Crítica: Final Fantasy VII Rebirth – Reconstruindo memórias, laços e afeto

Escrito por Arthur Tayt-Sohn
Crítica

Como recontar uma história tão icônica quanto Final Fantasy VII? Indiscutivelmente um dos jogos de maior impacto na indústria, o anúncio da trilogia que busca unificar todo o cânon compilado da história foi recebido com muita expectativa, empolgação, receios…

Após o sucesso do Remake, o primeiro título da trilogia, a Square Enix nos apresenta Rebirth. A segunda parte da história que tem o objetivo de expandir o mundo de Final Fantasy VII e que deixou muitos fãs a flor da pele, ansiosos por saber quais seriam as mudanças e desfechos do título com relação ao original, ainda mais após o final do Remake que abriu um leque de possibilidades.

Tivemos a oportunidade de jogar e contamos agora como foi a experiência de enfim deixar Midgar para trás e cair no mundão do planeta Gaia.

Além da Encruzilhada do Destino

Rebirth começa logo após o grande conflito que ocorreu em Midgar. Após a luta com Sephiroth e a derrota dos Murmúrios, que tinham o objetivo de “proteger” o destino e garantir que os acontecimentos do jogo original ocorram conforme pré-determinado.

Sem a influência dos Murmúrios, o destino do planeta agora está totalmente em aberto. Mas uma coisa permanece certa: Sephiroth é uma ameaça ao mundo. A Shinra também permanece uma ameaça, já que ainda buscam o objetivo de dominação total do planeta.

Final Fantasy VII Rebirth - Grasslands

O grupo de Cloud deixa a megalópole para trás e parte em busca do paradeiro de Sephiroth, ao mesmo tempo que tenta impedir que a Shinra também coloque seus planos em prática.

Melhorando o que já era excelente

Uma das primeiras grandes preocupações que o anúncio do Remake trouxe foi sobre sua jogabilidade, mais especificamente o seu sistema de combate. O primeiro título mostrou que é possível apresentar uma nova jogabilidade que agrade tanto os novos fãs quanto os antigos.

Eu evitei usar o termo “modernizar” por não acreditar que sistemas de combate fiquem defasados. O novo sistema na verdade abre mais possibilidades que um jogo de turno mais tradicional como o jogo original não conseguiria.

Rebirth conseguiu aprimorar o que já era bom no jogo anterior, o que me surpreendeu bastante. Mecanicamente ele segue sendo um misto de RPG/ação/estratégia, onde você irá se movimentar pelo cenário, executar golpes normais como um jogo de ação e eventualmente selecionar comandos nos menus tradicionais.

Final Fantasy VII Rebirth - Sinergia - Tifa e Barret

O segundo jogo adiciona mais algumas camadas e possibilidades ao combate. O parry foi aprimorado e contamos agora com as habilidades de sinergia. Essas habilidades são utilizadas em dupla, não consomem a barra de ATB (a barrinha de turno dos personagens) e ainda podem dar benefícios aos participantes, como MP infinito temporariamente ou aumento da barra de Limite.

Além disso, foi incluído o novo sistema de Fólios, que funciona de forma semelhante ao Sphere Grid de Final Fantasy X. Nele você pode aprender novas habilidades individuais para cada personagem, além de bônus de status e novas habilidades de sinergia.

Seguindo o que foi estabelecido no primeiro jogo, Rebirth dá muita liberdade para o jogador escolher com quem jogar e como jogar. Os personagens são muito únicos em sua jogabilidade e contam com armas que não se limitam a apenas aumentar sua força ou ataque mágico, mas contam com habilidades, slots de Matérias e mais vantagens e desvantagens que fazem com que praticamente todas elas possam ser úteis de acordo com sua estratégia.

Final Fantasy VII Rebirth - Combate

O jogo estimula que você jogue com todos os personagens, incluindo momentos onde você joga até mesmo sem Cloud no grupo. Os personagens Yuffie, que você joga na DLC, o agora jogável Red XIII e o novo integrante Cait Sith trazem mais possibilidades de estratégias de combate. E a Tifa, bem… continua uma máquina de distribuir porrada e segue sendo uma das personagens mais satisfatórias de se jogar.

O sistema de Matérias não sofreu mudanças, sendo ainda um dos sistemas que eu mais gosto em RPG’s, pelas possibilidades de builds que ele permite. Apesar disso, algumas Matérias seguem sendo bastante escassas no jogo para evitar o overpower do seu grupo. Ou seja, sem combo Cura + Extensão para o grupo inteiro.

A Square Enix conseguiu aperfeiçoar um combate que já era bastante polido, divertido e equilibrado, melhorando alguns poucos pontos negativos do primeiro jogo. As batalhas com os chefes são mais rápidas que o jogo anterior, com algumas pequenas, e justificáveis, exceções.

Jogando na dificuldade normal, achei o jogo relativamente mais fácil que o primeiro. Lembro de ter apanhado bastante pra alguns inimigos do Remake, sobretudo aquela maldita casa no Mercado Murado.

Porém, isso não tira o mérito principal do combate: ele é muito divertido e permite que você experimente cada personagem. Seus sistemas podem parecer um pouco complexos no início, mas eventualmente você entende eles aos poucos e quanto mais você os domina, o combate fica mais prazeroso.

Final Fantasy VII Rebirth - Combate 2

Uma outra sensação que eu tive, e pode ser que eu esteja enganado, mas senti que a barra de ATB dos personagens não controlados demoram um pouco mais para carregar em relação ao primeiro jogo. Me parece que a Square Enix quis realmente que o jogador experimentasse cada um dos personagens, já que a barra de ATB enche com mais rapidez conforme você o controla para realizar ações, incentivando a troca constante deles.

As próprias habilidades de sinergia parecem provar isso também, já que para que elas sejam utilizadas você precisa usar as habilidades normais dos personagens participantes, para que uma barrinha seja preenchida e permita utilizar o comando.

E utilizar esses comandos pela primeira vez aumenta o nível de relação entre os personagens, algo que comentarei mais a frente, e tem impacto até mesmo na história. Rebirth abrange um longo segmento do jogo original que foca em aprofundar as relações entre os personagens e agora isso afeta até mesmo a jogabilidade.

Final Fantasy VII Rebirth - Menu de Materias

Um ponto que eu adicionaria no jogo seria um sistema de loadouts, que são configurações pré-definidas que você pode salvar sem precisar alterar uma por uma TODAS as Matérias equipadas. Como ocorrem muitas trocas de personagens durante o jogo, eu acabava perdendo bastante tempo transferindo equipamentos e Matérias de um personagem para outro.

Mas fora isso, o sistema de Final Fantasy VII Rebirth continua sendo um dos melhores e que consegue de maneira mais eficiente mesclar elementos de ação e RPG, sendo um sistema único, divertido, equilibrado e polido.

Uma nova jornada

Como revelado com antecedência, Rebirth abrange a fuga de Midgar até os acontecimentos na Capital Esquecida, a cidade perdida dos Antigos. Esse trecho no jogo original é onde ocorre a fatídica cena da morte da Aerith. Espero que você não se importe com um spoiler de quase 30 anos de idade.

É importante destacar que no jogo original todo esse arco envolve perseguir Sephiroth e desenvolver a relação entre os personagens, bem como explorar seus arcos narrativos individuais. Rebirth faz basicamente a mesma coisa, mas de forma expandida.

Eu joguei o jogo original no lançamento, em 1997. Além disso, minha relação com o jogo é bastante pessoal. Eu tenho a opinião que definir qual é o melhor Final Fantasy é uma tarefa quase impossível, visto que parte do que nos faz gostar do nosso título preferido muitas vezes tem a ver com situações pessoais. Um exemplo disso é Ben Starr, dublador de Clive de Final Fantasy XVI. Seu jogo preferido é Final Fantasy VIII e muito por conta da relação dele e seu pai com o título.

Mas apesar de eu ser muito fã do jogo original, eu não me considero um purista que prefere que a história permaneça intacta. Desde o início eu fui bastante aberto às mudanças e pra ser sincero, nem as temidas “nomurices” me preocuparam. Eu vou tentar expor minha opinião sobre a história do jogo sem dar spoilers, mas talvez eu comente algo do jogo original ou do Remake.

Final Fantasy VII Rebirth - Nibelheim Flashback

Um ponto bastante positivo do Rebirth em relação ao Remake foi a estrutura das sidequests e atividades secundárias. O primeiro jogo contava com muitas sidequests e o problema nisso era a quantidade de missões que se tornavam entediantes e não acrescentavam nada na história.

Isso foi corrigido com a diminuição do número de sidequests. O formato delas não mudou tanto, sendo muitas delas ainda sobre coletar itens, eliminar monstros ou escoltar NPC’s, por exemplo. Mas algumas também envolvem alguns minigames e o diferencial é que muitas delas entregam lore ou envolvem a participação de outros membros do grupo, o que faz com que sua relação com eles se aprofunde.

A sua relação com os personagens altera alguns pontos da história e, o que é mais importante pra mim, aprofunda mais a construção dos personagens. Lembrando que Rebirth é um jogo que tem o papel justamente de desenvolver os personagens e as sidequests em sua maioria contribuem com isso.

Final Fantasy VII Rebirth - Gold Saucer

Um ponto do enredo que era aguardado pelos fãs é o encontro na Gold Saucer, onde você e o membro do grupo que você tiver mais afinidade fazem um passeio a dois no parque. No jogo original o sistema de relacionamento que definia esse encontro era bastante obtuso e extremamente difícil de você conseguir ir em um “date” com o personagem que você queria sem um guia. No Rebirth esse ponto foi melhorado e agora fica bastante claro saber qual personagem você tem mais afinidade.

Existem alterações bastante substanciais na história, com mudanças de alguns arcos narrativos. Alguns foram reformulados, outros aprofundados e novos arcos foram introduzidos. Achei muito positivos como expandiram alguns deles para dar mais contexto à história.

Alguns dos que eu mais gostei foram Gongaga, que no original era apenas um vilarejo destruído que você passa rapidamente e agora recebeu uma área explorável totalmente nova e um novo arco que introduz uma personagem do Crisis Core e também o arco de Red XIII no Cosmo Canyon, que explora mais as origens dos Gi, inimigos mortais dos moradores da “cidade da planetologia” , que também foi bastante expandida e tem novas áreas exploráveis com muita coisa interessante.

Final Fantasy VII Rebirth - Gongaga

Um arco que me decepcionou um pouco foi o encontro com Dyne, melhor amigo de Barret e que também teve um braço amputado e substituído por uma metralhadora. Esse é um dos meus arcos favoritos do jogo original e na construção dele, parece que os desenvolvedores esqueceram o básico do que faz esse arco tão impactante e emocionante. Isso não tem nada a ver com as atuações, que foram incríveis. Foi mais um problema de roteiro e direção mesmo.

O saldo no geral foi muito positivo. Sempre achei que Final Fantasy VII tinha tramas secundárias muito boas e Rebirth aproveita esse potencial e expande essas narrativas. E o fato de agora termos tecnologia mais avançada, como introdução de dublagem, modelos 3D que permitem expressões faciais, etc, além do próprio amadurecimento da indústria, esse potencial é melhor aproveitado.

A construção de mundo de Rebirth é muito mais rica. As atividades secundárias, além de oferecerem recompensas, oferecem mais informações sobre a geologia das áreas, sobre suas formações sociopolíticas, sobre as Invocações, que Chadley explica que eram entidades que viveram no planeta há muito tempo além de explicar as funções que desempenhavam nas sociedades locais antigas, etc.

Além de enriquecer a história do mundo, o jogo desenvolve de maneira bastante profunda os personagens. Final Fantasy VII conta com alguns dos personagens mais icônicos da franquia e Rebirth os deixa ainda mais memoráveis conforme vamos descobrindo mais sobre eles, suas personalidades, seus traumas pessoais e suas motivações.

Final Fantasy VII Rebirth - Barret Armas

E apesar de Cloud ainda ser considerado o protagonista, personagens como Barret e Tifa principalmente crescem muito narrativamente no segundo jogo. E até mesmo personagens que eram mais “apagados” no original, como Cait Sith, recebem um melhor tratamento. Inclusive, eu achei fantástico terem dado um sotaque britânico pra esse gato.

E vale destacar o trabalho excelente dos dubladores, que entregam muita personalidade aos personagens e contribuem bastante para esse desenvolvimento deles. E justamente esse trabalho de dublagem que permite algumas sacadas geniais, como as “mudanças de personalidade” que ocorrem com Cloud, no flashback de Nibelheim, e quando Red XIII chega em Cosmo Canyon.

Eu sinto essas mudanças e adições de conteúdos de forma mais profunda por ter jogado o original em 1997, onde nosso parâmetro para o auge da tecnologia era aquele que víamos na época. E um ponto que acho importante destacar é que o Rebirth não deixa a “peteca cair” na reimaginação de locais tão icônicos.

 Final Fantasy VII Rebirth - Junon

As áreas que já existiam no jogo original, como Nibel, Kalm, Cosmo Canyon e outros, foram enriquecidas, mas ainda se parecem com suas versões originais. Com exceção de Corel, cidade natal de Barret, que teve uma mudança mais drástica. Mudança que contribuiu também com o ponto negativo que destaquei anteriormente sobre o arco do líder do AVALANCHE.

Gongaga também sofreu uma mudança mais drástica, mas que considero bastante positiva. A nova versão do vilarejo tem um clima mais otimista, sendo um local cheio de vida e com pessoas vivendo sem depender da energia mako. Além disso, é um vilarejo totalmente off-grid, cercado por uma selva propositalmente confusa de explorar.

Rebirth passa a maior parte do seu tempo construindo a relação entre os personagens e também construindo uma relação do jogador com esse mundo e com o grupo. É difícil não se apegar a algum personagem.

Final Fantasy VII Rebirth - Gongaga Memorial

Especialmente para quem jogou o original, foi incrível revisitar lugares conhecidos e ser surpreendido com tantas coisas novas, explorar mais dos personagens que eu gosto tanto e ficar apreensivo por não ter a mínima ideia do que iria acontecer, mesmo tendo jogado tanto a versão do PS1.

E eu acho que isso é muito positivo. Claro, é bastante arriscado mexer em uma história tão icônica. Isso pode dar muito certo ou muito errado. E eu até ficaria satisfeito em rejogar a mesma história exatamente igual, com todas as melhorias que o jogo atual pode oferecer. Mas a sensação de descoberta, de surpresa, curiosidade e até os momentos de apreensão, conseguiram reproduzir os sentimentos que eu tive quando era criança.

É irônico porque alguns dos temas do jogo envolvem justamente a construção, e reconstrução, de memórias e laços afetivos. Jogar Final Fantasy VII Rebirth de certa forma reconstruiu diversas memórias e laços da minha vida. Alguns bons e outros ruins, assim como ocorre no jogo. Mas isso é uma pauta para outro momento, talvez eu fale um pouco mais sobre alguns dos motivos de esse jogo ser tão importante pra mim.

Após cerca de 11 capítulos construindo esses laços e memórias, chegamos ao incrível capítulo 12. Esse capítulo entrega alguns dos momentos mais memoráveis e afetivos. É o capítulo que inicia o segmento final do jogo. Esse segmento, até o final do jogo, é um dos mais intensos que eu já joguei. Nesse trecho, Rebirth cresce ainda mais e eu não conseguia simplesmente parar até terminar o jogo, de tanto que ele me envolveu.

Final Fantasy VII Rebirth - Mãos Cloud e Tifa

Além de elevar ao máximo a relação entre os personagens, e fazer eu me importar de verdade com cada um deles, Final Fantasy VII Rebirth explora de forma mais aprofundada os conflitos que se seguirão. Além disso, o jogo entrega alguns fanservices que me fizeram sorrir como uma criança. Por mais que alguns possam achar absurdo o que aconteceu, se eu disser que eu não gostei eu vou estar mentindo demais.

O que Rebirth consegue fazer é algo bastante difícil. Pegar uma história pré-estabelecida e conseguir reproduzir sentimentos parecidos com o original. E sim, na minha opinião o jogo bate muito diferente para quem jogou a primeira versão. Bate diferente e bate forte, principalmente quando você vê algumas cenas se desenrolando de forma muito parecida, e até mesmo idênticas ao jogo original, e não ter ideia do que esperar do desfecho dela. Por isso, nunca canso de recomendar: JOGUEM O JOGO ORIGINAL.

Sinceramente, eu poderia ficar falando durante horas de como eu gostei da história desse jogo e como ele conseguiu mexer com meus sentimentos. O jogo consegue te fazer rir e logo em seguida dar um aperto no coração. Ele alterna constantemente entre o cômico, o triste, o violento, o reflexivo…

Final Fantasy VII Rebirth - Cloud

E apesar de em alguns poucos momentos o jogo errar na mão, e falo novamente sobre o arco do Barret e Dyne, que alterna de um momento bastante emotivo para um cômico meio sem nexo, o jogo acerta bastante na forma com que ele busca mexer com os sentimentos dos fãs na maior parte do tempo.

Eu não sei se eu teria tanto apego com o jogo se eu fosse um fã que começou na franquia pelo Remake, pra ser sincero. E também não posso afirmar que todo fã do jogo original vai gostar das mudanças. Mas pra mim elas foram bem-vindas e a forma como esse jogo mexeu comigo e me reconectou com o Arthur fã de Final Fantasy VII dos anos 90 prova como esse jogo permanece atemporal e profundamente marcante.

E além de tudo, permanece um jogo atual. Mesmo que esse arco seja mais focado no desenvolvimento dos personagens, ele ainda aborda os temas que o jogo vem propondo desde 1997: corporativismo, opressão, saúde mental, desigualdade social, destruição do ambiente e de comunidades tradicionais por monopólios capitalistas, etc. Sim, a tão temida “botaram política no meu joguinho”. Que está por aí desde 1997, por mais que alguns ainda prefiram se manter em negação.

Final Fantasy VII Rebirth - Desfile Shinra

Final Fantasy VII Rebirth pega tudo o que foi estabelecido no original, altera, enriquece, surpreende e dá aquela pitada de “nomurice” para abrir um leque de possibilidades, reflexões e muitas, muitas perguntas. E apenas para esclarecer, “nomurice” é uma piada. O roteiro é por conta do Kazushige Nojima e a direção principal é culpa do Naoki Hamaguchi. Acreditamos na inocência de Tetsuya Nomura!

Construindo memórias e afetos pelos sons e visuais

Parte do que tornou Final Fantasy VII tão icônico é de responsabilidade dos seus visuais e principalmente por sua trilha sonora. Isso é algo indiscutível.

Enquanto o Remake se limitou à Midgar, Rebirth tinha um desafio maior: reconstruir parte do grandioso mundo de Final Fantasy VII. Além das cidades, vilarejos e outras áreas, algumas inéditas, era necessário criar um mundo para abrigar todos esses locais.

Nesse aspecto, a direção de arte foi importante para ambientar o jogador nesse mundo. Cada região do jogo conta com biomas bastante únicos. Desde as pradarias nos arredores de Kalm, passando pelos canyons vermelhos de Cosmo Canyon, a bucólica Nibelheim e finalizando nas místicas regiões onde habitavam os Antigos.

Final Fantasy VII Rebirth - Telescopio Cosmo Canyon

E por mais que em diversos momentos rolassem alguns problemas de texturas, algo já notável na Unreal Engine 4 e que normalmente ocorrem com os modelos dos personagens, a ambientação do jogo é muito bonita.

Eu optei por jogar no modo gráfico para poder aproveitar melhor os aspectos visuais do jogo. A direção de arte dele na ambientação é incrível e enriquece locais que no jogo original contavam com visuais mais simples.

Isso é muito bem aproveitado por exemplo na caverna dos Gi, em Cosmo Canyon, que mostra uma área mais expandida e com traços de uma cultura que viveu ali. O Templo dos Antigos também é muito favorecido pela direção de arte, dando um vislumbre maior do que era a civilização dos Cetra.

Final Fantasy VII Rebirth - Templo dos Antigos.jpg

Essa qualidade se mantém nas animações dos combates, que contam com coreografias excelentes e dão mais intensidade ao combate. Isso inclui alguns momentos onde durante o combate algumas CG’s ocorrem e são muito bem feitas. E até mesmo por conta da velocidade dos SSD’s, é possível termos transições dessas cenas e instantaneamente retornar ao combate.

E eu ainda acho muito louco como você pode utilizar um Limite de um personagem e assistir a animação de ataque como se fosse uma CG ou pode simplesmente alternar para outro personagem enquanto o Limite acontece de forma independente e você consegue até mesmo assistir de uma perspectiva totalmente diferente.

Outro ponto notável do jogo é, claro, sua trilha sonora. Boa parte dela ainda é composta de rearranjos das versões originais do Nobuo Uematsu, mas ainda contando com músicas inéditas.

As músicas clássicas estão todas aqui, em versões incríveis e que possuem diferentes versões ao longo do jogo. Mitsuto Suzuki e Masashi Hamauzu brincam com as músicas, alterando melodias e até mesmo inserindo trechos de uma música em outra, para transmitir sensações de acordo com o momento do jogo.

Com isso, as mesmas músicas podem ter versões que se tornam mais lentas, alegres, tristes, agitadas ou tensas, de acordo com a situação. Isso faz com que o jogador tenha ainda mais imersão com o jogo.

Final Fantasy VII Rebirth - Buggy

E é claro que as músicas seguem aquele padrão de qualidade que já conhecemos da franquia. Esse é provavelmente um dos pontos mais elogiados da maioria dos jogos e Final Fantasy VII é bastante conhecido por ter uma trilha sonora excepcional. Rebirth não decepciona.

E você ainda tem a oportunidade de “tocar” algumas dessas músicas no minigame do piano. Ele é um pouco difícil de pegar o jeito no começo, mas não deixa de ser satisfatório tocar e ouvir as versões do piano de músicas incríveis como os temas de Aerith e Tifa.

Além da trilha sonora, o trabalho de dublagem é fantástico. Eu joguei a versão com dublagem em inglês, que eu já tinha gostado no Remake. O padrão de qualidade se mantém, com as adições dos novos personagens que aparecem em Rebirth. Os dubladores fizeram um ótimo trabalho em dar vida a Cloud e seus companheiros, além dos diversos personagens secundários. Talvez um dos trabalhos de dublagem que mais gostei nos últimos tempos.

Final Fantasy VII Rebirth - Vincent e Cait Sith

Final Fantasy VII Rebirth mantém a tradição da franquia em ter jogados com trilhas sonoras marcantes e uma bela direção de arte. E com novas tecnologias, a Square Enix consegue reimaginar o mundo do jogo original e entregar um mundo visualmente mais rico.

A única coisa que estranhei um pouco, e que talvez tenha sido uma decisão para evitar mais problemas com a engine, foi a falta de pessoas no mundo fora das cidades. Dá a impressão que as pessoas só vivem dentro dos vilarejos e cidades. Não é exatamente um problema, mas é algo que acabei percebendo.

Abrace seus sonhos

Reviver a história de Final Fantasy VII tem sido uma forte experiência. Rebirth entrega uma montanha-russa de emoções e surpreendentemente conseguiu me impactar assim como o original.

O sonho de muitos fãs de ver essa história sendo recontada e expandida se realiza de forma brilhante e essa jornada tem mexido com meus sentimentos. Eu não sei o que esperar do fim da jornada e, pra ser sincero, não sei se vou estar pronto para me despedir de Final Fantasy VII.

Rebirth dá um salto de qualidade em relação ao Remake, corrigindo os poucos pontos negativos do primeiro jogo. O que faz eu me perguntar: o terceiro jogo conseguirá superar esse?

Seja você um fã novato da franquia ou um fã de longa data, é difícil não ser impactado por esse jogo. São quase 30 anos influenciando gerações, mexendo com o imaginário e com os sonhos dos fãs, causando discussões e debates sobre seus temas, nos cativando com seus personagens, nos emocionando com suas músicas.

Final Fantasy VII Rebirth - Planetário

É, eu sei que as vezes questionamos se a indústria está ficando saturada e a quantidade de remakes seja um sintoma disso, ou até mesmo parte do problema. Essa trilogia é necessária? Talvez não. Pode ser que estejam monetizando demais com nostalgia? É possível.

Mas também talvez seja sobre amar tanto uma obra que queremos contar essa história mais uma vez. E parte da equipe hoje é formada por pessoas que cresceram jogando o título original. Pessoas que talvez queiram fazer parte do amor que a comunidade sente por esse jogo e seus personagens.

E eu estou feliz por fazer parte disso de novo. E espero que mais pessoas possam fazer parte disso também. Compartilhemos nossa “Fantasia Final”.

Nome do jogo:

Final Fantasy VII Rebirth

Publisher:

Square Enix

Desenvolvedora:

Creative Business Unit I

Plataformas Disponívies:

Playstation 5

Nota: 10

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge