Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Dragon’s Dogma 2, tal qual o seu antecessor, é um jogo de mundo aberto com diversas decisões únicas que podem soar esquisitas para alguns. O jogo se apresenta como algo difícil e cheio de atritos.
Aqui não temos Fast Travel de maneira fácil, se pegarmos transporte podemos perdê-lo com certa facilidade e as noites são escuras e intimidadoras demais. O começo de Dragon’s Dogma 2 é uma batalha para se adaptar a ele.
Você provavelmente dedicará as primeiras horas de jogo se adaptando a ele, mas por design, isso um processo divertido.
Isso porque o jogo é punitivo o suficiente para você sentir muita dificuldade caso não esteja prestando atenção nos arredores e nos sistemas, mas amigável o suficiente para evitar ao máximo verdadeiramente te deixar preso em alguma situação. Sendo criativo e aceitando que às vezes fugir é uma opção, você consegue superar muitas coisas.
Inclusive, escrevi um texto falando sobre o mundo emergente e as histórias que podem ser geradas por ele que exemplifica bem como o jogo consegue se equilibrar bem em ser difícil sem deixar de ser maleável.
Dragon’s Dogma 2 é um RPG de ação num mundo aberto, e boa parte da dinâmica dele se baseia numa experiência “semi online“.
Digo semi online, pois você jogará todo o jogo sozinho, mas além do seu personagem, você cria um “Peão“, uma ser deste mundo que a princípio é uma casca vazia que existe para servir o jogador, que é um Arisen (ou Nascen como foi traduzido)
Seu peão pode entrar no jogo de outras pessoas, e além de trazer para consigo experiência do seu jogo, adquirirá experiências lá e trará para você.
Na prática, isso significa os peões que você recruta, e o seu, ajudarão a guiar por quests e lutar com monstros. Alguns peões vão te falar para lidar com monstro de forma X caso tenham enfrentado o suficiente para já entenderem como ele funciona. Um peão também pode falar “eu já fiz esse caminho em outro mundo, tem um baú ali, posso te mostrar onde é?” ou até mesmo falar “essa quest eu já fiz, quer que te mostre aonde ir?“
A construção de IA dos peões é bem feita e bem interessante, alguns peões são fofoqueiros e falam de costumes dos outros jogadores inclusive.
Essas diversas interações fazem com que você crie relação com os peões do jogo e até se apegue por alguns, fazendo-o querer recrutá-lo com frequência.
Existe toda uma mecânica secreta do jogo envolvendo os Peões e uma doença contagiosa, que pode lhe deixar tenso durante a jogatina e é bem capaz de que isso cause um impacto muito maior do que você imagina… Mas não se preocupe, o jogo não vai comprometer seu save para sempre.
O jogo possui um total de nove classes e você vai jogar de forma diferente com todas elas. Inclusive, o jogo incentiva que você varie de classes, por mais que não seja realmente necessário.
As vezes certos inimigos lidam melhor com uma composição classes diferentes da sua, as vezes uma habilidade específica de uma classe pode ser vantajosa também em outra.
Essa variação é a chave para o jogo, mesmo depois de 80 horas, não soou monótono para mim. Troquei de classe constantemente e cada classe era um aprendizado novo. Muitas vezes comecei com classe X pensando “COMO SE JOGA COM ISSO? QUE MERDA” e terminei achando a coisa mais poderosa do planeta.
Eu só acho que, comparado ao primeiro jogo, algumas classes ficaram um pouco para trás. Ser Feiticeiro me parecia bem mais recompensador no jogo anterior, por exemplo.
Mas no fim das contas, mesmo com a questão de poucos inimigos que muitos apontam quando assistem o jogo, jogá-lo não soa repetitivo. Tanto pela variedade de classes quanto pelos cenários influenciarem muito no combate e as vezes os mesmos inimigos lutarem de forma diferente.
Aliás, Dragon’s Dogma 2 quer muito que você preste atenção em como luta. Se você jogar macetando o botão de ataque sem pensar muito, é bem capaz que se veja cercado, tenha ações constantemente interrompidas e seja nocauteado frequentemente. Principalmente no começo do jogo, é muito importante levar toda a batalha que encontrar em consideração, pois o jogo realmente pode ser intimidador.
Meu ponto principal com esse jogo depois de quase 80 horas é que ele é uma experiência progressivamente mais fácil, e isso não é necessariamente um problema.
Não apenas você vai ficando cada vez melhor em lidar com as adversidades que o jogo te entrega, mas também você vai ganhar equipamentos cada vez melhores e explorando bem vai chegar a níveis cada vez mais altos, facilitando a exploração de mais e mais áreas.
Inimigos que no começo te destruíam e você malemal conseguia derrotar em dado momento tem o HP derretido quando te encontram. A noite, que antes era um elemento quase de terror no jogo no início, em dado momento vira algo casual e as vezes até desejável.
Existe um prazer imenso em ver que uma das criaturas mais poderosas daquele mundo, que te provocava medo, agora não é nada perto de você. O ponto negativo disso é que algumas partes do jogo eu desejava ter o “desafio” de volta, especialmente no final. Contudo, se eu disser que depois de umas quarenta horas não me diverti sentindo que aquele mundo estava na palma da minha mão, estaria mentindo.
Falei pouco da história de Dragon’s Dogma 2, e isso tem motivo: A narrativa em si não é a coisa mais bem contada do mundo.
Os temas do jogo tem pontos super interessantes, existem personagens bacanas e uma história com muito potencial, mas infelizmente o jogo não alcança. Apesar disso, sem entregar spoilers, consigo dizer que eu adoro a forma com que esse jogo fala sobre destino, controle sobre o mundo e ciclos. Seus temas são parecidos com os do primeiro jogo, mas sem repetir os mesmos elementos.
E mesmo com narrativa problemática e com momentos fracos, eu ainda amo esse mundo.
Eu gosto muito dos locais, eu sinto que cada NPC ter um nome e muitas quests darem um certo valor a eles faz tudo parecer mais vivo, e o número de possibilidades do que se pode fazer organicamente com o sistema do jogo é maior do que você imagina. A minha vontade ao terminar Dragon’s Dogma 2 foi de recomeçar o New Game Plus imediatamente para testar novas coisas, fazer quests de forma diferente e conhecer mais daquele mundo e seus habitantes.
Joguei o jogo todo em Português Brasileiro. E por mais que esteja 100% jogável e compreensível, alguns erros que me soam derivados de equipe que traduziu sem contexto me incomodam. Algumas pequenas frases recorrentes não fazem o sentido que deveria em português (traduzir “i have a thought” para “eu tenho uma ideia” não se encaixa no contexto em que a frase é dita). Também há algumas coisinhas que acho que foram simplesmente erros, como Vigor ser sua Vida e Vitalidade ser sua Stamina.
Há decisões que particularmente não gosto, como traduzir “Arisen” como “Nascen”, mas isso é algo mais pessoal. Dito isso, há um cuidado na adaptação de empregar gênero nas palavras e contexto certo. Frases neutras no texto inglês, mas não em PT-BR ganham gênero não são automaticamente colocadas no masculino (como acontece algumas vezes).
Dito isso, adorei como eles traduzem os nomes de alguns itens falsificados, o que indica o carinho que houve em parte da localização.
Dragon’s Dogma 2 de maneira nenhuma é um jogo perfeito. Sua narrativa em alguns pontos poderia ser melhor, tive problema com alguns bugs envolvendo reações de NPC e, mesmo o jogo funcionando perfeitamente aonde mais importa, é sim notável problemas de performance em alguns ambientes, como na cidade principal.
Mas nenhum desses problemas afetou de forma significativa meu apreço pelo jogo e pela minha jornada em Dragon’s Dogma 2, que é facilmente um dos melhores mundos abertos que já explorei num videogame.
Dragon's Dogma 2
Capcom
Capcom Dev 1
PC, Playstation 5, Xbox Series S|X