Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Lançado originalmente em 2011 para PlayStation 3 e Xbox 360, Shadows of The Damned é uma obra que foi publicada pela EA e desenvolvida pela Grasshopper Manufacture. O jogo foi originalmente dirigido por Massimo Guarini, produzido por Shinji Mikami e escrito por Suda51.
A combinação das mentes de Mikami e Suda geraram um jogo de “road movie de ação e aventura de terror” com um estilo super excêntrico combinando “Inferno + rock & roll”.
O jogo que estava preso na sétima geração de consoles ganhou agora em 2024 um remaster para todas as plataformas atuais. Nomeado como Shadows of the Damned: Hella Remastered, esse relançamento busca trazer esse clássico para o público atual, com gráficos melhorados e alguns extras como roupas para o protagonista e a possibilidade de iniciar um novo jogo+.
Eu não o joguei na época em que saiu originalmente, então esse remaster foi uma boa oportunidade para conhecer o jogo. Tivemos a oportunidade de jogá-lo antes de seu lançamento em 31 de outubro, e conto agora para vocês, com a perspectiva de um novato na franquia, como foi minha experiência com o jogo.
Começamos o jogo com o nosso protagonista, o caçador de demônios Garcia Hotspur, finalizando mais um de seus trabalhos. Preocupado com as palavras finais do demônio que acabou de caçar, Garcia volta para casa procurando sua namorada, Paula. Só que ao chegar ao local em que estavam ele se depara com Paulo sendo morta e levada para o submundo pelas mãos do senhor do Demônio Fleming.
Garcia, que não teve como impedir o acontecido, segue Fleming até o submundo junto de seu companheiro, um demônio caveira chamado Johnson, que também atua como sua arma, tocha e até motocicleta. No mundo dos demônios, Garcia, guiado por Johnson, tem que atravessar o local para chegar até o local em que Fleming reside. Para isso eles tem que passar por inúmeros inimigos que estão atrás da carne de Garcia.
A premissa do jogo é basicamente isso, uma história sobre atravessar o mundo dos demônios e seus perigos, em busca de resgatar o amor da sua vida. No desenrolar do jogo a gente acaba encontrando alguns poucos personagens de apoio, mas que no final não agregam tanto pro enredo e mais para a jogabilidade.
O jogo que é bem direto e simples no que quer, ao menos cria uma noção de mundo bem legal. O mundo dos mortos tem como sua característica ser um local escuro e sombrio, mas que conta com uma variedade de ambientes, que vão de cidades pacatas, a castelos, rios e lugares bem exóticos. A lore do local é legal de se acompanhar, com bastante informação de como funcionam as coisas por lá sendo passada através de Johnson ou de itens que encontramos nas fases.
O tom do jogo, por mais que seja bem sombrio e com muita violência gráfica e gore, não foge do cômico também. Piadas são inseridas a vários momentos, muitas de cunho sexual, o que torna a experiência um pouco mais leve, apesar do que é mostrado em tela. Garcia também é aquele protagonista “machão” que não tem medo de nada, está pronto pra tudo e confia no próprio gatilho. Então, por mais difícil que a situação possa parecer ele não perde o seu sarcasmo e tom cômico.
O jogo ainda conta com momentos de drama, por causa dos sofrimentos que ele não consegue impedir que a sua amada passe. Só que não são momentos que predominam na narrativa, que como disse, não foge muito desse tom cômico perante situações absurdas.
Mesmo simples e sem tanto espaços para reviravoltas, ainda é uma narrativa legal. Garcia é um personagem fácil de gostar e Johnson faz uma ótima adição, criando assim uma ótima dupla. É uma história que não foge muito da época que foi criada, mas que é sucinta e interessante de se acompanhar, muito pela lore que conseguiram criar do local. Fazendo a gente se interessar em descobrir mais sobre onde estamos.
Na parte de jogabilidade temos um jogo de ação e aventura de tiro em terceira pessoa. No jogo controlamos Garcia, que é acompanhado de Johnson, que age normalmente como uma tocha para iluminar o local, mas que também realiza ataques físicos leves e rápidos. Johnson também pode se transformar em três formas de armas diferentes: uma pistola, uma espingarda e um rifle automático. Todas essas armas vão sendo aprimoradas para novas versões no decorrer do jogo, quando coletamos gemas azuis que são recompensas de derrotar os chefes.
Além das gemas azuis, temos também as gemes vermelhas que são encontradas pelo meio das fases ou podem ser compradas de um demônio chamado Christopher, que serve de NPC mercador. Usamos as gemas vermelhas para aprimorar o dano das armas, sua capacidade de munição, velocidade de recarga ou para melhorar a barra de vida de Garcia.
Além das gemas, os outros únicos itens presentes no jogo são munições, com cada arma tendo a sua, e bebidas alcoólicas que servem para recuperar nossa vida. Ambos são encontrados pelo mapa ou podem ser comprados com Christopher, com as bebidas também podendo ser compradas em uma máquina de vendas automática. A moeda do jogo são gemas brancas que caem de inimigos ao derrotados ou podemos achar em alguns itens quebráveis pelo mapa.
Uma das mecânicas principais do jogo é se manter na luz, já que a escuridão da uma armadura para os inimigos e da dano no jogador caso ele esteja nela por muito tempo. Então, terão muitos momentos que teremos que tirar a escuridão de um local do mapa ou de inimigos e para ajudar nisso Johnson pode atirar uma “bala de luz”, de qualquer uma das armas.
Como os inimigos em si não são tão complicados, o jogo usa bem esse lance da escuridão para criar uma camada de desafio a mais, já que temos que não só se preocupar com os inimigos vindo, mas em achar como iluminar aquele local ou resolver quebra-cabeças durante a luta. É uma mecânica que assim que surgiu eu pensei que poderia cansar ou deixar chato, mas eu terminei o jogo achando que ela foi bem implementada, o que deixou o jogo com esse aspecto único e legal.
A mecânica da escuridão sem misturava bem com as lutas dos chefes também, que não são lutas espetaculares, mas que no geral são legais de fazer. Muitas são simples de repetir processos e padrões dos chefes, atirando em pontos vulneráveis, mas elas tinham uma duração boa para não cansar e deixar uma sensação ruim.
A cada nova fase algum inimigo novo vai sendo implementado e as novas habilidades das armas vão sendo requisitadas para resolver puzzles ou derrotar inimigos, criando uma pouco de novidade a cada momento, ajudando a não cansar. Além disso, no meio do jogo também temos uma quebra nas fases tradicionais, que trouxe momentos de mini-games e até umas fases que eram side-scrollings lembrando um shoot ‘em up de navinha. Foram dos momentos mais divertidos do jogo e que me fez desejar até que tivessem mais.
Visto tudo isso eu diria que dosagem é uma boa palavra para descrever as coisas presente no jogo, pois eu sinto que no geral as coisas foram bem equilibradas para não se tornarem cansativas e que elas vão sendo inseridas aos poucos para continuar gerando interesse. Se olhar numa visão ampla, a gameplay do jogo é simples, mas quando combinamos todas as mecânicas e a estrutura da fase, temos algo interessante pelo tempo certo.
O próprio jogo é curto, tendo no máximo umas 8h numa primeira vez. Já para quem acaba por querer jogar mais, o jogo incentiva você rejogá-lo. Eu mesmo na minha jogada não completei nem metade dos upgrades possíveis das armas e do Garcia.
Em entrevista ao site Gematsu, Suda 51 disse que o remaster seria super fiel e manteria toda a história e jogabilidade da forma que eram originalmente em 2011. As únicas atualizações seriam nos gráficos e desempenho, já que o jogo agora roda a 4K60fps (menos no Switch que é 1080p30fps) e em adições no conteúdo, como as quatro novas roupas para o Garcia, a implementação do Novo Jogo+ e suporte a mouse e teclado no PC.
Como dito no início da crítica, eu não joguei o original, então não posso afirmar com 100% de certeza, mas pelo que me pareceu duvido muito que realmente alguma coisa pareça ter sido alterada. “Censurado” também dificilmente foi, porque o que não falta nesse jogo é safadeza e sangue. Então, acho que os fãs antigos podem esperar algo bem fiel mesmo e para quem nunca jogou, como eu, pode esperar por ter a mesma experiência que era na época original.
A parte gráfica está aceitável para um remaster e pelo preço dele também. Não achei o jogo feio, mas é notório que manter tudo fiel tem o seu preço, já que o jogo tem aquela cara de “passaram uma maquiagem pra deixar mais ajeitadinho”. Realmente nada que me incomodou tendo noção de todo contexto e para um remaster está de ótimo tamanho.
Na questão de desempenho eu joguei no PC, numa máquina que da pro gasto, e o jogo rodou bem, mantendo constante 60fps na resolução 1080p. Lembrando um port de um jogo de PS3/X360, as opções para se mexer nas configurações são bem escassas. Basicamente podemos mexer nos volumes, angulação e velocidade de câmera e nos idiomas.
O que tenho que destacar de negativo é que infelizmente em pleno 2024 eles não adicionaram português como opção de idioma. O que é realmente uma pena, pois o jogo tem bastante piada e diálogos interessantes de se prestar atenção, e que vão passar batido por muita gente por causa da barreira do idioma.
Shadows of the Damned Hella Remastered traz o retorno de um clássico que até então estava preso em consoles antigos, para que qualquer um possa jogar nas plataformas modernas. Ele contém a experiência e conteúdos originais, com alguns leves extras e com melhoria gráfica e de performance. Fazendo com que tenhamos uma versão definitiva da obra.
O jogo é uma grande pedida para os fãs ou para quem tem interesse em conhece-lo. É um shooter com a cara do Mikami e com loucuras de mundo e estilo visual e de personagens do Suda51. O que gera um jogo divertido, que sabe muito bem dosar o seu conteúdo para torná-lo o mais vasto possível dentro de uma duração, que considero ideal ou perto dela, para que as coisas não fiquem cansativas.
O Suda já disse em entrevista que a depender do sucesso desse remaster, uma continuação para o jogo poderia ser cogitada, então torço muito pelo seu sucesso, porque temos aqui um jogo bem divertido, com uma construção de mundo bem legal de acompanhar e que com certeza seria ótimo de ser ter mais.
Shadows of The Damned: Hella Remastered
NetEase, Grasshopper Manufacture
Grasshopper Manufacture, EngineSoftware
PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X, Nintendo Switch