Crítica: Dragon Quest III HD-2D Remake – Mais que um remake visual

Por Jean Kei

Nota: 8

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge

Dragon Quest III é um dos RPGs mais influentes da história. Lançado originalmente em 1988 para o Famicom, o jogo era uma jornada gigantesca comparado aos anteriores, vindo com um sistema de classe complexo para época e até onde, eu sei pioneiro para consoles de mesa, com muitas das convenções mecânicas e narrativas vindo daqui. Ao longo desses 36 anos de historia o jogo teve diversos relançamentos e remakes, e esta versão HD-2D é a definitiva.

Sinto que estou ficando um pouco saturado de remakes, considerando que nos tempos recentes a indústria de jogos vem lançando aos montes. Existia um pouco de medo em mim de acabar não gostando muito desse remake, tanto pelo cansaço quanto que bem, eu já joguei mais de uma vez Dragon Quest III, se fosse só o mesmo jogo com um visual bonito seria algo meio vazio. Afinal, pra que pagar um preço cheio por um remake visual de um jogo da década de 80 se há versões mais baratas que ainda são perfeitamente jogáveis? Felizmente, esse não foi o caso e o jogo entrega bem mais.

Além de um visual moderno

A parte mais chamativa desse remake é sim o visual. O HD-2D é lindo, os cenários retrabalhados são chamativos e é o grande foco do marketing do jogo. Porém, o que mais me pegou foi como eles trouxeram direção de cena no jogo. Originalmente no Famicom e mesmo em suas versões posteriores, visualmente tudo era simples e a maior parte do impacto narrativo estava no texto. No remake HD-2D temos dublagem, cenas com jogo de câmera e efeitos mais complexos para dar peso nas coisas. Nada super espalhafatoso, mas esse toque moderno na narrativa ajuda a diversas partes do jogo terem um impacto maior.

Além disso, o jogo acrescenta algumas cenas para gerar mais contexto em certas questões da história. Algo que me chamou muita atenção é que, mesmo sendo adições breves e simples, nessa versão do jogo eu passei a me importar com a mãe do protagonista, que antes era quase que apenas um NPC qualquer.

A forma definitiva de se experienciar Dragon Quest III

Mecanicamente, esse remake acrescenta uma classe nova, que é ligada com uma nova mecânica de encontrar monstros e usá-los em lutas numa arena. Essa adição é divertidinha e focada no auto battle, onde você só tem controle dos monstros que vai botar pra brigar e o comportamento deles em batalha.

Mas tudo que acrescentaram e o pouco que mudaram de fato não tira nem um pouco a identidade original do jogo. É um remake bem fiel que não quer se distanciar de sua obra original. O jogo tem um certo rebalanceamento e questões de qualidade de vida (como acelerar batalhas). Inclusive ele tem três dificuldades, a Dracky Quest que é o modo fácil, no qual inclusive você é imortal, a Dragon Quest que é o modo normal, que não é particularmente difícil exceto em alguns momentos de pico de dificuldade e a Draconian Quest que é pra quem deseja passar muitas horas grindando e explorando a fundo as mecânicas de classe pra terminar o jogo.

Enfim, com todas essas questões, essa versão acaba sendo a definitiva de Dragon Quest III. Afinal, é uma releitura que não retira nada e nem inventa muita coisa.

Claro, isso pode ter o porém de que algumas pessoas podem não gostar tanto do jogo, pois ainda é uma história de 1988. O tipo de história e tropos que ele ajudou a popularizar seguem intactos, eu consigo ver gente chamando esse jogo de raso ou cafona. Dito isso, Dragon Quest conquista dentro de suas simplicidade e como ele soa genuíno.

Simples, genuíno e bem sucinto

Uma coisa que fez o jogo em 1988 soar como uma jornada impactante mesmo na limitação de hardware, é como Dragon Quest consegue te conquistar com coisas simples.

Cada cidade tem uma personalidade bem definida, aonde eles brincam parodiando nacionalidades da vida real, temos Romaria, que é Roma, temos Portoga, que é Portugal, por exemplo. Claro, ele não se limita só a isso e tem suas variações, e o texto de cada NPC reflete isso, com sotaques e maneirismos.

O jogo tem sidequests que variam de histórias e diálogos engraçadinhos a histórias trágicas, e tudo isso contado de forma um tanto enxuta, mas funcional. O remake engrandece esse lado com toda a questão de direção de cena que citei no começo do texto.

É realmente uma pena esse jogo não ter tradução oficial para o português, sinto que é um ótimo RPG introdutório e se não houvesse barreira linguística seria uma recomendação bem mais fácil. No máximo, temos personagens residentes de Portoga falando algumas coisinhas no nosso idioma.

Mas enfim, do que se trata Dragon Quest III?

Dragon Quest III é um RPG por turnos aonde você é um protagonista que parte em uma jornada ao completar 16 anos. Seu pai tinha a missão de derrotar o tirano Baramos, um demônio que ameaça o mundo, porém, seu pai falhou na missão e cabe a você pegar o bastão e seguir com ela. Nesse jogo não temos personagens definidos para entrar em sua equipe, mas sim personagens que criamos na taverna para recrutar e seguir viagem contigo, podendo escolher o gênero, a classe e a personalidade do personagem.

Personalidade que é um sistema curioso do jogo

Existem duas coisas que influenciam os status e o quanto e o que vai aumentar quando se sobe de nível: a classe e a personalidade do personagem. O jogo não deixa claro como as personalidades afetam a evolução dos personagens, cabendo a você pegar pensando no que combinaria com a classe (você não vai botar um mago pra ser um brutamontes, por exemplo). Logo no começo do jogo, o protagonista tem um sonho onde responde umas perguntas e precisa resolver uma situação, isso é um teste de personalidade para o protagonista.

A personalidade não é algo definitivo, pois você pode ler um livro que altera a personalidade ou equipar itens que causam esse efeito também. É um sistema invisível que teoricamente cria individualidade pra cada personagem, pois os parâmetros nunca seriam iguais. Na prática eu terminei com um grupo totalmente feminino com a personalidade que ao menos nas versões antigas era a que melhor subia os parâmetros a cada subida de nível.

Outro fator de customização é que você pode trocar a classe dos personagens. Trocar a classe de um personagem traz o efeito de que ele mantém as habilidades que aprendeu anteriormente, mas volta para o nível 1, porém os status de nível 1 dele são metade do que ele possuía antes da troca. Com esse sistema você pode fazer personagens versáteis e resetar alguns níveis para criar combos bem poderosos. Subir de nível quando um personagem está muito abaixo é relativamente rápido, então não precisa ter receio de brincar um pouco com as trocas de classe. Inclusive, fazendo direitinho, você pode ter personagens no nível dez muito mais fortes que outros na casa do nível cinquenta.

Uma aventura sem (muito) grind

Jogando sem fugir de batalhas eu terminei fazendo pouco grind. Quando trocava a classe de um personagem, eu parava uns 10 minutos caçando batalhas para subir uns 12 a 15 níveis do personagem para continuar. Como o jogo tem opção de aumentar velocidade da batalha e provavelmente você vai trocar de classe quando já estiver em áreas bem avançadas, subir níveis é algo meio rápido. Dito isso, o pós game do jogo é infernal e para faze-lo vai exigir algumas horas de grind e planejamento com classe.

Tal qual o remake de Super Famicom e suas versões posteriores, o jogo tem uma dungeon extra ao terminar o jogo que é gigantesca. Nessa dungeon há alguns inimigos comuns mais fortes do que alguns chefes, inclusive. É um desafio extra feito para quem realmente deseja se aprofundar nos sistemas e passar um bom tempo aprimorando os personagens. Eu gosto da ideia do desafio, mas como ele está muito concentrado em um dungeon grande, que parte dela são variados de outras áreas do jogo, eu só acabei achando um tanto chato. Mas aquilo, conteúdo pós jogo, não é um empecilho para ver a conclusão dele.

Enfim, Dragon Quest III HD-2D Remake é uma ótima versão de um ótimo jogo

Sai muito satisfeito com esse jogo. Tenho muito carinho por Dragon Quest e um certo apreço pela Trilogia do Erdrick, que é composta pelos três primeiros jogos. Muito do marketing do jogo fala como o terceiro é o primeiro jogo da trilogia cronologicamente, como um bom ponto de entrada. Originalmente essa informação era um reviravolta da trama, mas como é algo já muito conhecido eles decidiram deixar isso claro desde o marketing do jogo. Dito isso, o jogo funciona sim como um Dragon Quest introdutório, e dependendo de como o remake do 1+2 saia a estrutura da trilogia pode mudar pro 3 soar mais introdutório ainda.

Gostei bastante do jogo, só não saio completamente empolgado porque estamos numa época lotada de remakes. Aliás, existe uma coisinha no pós créditos do jogo que pra quem conhece a lore da trilogia pode ser bem legal.

Nome do jogo:

Dragon Quest III HD-2D Remake

Publisher:

Square Enix

Desenvolvedora:

ARTDINK

Plataformas Disponíveis:

PC, Playstation 5, Xbox Series S|X

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