Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
despelote é um jogo indie equatoriano feito por Julián Cordeiro e Sebastian Valbuena, e publicado pela Panic. Eu confesso que quando adicionei o jogo à lista de desejos, eu não fui muito atrás do que se tratava. Eu só tinha visto o trailer em algum evento e achei interessante o estilo de arte e o foco em futebol.
Nesse cenário, sem muito conhecimento, pude mergulhar de cabeça na experiência de despelote sem ter expectativas criadas e podendo ser surpreendido com o que fossem mostrar. E eu sinto que isso criou uma experiência bem bacana, que contarei mais a seguir.
despelote é um jogo sobre futebol, só que mais do que isso, ele é sobre pessoas e sobre uma sociedade. A partir da visão de Julián, um garoto de 8 anos que vive em Quito, a gente vivencia como o futebol foi se popularizando pelo Equador em 2001, quando a seleção estava na campanha para se classificar para a Copa do Mundo de 2002.
Só que além de apresentar a relação do Equador com a sua seleção e o futebol no geral, o jogo também apresenta, em uma pequena amostragem, o funcionamento da sociedade e alguns de seus problemas enfrentados na época, como, por exemplo, os apagões agendados e a crise com sua moeda. Isso permite que tenhamos uma noção do funcionamento do país à medida que jogamos.
O que eu acredito que seja a base para que o jogo apresente tão bem suas mensagens é o fato dos diálogos serem extremamente naturais e críveis. Eu fiquei embasbacado enquanto ia lendo as conversas com NPCs e vendo o quão verdadeira elas eram. Realmente me senti imerso em uma situação real, e mais do que isso, me senti imerso no Equador e na realidade de Julián.
O fato do Equador ter coisas muito parecidas com o Brasil ajudou na imersão, já que se os personagens falassem português em vez de espanhol, dava para super dizer que estávamos numa cidade brasileira. Essa familiaridade traz uma sensação boa, mesmo que eu não tenha vivido uma experiência exatamente igual, eu sei que ela existe aos montes em nosso país e consigo me identificar.
Ao mesmo tempo que parece com o Brasil, o Equador tem suas peculiaridades e foi super interessante conhecer um pouco de sua história, que o jogo trata de apresentar muito bem e de forma natural. As passagens de tempo, a situação no país e algumas das conquistas que orgulham seu povo, todas são bem colocadas durante o jogo, de maneira que mantenhamos nossa atenção e curiosidade com os fatos.
Agora, como um fã de futebol, o que esse jogo mais mexeu comigo foi toda a relação do povo equatoriano com a seleção. Foi uma nostalgia boa de uma época que, mesmo gurizinho, eu pensava na seleção com orgulho e como o topo na escala do futebol. Uma relação que infelizmente hoje, por inúmeros motivos, boa parte dos brasileiros não tem mais com a seleção (eu incluso).
Não sei se hoje em 2025 a relação do povo equatoriano com sua seleção continue tão forte quanto o laço que o jogo mostra sendo construído, mas que foi lindo de ver algo assim novamente foi. E eu só fiquei desejando que pudesse ter esse sentimento de volta com o Brasil.
A jogabilidade do jogo é bem simples, exploramos um pouco da cidade, interagindo com pessoas e itens, e, o mais importante, chutando uma bola de futebol pelo mapa. Vamos a compromissos familiares, à aula, brincamos na rua e jogamos videogame. É realmente vivenciar o dia de uma criança de 8 anos.
Nos trechos mais livres, temos mais mapa para explorar e podemos gastar nosso tempo de várias formas, que inclui inclusive assistir às partidas do Equador nas eliminatórias. Não temos necessariamente um objetivo, então é realmente escolher o que tiver a fim de fazer e ir atrás. O jogo tem bastante interação e descobri-las é bem divertido.
Essa exploração fica ainda mais legal com o visual do jogo, que é bem único e chama bem a atenção. O jeito como o jogo destaca seus personagens em seus mapas de cores únicas é muito bem feito e cria algo visualmente bacana de olhar. É um jogo bem charmoso e que gostei bastante de estar inserido em seu mapa. Os personagens ficaram bem expressivos também, criando um charme neles.
Quando falei mais acima que jogamos videogame, podemos realmente fazer isso, já que fizeram um joguinho de futebol para se jogar aqui. É um jogo simples, onde corremos e chutamos a bola, mas dá para se divertir durante o tempo que nos deixam jogar. Foi uma sacada bem legal, que também ajudou a dar a dimensão do interesse de Julián e seus amigos no futebol.
despelote é mais do que um simples jogo, é uma apresentação muito bela e de forma interativa, sobre um povo que foi incorporando futebol à sua cultura. Com um ótimo ritmo e com diálogos extremamente bem feitos, o jogo mantém nossa atenção e curiosidade à medida que vai apresentando um pouco do Equador para o jogador. Isso tudo sendo passado pela visão de uma criança de 8 anos apaixonada por futebol.
Como um amante de futebol, foi muito legal vivenciar um povo, e principalmente uma criança, apaixonada pela sua seleção. Me deixou até uma nostalgia e uma saudade de sentir o mesmo pela seleção Brasileira, algo que já foi perdido há um tempo e sem previsão de se recuperar.
despelote
Panic
Julián Cordero & Sebastian Valbuena
PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X