Crítica: NARUTO X BORUTO Ultimate Ninja STORM CONNECTIONS – Nem o maior jutsu justifica a existência do jogo

Escrito por Leonardo Costa
Crítica

Naruto é uma obra que acompanhei em minha adolescência seja em mangá, anime ou com alguns de seus jogos, me marcando tanto a ponto de vez ou outra eu ainda revisitar muitas de suas cenas. De tudo que surgiu da série, a linha de jogos Ultimate Ninja Storm é uma das minhas favoritas, fazendo eu querer que outros animes que gosto tivessem jogos no mesmo estilo (um pouco do que acontece agora com Dragon Ball FighterZ). 

Meu primeiro contato foi jogando na casa de um amigo o Storm 1, pois eu não tinha PS3 na época, e assim que saiu o Storm 2, que não foi mais exclusivo, eu comprei a versão de Xbox 360 e não podia estar mais animado, principalmente por conta de ter o Naruto Sennin e a transformação na forma de 6 caudas, duas das minhas formas favoritas do personagem. E a partir daí fui seguindo a linha a cada novo lançamento, inclusive em sua coletânea para consoles modernos, que me permitiu finalmente zerar o Storm 1 do início ao fim. 

Depois do Storm 4, com seu sucesso estrondoso em vendas, e a continuação do universo da obra com Boruto, na qual eu confesso não sentir apreço, eu imaginei que eventualmente teríamos uma nova entrada na série, seja em continuação direta ou uma continuação espiritual. E quase 8 anos depois de seu lançamento, finalmente temos uma nova entrada pra franquia, com NARUTO X BORUTO Ultimate Ninja STORM CONNECTIONS, novamente produzido pela Cyberconnect2 e publicado pela Bandai Namco

No começo me animei, muito pelos rumores, antes do anúncio oficial, tratarem o jogo como um Storm 5. Depois, as informações soltadas pelos leakers foram se afunilando para o que conhecemos do jogo hoje. O que devo admitir ter sido um baque muito grande, pois tudo que era informado dava o jogo como uma grande coletânea da série, sendo que o jogo já tinha uma coletânea extremamente acessível, estando em todas as plataformas modernas e com preços baixíssimos em promoção. 

Então como justificar lançar um jogo com preço cheio de algo que em teoria já está disponível no mercado de forma mais barata? Ou melhor ainda, tem como justificar a existência de algo assim? São respostas que tentaremos alcançar ao final dessa crítica. 

Nem filler teria um tratamento desses 

Indo direto ao elefante (ou seria Bijuu nesse caso?) na sala, o que fizeram ao modo história do jogo é um crime a obra. Com a tarefa mais simples do mundo de fazer no mínimo um ctrl c + ctrl v da história dos quatro jogos principais, o que tivemos foi um show de cortes de conteúdo e literalmente uma grande sessão de slides tentando contar Naruto inteiro ao jogador. 

O modo história é dividido em oito capítulos diferentes e funciona no mesmo estilo do Storm 4, que cortou a parte de andar pelo mundo, presente nos jogos anteriores, para um menu onde selecionamos um momento da história e vemos um slide de cenas do anime ou uma cutscene explicando os acontecimentos e depois lutamos. Então por mais legal que seria poder andar por Konoha e outras partes do mundo ninja, já podíamos esperar que não fosse acontecer aqui. 

O mais grave é que ao adaptarem as histórias presentes nos três primeiros jogos, não só perdemos a parte de exploração pelo mapa e cenas animadas, como lutas contra chefes importantes foram cortadas. Sabe Tsunade x Orochimaru do Storm 1? Gaara x Deidara, Sakura x Sasori, Naruto x Orochimaru na ponte, Jiraya x Pain do Storm 2? Terceiro Hokage x 9 Caudas do Storm 3? Todos esses momentos que entregavam grandes batalhas e cutscenes viraram slides com cenas do anime, com muitos até sem uma narração ao fundo. 

Essas perdas e corte de conteúdos foram alguns dos mais pesados, mas além disso, outras lutas que antes eram grandes lutas de chefe com as famosas cenas de quick time event (QTE), acabaram de se tornar simples lutas de versus. Com algumas poucas tendo se salvado nesse recorte compilado da série. 

É realmente triste a falta de carinho aplicado a essa parte do jogo, pois o jogador que nunca tiver jogado nada da série perderá ótimos momentos e batalhas criadas nos jogos anteriores. E o estrago foi tão grande que nem focamos em pensar na oportunidade perdida em fazer uma grande homenagem a obra com um modo história robusto, mas sim que se tivessem feito um ctrl c + ctrl v seco já teria ao menos deixado bem mais completo do que temos aqui. 

Uma história original digna 

Um dos pontos que o jogo se apega para tentar justificar sua existência é trazer uma história extra original de Boruto, com participação do próprio Masashi Kishimoto, e com uma execução mais bem feita do que no modo história tradicional. 

Nessa história extra temos uma organização criminosa chamada de Zero, liderada por um ninja misterioso que é guiado pelos ideais de Pain. A organização quer acabar com período de paz do mundo por meio de uma nova guerra ninja.  

Enquanto isso, Boruto, que está levando sua vida normalmente, descobre que sua irmã quer a réplica de um colar usado por Naruto em sua infância, que está sendo distribuído como recompensa de um novo jogo online chamado Ninja Heroes

Então para deixar sua irmã contente, Boruto entra no jogo para tentar conseguir o colar. E nisso temos um dos momentos mais engraçados de um jogo de Naruto, com Boruto simplesmente usando um óculos VR e entrando no jogo, que se parece muito um MMO no universo de Naruto. Nessa incrível metalinguagem, Boruto tem que escolher um avatar, que acaba sendo de seu pai adolescente, e fazer missões que são simplesmente batalhas da série Storm.  

Em mais um momento engraçado, descobrimos que Shikadai, com o avatar de seu tio Gaara, e Inojin, com o avatar de Deidara (que ele achou bonito) também estão jogando. Com isso, convencemos Sarada, que joga como Sakura, e Mitsuki, como Orochimaru, a experimentarem o jogo também. Criando simplesmente o grupo mais engraçado de se ver andando junto. 

Para guiar todos, eles acabam conhecendo Nanashi, que é a guia de eventos dentro do Ninja Heroes, na qual Boruto vai criando laços com o tempo. Em paralelo, a Zero vai fazendo seus movimentos para causar uma nova guerra no mundo, até que em dados momentos temos os choques de plots e sua conclusão. 

A história é interessante, claramente poderia ser um filler honesto de Boruto ou um arco principal se fizessem ajustes. Não gostei da escolha que fizeram para o final, que a meu ver tirou o peso de todo o resto do enredo, mas aí é de gosto. Além disso, alguns acontecimentos são bem rushados para se encaixar no tempo que eles queriam que durasse.  

Então ao mesmo tempo que tem ideias boas, a execução deixa a desejar em alguns momentos. Fora uma certa repetição de batalhas, que pode cansar quem jogar ambos os modos história em sequência. 

Nesse modo também não temos exploração pelo mapa, mas todas as cenas são com gráficos do jogo e dublagem. Algo que achei bem-feito, deixando melhor de acompanhar e se interessar pela história. Também existem algumas cutscenes, com cenas bem legais.  

O ponto mais fraco é nenhuma luta desse modo contar com os momentos de QTE, que são tão marcantes na franquia como um todo. Temos batalhas que poderiam dar ótimos momentos para usar a mecânica, mas que infelizmente não foram aproveitados. 

Elenco robusto 

Um outro chamariz para justificar a existência do jogo é o elenco de mais de 130 personagens. Sendo o mais robusto da toda a série, ele traz a união de diversos personagens vindo dos jogos antigos, não só os numerados, mas como de Revolutions e Generations também, e o acréscimo modesto de mais alguns nomes não vistos antes em nenhum jogo, com a maioria vindo de Boruto.  

Apesar de não ser perfeito, pois alguns personagens perderam movesets antigos, nem todos os personagens voltaram e não é possível jogar com os personagens novos da história extra. Além do fato de que alguns personagens são basicamente a mesma coisa, mudando um ou dois golpes, mas esse detalhe pra inflar o número não chega a ser novo pra franquia.  

A melhor solução talvez fosse deixar um único slot para cada personagem e deixar o jogador customizar a aparência e os golpes dele. Iria diminuir o número bruto, mas deixaria o jogador com mais liberdade de jogar de sua maneira. Claro que isso custaria ao jogo perder o fator de você rapidamente escolher uma variação do personagem já pronta e ir pra luta. 

Mesmo com esses adendos é realmente bem legal ter esses personagens todos reunidos em um só jogo, dando um leque maior de escolhas ao batalhar com a CPU, nossos amigos ou desconhecidos no online. Então, no geral, eu vejo o elenco como algo mais positivo do que negativo no jogo. 

Vale destacar também que todos já vem desbloqueados e existem inúmeras skins para eles vindas dos jogos antigos. Essas skins tem que ser desbloqueadas, mas é tudo com moeda ou tarefas dentro do jogo, basicamente tendo que jogar pra liberar. Parece algo simples para se elogiar, mas dado o histórico de jogos de luta atual é algo para ser mencionado. 

A jogabilidade continua o ponto alto do jogo 

A jogabilidade continua a base dos jogos anteriores, mas com alguns ajustes feitos. Ainda temos a possibilidade de trocar o boneco jogável por algum que está em suporte, só que dessa vez consumindo a barra de suporte completa. O chakra agora carrega sozinho com o tempo, deixando a batalha mais dinâmica, pois podemos esperar ele voltar em vez de necessariamente ter que parar para carregar. 

Os famosos itens que antes eram consumíveis durante a batalha, agora funcionam no sistema de cooldown. Contra-ataques agora não gastam mais barra, se tornando menos punitivos a quem usa. A vida reseta a cada round, em vez de continuar de onde parou.  

Não temos mais o famoso “TILT”, que era um golpe que podia ser usado com o analógico. E também não temos mais o aprimoramento de projeteis (chakra + shuriken), no lugar eles deram um segundo jutsu a todos os personagens. Além disso, alguns awakenings tiveram sua duração reduzida para balanceamento.  

São todos ajustes que achei que mantiveram a jogabilidade do jogo divertida e boa, principalmente a adição de um segundo jutsu aos personagens, pois temos a sensação de ter mais recursos para se usar em batalha e de forma mais fácil. Os ajustes também deixaram as lutas mais dinâmicas pois é mais fácil encaixar combo. 

Buscando facilitar para novatos na franquia, foi inserido um modo de controle simplificado que permite realizar combos automáticos que são finalizados com um jutsu. É totalmente opcional e pode ser mudado a qualquer hora. 

Os modos de batalha que temos presentes, seja online ou offline, são os mesmo de jogos antigos, mas faltando alguns modos já conhecidos pelos fãs. O mais prejudicado nisso é o online, que eu diria estar uma experiência pior que o Storm 4, por não ser possível chamar um amigo para uma partida particular e não ter os modos de jogo de liga ou torneio. 

Medo de seguir em frente 

Uma impressão que eu já tinha, mas que esse jogo reforçou é o medo de seguir em frente que a franquia Naruto/Boruto tem. Não sei dizer de que nível da cadeia de produção da obra vem esse medo, mas é notório que eles não conseguem vender Boruto em mídias como videogame sem atrelar a marca Naruto junto.  

Entendo a diferença de peso entre os nomes, eu mesmo não gostei da continuação e não me interesso em consumir Boruto, mas se resolveram seguir em frente no universo com um novo protagonista, é necessário que seja pra valer. Até porque não é como se boa parte do elenco de Naruto sumisse, eles ainda tão lá, só não são o foco (e convenhamos que no final de Naruto a maioria dali já não tinha foco). 

É possível argumentar que existem obras que também não seguem em frente, como Dragon Ball, que até hoje está aí pintando o cabelo de Goku, mas isso vem de uma escolha que foi feita por quem produz, tanto que eles mantem o foco no Goku e Vegeta até hoje. Diferente de Naruto que foi passar a tocha pra Boruto mas não largou dela. 

Enquanto esse medo existir, é possível que tenhamos mais Storm Connections por ai, que é um jogo que abraça o passado de qualquer forma e acaba por prejudicar o presente. Não ironicamente, o modo história focado no Naruto é esse show de recorte mal-feito e a história extra de Boruto, que tem mais qualidade de produção, acaba prejudicado por não ter o foco total. 

Uma mancha na tempestade 

NARUTO X BORUTO Ultimate Ninja STORM CONNECTIONS poderia ser uma grande homenagem a uma das maiores franquias de jogos de anime atuais, mas o que temos é um remendo mal costurado de uma parte da história da série, que não se justifica em momento nenhum. Com conteúdos cortados de maneira inexplicável em quase tudo do jogo, não tem como não se decepcionar com o potencial desperdiçado e pela falta de zelo que tiveram. 

O que deixa mais triste é a jogabilidade ser boa e viciante como os outros jogos da série, em ter esse elenco todo reunido num jogo ser tão legal e o fato da história extra, apesar de alguns problemas, ser divertida de acompanhar. Só que apenas isso é difícil justificar a existência desse jogo, sendo ainda mais difícil recomendá-lo, mesmo para os maiores fãs, que podem ter uma experiência de história mais completa e mais em conta com a Legacy Collection

Nome do jogo:

NARUTO X BORUTO Ultimate Ninja STORM CONNECTIONS

Publisher:

Bandai Namco Entertainment

Desenvolvedora:

CyberConnect2 Co.

Plataformas Disponívies:

PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X, Nintendo Switch

Nota: 5

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge