Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Crítica escrita por Marco Ángel
A aguardada continuação direta da reimaginação de Modern Warfare de 2019, Modern Warfare II chega aos consoles e milagrosamente de volta ao Steam no último dia 28 de outubro. Encabeçada pela já experiente de guerra Infinity Ward, o projeto conta com a ajuda de mais de oito estúdios – provando assim ser novamente fruto de mais uma força de trabalho absurda e cruelmente mecanizada que tanto discutimos na indústria de videogames.
Aguardado não só pelos seus belos visuais, novo modo battle royale, um especulado “modo de extração” – no estilo de Escape From Tarkov – e também pela jogabilidade mais pé no chão como é de costume da desenvolvedora, o jogo já debuta como um sucesso instantâneo de vendas. A verdade é que os fãs de Call of Duty esperam ansiosamente por uma fórmula de sucesso assertiva e viciante que prometa não repetir o desastre do lançamento do multijogador do seu antecessor, Call of Duty: Vanguard – esse que basicamente foi abandonado em seu lançamento com tantos problemas que não valem a pena listar aqui.
Mas não é do tão aguardado multiplayer que irei falar hoje, afinal ele acabou de sair e ainda preciso absorver bem essa experiência. Por isso, nesse meio tempo eu infelizmente me enfiei de cabeça em mais um grande teatro revisionista do imperialismo estadunidense: a sua famigerada campanha. Mas não se enganem, apesar de não gostar nada da campanha da maioria dos modern shooters, estou sim aproveitando meu tempo no multiplayer.
A campanha começa de maneira infame e junta os três povos que a máquina norte-americana mais odeia: árabes, russos e mexicanos – e cria motivos irreais para você atirar neles sem nó nem dó, como no verdadeiro “sonho americano”. Até para as pessoas mais fortes de estômago, o início é complicado, você atira em famílias e surpreendentemente, num melhor simulador de policial possível, é levado a apontar armas para civis em razão de “acalma-los”. Por outro lado, realmente admiro a coragem de abandonar a tentativa de criar uma campanha carregada de falso progressismo como em Vanguard, e assumir a verdadeira face cruel e sagaz do Tio Sam. Passe por cima de quem puder, para fazer o bem, o mal é justificável.
finishing war crime simulator later, been an insane journey, def learned a lot pic.twitter.com/poAPv9dh6V — hasanabi (@hasanthehun) October 24, 2022
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Call of Duty parece precisar manter (mesmo eu não sabendo a troco de quê) esse tom de filme de guerra genérico que se leva super a sério mas no final parece apenas uma piada. Essa é uma das minhas grandes reclamações em campanhas de modern shooters, onde os protagonistas tem apenas frases de efeito e sempre demonstram uma masculinidade e moral inabalável – o total contrário dos boomer shooters (ou retrô FPS, chame como quiser), onde o jogo sabe que é ridículo e se aproveita disso, tem total consciência da sua razão de existir e brinca com isso de maneira inteligente, focando muito mais em uma jogabilidade divertida, desafiadora e viciante.
Tudo isso dito e a minha insatisfação registrada, vamos continuar: a campanha apesar de tudo, apresenta uma boa variedade de missões, prestando homenagens a momentos icônicos da linhagem original de Modern Warfare da década retrasada: é fan service atrás de fan service, e quem tem alguma nostalgia com a franquia vai pegar muitas referências. Para completar a experiência, temos o retorno de personagens icônicos como Ghost e Soap, que apesar de toda a bobajada e tosquice em suas interações entre eles, é bom vê-los de volta e saber que vamos aproveitar para jogar com esses operadores clássicos no multiplayer.
Porém, mesmo com uma boa variedade de missões, algumas delas se estendem demais, prejudicando por vezes o ritmo da campanha. É fato que a equipe quer demonstrar novas e proeminentes mecânicas para futuros modos de jogo, como em uma missão onde você precisa aprender sobre o novo sistema de fabricação de itens (!), isso mesmo, você leu direito: o novo COD apresenta um sistema rudimentar de crafting. O problema aqui é que ele é usado em apenas duas missões, e simplesmente não faz sentido narrativo e para a progressão da campanha, afinal, tudo isso é apenas um grande tutorial. Tutorial esse, que provavelmente irá servir para o futuro e já confirmado Modo DMZ, que será no estilo de Escape From Tarkov, um jogo de sobrevivência, coleta de itens e extração, onde você precisa combater inimigos ou fugir de uma zona de perigo. E esse foi apenas um exemplo (de vários) de como a campanha tenta adicionar valor à experiência em detrimento do ritmo e fluidez da narrativa.
Aqui eu volto com minha crítica aos modern shooters, jogos esses estabelecidos por Call of Duty, Battlefield, Medal of Honor e outros. Na minha visão, eles se perdem totalmente no processo criativo: tentam cativar o maior público possível e acabam caindo na mesmice, parecem jogos feitos para quem não gosta de videogame: aquele jogo que seu pai vai parar para assistir e falar “pô, esse aí é foda, ein?”. Projetos esses que se perdem em meio ao financiamento da guerra e na restrição da liberdade criativa dos desenvolvedores. Exemplo rápido é a própria Raven Software, hoje apenas uma casca vazia do que já foi, restando apenas ser um estúdio de apoio na grande fábrica incansável de imprimir dinheiro com Call of Duty – antes, um estúdio incrível alinhado a idSoftware em outros projetos memoráveis como HeXen, Heretic, Wolfenstein e Quake.
Em meio a tudo isso, vale ressaltar e indicar Titanfall 2, um dos poucos exemplos de shooters modernos que se salvam dessa maldição, com uma campanha com ritmo quase perfeito, história cativante e multiplayer viciante que mistura de uma mobilidade que por vezes lembra os clássicos arenas como Quake e a interação com robôs gigantes, esses que possuem formas únicas de jogar. Uma pena esse jogaço ter sido esquecido e sabotado até pela publicadora, e mesmo Apex Legends sendo apenas uma fração disso, ele será nossa eterna lembrança que um possível Titanfall 3 jamais irá acontecer.
Assim como o Modern Warfare de 2019, Modern Warfare II é sustentado pelo novo e mais polido motor gráfico da desenvolvedora Infinity Ward, uma variação da eterna idTech. Visualmente, é o Call of Duty mais lindo que já vi, e também um dos melhores visuais em jogos no geral, apresentando momentos únicos e set pieces que inundaram a internet nos últimos dias. Esse motor gráfico, aliás, é o mesmo que a Activision pretende manter e unificar a franquia no futuro, aplicando-o para o tão aguardado Warzone 2.0, Warzone Mobile e todas as futuras entradas de Call of Duty. Uma decisão acertada, tendo em vista o código problemático do primeiro Warzone e a dificuldade que os desenvolvedores tinham para implementar novos assets e armas a cada lançamento integrado, seja da franquia anual ou dos passes de batalha.
E apesar de todas as implementações já esperadas pelos jogadores de PC, como suporte à monitores ultrawide e tecnologias como o DLSS, sinto que o jogo deixou a desejar em certos pontos técnicos: é estranho ver que o primeiro jogo em 2019 apresentava suporte a tecnologia de ray tracing, mas a continuação em 2022 não tem nada a respeito até o momento de seu lançamento. Em minha jogatina no PC e com relatos de colegas dos consoles, é fácil ver a dificuldade na otimização do jogo, onde a experiência por vezes quase foi comprometida por diversos crashs e fechamentos repentinos ou também por vezes onde o todo o ambiente do jogo começa “piscar” durante partidas do multiplayer. Preocupado com meu PC, fui acompanhar outras pessoas jogando, e percebi que as mesmas estavam sofrendo do mesmo problema. Outro relato comum de se encontrar por fóruns na internet, são pessoas que eram desconectadas dos servidores ao criar grupos de amigos para jogarem juntos.
Por fim, apesar da experiência decepcionante com a campanha e gosto amargo que fica por ter feito parte novamente do revisionismo histórico imperialista, espero poder me afundar mais no multiplayer nas próximas semanas em busca das variantes douradas das armas e conseguir um pouquinho de diversão superficial, só correr e atirar como nos velhos tempos e não precisar pensar muito em estratégias mirabolantes que costumam acabar com a minha sanidade em jogos mais difíceis como os tactical shooters. Se quiser me acompanhar, pretendo falar mais do multiplayer no nosso podcast. Até lá, stay frosty.
Call of Duty: Modern Warfare II
Activision
Infinity Ward
PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X