Crítica: Planet of Lana – uma odisseia extraterrestre marcante

Escrito por Arthur Tayt-Sohn
Crítica

O que acontece quando veteranos da indústria de cinema e animação resolvem dar um novo rumo à sua carreira e desenvolver um jogo? A resposta é Planet of Lana, um jogo de plataforma cinemática desenvolvido pela Wishfully, sendo o jogo de estreia do estúdio.

Inspirado em clássicos como Limbo, Inside, Another World e animações do Studio Ghibli como A Viagem de Chihiro e Meu Amigo Totoro, Planet of Lana chamou muita atenção quando foi revelado, mostrando belíssimos visuais de pinturas feitas à mão.

Tivemos a oportunidade de jogar Planet of Lana e contamos um pouco da nossa experiência com essa odisseia extraterrestre.

O início da aventura

Tudo começou em 2017, quando Adam Stjarnljus, um dos principais artistas do estúdio, teve a ideia de criar uma ilustração que mostrava uma garota, seu companheiro e uma máquina em um planeta alienígena que vibrava com natureza. A partir disso ele decidiu que precisava transformar isso em um jogo.

Já a aventura de Lana começa quando a paz em seu vilarejo é interrompida de maneira inesperada com a invasão de um exército de máquinas. Todos os moradores são sequestrados, inclusive o seu amigo Elo. Ela então resolve sair do vilarejo e encontrar uma forma de resgatar seu amigo e os outros moradores do vilarejo.

Logo no início de sua aventura ela encontra Mui, uma pequena criaturinha que rapidamente se afeiçoa à Lana. Os dois então passam a viajar juntos e a cooperar, cada um utilizando suas habilidades, para sobreviver aos perigos do planeta e à caçada implacável das máquinas.

Mecânicas simples, acessíveis e funcionais

O estúdio Wishfully adotou uma abordagem para as mecânicas do jogo que o deixaram bastante acessível. Você pode andar, pular, se agarrar em beiradas e cordas e também ativar alguns mecanismos. Você também consegue dar alguns comandos para Mui, como pedir para ele ir a algum lugar, apertar botões, etc.

No decorrer do jogo algumas variações dessas mecânicas são apresentadas, que não detalharei aqui por apresentar spoilers do enredo. Essas mecânicas agregam uma camada de complexidade, mas ainda mantendo o jogo bastante acessível.

Seu objetivo é avançar nos cenários e para isso você deverá resolver alguns quebra-cabeças e também passar sem ser visto pelos inimigos, como máquinas e alguns animais selvagens. Os quebra-cabeças não são muito complexos, mas em vários momentos eles exigem a observação do jogador e um pouco de exploração.

Planet of Lana é um jogo claramente pensado para ser o mais acessível possível, podendo ser jogado por pessoas de todas as idades. O mais importante é que todas as mecânicas do jogo funcionam sem problemas e são utilizadas, diferente do que ocorre em alguns jogos que apresentam inúmeras mecânicas que acabam sendo subutilizadas.

O jogo é perfeito para apresentar para pessoas inexperientes em videogames, para jogar com crianças e até mesmo para aqueles mais veteranos que só querem uma experiência mais tranquila e focar em apreciar belos visuais e uma boa narrativa.

Uma narrativa (quase) não verbal

A história de Planet of Lana não é explicada de forma direta e por vezes requer a interpretação do próprio jogador. Nesse aspecto o jogo me lembrou FAR: Lone Sails e Changing Tides, que não possuem diálogos e também dão pistas do que ocorreu antes dos acontecimentos do jogo por meio dos cenários.

Apesar de existirem diálogos e escritas no jogo, o idioma falado nesse planeta é fictício. Mesmo que em alguns momentos os personagens conversem entre si, não há como entender totalmente o que eles estão falando. Mas mesmo sem entender os diálogos, é possível compreender a maior parte dos acontecimentos.

No decorrer do jogo você encontra imagens e cenários que deixam claro os principais acontecimentos enquanto deixa alguns sem muita explicação. E faz sentido dentro da proposta do jogo, já que Lana entra em contato com máquinas e com uma cultura que ela não conhecia até então.

Essa abordagem narrativa deixa que o jogador use a própria imaginação e interpretação para entender o que aconteceu em Planet of Lana. Por outro lado, também não sobrecarrega o jogador com muitas informações, focando mais na relação entre os personagens principais e no objetivo de Lana em resgatar Elo e as pessoas do seu vilarejo.

Apesar de não entendermos uma única palavra do que é dito no jogo, Planet of Lana transmite os sentimentos dos personagens na forma com que eles se relacionam, seu tom de voz, suas demonstrações de afeto e até nos seus cenários.

O jogo não precisa te dizer que o vilarejo de Lana é um lugar pacífico e harmonioso, isso é visível na forma com que os personagens vivem nesse lugar, antes da invasão das máquinas. A relação deles com a natureza também é explicitamente demonstrada sem dizer uma única palavra em um idioma que entendemos.

Isso é uma característica bastante interessante e única dos videogames. Em histórias de ficção científica em filmes, livros e animações, é necessário um narrador para pelo menos explicar parte do que os personagens estão vivendo.

Em um jogo como Planet of Lana, e outros que utilizam abordagens parecidas como Journey, a responsabilidade de ter sentimentos e reações com o mundo que está sendo explorado é do jogador. Aos desenvolvedores cabe apresentar o mundo e seu contexto e a partir daí cada jogador irá experienciar essa obra de forma individual.

Um lindo planeta exige uma arte incrível

Naturalmente a primeira coisa que chama a atenção do jogo é a sua arte. Como dito anteriormente, o estúdio Wishfully é formado por veteranos da indústria de filmes e animações.

A escolha artística para o jogo é inspirada em pinturas a mão, como o próprio diretor Adam Stjarnljus revelou em entrevistas. É um trabalho praticamente “artesanal” e inspirado fortemente nos filmes do Studio Ghibli, que seguem essa mesma filosofia.

Um dos grandes méritos do estúdio foi conseguir transportar as ilustrações para um jogo que possui imagens dinâmicas e que também trabalha como modelos 3D, mantendo a proposta estética do jogo.

Isso porque diferente de uma animação, um jogo conta com a intervenção do jogador e os inimigos também podem reagir de maneira diferente às nossas ações, sendo necessário que o estúdio consiga prever todas as animações possíveis de forma que em nenhum momento alguma animação pareça “fora do lugar”.

Além disso, o jogo utiliza muito bem o jogo de câmeras. Em um filme live action você conta com câmeras reais que alteram a perspectiva de visão de forma natural. Em uma animação, é necessário encontrar uma forma de simular uma câmera sem parecer estranho.

Sendo um jogo de plataforma cinematográfica, esse recurso também é utilizado e Planet of Lana faz isso muito bem, utilizando a câmera para dar sensação de movimento aos personagens e também ampliando ou reduzindo a visão dos cenários.

Há momentos onde a câmera se afasta do centro dos personagens e dá uma visão ampla do cenário, mostrando um ambiente lindo e muito rico em detalhes. A experiência dos desenvolvedores em animações certamente foi fundamental em criar uma experiência de jogo cinematográfico esteticamente bonita.

E há uma boa variedade de cenários, com florestas, rios, praias, desertos, instalações industriais, etc. Particularmente gostei muito dos trechos de deserto, mas todos eles são bastante bonitos e detalhados.

Planet of Lana é uma experiência visual incrível, principalmente se você for fã das animações Ghibli ou se você simplesmente for um fã de animações bem-feitas. E sendo o primeiro jogo do estúdio é até impressionante que tenham conseguido realizar isso com tanta qualidade logo em seu jogo de estreia.

Uma experiência simples, mas marcante

Hoje em dia parece haver algum tipo de convenção não formalizada que pedem que os jogos sejam sempre complexos e muito desafiadores. Planet of Lana vai na direção contrária e oferece uma abordagem muito mais simples e com foco na narrativa e na experiência visual.

Com mecânicas simples e acessíveis, os jogadores podem experimentar um jogo que oferece uma sensação de descanso e tranquilidade, que você pode jogar no seu próprio ritmo. É um jogo relativamente curto, o que não é um problema, e que um jogador adulto com responsabilidades consegue encaixar muito bem em seu cronograma apertado, algo que sinto falta hoje em dia.

Além disso, ver veteranos da animação migrando para os jogos e explorando o potencial dos videogames, cria experiências artísticas únicas e fortalece a mídia dos videogames como linguagem e manifestação artística. Torço para que o estúdio Wishfully permaneça nesse caminho.

Nome do jogo:

Planet of Lana

Publisher:

Thunderful Publishing

Desenvolvedora:

Wishfully

Plataformas Disponívies:

PC

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge