Crítica: Journey to the Savage Planet – Um bom exemplo de ideias mal feitas

Por Silvio Diaz

Imagine comprar um quebra cabeça e ao juntar todas as peças, perceber que elas formam pequenas artes incompletos e sem muita conexão. Como se faltasse peças para concluir o desenho da caixa mesmo estando completo. De alguma forma, esse desenho não se conecta, mesmo todas as partes estarem no desenho final da caixa. Isso é Journey to the Savage Planet.

Journey to the Savage Plant é um jogo ao estilo Metroid Prime, só que não tão bem feito. No jogo, você controla um astronauta que foi enviada por uma empresa de exploração a um planeta desconhecido. A missão? Teoricamente encontrar um planeta habitável para a raça humana, ao mesmo tempo que lê, ouve e assiste mil piadinhas sobre capitalismo e violência em jogos. Absolutamente nada novo por aqui. 

Mecanicamente é que a parte “estilo Metroid Prime” do parágrafo anterior fica clara. O jogo no fundo é um pequeno “metroidvania” 3D. Aos poucos o jogador ganha novas habilidades, consegue chegar em novos locais, pode voltar em qualquer canto e conseguir desbloqueáveis e melhorias. Tudo isso enquanto porta apenas uma arma que pode ser melhorada, e alguns objetos de arremesso que aos poucos são disponibilizados. Inclusive um gancho que pode ser prendido em áreas específicas do mapa e permitem você balançar por aí, igual, bem, Metroid Prime.

O problema é que as inspirações acabam por aí e o jogo passa a ser um amontoado de ideias sem fundamento e mal planejadas. Enquanto eu jogava ele do início até o fim, o sentimento ia mudando de  “Talvez quem fez esse jogo nunca tenha jogado nada” até “esse jogo parece ter sido feito e planejado por uma inteligência artificial lendo algoritmos”. E esses pensamentos, meu caro leitor, é o que vou explicar separando em pequenos parágrafos, pois é assim que se escreve um texto.

Em Journey to the Savage Planet, logo no começo, o jogador encontra uma cacetada de locais que não pode chegar, são portas que precisam de itens específicos para estarem abertas, locais que precisam de um ou dois itens para se chegar e etc. Essas areass podem ter os itens que aumentam vida e stamina do personagem, o combustível para o verdadeiro final do jogo, e itens para criar e melhorar equipamentos. E se você viu esses itens antes de poder pegar ou deixou pra pegar depois, é bom você ter boa memória, pois esse é um jogo cheio de backtracking e nenhum mapa. A única forma de guia dele é uma “bússola” e a  maneira dada pelos desenvolvedores para diminuir a frustração, são melhorias no visor do personagem que indicam onde estão todos os itens. Literalmente acabando com a importantíssima etapa de exploração. 

A ausência de um mapa nesse tipo de jogo é imbecil e beira o ridículo. Por diversas vezes foi mais  fácil desistir de ir atrás de algo que tinha encontrado após ter o item necessário para explorar, pois não achava novamente o local. Um elemento que poderia ter sido menor se seu level design fosse mais variado, entretanto, os locais na maioria das vezes são iguais. E de maneira impressionante, essa “burrice” no game design não para por aí. 

Diversos puzzles do jogo são basicamente sobre atirar em criaturas alienígenas ou matar elas de formas específicas, entretanto, atirar nesse jogo é muito ruim. Eu recebi o jogo para Playstation 4 e o que eu mais queria enquanto jogava ele era usar um mouse e teclado, e leitor, você não me conhece, mas eu garanto, eu odeio jogar coisas com mouse e teclado. A mira do jogo é ruim, e como se não fosse o bastante, diversos inimigos exigem que você acerte uma pequena parte específica deles, e eu garanto, você não quer usar o assistente de mira que pode ser ativado nas opções, pois ele também não funciona. Em inimigos que você precisa acertar uma parte específica, normalmente ele te faz errar, pois a mira não vai para essa área, e sim, para o centro da criatura. Em resumo, eu passei a jogar bem melhor quando desativei a assistência e minha mira parou de mover sozinha pro canto em que não dava dano. 

Journey to the Savage Planet tiro

São essas coisinhas que me fizeram pensar seriamente que eu tava jogando um jogo feito por uma galera com muito dinheiro, estudo e nenhum histórico em jogar vídeo game. Existem jogos ruins, e vários deles com certeza são feitos por pessoas que sabem reconhecer um bom jogo e o que faz deles bons. Algo que talvez seja o caso aqui, que mesmo que eu tenha chutado muito nele e vá chutar ainda mais, não é tecnicamente ruim. Entretanto, a falta de um mapa, o tiro terrível -e algo que decidi não me aprofundar- como inimigos com ataques que não funcionam em um jogo em primeira pessoa deixam claro que os problemas do jogo vem de ideias estúpidos e mal pensadas.  

Entretanto, quando fui chegando mais ao final do jogo, eu passei a perceber como ele era cheio de ideias sem sentido e que não se juntavam, como o tal quebra cabeça que citei no começo. É assim que fazem textos inteligentes né? resgatando ideias do começo e explorando mais pro final?. As mecânicas de tiro não funcionam direito e o jogo decide aumentar cada vez mais o foco na ação. A parte de comédia, desde vídeos em live action até falas da inteligência artificial que acompanha, funcionam às vezes mais rapidamente perdem a graça ou acabam e diversas mecânicas não se encaixam de maneira alguma. O único elemento em comum entre eles é a parte de serem ideias que normalmente são apreciadas.

Além de seguir ideias de Metroid Prime, um jogo que as pessoas gostam muito, ele tem, obviamente, mecânicas de Dark Souls de uma maneira bem suave. Se você morre, volta para a nave e precisa recuperar seus itens perdidos em um lugar próximo de onde morreu e por algum motivo, se você pausa, o jogo continua rodando e você pode até morrer, não existe nada que explique o pause não pausar. Outra possibilidade com a morte é enterrar seu corpo antigo, que dá um pouco de itens necessários para melhorias, que podem ser encontrada em cristais e ao matar monstros, entretanto, é tão pouco que não tem nenhuma necessidade. 

Outro elemento que não se encaixa em nada é a possibilidade de jogar em multiplayer online, é um jogo de exploração nada difícil e pode ser divertido jogar online com um amigo, mas não encaixa com nada, da mesma forma que as partes de comédia não fazem nenhum sentido com as mecânicas e toda a parte jogável. Inclusive, são elementos completamente ignoráveis e que até o momento eu não consigo encontrar o motivo de estarem lá. 

Journey to the Savage Planet Metroid Prime

Ele é tão desconexo que no meio de várias piadas, esquece completamente seu objetivo. No começo a história é sobre descobrir se o planeta pode ser habitado por humanos e responder isso ao dono da empresa secretamente, e do nada, se torna sobre explorar uma torre secreta. Esse elementos desconexos estão por toda parte, são e-mails a serem lidos sem nenhum propósito, formulários a serem respondidos sem nenhum motivo e até vídeos secretos de uma raça alienígena que em nenhum momento o jogo parece se importar. Em um certo momento do jogo, existe até mesmo um comentário social sobre meio ambiente que vem do nada e some como surgiu. 

É como se o jogo tivesse sido feito em partes sem que nenhum dos desenvolvedores conversassem sobre o que estavam fazendo. Nada se encaixa ou se conecta e não existe nem mesmo a preocupação de deixar claro que eles não se importam com essa falta de conexão. O que faz parecer um jogo feito por inteligências artificiais olhando algoritmos. Uma junção desconexa de tudo o que é bem visto e elogiado hoje em dia  se juntando num pequeno jogo tecnicamente bem feito.

Mesmo assim, com todos esses problemas que me fizeram gastar cada minuto das minhas 8 horas pelo jogo pensando e me irritando, eu me diverti em certos momentos. Não é um jogo terrível, é só mal pensado. Algo que poderia ser mais fácil de relevar se fosse feito por novatos, mas seu estúdio, a Typhoon Studios, é feita por veteranos de grandes empresas, que talvez só não souberam planejar. Muitas coisas podem ter acontecido, desenvolver jogos não é fácil, mas nada diminui o fato de que Journey to the Savage Planet, o quebra cabeça desconexo, é problemático e o pior de tudo, esquecível. 

Journey to the Savage Planet será lançado no dia 28 de Janeiro para Playstation 4, Xbox One e PC

Esta análise foi feita usando uma cópia do jogo para Playstation 4 cedida pela Publisher 505 Games para o Game Lodge.