Crítica – Necronator: Dead Wrong

Escrito por Tiago Castro
Crítica

A mistura de estilos com card game e deck building está realmente em alta – sobretudo no universo das produtoras indie. Alguns desenvolvedores acertam em cheio – outros tentam. Com claras influências e referências a Kingdom Rushers e Slay the Spire, Necronator: Dead Wrong elabora uma espécie de Tower Defense reverso com um Card Game em tempo real. Uma combinação que pode soar até ousada, mas que foi bem polida (ainda que simplificada) pelo estúdio.

Para quem não está familiarizado com o termo, Tower Defense é um estilo de jogo de estratégia, surgido na época de ouro dos mods e mapas do Warcraft 3. Trata-se de um subgênero do RTS (estratégia em tempo real), no qual o jogador deve planejar e construir um esquema de defesa – originalmente focado em torres (daí o nome). Os inimigos surgem então, percorrendo um caminho pré-definido e precisam chegar ao fim do percurso ainda vivos. Este é o conceito básico e principal e com o passar do tempo o TD foi sofrendo várias modificações e adaptações, se tornando inclusive um gênero por si só.

Necronator bebe forte dessa fonte. Nesse ‘micro RTS’, como o desenvolvedor nomeou, a fórmula foi invertida. Fica ao controle do jogador justamente o papel de atacar as defesas, alcançar a última fortaleza do inimigo e destruí-la. O conceito é simples e por isso, permite elasticidade em sua execução e planejamento.

As partidas são rápidas, ágeis e boa parte ocorre de forma mais ou menos automática (e não exigem estratégias muito elaboradas), o que em determinados momentos faz com que o jogador possa se sentir no banco de passageiro, observando a ação apenas. Na partida, o jogador começa controlando uma estrutura que abriga um cristal. É dali que suas criaturas são invocadas e começam, cada uma com sua velocidade específica, a percorrer o caminho em direção ao inimigo.

O combate é satisfatório, simples e flui bem – sobretudo quando se tem algumas literais cartas na manga para poder usar contra o adversário. A faceta card game aparece com maior força e presença nos embates entre as unidades, momentos nos quais pode-se usar cartas no calor do momento para fortalecer ou enfraquecer as unidades e até causar dano direto nos inimigos. As unidades tem características únicas e vão aparecendo novos monstros, com mecânicas mais complexas para adicionar ao deck conforme as batalhas são vencidas. Assim, o jogo tem uma curva de aprendizado justa mas pode deixar o jogador inexperiente e desavisado um tanto desnorteado, ainda que a interface seja intuitiva e competente o bastante.

O que pode parecer confuso a princípio é simplificado com um design de interface amigável e eficiente. Necronator não perde muito tempo se explicando para o jogador, o que causa um pouco de confusão no início – mas é intuitivo o bastante para não se perder. Os menus são limpos, com textos objetivos e cores vivas. Na verdade, uma característica marcante do jogo é justamente sua objetividade, um ponto positivo. Não há delongas e ao inicializar o game, em poucos minutos já estamos escolhendo o personagem e entrando em combate.

O design, por sua vez, é um ponto alto do jogo e um prato cheio pra quem curte um visual que não se leva a sério, com os dois pés na comédia e deboche. Além de apresentar algumas influências óbvias de obras como “Adventure Time”, o jogo te coloca no papel de um aspirante incompetente a imperador do mal que está numa cruzada para dominar o mundo e destruir tudo pelo caminho. Tudo isso revestido por camadas de humor sarcástico, piadas infames e incontáveis referências à cultura pop. Divertidíssimo.

O desenho das unidades e estruturas também segue essa linha cômica e cartunesca. Contudo, nada vai muito além do que já foi criado em outras fantasias medievais já tão bem conhecidas. Como em Necronator jogamos com os ‘vilões’, as unidades que estão à disposição são orcs, mortos-vivos, criaturas das trevas, demônios, ogros e muitos outrora inimigos. 

Por hora, o jogo pode ser um pouco repetitivo, principalmente para jogadores já familiarizados com os estilos. Apesar disso é bastante viciante – o aspecto card game combinado com a geração procedural de aventuras e elementos roguelike nos dá um valor de replay bastante saboroso. No mais, se por um lado Necronator: Dead Wrong não inova em termos de temática e conceito, o jogo tem potencial para se destacar nesse oceano de combinações com card game.

Necronator: Dead Wrong está disponível para PC na Steam e está localizado para PT-BR pela Masamune.

Está crítica foi escrita usando uma key do jogo cedida pela assessoria Masamune.