Crítica: Persona 5 Tactica veste uma máscara de contrastes

Escrito por Guilherme Santos
Crítica

Persona 5 Tactica é uma representação divertida e carismática de se expandir ainda mais o universo de spin-offs da renomada série de RPGs da Atlus. No entanto, o game decepciona ao ser uma das aventuras menos memoráveis dos Phantom Thieves.

Anunciado no começo desse ano, a Atlus nos introduz a esse mais novo spin-off de Persona 5, surpreendendo ao adotar uma abordagem completamente diferente, com um novo estilo artístico e um inesperado gênero de estratégia por turnos, aos moldes de XCOM e Mario + Rabbits.

Persona 5 Tactica oferece uma experiência diferenciada do restante da série, para os fãs mais assíduos que já têm afinidade com os personagens, este jogo é uma boa desculpa para revisitar o mundo de Persona 5 mais uma vez.

P5T carrega muito carisma, ao mesmo tempo mostrando o cansaço que a série se encontra, após 2 versões de jogos, múltiplos spin-offs e colaborações em gachas, Persona 5 merece um longo descanso e precisa passar o bastão para o seu sucessor muito em breve.

 

RETORNANDO AO METAVERSO COM PERSONA 5 TACTICA

P5T começa de forma bem habitual e segue uma estrutura bem linear e simples, após os eventos principais de Persona 5, nosso time se encontra mais uma vez reunidos no café LeBlanc, a narrativa principal do jogo se faz presente quando o desaparecimento de uma figura política importante é o engate inicial para a aventura e o mistério que joga os protagonistas de volta ao Metaverse sem qualquer explicação aparente.

Dessa vez, o mundo distorcido envolve um dos personagens chave para esse jogo, Kasukabe Toshiro, o político que havia desaparecido agora se encontra dentro desse cenário, tendo que confrontar as monstruosidades criadas a partir de sua própria cognição e lidando com os eventos traumáticos que marcaram sua vida.

Ao lado da recém-introduzida Erina, que nesse mundo desempenha o papel de liderar de uma corporação rebelde que luta contra as criaturas desse mundo, que estão espalhando terror e sofrimento à população que habita essa versão do metaverse.

O grande foco da história gira em torno de Kasukabe Toshiro, que acorda com suas memórias enevoadas, preso dentro de uma masmorra, até ser resgatado pelos Phantom Thieves, em parceria com Erina, eles gradualmente desvendam a complexa relação entre Toshiro e o estranho mundo em que agora estão confinados.

Confesso que, inicialmente, Toshiro aparenta ser um personagem sem brilho, um político por volta dos seus 30 anos, trajando terno e gravata, facilmente confundido como um figurante inexpressivo, mas o fato dele ser um alguém tão ‘normal’ em comparação a extravagancia dos demais, é o que dá mais contraste ao personagem quando sua narrativa se desenrola, mostrando seu desenvolvimento e tornando-o extraordinário.

Persona 5 Tactica - Toshiro Kasukabe

A história de Toshiro é muito humana e fácil de se relacionar, os eventos que afetam a sua vida são bem pesados e carregam um trauma emocional muito grande e significativo, é bem característico da série Persona abordar temais mais profundos como esse. No entanto, aqui isso foi abordado por uma outra perspectiva e proporcionou algo bem interessante e intrigante.

É notável o contraste do que Persona 5 nos mostrou anteriormente, a rebelião da juventude e de se voltar contra a sociedade e curtir com seus amigos, e a abordagem atual. O foco em um adulto que sofreu a vida inteira, com a juventude traumatizada e vendo o trabalho e responsabilidade gradualmente corroendo sua sanidade.

Isso tudo representa problemas reais da nossa sociedade e principalmente do povo japonês, essa abordagem mais intensa e realista na narrativa, mostra a capacidade que o jogo tem transmitir essa mensagem mais humana através de um visual fofo e carismático, mostrando o verdadeiro contraste desse jogo, apesar de que o aprofundamento nesse assunto é bem raso e superficial.

 

Estratégias e Combate – Explorando as Táticas de Persona 5

 

A mudança mais marcante nesse spin-off é a transformação do gameplay para um jogo de estratégia por turnos, é bem interessante ao meu ver como os desenvolvedores conseguiram traduzir os conceitos e características da série Persona para um jogo de estratégia desse gênero.

A implementação das Personas está bem interessante aqui, já que agora é permitido que qualquer membro dos Phantom Thieves possa equipar uma Persona secundária, aumentando ainda mais as opções de customização, cada personagem pode ser moldado à medida do jogador, dando uma experiência mais personalizada.

Falando em Personas, a Velvet Room nesse jogo está com uma temática bem criativa, Lavenza ainda se mantem uma personagem extremamente carismática e as execuções são divertidas de ser assistir, com varias opções de customização de habilidades entre os Personas, incluindo skills passivas, buffs e debuffs e habilidades únicas no geral.

Além disso, cada personagem possui uma árvore de habilidades, sistema esse que acrescenta mais profundidade ao combate, variando desde habilidades elementares até opções de movimentação, HP e SP, e por aí vai, cada side-quest e conversa com os membros da equipe gera mais pontos para serem investidos na skill tree.

As mecânicas familiares de Persona 5, como explorar fraquezas inimigas, o sistema 1 More, Baton Pass e os All-out-Attacks, estão presentes e integrados de forma bem criativa, dando uma maior fluidez ao ciclo de gameplay envolvente e intuitivo que o jogo estabelece.

P5T foge da linearidade proporcionando ao jogador um controle mais vertical, com varias plataformas e a capacidade conectar e combinar ataques em conjunto com personagens, o Triple Threat é uma mecânica que dependendo da posição deles no mapa é algo que adiciona muito dinamismo ao combate.

Apesar da simplicidade visual, os mapas de combate apresentam desafios bem intrigantes e, por vezes, frustrantes, colocando o jogador em procissões desconfortáveis propositalmente para ver como podemos sair dessa situação, entre mecânicas que limitam a movimentação, plataformas traiçoeiras, bombas, puzzles e muito mais, grande parte do desafio apresentado no combate é bem desafiador e te faz pensar fora da caixa.

 

Os tropeços de Tactica que não podemos ignorar…

 

Meu maior problema com P5T é sua inconsistência ao longo do jogo e diversos problemas de ritmo. Por vezes, experiência se estende desnecessariamente em mapas repetitivos e sem incentivo, é só filler mesmo até chegar no boss, embora haja momentos excelentes na narrativa, como anteriormente descrito, há também momentos notáveis de baixa qualidade na escrita, e decisões que impactam negativamente o fluxo da história com clichês e coisas sem sentido.

Entretanto, o fato que não gostei tanto assim, porém, é como a história é desenvolvida a partir da amnésia de Toshiro e da Erina, usando isso como um plot device para impulsionar a narrativa e revelar os mistérios apresentados. Infelizmente, essa abordagem torna a trama mais previsível, uma vez que os personagens ficam debatendo algo que o jogador claramente já sabe a resposta e na hora da revelação o impacto se perde um pouco.

A história em um todo é inconsistente, embora, a mensagem transmitida é muito bonita e o vínculo criado entre os personagens seja emocionante, maneira como a história foi escrita, ainda mais pro final, passa a impressão de algo bem rushado, poderiam ter explorador cenas mais importantes ao invés de perder tempo com outras coisas tão irrelevantes.

Os mapas, por sua vez, são meio sem graça demais, enquanto as estéticas do primeiro e segundo mundos são interessantes, os mapas não conseguem refletir isso muito bem, o terceiro mundo, em particular, é um desperdício de potencial, considerando sua temática, que não é explorada nem um pouco nos mapas.

P5T se prolonga além do necessário, especialmente o último mundo, antes do final boss, é completamente filler, uma ‘boss rush‘ contra todos os chefes anteriores, juntamente com mapas mal elaborados e irritantes, A verdade é que toda essa parte final parece desnecessária, poderiam facilmente ter incorporado o o boss final logo após o final do terceiro mundo, o que teria resolvido muitos dos problemas apresentados honestamente.

 

Cores e Emoção – Explorando o DLC: Repaint your Heart – 

 

O DLC é uma das melhores surpresas para o post game, ele possui uma abordagem leve e envolvente, proporcionando uma narrativa mais descompromissada e descontraída, porém extremamente cativante, a trama se desenrola de maneira ágil e direta ao ponto, contribuindo para uma experiência divertida com os grupo de Persona 5 Royal.

O conceito da vez aqui é mais ou menos, algo como um Splatoon mais simplificado, onde os mapas são construídos de uma maneira incentivando essa nova mecânica de jogabilidade, com várias latas e barris de tinta para o jogador destruir causando com que a tinta se espalhe em determinada área, pintando ao seu redor, tinta essa que deixa os inimigos mais vulneráveis a ataques e causa mais dano, o contrário também se repete para o jogador.

Kasumi - Persona 5 Tactica

O objetivo ainda é o mesmo de derrotar todos os inimigos, mas essa mecânica da tinta adiciona uma camada nova e desafiadora para o jogo, que eu achei honestamente quase tão divertida quanto as mecânicas do jogo base.

A jogada da vez aqui é que Joker dessa vez está acompanhado da dupla do Persona 5 Royal, Kasumi Yoshizawa e Goro Akechi, esse trio que é um sucesso em popularidade, acabou sendo escanteado de DLC por que a timeline de jogos e spin offs de Persona 5 é bizarra e mal estruturada.

A narrativa envolve os personagens serem transportados de volta ao Metaverse após entrarem em contato com uma arte de rua que exala uma energia anormal, o novo mundo a ser explorado lida com toda essa temática de arte de rua e com uma vilã nova, o desenvolvimento dessa história por mais que curto é excelente e cativante.

 

Persona 5 Tactica – CONCLUSÃO 

 

Persona 5 Tactica é uma joia em conceitos interessantes porém o jogo tropeça demais em sua execução e acaba deixando a desejar, os temas apresentados poderiam ter sido explorados com maior profundidade, mas no fim das contas acaba sendo uma experiência bem superficial.

Para os entusiastas de Persona 5 e das interações entre os Phantom Thieves, o jogo ainda oferece ótimos atrativos, e proporciona a oportunidade de experimentar como a série se adapta e se desdobra neste novo gênero. No entanto, é inegável que o jogo falha em recapturar o brilho de novidade que essa série uma vez nos trouxe, deixando uma sensação de que  Persona 5 já está se estendendo mais do que deveria.

Nome do jogo:

Persona 5 Tactica

Publisher:

SEGA

Desenvolvedora:

P-Studio, Atlus

Plataformas Disponívies:

PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X, Nintendo Switch

Nota: 7.5

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge