Crítica: Dandy Ace – um espetáculo extravagante

Escrito por Arthur Tayt-Sohn
Crítica

O gênero roguelike vem se consagrando como um dos mais populares entre os jogos indies. A cada ano, mais e mais jogos chegam ao mercado e é claro que os desenvolvedores brasileiros não ficariam de fora dessa onda. Conheça Dandy Ace, o mágico fabuloso.

O maior mágico do mundo

Inicialmente assistimos uma apresentação onde conhecemos o maior mágico de todos os tempos. Não, não é o Dandy Ace. Estou falando de Lele, o Ilusionista de Olhos Verdes. Bom, pelo menos ele diz que é o mágico dos mágicos.

Lele nos introduz a história do jogo, do seu questionável ponto de vista, claro. Após ter sua vida arruinada pelo seu arqui-inimigo Dandy Ace, o Ilusionista faz um acordo com o Espelho Amaldiçoado e, em troca de sua alma, adquire grande poder e aprisiona Ace em seu Palácio que Sempre Muda, junto com suas assistentes Jolly Jolly e Jenny Jenny.

Chegando ao palácio, Ace descobre que deve avançar por várias áreas até chegar à sala do trono, onde deve desafiar Lele para enfim se libertar dessa prisão. Para isso, ele deve enfrentar inúmeros desafios e inimigos, bem como um boss ao final de cada área.

Nada de muito diferente do que vemos tradicionalmente em roguelikes. Para aqueles que são fãs do gênero, o jogo irá soar muito familiar em vários pontos.

Eu vim ver uma carta

Como todo grande mágico, Ace conta com uma série de truques para vencer os desafios do Palácio. É claro que nada seria tão fácil assim, e por isso você começará cada partida acessando 3 cartas básicas, que futuramente terão mais opções de escolhas, bem aleatórias como todo bom roguelike.

As cartas são divididas nas categorias ataque, da cor rosa; controle de grupo (crowd control), da cor amarela; e movimento, da cor azul. A primeira categoria é focada primeiramente em dano bruto, enquanto a segunda em ataques de área ou restrição dos inimigos, como aprisionamento e a última dashes e teletransportes que garantem melhor movimentação.

Para quem já jogou Wizard of Legend, esse sistema já é bem conhecido. Mas Dandy Ace traz uma novidade muito interessante nessa mecânica. Em cada slot é possível vincular duas cartas. O slot secundário garante efeitos adicionais ao ataque vinculado. Por exemplo, é possível vincular em uma carta amarela de ataque em área uma carta secundária de aprisionamento, o que garante um bom dano bruto e controle da movimentação inimiga.

As cartas rosas de ataque podem receber efeitos que aumentem seu dano, o tamanho dos projéteis, adicionar dano em área ou também incluir alguns efeitos negativos aos golpes, como envenenamento, sangramento e até mesmo roubo de vida.

De acordo com a Mad Mimic, desenvolvedora do jogo, são mais de mil combinações possíveis. E de fato durante minha gameplay, eu me deparei com uma variedade bem grande de cartas, e pude testar variadas combinações no meu deck. Eu optei por duas cartas rosas, uma carta de controle de grupo e uma de movimento, o que me garantiu dano massivo e flexibilidade para fugir dos perigos com um teletransporte e controlar grupos de inimigos.

Mas isso não quer dizer que existe uma fórmula mágica, com o perdão pelo trocadilho, para vencer o jogo. Dandy Ace dá bastante liberdade para que o jogador se sinta confortável com o deck que gostar mais de jogar. É claro que alguns jogadores podem ter maior facilidade com algumas combinações, mas caso você goste de ser desafiado, existem incontáveis combinações para experimentar.

Um mágico de verdade sempre tem novos truques na manga

É claro que o fabuloso mágico Dandy Ace teria muitos truques na manga, certo? E um deles, ou melhor, dois deles, são suas assistentes: Jolly Jolly e Jenny Jenny. As simpáticas garotas estão sempre dispostas à ajudar o seu mentor.

Jolly Jolly cuida da lojinha de upgrades, muito semelhante ao Collector de Dead Cells. É possível liberar upgrades permanentes para Ace, bem como novas cartas, através de blueprints deixadas pelos inimigos. Essas cartas ficam disponíveis para que Ace possa utilizá-las em sua jornada pelo Palácio.

Outros upgrades afetam diretamente o mágico. Por exemplo, é possível ter um upgrade que permite que você carregue itens de cura recarregáveis, também é possível iniciar as partidas com mais ouro para comprar cartas disponíveis em lojinhas em cada área visitada. Além disso você também pode desbloquear novos acessórios, na loja que falaremos a seguir.

Jenny Jenny fica responsável por vender acessórios que ajudam Ace de outra maneira. São equipamentos que podem garantir defesa contra ataques, efeitos positivos ao mágico, buffs nos ataques, etc. Além dos acessórios já disponíveis, nessa loja ficarão desbloqueados os acessórios liberados na loja de Jolly Jolly.

Posteriormente, conhecemos Nnif, o coelho contrabandista, que aparece após cada luta com o boss da área. Esse malandro roedor oferece alguns upgrades especiais, como melhorias para as cartas iniciais de cada partida, por exemplo.

Dessa forma, a Mad Mimic inclui uma progressão ao jogo. Ou seja, a cada derrota você recomeça o jogo com mais recursos para vencer as áreas, Ace fica permanentemente mais forte e isso impede que o jogo se torne extremamente frustrante e sem objetivo. E muito provavelmente você irá morrer algumas vezes. A não ser que você tenha truques que a Mad Mimic desconheça…

O Palácio que Sempre Muda… mas nem tanto

Para chegarmos até à sala do trono de Lele, precisaremos passar por diversas áreas do palácio. Entre eles, saguões de entrada, jardins, salões de gala, entre outros. A cada partida essas áreas sofrem pequenas mudanças. Adicionalmente, podemos encontrar chaves que liberam novas rotas até o trono.

Apesar dessa geração procedural, a estrutura básica dos mapas não sofre muitas alterações. Passamos basicamente por corredores, algumas salas maiores e em alguns pontos, salões que fecham portões e se transformam em armadilhas, obrigando você a lutar em áreas mais limitadas.

Essas áreas vão recebendo grandes grupos de inimigos e também contam com armadilhas como espinhos, gases venenosos, plantas explosivas, etc. Esses obstáculos podem tanto ser uma desvantagem como usados em sua vantagem, já que eles também afetam os inimigos. Você pode ativar a explosão de uma armadilha em um grupo de inimigos, por exemplo, ou atraí-los para os espinhos.

As salas dos chefões são sempre fixas, sendo basicamente arenas onde você deve derrota-los, parecido com o que ocorre em Hades. Então pelo menos nessas lutas é possível ter uma estratégia mais pré-definida.

As lutas com chefes são mais previsíveis, então basicamente precisamos entender os padrões de ataque deles para evitar danos e atacar quando possível. Lógico que isso não quer dizer que são lutas fáceis. Os chefes possuem uma variedade grande de ataques.

São quatro no total: Axolangelo, Scisorella, Severino e o próprio Lele, cada um com seu próprio set de movimentos, que exigem estratégias diferentes para cada um. Algumas táticas podem funcionar melhor com um e menos com outro, então cabe ao jogador reunir o deck mais confortável e útil contra cada um.

Os inimigos comuns contam com uma variação satisfatória. O jogo não é muito longo, então a quantidade de criaturas que encontramos é coerente. Alguns inimigos são mais comuns, aparecendo em diversas áreas do palácio, enquanto outros são mais temáticos, com monstrinhos pintores na galeria de arte, jardineiras nos jardins reais, etc.

Durante a tentativa de fuga, encontramos inimigos mais robustos, outros mais frágeis mas como movimentação rápida, inimigos que atacam com controle de grupo, ataques em área e até mesmo inimigos que roubam vida. Também existem torres fixas que podem lançar ataques ou simplesmente curar e dar buffs aos inimigos.

Dessa forma, é sempre importante ter uma estratégia em cada combate. Apertar botões de forma enlouquecida pode não ser a melhor ideia. Em alguns casos você irá querer derrubar a torre de cura dos inimigos, ou focar seus ataques em um inimigo mais frágil que causa dano massivo, e por aí vai.

A Mad Mimic se preocupou em oferecer ao jogador um desafio que exija que ele tenha em mente qual a melhor opção para vencer aqueles inimigos, de acordo com o número de oponentes, com as cartas que você tem em seu deck, etc.

É claro que em determinado momento você terá uma estratégia mais fixa e otimizada. Isso porque a oferta de cartas durante cada jogo é relativamente grande. Desde as lojinhas, até cartas dropadas em armadilhas dos inimigos e baús. Não foram raros os momentos que consegui reunir exatamente as cartas que eu queria.

Isso tira um pouco a imprevisibilidade dos combates, porque por mais que as cartas iniciais sejam totalmente aleatórias, é possível ir planejando ao longo da rota as cartas que você quer ter nos combates com os inimigos mais difíceis.

Isso de forma alguma deixa o jogo “fácil”. Ele é desafiador, mas conta com uma curva de dificuldade justa. Eu morri algumas vezes no início até conseguir me acostumar com as mecânicas dele, depois consegui dominar e aos poucos o jogo foi se tornando mais difícil. Além disso, é possível liberar mais dificuldades além da normal, que acrescentam camadas de desafio como menos itens de cura, inimigos mais fortes, etc.

Além disso o jogo conta com uma função muito interessante chamada Modo Twitch. É possível vincular o jogo à sua conta no portal de streaming e com isso seus espectadores podem assumir o papel do maior mágico do mundo. Não, não é o Ace. É o Lele, lembram-se?

No controle de Lele, você pode diretamente atrapalhar Ace, jogando suas próprias cartas contra ele. É possível usar truques de dano, por exemplo. Ou um ataque em área que diminui o dano e a velocidade dos ataques do jogador streamer, por exemplo. Seu espectador Lele basicamente joga contra você, o que é muito legal para quem quer interagir com a sua platéia.

Além disso, os viewers podem escolher o mapa que você irá jogar, as cartas do seu deck, bem como travar itens de cura entre outros desafios. Tudo isso em tempo real, enquanto você joga. É uma forma muito inteligente de garantir uma longevidade ao jogo e ainda por cima formar uma comunidade de jogadores bem bacana em volta dele.

Extravagantemente charmoso

Bom, eu vou ser direto. Dandy Ace não economiza na extravagância, e ele faz isso muito bem. A arte do jogo é muito bonita e capricha no uso das cores e efeitos visuais. Tudo à altura do fabuloso mágico.

Estrelas que explodem, flechas de cupido, fogos de artifício, corações gigantes, são muitos e muitos truques e cada um com efeitos cuidadosamente feitos. Pode não ser do agrado de todos, talvez você prefira um estilo mais sombrio aos moldes de Diablo, mas é inegável que a arte possui qualidade.

#Gaming from Alpha Beta Gamer

Da mesma forma, os efeitos sonoros do jogo são muito bons. Cada ataque possui um som único, pensado para passar a sensação exata daquele golpe. Pode parecer besteira, mas às vezes se torna cansativo quando o jogo é uma eterna repetição dos mesmos sons.

Por falar em sons, a dublagem ficou competente. Em alguns momentos destoa um pouco, mas não chega a ser ruim. Eu joguei com as duas dublagens e pra falar a verdade achei a brasileira com mais personalidade, sem clubismo, claro. Isso fica bem evidente na dublagem do Lele, que na versão nacional tem um tom de voz muito mais extravagante e propositalmente irritante.

Além disso, os textos, e vozes, são cheios de referências à cultura pop, como dos jogos Metal Gear, Castlevania, passando por Monty Python e até mesmo música brasileira, como na carta de controle de grupo “Cometa da Paixão”.

Pode ser que fique um pouco cansativa a repetição dos diálogos, visto que Lele permanece o tempo inteiro narrando o que está acontecendo durante a aventura. Caso você não tenha tanta paciência com o maior mágico do mundo, é possível ajustar nas opções a frequência com que ele fala durante os combates.

Fecham-se as cortinas

Dandy Ace mostra que os desenvolvedores brasileiros são plenamente capazes de produzir bons jogos. Não é um jogo que eu compraria só para apoiar o mercado nacional, é de fato um jogo bom, divertido e comercialmente viável.

Naturalmente alguns pontos podem melhorar, o que é perfeitamente normal e possível com algumas atualizações, até mesmo adicionando conteúdo adicional para aumentar a vida útil do jogo, mas devo dizer que conhecer Dandy Ace foi uma grata surpresa. Desde que a demo dele foi liberada eu fiquei bem empolgado e devo dizer que o jogo não me desapontou em nada.

Quer descobrir se se o fabuloso mágico do traje rosa irá conseguir escapar do Palácio que Sempre Muda? Então jogue Dandy Ace.

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Nome do jogo:

Dandy Ace

Publisher:

NEOWIZ

Desenvolvedora:

Mad Mimic

Plataformas Disponívies:

PC, Playstation 4, Xbox One, Nintendo Switch

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge