divertidíssima, e por mais que a campanha tenha sido decepcionante narrativamente, é inegável que houve um esforço de adicionar variedade e longevidade ao modo. Enquanto não é perfeito, esse jogo demonstra – tanto dentro quanto fora de jogo – que ainda existe espaço para Call of Duty se reinventar. Com a progressão do design geral e a disponibilização do jogo no Game Pass, eu consigo me sentir otimista pela primeira vez com o futuro da série.
Call of Duty: Black Ops 6
Activision
Treyarch
PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X