Crítica: Jujutsu Kaisen Cursed Clash – Como não usar o hype de uma série

Escrito por Leonardo Costa
Crítica

Jujutsu Kaisen com certeza teve um ótimo 2023, com uma ótima adaptação em anime pelo estúdio MAPPA (mas que não devemos esquecer das precárias condições que eles submeteram a staff do projeto) e coisas marcantes acontecendo no mangá, é por certo que a obra está envolvida em grande hype atualmente. O que melhor então, para aproveitar o burburinho da franquia, do que um jogo para chamar de seu? Com isso temos Jujutsu Kaisen Cursed Clash, um jogo de luta em arena 3D.

Jujutsu Kaisen Cursed Clash Satoro Gojou cutscene

Só que quantas vezes esse cenário de um jogo de anime (de luta ainda) ser lançado para aproveitar todo um hype gerar um jogo que podemos considerar realmente incrível? Para mim temos alguns que saíram disso, mas outras pessoas diriam que nunca aconteceu. A verdade que as vezes algo medíocre é o suficiente para agradar um leve parcela de fãs, dando algo a eles que seja divertido para passar o tempo com os personagens que tanto gostam.

Bem, eu me encaixo nessa leva de fãs que se agrada com algo medíocre e divertido de se jogar com os bonequinhos que gosta. Então fui com a mente aberta para esse jogo, mesmo o trailer inicial não ter me instigado e o jogo estando nas mãos da Byking, uma desenvolvedora que já fez outro jogo do gênero e que eu não sou muito fã. Bem, as vezes nem a melhor boa vontade do mundo e um panda te salva de uma decepção tremenda.

Literalmente fizeram um slide

Jujutsu Kaisen Cursed Clash cena modo história

Não é novidade em jogos do gênero que sua história seja contada através de recortes de cenas do anime, com as falas por cima. O que, ao menos eu, descrevo como história por slide, pois é uma sequência de imagens estáticas. Só que este jogo foi além e criou de fato uma apresentação de slide para contar a história, colocando pequenos recortes do anime em um fundo, que mais lembra a tela inicial de um PlayStation 3, ao lado das falas que são ditas pelos personagens. Isto obviamente cria um fluxo de narrativa totalmente desinteressante de acompanhar, pois nem as cenas em totalidade podemos ver. Fora que momentos que não temos falas de personagem e sim a do narrador, não tem ninguém fazendo atuação de voz, então é o slide em completo silêncio.

Não obstante, o jogo utiliza de algumas cenas extras para prolongar seu conteúdo e tentar mostrar mais interações entre os personagens, só que esse conteúdo extra é sempre a montagem do slide, mas em vez de recortes das cenas do anime, temos recortes dos sprites dos personagens, sempre num mesmo ângulo, e com um fundo meio genérico. Apenas duas vezes, temos cutscenes de fato recriando cenas do anime para conta a história. São cenas ok, mas o gráfico do jogo não ajuda em nada, mas melhor que a apresentação de slide que tem em todo o resto.

Jujutsu Kaisen Cursed Clash cena modo história original

No modo história nem tudo é algo ruim, pois por mais que conte de um jeito bem desinteressante, ao menos eles tem o cuidado de contextualizar o mínimo suficiente para que quem não conhece a obra possa entender o que está acontecendo e um pouco da motivação dos personagens. Além disso, por mais que as partes com cenas extras sejam contadas de uma forma ainda menos interessante que as partes retiradas do anime, o conteúdo delas traz interações legais e descontraídas dos personagens, pois o jogo tem um sistema bem básico de link social, que vão sendo liberados e expandidos a medida que você avança e com isso você libera algumas mini histórias.

A sensação de algo inacabado

Não posso dizer que Cursed Clash não tenta propor algo diferentes de outros jogos de luta de anime, pois ele tem toda uma identidade própria em sua gameplay. O jogo é focado basicamente em ser 2×2 em equipe, então é você e um aliado, que pode ser bot ou player, contra uma dupla de bots ou players. Já para se ganhar a partida o jogador deve gastar as quatro (geralmente) barras de vida do time, nocauteando qualquer um dos adversários. E, para que você possa nocautear o adversário o jogador deve dar dano de energia amaldiçoada no oponente, que seriam tipo jutsus se fosse jogo do Naruto, então o lance todo é você dar golpes básicos para encher sua barra de energia amaldiçoada e com isso poder usar as técnicas jujutsu no oponente. A medida que você enche a barra, você aumenta seu nível também e suas técnicas ficam mais fortes.

Jujutsu Kaisen Cursed Clash gameplay

Então, como visto, o jogo tem todo um sistema próprio seu em sua jogabilidade e que de fato até combina com a proposta do anime e traz toda uma outra dinâmica na hora dos combates. O problema é que não adianta ter boas ideias ou proposta, mas não executar elas bem. Então fora do papel temos um combate bem desinteressante em tela, que é agravado pela nítida falta de balanceamento entre os personagens.

A Nobara, por exemplo, que é uma personagem de distância, ficando totalmente a mercê da mira do jogo, que não preciso dizer que não funciona nada bem, causando vários momentos da boneca totalmente vulnerável atirando prego pro nada. Fora o fato do dano dela ser estupidamente baixo comparado a qualquer outro boneco, tu apertar vários botões com ela, soltando golpes conectados da muito menos danos que apenas apertar o RT/R2 com a Maki.

Jujutsu Kaisen Cursed Clash gameplay especial

A sensação que fica é de faltar algo que interligue as mecânicas da luta, pois eu me sentia num jogo de turno em muitos momentos, onde quem acertava o golpe primeiro fazia todo seu estrago e ai depois, como o boneco levanta com iframe, ele tinha a vantagem para acertar um golpe e assim trocava o turno. O jogo não te permite ser mais agressivo, com você tendo que atacar, dar uma esperada e ai atacar novamente pra não ser pego pelo momento de invencibilidade do oponente. Ser atingido significa receber todo um combo, já que não temos nenhuma mecânica de revidar ou se recuperar, só podemos tentar defender.

Falta variação de combo também, temos um combo automático mashando apenas um botão. O resto são golpes de arremessar para longe e as técnicas, além de um especial que pode ser usado uma vez na partida com a barra cheia. Ao menos temos algumas interações para uma batalha em dupla com os personagens podendo fazer golpes em conjunto, que podem ter uma animação especial a depender da dupla.

Jujutsu Kaisen Cursed Clash Menu de DVD

Não é apenas na gameplay que faz parecer que falta finalizar o jogo, mas principalmente em suas telas. O menu inicial mesmo parece que foi tirado de um DVD dos anos 2000, com um vídeo que começa a tocar com uma música que era pra ser a abertura do anime, mas que não conseguiram por ela lá. A tela de seleção de personagem do modo versus é algo que nem acredito que exista, sendo uma zorra de uma planilha de excel, com apenas o nome dos bonecos e sua skin. Difícil de entender, porque não é como se não tivéssemos outras telas com o modelo 3D de cada personagem aparecendo em tempo real.

Jujutsu Kaisen Cursed Clash Tela de selação de personagem do Excel

O jogo ainda tenta prolongar seu conteúdo colocando um modo com missões cooperativas, que pode ser feito com outro player ou com bot, que coloca o jogador em um modo de ondas contra vários oponentes ou um modo contra um adversário extremamente poderoso. Nesse modo os personagens tem nível e tem itens que pode ser equipados para ajudar a elevar os seus poderes. Além disso o jogo conta também com customização dos bonecos, tento algumas roupas pra desbloquear e variações de cores, não é muita coisa mas é bom de se ter.

Como não surfar no hype

Mesmo indo com a mente aberta e sem nenhuma expectativa, Jujutsu Kaisen Cursed Clash acaba por decepcionar. Com ideias que são até legais, o jogo acaba de pecar em algo extremamente importante que é a execução. Com uma gameplay que não se interliga muito bem, menus que deixam a impressão do jogo estar inacabado e um modo história que até conta bastante, mas de uma maneira totalmente desinteressante, Jujutsu acaba por ser um jogo que não cabe hoje em dia, com tudo custando mais de 200 reais.

Jujutsu Kaisen Cursed Clash Satoro Gojou especial

Infelizmente é algo abaixo de mediocre, que não consegue divertir mais do que frustrar, mostrando que não adianta apenas colocar os personagens famosos e queridos em telas, se você não os usar corretamente. Com todo o hype que a obra gera no momento, planejar um jogo realmente interessante poderia ser uma boa cartada para expandir o gosto pela obra e gerar boas receitas, mas quando se cria algo que mais afasta do que aproxima, temos instalada uma desconfiança com próximos jogos que possam surgir da obra e uma sensação desagradável com algo que gostamos tanto.

Nome do jogo:

Jujutsu Kaisen Cursed Clash

Publisher:

Bandai Namco Entertainment Inc.

Desenvolvedora:

Byking Inc.

Plataformas Disponívies:

PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X, Nintendo Switch

Nota: 3

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge