Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Shin Megami Tensei sempre foi uma franquia que admirei de longe, mas nunca tive a coragem para embarcar nessa jornada, já havia jogado no passado alguns jogos da série, mas nunca cheguei de fato a terminar nenhum, joguei um pouco de Shin Megami Tensei IV no 3DS e Shin Megami Tensei: Devil Summoner, mas dessa vez mergulhando de cabeça em Shin Megami Tensei III: Nocturne descobri uma experiência tão única e intrigante que despertou ainda mais meu interesse por essa franquia.
Apesar de nunca ter jogado propriamente um Shin Megami Tensei, já sou bem familiarizado na franquia Persona, apesar das diferenças os jogos compartilham algumas semelhanças, Persona 4 sendo o meu favorito e tendo jogado Persona 5 pelo menos umas 3 vezes, essa review terá com o objetivo de narrar minha experiência adentrando nessa nova experiência.
Definitivamente não sou a melhor pessoa para escrever sobre Nocturne e ir até os confins das inspirações e referencias outros jogos da série, mas do ponto de vista de alguém descobrindo SMT pela primeira vez acho que pode ser uma análise no mínimo interessante.
Shin Megami Tensei III: Nocturne é o terceiro jogo da linha principal de RPGs da Atlus, originalmente lançado em 2003 para o Playstation 2 e agora depois de 18 anos, o jogo recebeu uma versão remasterizada em HD para Playstation 4, Nintendo Switch e PC, nomeada de “Shin Megami Tensei III: Nocturne HD Remaster” tem como objetivo trazer essa obra mais acessível e para um novo público descobrir um dos melhores RPGs já feitos.
Em Nocturne como já é padrão nos outros jogos da franquia, o mundo acaba em um apocalipse chamado de a “concepção” e todos os humanos são exterminados e o mundo se distorce em um formato bizarro.
Com sorte (ou não) o protagonista, Naoki Kashima, e alguns de seus amigos estavam em um hospital por que haviam ido visitar uma professora e acabaram “sobrevivendo” a concepção, no caso eles foram escolhidos para serem aqueles que farão o mundo renascer ao seu desejo.
Nosso protagonista, acaba passando por um tipo de ritual no qual é transformado em um demônio, porém ainda com um coração humano, dando assim vida ao Demi-Fiend, metade homem e metade demônio, e cabe a ele lutar pelo futuro do mundo, se aliar a algum ideal daqueles escolhidos ou criar um mundo ao seu favor.
A Gameplay de Nocturne é datada, não tem como fugir disso pela idade do jogo, mas por incrível que pareça ainda é completamente jogável quase sem muitos incômodos. Já o controle do personagem é bem mecânico e nem um pouco fluido.
O combate é onde o jogo brilha de verdade, e onde está boa parte de sua dificuldade, usando um sistema de combate por turnos extremamente rudimentar e direto ao ponto usando o sistema de press-turns, Nocturne consegue criar uma experiência familiar e ao mesmo tempo desafiadora.
Batalhas em Nocturne são um constante perigo, nunca subestime qualquer inimigo nesse jogo, até os mais fracos podem te dar trabalho se os dados não caírem ao seu favor, randomicamente um inimigo pode de dar um ataque crítico, ou usar uma skill que garante mais turnos a ele, ou aplicar um debuff na sua party, sempre preste atenção no que está fazendo qualquer ação errada pode lhe custar a vida de alguém da sua equipe ou até mesmo do protagonista que é game over instantâneo.
O cuidado é ainda mais dobrado em chefes, onde boa parte da graça das batalhas estão, os chefes em Nocturne são impiedosos, abusam e táticas sujas e de suas fraquezas para te causar extrema frustração, aí que entram os buffs e debuffs, Nocturne é um jogo que é essencial usar aumento de ataques e defesas, explorar as fraquezas do oponente também é essencial para garantir mais turnos para você e Magatamas que modificam o status do protagonista após consumidas para atingir a vitória em certos bosses.
Uma coisa que gosto muito em relação a dificuldade é que ela não é nem um pouco artificial, é o completo oposto disso, cada batalha você sente a pressão e o perigo te encurralando, e os inimigos sabendo usar suas fraquezas contra você.
É sempre bom também ter um bom balanceamento na sua equipe para cada ocasião, a maioria dos demônios têm fraquezas a certos tipos de habilidades então é sempre bom buscar uma variedade e um equilíbrio na sua party.
O jogo usa e abusa em certas formas de encontros aleatórios, acho um pouco desbalanceado como você pode acabar de ter saído de uma batalha e dar dois passos com o protagonista e encontrar outra batalha, extremamente frustrante em algumas situações.
Um dos aspectos mais interessantes da franquia Shin Megami Tensei é a possibilidade de negociar com demônios e convencer eles a se aliarem ao protagonista e lutaram ao seu lado, recentemente essa técnica também fez as caras em Persona 5 mas de uma maneira mais simplificada.
Em SMT os demônios são cruéis e traiçoeiros eles não estão nem aí, vão te pedir dinheiro e itens extremamente valiosos e no final decidem ir embora com seus itens, chega a ser um soco no estômago como a inteligência artificial ou o próprio RNG consegue fazer de uma maneiro orgânica dando mais vida e um toque de realismo, isso aqui é um mundo pós-apocalíptico não espere que ninguém seja bonzinho com você, bem vindo a realidade.
Eu acho esse sistema de negociação muito interessante por que sempre está variando sua party, por mais que sejam “personagens” sem desenvolvimento, sem ter aliados previamente estabelecidos, SMT dá uma sensação de conquista quando se consegue se aliar a algum demônio ou fazer a fusão para algum outro.
A Fusão de demônios também é outro aspecto que gosto muito, tanto em SMT como em Persona, acho uma excelente sistema de progressão, e um pouco triste também, principalmente em SMT em que você sofreu para se aliar a esse demônio que lutou ao seu lado e chegou a hora de executar para um poder maior, é um sentimento agridoce, porém acho bem característico da franquia.
A trilha sonora é outros dos pontos fortes de Nocturne, sabendo ser usada na maneira certa e composta em parte com maestria pelo compositor Shoji Meguro, que hoje em dia é conhecido pelas músicas em Persona, a trilha de Nocturne é fantástica e encaixa muito bem com o tema do jogo, sendo algo mais angustiante e melancólico mas que também passa um senso de rebeldia e libertação.
Um dos aspectos negativos da trilha sonora, pelo menos nesse HD remaster, é o fato das músicas estarem comprimidas e abafadas, parecem que não aumentaram em nada ou sequer deram uma equalizada no som para o Remaster, simplesmente as mesmas músicas usadas no PS2.
SMT: Nocturne faz um ótimo trabalho de ambientação em um cenário pós-apocalíptico tomado por demônios, lugares sujos e ensanguentados, prédios e cidades abandonadas, e o fato do jogo se passar em Tokyo é bizarro ver locais conhecidos, como Shibuya, Ikebukuro e Ginza vazios lotados por criaturas.
Principalmente ao andar pelo world map e ver de longe as estruturas icônicas de Tokyo e outras figuras bizarras demoníacas e um mundo completamente devastado, uma sensação de solidão e de medo constante.
O World Building de Nocturne é fantástico, oque acontece na história principal do jogo afeta o mundo, afeta os NPCs, certos eventos acontecem ou deixam de acontecer dependendo de certas escolhas, isso só deixa o mundo de Nocturne ainda mais vivo, apesar de ter acabado.
Nocturne é um jogo que envelheceu muito bem visualmente, pelo seu visual meio cel shading o jogo ainda é muito agradável de se olhar e apreciar sua direção artística, já não posso dizer o sobre algumas texturas e identidade visual.
Nocturne como um jogo é incrível, porém essa versão “HD Remaster” deixa a desejar em muito, com cutscenes ainda em 3:4 sendo as mesmas do PS2, sem tirar nem por nada, sim a resolução do jogo está aumentada para full HD, mas as texturas não, não é algo que chega a ser um incômodo pois Nocturne é um jogo que envelheceu muito bem visualmente.
A HUD e Interface de usuário e menus em Nocturne são simples e direto ao ponto porém simples até demais e um pouco confusas em alguns momentos, principalmente em batalhas fica difícil distinguir ataque físico de magias e golpes especiais, ou não ter um menu próprio para os itens sem muita identidade visual.
O HD remaster está bem inconveniente, eu entendo que para preservar a identidade do jogo eles preferiram não mexer muito em aspectos de gameplay, Nocturne tendo uma das mais memoráveis, porém poderiam ter colocado coisas para facilitar o acesso e principalmente na exploração, um minimap poderia ser bem conveniente ao invés de ter que abrir o menu toda hora para olhar o mapa.
Criatividade nas dungeons, mas identidade visual padronizada, Nocturne tem um excelente dungeon design proposital para fazer você se perder, por parte é frustrante até demais e por outro lado tem um senso de realização ao resolver um puzzle.
Uma das que mais gostei foi Kabukicho Prison, um dungeon onde a mecânica envolve um espelho que faz com que a dungeon fique completamente de cabeça para baixo, que eu achei incrivelmente criativo e muitas outras dungeons são um exemplo de criatividade.
Por outro lado, um dos grandes problemas com as dungeons do jogo, é a identidade visual que é completamente igual durante quase todas as dungeons, fazendo disso um labirinto por si próprio, e pode acabar sendo uma experiência extremamente frustrante. Especialmente o Labyrinth of Amala, apesar de que está no nome que é um labirinto é quase impossível passar desse lugar sem olhar um guia.
Os personagens em Nocturne são o que movem a trama, são poucos personagens, porém cada um com uma razão e uma ideologia diferente um dos outros.
Eu simplesmente acho fascinante como os personagens são tão humanos e bem escritos, eles sentem medo, desespero e angústia perante a situação de um apocalipse, afinal que não sentiria, eles não sabem o que fazer se sentem perdidos nesse mundo, até encontrarem a quem se apoiar e eventualmente tomarem suas decisões e ações sobre recriar o mundo.
Nocturne lida com temas muito atemporais, um jogo de 2003 ainda continua com temas relevantes à sociedade e ao mundo até hoje em dia, mostrando isso através de seus personagens.
Com o relançamento do jogo agora remasterizado em HD, o jogo traz algumas melhorias, poucas infelizmente, adicionando dublagem em Japonês e em Inglês, coisa que o jogo original não tinha.
A possibilidade de ter o Raidou de Shin Megami Tensei: Devil Summoner ou Dante from the Devil May Cry series no jogo e eventualmente na sua equipe, um novo modo de dificuldade mais fácil, e alguns outros DLCs de música, e novos locais extras.
Em um geral Shin Megami Tensei III Nocturne HD remaster é um potencial desperdiçado, o que salva é que Nocturne já é um excelente jogo por si só, mas poderia ser levado um patamar acima se a Atlus colocasse um pouco mais de esforço no jogo.
Shin Megami Tensei III Nocturne HD Remaster
SEGA
Atlus
PC, Playstation 4, Nintendo Switch