Crítica: Final Fantasy VII Remake – João Kleber controle essa linguiça

Por Silvio Diaz

Eu sei, você sabe, quase todo mundo sabe, Final Fantasy VII Remake é inacreditável. Tanto pelo fato de lançar quanto por ser excelente. Os grandes sites já falaram disso, e tudo bem, se você abriu esse texto só pra saber se o jogo era bom, sua resposta ta ai, no primeiro paragrafo, mas, eu quero perguntar. Porque ele não é perfeito ou uma obra prima? e mais importante, como que João Kleber é o culpado?

Os motivos dele ser excelente são bem explícitos, além da história bem escrita, os desenvolvedores trabalharam muito bem as suas mecânicas. O sistema de combate do Remake é excelente, e tem muitos micro detalhes que fazem ele não ser apenas um monte de possibilidades, mas uma ferramenta necessária.

 O combate de Final Fantasy VII Remake é um misto de ação e estratégia desequilibradamente focado na segunda parte. A ação dele está ali mais para manter um ritmo enquanto a barra de ATB -que permite às ações importantes acontecerem- é carregada. Entretanto, um problema comum em RPG de ação com features diferentes para o combate é o fato de que na maior parte do tempo, todas as ferramentas são desnecessárias. 

 O primeiro que vem em minha cabeça é Caligula Effect, um jogo com sistema de batalha cheio de detalhes e com um baita potencial que se perde no quão fácil são seus combates. Nele, todas as possibilidades são jogadas fora no quão simples é derrotar outros inimigos apertando o mesmo botão até o fim da luta. Um problema que o remake de Final Fantasy não tem.

Final Fantasy VII Remake Chocobo luta
OLHA O CHOCOBO GORDO Q FOFO JESUS – Final Fantasy VII Remake

 Mesmo no modo normal, o Final Fantasy VII Remake é desafiador e apenas apertar o botão leva o jogador constantemente a um game over. Até nas batalhas mais simples, não usar golpes certos e se preocupar com magias que o inimigo tem fraqueza pode tornar a experiência frustrante, pois ele foi pensado para ser jogado usando tudo o que foi criado.

 É uma maneira eficiente,que espero seja aprendida nos próximos anos, o estúdio não pode ter medo de deixar o produto desafiador se for necessário. Vídeo Game é sobre criar problemas e dar ferramentas para o jogador solucionar, em um RPG de ação, esse problema muitas vezes é o combate e Final Fantasy VII Remake faz isso muito bem.

 Outro elemento bem construído é a sua história. Mesmo seguindo muito do que já existia no original, todos os personagens são bem construídos e o aprofundamento que muitos deles recebem funciona e dá ainda mais peso a narrativa. As pequenas atualizações, para enfatizar detalhes e até mesmo mudar postura de alguns personagens é ótima, deixando eles ainda mais vivos que no original.

Final Fantasy VII Remake Jessy
Jessy – Final Fantasy VII Remake

 Entretanto, ao mesmo tempo que a narrativa tem ótimos acréscimos, isso não pode ser dito sobre o jogo inteiro. Ao mesmo tempo que adicionam diálogos e profundidade, existe uma extensão desnecessário de horas de campanha, com diversos momentos em que a narrativa faz uma curva inesperada e forçada, apenas para alongar missões e voltar ao estado onde parou.

 Chega a ser cômico o quanto o acréscimo de campanha e tempo de jogo é positivo e negativo. Ao mesmo tempo que ele melhora muito a história e aumenta a empatia do jogador com a narrativa ela é constantemente uma quebra de ritmo. Uma encheção de linguiça que claramente só está ali pois  videogames,aparentemente, precisam ter mais de 30 horas.

 É como se constantemente,João Kleber, o apresentador, surgisse no fim da missão,olhasse para o Cloud e gritasse o seu famoso “PARA PARA PARA” com o objetivo de ir para um comercial, que aqui, é uma extensão dos cenários e da missão em um objetivo meio bobo. 

Final Fantasy VII Remake Aerith
Aerith – Final Fantasy VII Remake

Tudo bem, estamos falando de um bom jogo, com mecânicas inteligentes que conseguem sustentar momentos de baixa qualidade, ainda sim, isso é tão constante que uma hora ou outra, incomoda. Em certos momentos, essa extensão desnecessária, quebra partes importantes da narrativa e momentos que tinham tudo para ser impactante são jogados fora com um banho de água, um banho gelado e às vezes, lento demais.

 É uma encheção de linguiça já esperada desde que anunciaram que o remake seria apenas uma parte do original- para deixar claro, é apenas os momentos de Midgard – e realmente funcionou na maior parte do remake. O tempo gasto com secundários como a Jessie, conseguem dar mais peso a momentos que já existiam no original, e as caminhadas mais longas, permitem que o jogador veja mais do mundo e escute mais personagens principais como a Aerith. 

 Entretanto, fica difícil defender quando você percebe a quantidade de momentos esqueciveis que são criadas só para aumentar o tempo de duração dele. Final Fantasy VII Remake poderia ter 20 horas de campanha, sem contar as sidequests sem nenhum problema. Bastava cortar esses diversos  momentos de 40 minutos e se focar no que importa. Não precisa colocar inimigos para roubar itens importantes, criar suspense para o marido que vai anunciar ser careca ou criar backstories para personagens sem importância. Não que momentos fracos como esses estrague a experiência como um todo, mas como disse no começo, esse texto não tá aqui pra falar se é bom ou não, ele definitivamente é ótimo, essa crítica é sobre o motivo dele não ser uma obra prima.

 Nomura precisava ouvir um pouco do Chef Fogaça e entender que às vezes, menos é mais. Eu com certeza quero mais da franquia, mas isso é graças a sua ótima mecânica de combate e seus personagens bem escritos, pois em level design esses momentos de pausa para um comercial de quase uma hora de conteúdo desnecessário é problemático. O defeito não é acrescentar elementos, mas forçar isso. Até porque, boa parte da  linguiça não é ruim, o problema é, como sempre, o João Kleber. 

Final Fantasy VII Remake está disponível exclusivamente para Playstation 4.

Está crítica foi feita em base de uma cópia cedida pela Square Enix ao Game Lodge