Crítica: NieR Replicant ver.1.22474487139… –

Escrito por Pedro Ladino
Crítica

NieR: Automata mostrou de vez Yoko Taro para o mundo. Lançado em 2017, o título fez com que inúmeras pessoas conhececem e se apaixonassem pelo esquisito e surreal diretor. Sendo assim, confira a nossa crítica de NieR Replicant ver 1.2, um remake/remaster do primeiro game da franquia.

Em 2018, eu virei uma dessas pessoas. Jogar NieR: Automata foi uma das melhores experiências que tive com videogames e eu queria MAIS. Queria muito jogar o primeiro NieR, lançado em 2010, porém a falta de uma cópia digital e cobranças exorbitantes na versão física, me desanimaram. Sem falar na ausência de um PS3 ou Xbox 360 em minhas mãos.

Minha única esperança, era um remaster ou remake. As chances se tornaram grandes quando Automata bateu 3 milhões de cópias vendidas, e então, em 2020, 10 anos após o lançamento original, NieR Replicant ver.1.22474487139…, foi anunciado.

Citando as palavras do próprio Yoko Taro, NieR Replicant ver.1.22474487139… não é um remake ou remaster e sim uma versão aprimorada do jogo original. E de fato é, não considerando a melhora nos gráficos e animações, o jogo é literalmente o mesmo daquele lançado em 2010, com conteúdos adicionais, outrora retirados do game original. Aqueles que leram Grimoire Nier, reconheceram a maioria das adições.

Em NieR Replicant ver.1.22474487139… seguimos a história de Nier (nome que eu dei para o nosso protagonista, você pode escolher qualquer nome), em que ele precisa salvar sua irmã Yonah da Black Scrawl, uma doença que faz com runas escuras comecem a surgir em seu corpo. Após Yonah misteriosamente sumir, Nier encontra Grimoire Weiss, um livro falante capaz de soltar magias e então a história começa.

Comparando com Automata, a referência que eu tenho sobre Yoko Taro, Replicant traz uma história mais pessoal, com um sentimento que vem te agarrando aos poucos e quando menos se espera já está engolido pela narrativa. Quase todos os personagens do mundo, sejam os principais ou NPCs, estão vivos e crescem de acordo com o avançar do jogo. É algo que poucos NPCs tinham em Automata, mas aqui é tudo mais pessoal e único. Posso dar o exemplo da narrativa em torno da Moça do Farol, possui uma linha narrativa triste e com diversos desfechos. Outros personagens, como o Casal da Bolsa Vermelha, que nesta versão ganhou sidequests para ajudar na construção de ambos, o que em outros jogos seriam apenas um casal com uma gimmick genérica e mal explorados.

Outra coisa que ajuda nessa sensação, é o ritmo do jogo. Enquanto Automata começa no 220, NieR Replicant começa calmo. Com nosso protagonista indo matar ovelhas para pegar sua carne, coletando poções para Popola. Tudo na maior paz, até que a mente de Yoko Taro começa a funcionar.

Nier faz de tudo para conseguir a cura para a sua irmã. E quando eu digo tudo, é tudo mesmo. Desde o começo, Taro mostra que o nosso protagonista não é um herói comum e o jogo não está nem aí para isso.  Para ser honesto, não existe nenhuma pessoa normal nesse jogo. É impressionante o quão desparafusados são os personagens do game, mas o mundo cruel do jogo os obriga a ser assim.

Grimore Wess e Kainé são perfeitos. Emil merece ser protegido. E Nier… éééé, deixo para vocês decidirem. Taro não tem medo de construir um personagem que está totalmente errado em suas decisões, apenas por ter um único objetivo em mente, e isso é algo que eu acho incrível no roteiro. O humor do game funciona muito bem, cheio de ironia e acidez.

Infelizmente, o jogo peca em algo totalmente inacreditável e sensível. Após ter seu roteiro retraduzido no que diz respeitos aos personagens de Kainé e Emil, o game possuí um troféu que contradiz todo o trabalho. É de um mal gosto extremo e não sei como isso aconteceu, como se ninguém da equipe tivesse conversado entre si.

É de se respeitar o trabalho da ToyLogic ao pegar um game que possuía animações travadas e remodelar de uma forma que pareça que o game seja totalmente novo. 

O combate é ótimo. Eu sempre ouvi dizer que o combate do original era travado e desbalanceado. Aqui, eu diria que continua desbalanceado. Depois que você pega a Phoenix Spear e vai passando pelas outras rotas, tudo fica quebrado. O jogo não adapta o level dos inimigos após a mudança de rota, então é normal você acabar dando one-hit kill em grande parte deles. Acredito que a equipe saiba disso, visto que temos troféus para derrotar bosses em X tempo.

Em Nier Replicant, temos um motivo para o combate ser mais travado que Automata. Aqui jogamos com pessoas com corpos normais – na medida do possível, claro -, enquanto no outro jogamos com Andróides. Eu gosto como mantiveram essa sensação de diferença entre os jogos, Takahisa Taura, da Platinum Games, que foi o Senior Game Designer de Automata, ajudou a remodelar o combate do jogo. Acredito que conseguiram equilibrar bem, podendo agradar tanto os fãs do original quanto os de Automata.

Na questão do uso das magias de Grimoire Weiss, não há motivos para usar outras skills além da Dark Lance, é simplesmente quebrada e ajuda no crowd control.

O jogo ainda passa uma sensação de retrô e isso precisa ser levantado em uma crítica de NieR Replicant. É claro que é a proposta, vide os diferentes ângulos de câmeras, incluindo jogos isométricos ou um cenário que referencia diretamente a mansão de Resident Evil, usando câmera fixa.

Como toda obra de Yoko Taro, o jogo possui múltiplos finais que irão desbloquear a narrativa por completo. Nesse jogo, funciona diferente do NieR: Automata. O jogador é obrigado a jogar a segunda parte da campanha pelo menos 3 vezes. Não só isso, mas é preciso coletar as 33 armas disponíveis no jogo. 

É completamente uma faca de dois gumes. Irá depender do quão investido você está na história. Há poucas, porém importantes, mudanças entre as rotas, então você pode simplesmente pular as cutscenes, mas tenha cuidado para não pular as cenas adicionais. Irá chegar uma hora onde você estará cansado de ir para Lost Shrine, por exemplo. 

Como o jogo é o mesmo do original, não há fast travel além do barco. O jogo poderia pelo menos dar a opção de pular a exploração de Lost Shrine, nas rotas C e D. Ou um save point antes do final boss. São pequenas mudanças que ajudariam os players a não se cansarem do jogo em certo ponto. 

Às vezes mudar é o certo, sem medo de “estragar” o original. Não é todo mundo que irá aguentar rejogar a segunda parte 3 vezes.

Enquanto os primeiros finais tem uma sensação (esquisita) agridoce. Os finais posteriores são um soco no estômago dos jogadores. É inacreditável o que Yoko Taro faz aqui. Já o final inédito, encerra a jornada épicamente.

As sidequests da primeira parte são simples, até demais. Já na segunda parte, elas são mais bem escritas. Uma das melhores partes do jogo. Elas surgem sempre no caminho da campanha principal e te dão uma sensação de que você está sendo enrolado e sempre obrigado a se desviar do caminho. Mas seria mesmo apenas uma sensação?

Keiichi Okabe e a equipe da MONACA brilham novamente. A trilha-sonora de Automata é um dos grandes destaques do jogo e aqui é igual. Eu nunca tinha escutado a trilha-sonora do NieR original, querendo guardar apenas para quando fosse jogar. A atmosfera evocada ajuda no tom de melancolia, raiva e excitação, e isso quando quase todas as músicas são rearranjos umas das outras.

Vale mencionar que o jogo não tem localização e nem tradução para o português brasileiro.

Longe de ser perfeito, é preciso dizer aqui na crítica que NieR Replicant ver.1.22474487139… não desperdiça a sua segunda chance e se torna novamente uma obra-prima em formato de videogame. Não é um jogo que traz esperança, é um jogo cruel, onde os fins não justificam os meios.

Que venha a próxima obra do diretor, mas por enquanto irei me aventurar em Drakengard.

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Nome do jogo:

NieR Replicant ver.1.22474487139...

Publisher:

Square Enix

Desenvolvedora:

Toylogic

Plataformas Disponívies:

PC, Playstation 4, Xbox One

Nota: 10

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge