Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Sand Land é um mangá criado pelo gênio Akira Toriyama no começo dos anos 2000. Ele foi serializado até se completar com 14 capítulos, que depois viraram um único volume. Mais de 20 anos depois, a obra começa a ganhar adaptações, sendo primeiro um filme em 2023 que adaptou o mangá inteiramente e depois um anime de 13 episódios agora em 2024. O anime usa seus 6 primeiros episódios contando a história adaptada no filme e seus 7 últimos em uma história inédita, que foi supervisionada por Toriyama.Nesse contexto, a Bandai Namco anunciou que estaria publicando um jogo da obra desenvolvido pela ILCA, a empresa responsável por Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl e por One Piece Odyssey. O jogo segue os passos do anime, adaptando o mangá inteiramente e depois contando uma história inédita.
Antes de embarcar nessa crítica pela história do demônio mais gente boa dos desertos de Sand Land gostaria de fazer o disclaimer de que tentei ao máximo que triste e prematura perda do mestre Akira não influenciasse meu olhar para com o jogo, pois acho que não seria o certo a ser feito e nem a forma correta de homenagear o trabalho dele.
Obrigado por tudo Akira e vamos mergulhar na análise!
A história da obra se passa num futuro distante, onde a guerra destruiu toda a Terra, fazendo com o único rio que abastecia a região secasse. O que acabou deixando apenas um deserto árido onde o abastecimento de água é controlado por um rei ganancioso.
Nesse contexto, Rao, um xerife de uma cidade pequena, vai até o vilarejo dos demônios pedir a ajuda deles para ir procurar o lago lendário. Embora relutantes no início, os demônios concordam em ajudar e com isso Beelzebub, o príncipe dos demônios, e Thief se juntam a Rao para procurar o lago por Sand Land.
Nessa jornada cheio de perigos e aventuras, o trio vai conseguindo se virar a medida que aprofundam seus laços, deixam preconceitos de lado e descobrem a verdade por trás do estado que se encontra Sand Land.
O jogo de Sand Land adapta todos os acontecimentos do mangá e também do anime. Os mesmos acontecimentos, premissas e resoluções estão lá. Obviamente, que se tratando de um jogo com muito mais horas de conteúdo que as outras mídias, temos diferenças na execução das coisas aqui.
A principal diferença é que no começo do jogo somos apresentados a personagem Ann e a cidade de Spino. Ann é uma mecânica muito eficiente e que é foco principal na segunda parte do jogo, que adapta a história inédita, mas diferente do anime ela já aparece desde o começo no jogo.
Já Spino é uma cidade que serve como hub principal da equipe e onde se concentra o grande foco das missões secundárias. Como ela era a antiga base do exército revolucionário encontramos a cidade destruída e quase sem moradores. À medida que vamos progredindo no jogo missões secundárias vão sendo liberadas e quando as completamos pessoas vão se mudando para a cidade, com isso ela vai crescendo e sendo reconstruída. É bem legal de acompanhar as mudanças que vão ocorrendo nela.
Spino também é um lugar que não lembro de ser mencionado nas outras mídias de Sand Land, então acredito ser algo criado para o jogo mesmo.
Uma outra mudança para o jogo é o maior foco no Beelzebub, já que ele é o personagem que controlamos. Então algumas batalhas e momentos são executados de uma forma em que ele esteja em destaque e no comando da situação. Novamente, não é algo que muda o resultado, apenas altera como é contado os fatos.
A segunda parte do jogo, a que conta a história nova, é a parte do jogo que mais se difere do anime, já que ela adiciona personagens totalmente novos pra trama e seu começo é todo alterado pelo fato de Ann estar na equipe desde o início. Ainda sim os acontecimentos e a conclusão é a mesma, mas a execução aqui é bem diferente mesmo.
Não é nenhum segredo que Akira Toriyama sabe como trabalhar diversos temas, mas de uma maneira leve. Em Sand Land não é diferente, na obra temos assuntos como corrupção, preconceito, temas ambientais e guerras, mas que são colocados por Akira de uma maneira que não deixe o clima “pesado”.
Obviamente isso se deve ao fato de os assuntos estarem presentes, mas não serem aprofundados, não buscarem dar uma resolução para esses problemas fora da esfera da obra e pelos personagens serem muitas vezes caricatos.
Ainda assim, se você se atentar as mensagens que são passadas durante toda a trama, grandes reflexões e debates podem gerados com a obra.
De todos os temas, o que mais ficou marcado em mim é em como o Beelzebub, um demônio extremamente poderoso e autodeclarado maligno é a pessoa mais gentil e de melhor coração em todo o universo da obra.
Aqui todos os humanos querem exterminar os demônios “malvados”, mas que em nenhum momento é mostrado esses demônios fazendo algo de ruim de fato. Eles aparecem até roubando água e outras coisas, mas é para sobrevivência deles e o Beelzebub até divide com humanos necessitados.
Enquanto isso o Rei de Sand Land tenta lucrar com o fato dele ter o controle da água na região, sem se importar com as pessoas passando por uma vida de miséria e sofrimento por causa disso. E a região já passou por diversas guerras por conta de idiotices humanas, e o Beelzebub fala que a diferença dele para os humanos é que ele não mata.
Realmente Akira trabalhou muito bem em mostrar, de uma maneira leve e divertida, em como o real problema das coisas é a ganância humana e incapacidade de conviver em harmonia pensando no bem geral em vez de olhar apenas para o próprio umbigo. Contrastando isso com os supostos demônios malvados vivendo em paz e harmonia na deles.
Sand Land é um RPG de ação em que controlamos Beelzebub pelo mundo aberto de Sand Land. Só que o charme e a verdadeira diversão do jogo estão no momento em entramos em um veículo, já que a jogabilidade de batalha fora deles é extremamente simples e enjoativa.
Beelzebub pode pular, interagir com objetos e bater. Com um sistema de combo simples e algumas técnicas que vamos liberando em uma árvore de habilidades, a batalha física não é nem um pouco marcante. Ela não chega a ser horrível, ela é funcional apenas e nada mais.
Por sorte os momentos que batalhas físicas são obrigatórias são minoria e a grande parte das vezes estaremos em batalhas de veículos ou pelo menos poderemos escolher de que forma batalhar.
Contando com os icônicos designs de Akira, temos um grande leque de opções de veículos para usar durante o jogo. Eles vão sendo liberados aos poucos, a medida que avançamos e alguns são essenciais para avançar pelo jogo, enquanto outros são totalmente opcionais de se criar.
As possibilidades com os veículos são muito maiores também, dentro e fora de batalha. Dentro dela usamos uma arma principal e uma arma secundária e podemos ter um terceiro golpe a depender de qual engate é colocado na máquina. Fora dela temos várias peças de várias raridades diferentes, além de chips para aumentar status, deixando a customização ser bem grande.
As peças que usamos para montar os veículos vão variando entre peças que encontramos em baús pelo mapa, peças que os inimigos dropam e peças que criamos na garagem em Spino. Então, o jogador é recompensado por explorar seja achando a peça pronta ou farmando recursos para a criação das peças.
O ponto mais negativo dessa dinâmica do jogo, na minha opinião, foi a demora da animação para entrar em alguns veículos (geralmente os que tem porta). Estamos boa parte do tempo dentro do veículo, mas tem muitos momentos que temos que fazer uma troca rápida entre sair para entrar num lugar estreito e depois voltar para o veículo e esses momentos ficam chatos pela demora de Beelzebub entrar na máquina.
Já em um ponto oposto, eu gosto em como eles deixaram você interagir com baús ou vendedores ambulantes de dentro do veículo, pois se precisássemos fazer essa saída e entrada para essas coisas seria extremamente maçante.
Sand Land é um jogo extremamente lindo, a técnica de cel shading utilizada foi maravilhosa e em muitos momentos eu diria que o jogo é até mais bonito que as partes 3D do anime. Realmente o jogo parece um episódio interativo na tela, sendo ainda mais bonito que One Piece Odyssey é.
Essa beleza é bem aproveitada pelo vasto mapa de Sand Land e por suas enormes ruínas e naves caídas, que servem como um tipo de dungeon no jogo. Contudo, toda essa massividade traz consigo um lado negativo também, principalmente para o ritmo do jogo.
O mapa é realmente vasto, passando essa dimensão de ser um grande deserto com montanhas e areia pra todo lado, só que o mapa chega a ser tão grande que a história principal não te faz passar nem por todas as áreas.
As naves e ruínas são enormes, construções realmente massivas, mas que por muitas vezes vazias, me peguei andando bastante por áreas imensas para no fim não ter nada para pegar ou interagir, mas o continuava fazendo pois sabia em que algumas poucas vezes teria algo. Isso acaba criando vários momentos de vários “nadas”.
Como dito, a grandeza do mapa atrapalha de certa forma o ritmo do jogo em alguns momentos, mas o real problema de ritmo está em não saber dosar bem o andar da carruagem na parte final do jogo, fazendo parecer as coisas não progredia apenas para alongar a duração do jogo.
Estou falando de você derrotar um dos chefes, aí ele escapa porque sim, volta logo depois e você o enfrenta de novo. Teve um dos chefes que eu tive que enfrentar ele três vezes, e por mais que mudasse o local e o veículo que ele usava, a dinâmica da luta era basicamente a mesma.
Inclusive esse chefe na segunda vez que você enfrenta ele, a batalha é você derrotar um esquadrão do inimigo, ele recuar, tu derrotar novamente, ele recuar e tu repetir a terceira vez, até ele entrar no veículo dele. É idiota pois ele simplesmente está apé e ainda sim foge de você (que está em um veículo) e toda vez que tem a animação de você iniciar a batalha contra o esquadrão ele te jogam pra fora do veículo e tome você vendo animação demorada de entrar no tanque.
Realmente, eu sinto que eles perderam a mão na segunda parte. Eles adicionaram personagens que não tem no anime para poder ter mais batalhas, mas eles prolongaram demais essa galera. Não são personagens ruins e acrescentam momentos bons para a história, mas não souberam dosar bem eles em batalhas.
A transição entre a primeira parte (história do mangá) com a segunda (história inédita) também achei que não ficou tão legal. No anime ele pareceu bem mais natural, aqui já nem tanto, pois eles adiantaram a aparição da Ann e aí do nada ela lembra o importante motivo dela ta ali e tudo mais e as coisas se desenrolam meio estranho.
Sand Land consegue adaptar muito bem o universo criado por Akira Toriyama para o vídeo game. Temos um visual lindo, cenários magníficos, muitos veículos e personagens carismáticos. O jogo serve tanto a quem já conhece a obra, por suas diferenças de execução, como serve para quem não conhece nada da obra, já que segue os acontecimentos e resoluções das outras mídias.
Não é um jogo perfeito, por apresentar um ritmo irregular durante a jornada, cenários grandes demais acabando por ficar vazio em muitas áreas e por apresentar combates fora de veículo serem bem desinteressantes.
Se você não gosta de combate mecha, talvez seja melhor ficar apenas no mangá e anime, mas se você aprecia esse estilo de combate, gosta um RPG de ação, mapas extensos, atividades secundárias e principalmente Akira Toriyama, então eu recomendo que deem uma chance a este jogo.
Sand Land
Bandai Namco
ILCA
PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox Series S|X